15.04.2013 Views

Novas Diretrizes em Tempo de Paz

Novas Diretrizes em Tempo de Paz

Novas Diretrizes em Tempo de Paz

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CLAUSEWITZ - (TOMA CORAGEM) “Só queria saber, para apurar meus<br />

cuidados - além do crime <strong>de</strong> nascer - que outros crimes cometi para me castigares<br />

ainda mais? Não nasceram também todos os outros? Pois se os outros nasceram,<br />

que privilégios tiveram que jamais gozei? Nasce a ave, e, <strong>em</strong>belezada por seu<br />

ricos enfeites, não passa <strong>de</strong> flor <strong>de</strong> plumas, ramalhete alado, quando, cortando<br />

veloz os salões aéreos, recusa pieda<strong>de</strong> ao ninho que abandona <strong>em</strong> paz. E eu,<br />

tendo maior alma, tenho menos liberda<strong>de</strong>? Nasce a fera, e, com a pele<br />

respingada <strong>de</strong> belas manchas, l<strong>em</strong>brando as estrelas - graças ao douto pincel -<br />

logo, atrevida e feroz, a necessida<strong>de</strong> humana lhe ensina a cruelda<strong>de</strong>, monstro <strong>de</strong><br />

seu labirinto. E eu, com melhor instinto, tenho menos liberda<strong>de</strong>? Nasce o peixe,<br />

que n<strong>em</strong> respira, aborto <strong>de</strong> ovas e lodo, e, feito um barco <strong>de</strong> escamas sobre as<br />

ondas, seu espelho, gira por toda parte, exibindo a imensa habilida<strong>de</strong> que lhe dá o<br />

coração frio; e eu, com mais escolha, tenho menos liberda<strong>de</strong>? Nasce o regato,<br />

serpente prateada, que <strong>de</strong>ntre flores surge <strong>de</strong> repente e <strong>de</strong> repente entre flores se<br />

escon<strong>de</strong>, on<strong>de</strong>, músico, celebra a pieda<strong>de</strong> das flores que lhe dão a majesta<strong>de</strong> do<br />

campo aberto à sua fuga. E tendo eu mais vida, tenho menos liberda<strong>de</strong>? Assim<br />

chegando a esta paixão, um vulcão, qual o Etna, quisera arrancar do peito<br />

pedaços do coração. Que lei, justiça ou razão pô<strong>de</strong> recusar aos homens privilégio<br />

tão suave, exceção tão única, que Deus <strong>de</strong>u a um cristal, a um peixe, a uma fera<br />

e a uma ave?”<br />

Silêncio. Segismundo está chorando. E <strong>de</strong>ixa cair uma lágrima sobre o salvoconduto.<br />

SEGISMUINDO - Merda. Borrei seu salvo conduto.<br />

CLAUSEWITZ - (TEMPO) O “meu” salvo-conduto?<br />

SEGISMUNDO - O pior é que eu não entendi nada o que o sujeito disse...<br />

(ENTREGA O SALVO-CONDUTO) Tome. Eu cumpro minhas promessas. E po<strong>de</strong><br />

esquecer este <strong>de</strong>poimento... Hoje, no Brasil, ninguém vai assinar <strong>de</strong>poimento<br />

algum! Agora po<strong>de</strong> ir.<br />

CLAUSEWITZ - (TEMPO) O senhor não vai me levar <strong>de</strong> volta ao navio?<br />

SEGISMUNDO - O Brasil precisa <strong>de</strong> braços para a lavoura. Po<strong>de</strong> ir, eu já disse.<br />

O navio apita varias vezes.<br />

CLAUSEWITZ - O cargueiro vai <strong>em</strong>bora.<br />

O apito do navio vai ficando distante.<br />

CLAUSEVITZ - Eu preciso contar uma coisa...<br />

SEGISMUNDO - Chega das suas l<strong>em</strong>branças, senhor Clausewitz .<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!