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Alessandra OLiveira<br />
Ano 2 - Número 16 - Distribuição gratuita - NOVEMBRO 2003<br />
À moda da casa<br />
Durante dois dias, os holofotes da moda estiveram voltados<br />
para a Cidade. O Estação Fashion Londrina, realizado no Centro<br />
de Convenções em 11 e 12 de novembro, foi um grande sucesso.<br />
Na passarela, 12 grifes locais deram um show de bom gosto,<br />
talento e sensualidade. Na Rodada de Negócios, 441 encontros<br />
de empresários geraram uma projeção de vendas de<br />
US$ 5,5 milhões. Organizado pela ACIL, evento colocou Londrina<br />
na agenda fashion brasileira, e atraiu compradores de vários<br />
países: Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, EUA, França,<br />
México e Uruguai.<br />
Seminário<br />
vai debater e<br />
fortalecer<br />
eventos<br />
Página 16<br />
Páginas 4 a 7<br />
TOMAI E BEBEI<br />
Nos últimos anos,<br />
cresceu bastante o<br />
consumo de vinhos<br />
em Londrina. A mais<br />
tradicional das<br />
bebidas tem vários<br />
entusiastas na<br />
Cidade, como o<br />
empresário Alexandre<br />
Moraes.<br />
Páginas 10 a 12<br />
Comércio<br />
critica<br />
alvará<br />
de feiras<br />
Página 13<br />
Imposto social: não custa nada, ajuda muito Páginas Páginas 14 14 e e 15<br />
15<br />
Josoé de Carvalho
2<br />
EDITORIAL<br />
No calendário da<br />
moda<br />
Dentre os vários temas discutidos no projeto Avança<br />
Londrina, o tema do desenvolvimento industrial sempre<br />
esteve pautado. Concluiu-se que fomentar o desenvolvimento<br />
das indústrias aqui instaladas era muito mais coerente,<br />
rápido e barato do que buscar novas empresas.<br />
A ACIL, junto ao Conselho da Mulher Empresária,<br />
desenvolveu um projeto que contemplava o setor de<br />
confecção, que em Londrina engloba 400 indústrias, com<br />
mais de 12 mil empregos gerando R$ 600 milhões de<br />
faturamento anual.<br />
Chamamos para participar do evento o Sivepar e o Sebrae,<br />
que prontamente aceitaram o desafio.<br />
Desafio porque teríamos menos de 60 dias para viabilizar<br />
recursos, compradores internacionais, imprensa<br />
especializada, montagem, catálogos e tudo que um evento<br />
desta natureza envolve.<br />
Na medida em que os recursos se confirmavam, vindos do<br />
Vestpar/Apex, Sebrae, Fiep/Senai, Prefeitura Municipal/<br />
Codel/Sercomtel , Clarear, ACIL e Sivepar, fomos<br />
redimensionando para cima tudo que era possível e<br />
conveniente. Somamos a esse grupo os esforços do Londrina<br />
Convention & Visitor Bureau e as concessões do Centro de<br />
Exposições e Eventos de Londrina.<br />
A Rodada Internacional de Negócios foi um verdadeiro<br />
sucesso. Quatorze compradores de oito países tiveram mais<br />
de 400 reuniões podendo expor seus produtos e preços.<br />
Geraram diversos pedidos concretos de amostras e intenções<br />
de compras que deverão gerar quase 6 milhões de dólares em<br />
vendas.<br />
O passo seguinte era vencer o medo das indústrias quanto<br />
ao êxito do evento. Alguns acreditavam ser muito<br />
atrevimento fazer o que se propunha em tão pouco tempo.<br />
Doze indústrias desfilaram suas coleções para 1.500 pessoas,<br />
inclusive 13 jornalistas das mais conceituadas e importantes<br />
publicações de moda do Brasil.<br />
A imprensa especializada se surpreendeu com tanta<br />
diversidade, qualidade e criatividade. Os jornalistas<br />
afirmaram que Londrina está definitivamente no calendário<br />
brasileiro da moda como uma surpresa agradável.<br />
Apesar de toda a tensão de quem organiza um primeiro<br />
evento, saímos do segundo desfile com a certeza de que<br />
conseguiremos fazer ainda mais na próxima edição do<br />
Estação Londrina Fashion.<br />
Mostramos também que, ao invés de reclamar de que aqui as<br />
coisas não acontecem, bastaram a cooperação e o<br />
comprometimento para que um grande projeto se<br />
concretizasse.<br />
Que doravante outros grandes projetos em outras áreas<br />
possam se concretizar com a união das entidades, empresas e<br />
poder público.<br />
David Dequêch Neto<br />
FUNDADA EM 5 DE JUNHO DE 1937<br />
RUA MINAS GERAIS, 297, 1º ANDAR,<br />
ED. PALÁCIO DO COMÉRCIO. LONDRINA – PR<br />
CEP 86010-905 – TELEFONE (43) 3374-<br />
3000 – FAX (43) 3374-3060<br />
E-MAIL ACIL@ACIL.COM.BR.<br />
Presidente<br />
DAVID DEQUÊCH NETO<br />
Vice-Presidente<br />
CARLOS FERNANDO NONINO<br />
Diretor-Secretário<br />
MARCELO MASSAYUKI CASSA<br />
Segundo Diretor-Secretário<br />
BRASÍLIO ARMANDO FONSECA<br />
Diretor Tesoureiro<br />
RUBENS BENEDITO AUGUSTO<br />
Segundo Diretor Tesoureiro<br />
FRANCISCO HENRIQUE FRANCOVIG<br />
Diretor Comercial<br />
YUKIO AGITA<br />
Segundo Diretor Comercial<br />
FRANCISCO ONTIVERO<br />
Diretor Industrial<br />
JOSÉ AUGUSTO RAPCHAM<br />
Segundo Diretor Industrial<br />
NIVALDO BENVENHO<br />
Diretor de Serviços<br />
ROSANA ANDRADE<br />
“AMOSS COMÉRCIO ARTIGOS RELIGIOSOS E PRESENTES” ........ “RENASCER ARTIGOS RELIGIOSOS”<br />
“ANES LINGERIE E PIJAMAS LTDA” ........................................................................ “LOJA DAS CALCINHAS”<br />
“ANTONIO LOPES DOS SANTOS E CORREAS LTDA” ................................ “ALTERNATIVA ESTOFADOS”<br />
“BOLA BONECA CONFECÇÕES MOD. INF. JUVENIL” ....................................................... “BOLA BONECA”<br />
“BRASIL TELECOM S/A” ....................................................................................................... “BRASIL TELECOM”<br />
“BROJATO E CSARIM LTDA” ................................................................................................... “CELULAR.COM”<br />
“CASA DOS VIDROS ROYAL LTDA” ................................................................. “CASA DOS VIDROS ROYAL”<br />
“CLAUDINEI PALERMO DA SILVA” ..................................................................................... “KATHY E JHENY”<br />
“COUTINHO E SILVA LTDA” ......................................................... “ART SUU ESTOFADOS E DECORAÇÃO”<br />
“G.R. GUILHEN E CIA LTDA” ................................................................................... “LA LUNA CONFECÇÕES”<br />
“IMOBILIÁRIA TETTUS S/C LTDA” ............................................................................ “IMOBILIÁRIA TETTUS”<br />
“ISHII E KITAHARA LTDA” ........................................................................................................... “TRILHA BIKE”<br />
“J.M.A. ELETRÔNICA LTDA” ............................................................................. “ELETRÔNICA MATSUKURA”<br />
“KATIA LOPES DE ANDRADE” ................................................................ “VOLARE MODAS E ACESSÓRIOS”<br />
“LONDRES CALÇADOS LTDA” ............................................................................................................ “LONDON”<br />
“LOVENEW COMERCIAL DE ARMARINHOS LTDA” ............................................ “LOVENEW PRESENTES”<br />
“LUCIANA COSTA FONTES - ME” ............................................................................................. “BENETONNER”<br />
“MALHAPAR COM. DE MALHAS LTDA” ...................................................................................... “MALHAPAR”<br />
Segundo Diretor de Serviços<br />
BRUNO VERONESI<br />
Conselho da Mulher Empresária<br />
MARCIA IVALE<br />
Conselho Deliberativo<br />
GEORGE HIRAIWA, NESTOR DIAS CORREIA,<br />
LEONARDO MAKOTO YOSHII, MAURÍCIO<br />
GONÇALVES GARCIA CID, CARLOS ALBERTO<br />
DE SOUZA FARIAS, RAFAEL DE GIOVANI<br />
NETTO, CRISTIANE YURI TOMA<br />
Conselho Fiscal<br />
Titulares - HELENIDA TAUFIK TAUIL DA<br />
COSTA BRANCO, LUIZ CARLOS ADATI,<br />
ADEMAR VEDOATO<br />
Suplentes - MARLENE REGINA<br />
MARCHIORI, ELIAS FERREIRA, MARCELO<br />
PAGANUCCI ONTIVERO<br />
A<br />
n<br />
SSOCIADOS<br />
o v o s<br />
O “Jornal da ACILé uma publicação da Associação Comercial e Industrial<br />
de Londrina. Distribuição gratuita. Correspondências para o<br />
“Jornal da ACIL”, incluindo reclamações e sugestões de reportagens,<br />
devem ser enviadas à sede da Associação ou pelo e-mail<br />
roberto@acil.com.br.<br />
Coordenação e edição<br />
Roberto Francisco<br />
Edição<br />
Paulo Briguet<br />
Fotografia<br />
Josoé de Carvalho,<br />
Arquivos ACIL e<br />
Alessandra Oliveira<br />
Colaboradores<br />
Carina Paccola<br />
Domingos Pellegrini<br />
José Antonio Pedriali<br />
Jota Oliveira<br />
Katia Baggio<br />
Marta Ortega<br />
Silvana Leão<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
“MILL REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA” ....................................... “MILL REPRESENTAÇÕES”<br />
“OLINDINA PRESENTES E UTILIDADES LTDA” ........................................................................... “OLINDINA”<br />
“ORTHOSTETIC SERVIÇOS LTDA” .......................................................................................... “ORTHOSTETIC”<br />
“PAULA CRISTINA DE CAMPOS LIMA LUTRETTO - ME” ................................................ “CASA DO FREIO”<br />
“PERFUMARIA THAROS LTDA - ME” ........................................ “THAROS COSMÉTICOS E PERFUMARIA”<br />
“PLANETA DAS FLORES LTDA” ............................................... “PLANETA DAS FLORES FLORICULTURA”<br />
“POLO COMÉRCIO DE BICICLETAS LTDA” .................................................................... “POLO BICICLETAS”<br />
“PRIMA LINEA COM. DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO LTDA” ............................................... “PRIMA LINEA”<br />
“R. Y. NATORI & CIA LTDA” ............................................................................................. “NIKKON CELULAR”<br />
“REGINA CORRÊA PEREIRA” ................................................................................................ “SONHO DE BEBÊ”<br />
SARA JAQUELINE MOREIRA - MINIMERCADO” ............................................................ “SARA JAQUELINE”<br />
“SCHIETTI E SAPIA LTDA” ................................................................................. “SCHIETTI E SAPIA IMÓVEIS”<br />
“SHALON PEÇAS E ACESSÓRIOS LTDA” ....................................................................................... “EQUIPCAR”<br />
“SHOP BALLET LTDA” ................................................................................................................. “SHOP BALLET”<br />
“SOUZA MERLO FONSECA E CIA LTDA” ............................................................. “TREVO DISTRIBUIDORA”<br />
“WALDEN GERALDO SOARES EULALIO MARMORES” ....................................... “GILGRAN MÁRMORES”<br />
“ZAMPIERI NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA” ........................................ “MZ NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS”<br />
Revisão de textos<br />
Célia Polesel<br />
Diagramação e<br />
tratamento de imagens<br />
LPR - Publicidade,<br />
Promoção e<br />
Montagem S/C Ltda<br />
Impressão<br />
Jornal de Londrina
JORNAL DA ACIL/Novembro 3<br />
Londrina deverá ter este<br />
ano uma campanha de Natal<br />
diferente, com uma nova concepção<br />
e abrangência estadual,<br />
resultado de um trabalho<br />
conjunto entre a ACIL e a Pre-<br />
Mailing ACIL<br />
A ACIL está oferecendo um<br />
novo serviço para seus associados.<br />
Com o objetivo de promover<br />
novos negócios, o<br />
mailing da associação foi separado<br />
por categorias para<br />
promover uma comunicação<br />
direta, eficiente e personalizada<br />
de produtos e serviços. Assim,<br />
se uma indústria cria um<br />
novo produto, isso pode ser<br />
bastante interessante para um<br />
comerciante, bem como a divulgação<br />
de uma promoção<br />
para um grupo que costuma<br />
adquirir justamente aquele<br />
produto ou serviço ofertado.<br />
O atendimento da ACIL é<br />
completo, ou seja, o interessado<br />
traz o seu material até a<br />
sede da associação para aprovação,<br />
escolhe os segmentos<br />
que quer atingir e a ACIL se<br />
encarrega da impressão de etiquetas,<br />
etiquetagem e entrega,<br />
e o que é mais importante,<br />
transferindo aos associados<br />
apenas o custo desses serviços.<br />
Oferecemos ainda a modalidade<br />
de entrega<br />
protocolada, para os casos em<br />
que a confirmação dos recebimentos<br />
em razão de prazos é<br />
importante; tudo isso feito por<br />
empresa especializada a um<br />
custo muito reduzido, inferior<br />
FINAL DE ANO<br />
Natal institucional<br />
Londrinatal deste ano terá um novo formato.<br />
Detalhes estão sendo definidos pela ACIL e Prefeitura<br />
feitura. Essa deverá ser a versão<br />
2003 da Londrinatal, campanha<br />
criada pela ACIL em<br />
1994. Os detalhes finais da<br />
Londrinatal 2003 estavam<br />
sendo definidos no fechamen-<br />
to desta edição, no dia 15 deste<br />
mês.<br />
A campanha terá uma proposta<br />
institucional, ou seja, terá<br />
como objetivo “vender”<br />
Londrina como uma ótima op-<br />
ção para as compras de Natal.<br />
Uma cidade na qual os consumidores<br />
de todo o Estado vão<br />
encontrar de tudo neste Natal,<br />
com bons preços e formas<br />
atraentes de pagamento. E<br />
COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL<br />
ainda têm a oportunidade de<br />
assistir a apresentações artísticas<br />
e participar de atividades<br />
culturais que só Londrina<br />
oferece. A idéia é levar a<br />
campanha a todo o Estado.<br />
Em contato com todo mundo<br />
ACIL oferece dois serviços de comunicação<br />
para os associados<br />
Callcenter ACIL: linha direta entre sua empresa<br />
e os clientes, os fornecedores ou a comunidade<br />
ao sistema tradicional.<br />
O serviço de comunicação<br />
via e-mail também poderá ser<br />
disponibilizado, atendendo a<br />
algumas condições.<br />
E mais: os associados poderão<br />
inserir encartes no Jornal<br />
da ACIL, que hoje tem<br />
uma tiragem de 10 mil exemplares.<br />
É a ACIL facilitando a<br />
integração e a sinergia entre<br />
os empresários londrinenses<br />
para movimentar ainda mais<br />
a nossa economia.<br />
Para contratar o serviço,<br />
procurar Rogério pelo fone<br />
3374-3005.<br />
Callcenter ACIL<br />
Para divulgação de produtos<br />
ou serviços, pesquisas, convites<br />
ou atualização de cadastros, a<br />
ACIL conta com um novo sistema<br />
de telemarketing totalmente<br />
informatizado, o que possibilita<br />
maior número de ligações por<br />
período e relatórios detalhados<br />
do trabalho, além de contar com<br />
operadores treinados para atingir<br />
os objetivos dos clientes. Após<br />
uma fase de adequação e treinamento<br />
com os serviços internos,<br />
a ACIL está disponibilizando o<br />
serviço para os associados por<br />
preços diferenciados e acessíveis.<br />
É importante salientar que o serviço<br />
pode ser adequado para empresas<br />
grandes, médias ou pequenas,<br />
racionalizando os trabalhos<br />
e custos, possibilitando<br />
aos funcionários a concentração<br />
em suas tarefas habituais, sem<br />
prejuízo do atendimento aos<br />
clientes.<br />
O Callcenter da ACIL se ocupa<br />
dos trabalhos pontuais ou<br />
esporádicos de comunicação com<br />
consumidores, fornecedores ou<br />
a comunidade. Hoje as empresas<br />
precisam se comunicar, e<br />
nada melhor do que escolher o<br />
veículo certo. No caso de os associados<br />
não terem grupos próprios<br />
selecionados, a associação<br />
disponibiliza o serviço de seleção<br />
de prospects em conjunto com o<br />
mailing da ACIL, personalizando<br />
a escolha e otimizando os resultados<br />
do serviço. Para mais informações<br />
procurar Patrícia pelo<br />
fone 3374-3010.
4<br />
Marta Ortega<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
Foram dois dias de grande<br />
movimento para o setor de confecções<br />
em Londrina. Em um<br />
prazo recorde de 40 dias, foi<br />
preparado o Estação Fashion<br />
Londrina, que pretende entrar<br />
para o calendário dos grandes<br />
eventos de moda do País. Toda a<br />
estrutura do Centro de Exposições<br />
e Eventos de Londrina foi<br />
preparada para receber empresários<br />
e compradores, além do<br />
grande público que prestigiou os<br />
desfiles das principais marcas<br />
confeccionadas na Cidade.<br />
O Estação Fashion Londrina<br />
teve apoio da Prefeitura de Londrina,<br />
Codel, Vestpar, Sebrae,<br />
Sistema FIEP, Conselho da Mulher<br />
Empresária da ACIL,<br />
Sercomtel, Clarear, IBIT, Apex e<br />
Universidade Estadual de Londrina.<br />
A organização foi feita pela<br />
Fashion House, empresa de<br />
Maringá especializada em<br />
eventos de moda.<br />
Os objetivos principais do<br />
evento foram atrair compradores<br />
do Brasil e do exterior e mostrar<br />
o que é produzido nas fábricas<br />
de Londrina, através da realização<br />
de rodadas de negócios.<br />
A primeira edição, realizada nos<br />
dias 11 e 12 de novembro, contou<br />
a participação de 60 empresas<br />
do segmento de moda íntima,<br />
praia, infantil, fitness e<br />
jeanswear.<br />
O contato entre comprado-<br />
ESTAÇÃO FASHION LONDRINA<br />
Cidade da moda<br />
Evento levou para a passarela a moda verão<br />
produzida nas fábricas da região<br />
res e fabricantes foi selado com a<br />
realização de um desfile que<br />
movimentou o Centro de Exposições<br />
e Eventos de Londrina. O<br />
stylist londrinense Ronaldo Gomes,<br />
que atua em São Paulo, foi<br />
o responsável pela preparação<br />
geral do desfile. Com experiência<br />
em eventos nacionais e internacionais,<br />
ele participou desde a<br />
escolha dos modelos até a<br />
composição das peças de cada<br />
empresa fabricante. O resultado<br />
foi um misto de beleza, sensualidade<br />
e muita criatividade na<br />
noite de 12 de novembro. As<br />
Desfiles atraíram público de 1.500 pessoas ao<br />
Centro de Eventos e Convenções de Londrina<br />
fábricas de confecções da Cidade<br />
apresentaram looks modernos,<br />
arrojados e diferenciados para<br />
um público que lotou o espaço<br />
preparado para o desfile. Estavam<br />
presentes mais de 1.500<br />
pessoas, entre empresários,<br />
confeccionistas, imprensa local<br />
e imprensa especializada em<br />
moda, que acompanharam a<br />
apresentação das 12 principais<br />
grifes da Cidade. Os especialistas<br />
em moda avaliaram como<br />
positivo o potencial de crescimento<br />
do setor na região.<br />
Na abertura do desfile, foi<br />
apresentado o trabalho da fotógrafa<br />
Alessandra Oliveira, de<br />
Cambé, que possui grande experiência<br />
em editoriais de moda<br />
dos principais centros<br />
lançadores de tendências da<br />
Europa. Através de uma linguagem<br />
visual moderna e arrojada,<br />
ela mostrou a adequação e o<br />
perfil inovador das propostas de<br />
moda da região, com fotos realizadas<br />
em diversas locações de<br />
Londrina, do amanhecer ao anoitecer.<br />
As fotos – que fazem parte<br />
do catálogo de divulgação internacional<br />
da moda londrinense –<br />
puderam ser vistas durante o<br />
evento na exposição Estação<br />
Fashion Londrina: 24 horas de<br />
Moda.<br />
Na passarela, muita sensualidade<br />
já no primeiro desfile, que<br />
apresentou a moda íntima e<br />
homewear criada pela Matenyl.<br />
A empresa produz lingeries, pijamas<br />
e camisolas. A camisaria<br />
da Hábito chega forte, com listras<br />
e efeitos maquinetados.<br />
Cores modernas fazem a diferença<br />
na marca. O estilo marinheiro<br />
predominou na coleção<br />
da Lucca Sportswear, com as<br />
cores e as belezas naturais do<br />
Nordeste brasileiro. Tecidos inteligentes<br />
nas cores branco, preto<br />
e vermelho. A Lua Morena se<br />
inspirou na cultura<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
pernambucana e trouxe cores<br />
fortes nas roupas de banho. Uma<br />
coleção feminina, jovem e delicadamente<br />
sensual. As estampas<br />
florais, geométricas e listradas<br />
dão um toque de brasilidade<br />
à marca. A Íon Positivo Sportwear<br />
traz uma moda exclusivamente<br />
esportiva e direcionada para um<br />
público jovem. O preto e as cores<br />
contrastantes destacam a roupa,<br />
que modela o corpo. A Pura<br />
Mania encerrou o primeiro bloco<br />
fazendo uma brincadeira divertida<br />
com roupas encontradas<br />
num velho guarda-roupa. A “Era<br />
Disco” destaca o índigo e a<br />
malharia, com cores intensas.<br />
Fivelas e botões complementam<br />
o visual.<br />
O segundo bloco foi aberto<br />
pelo estilista Nélio Pinheiro. As<br />
modelos entraram pelas laterais<br />
da passarela com vestidos pretos,<br />
amarrados ao corpo. O tema<br />
“Teia da Vida” destaca também<br />
as cores prata e pink da coleção.<br />
A Basic trouxe o calor e as cores<br />
vibrantes do México. Minissaias,<br />
camisetas e acessórios<br />
mexicanos foram a marca da<br />
coleção, que apresenta um trabalho<br />
de design e lavagens<br />
diferenciadas nas roupas. Uma<br />
releitura fetichista e sexy sobre o<br />
universo da dança foi a proposta<br />
da Ex-Madame, que desmistifica<br />
a figura angelical da bailarina<br />
com tecidos engessados e dupla<br />
face (um toque tecnológico nas<br />
roupas). A Sonhart apresentou<br />
temas lúdicos, grafismos das histórias<br />
em quadrinhos e os personagens<br />
dos desenhos animados.<br />
Cores aquareladas e joviais garantem<br />
o ar romântico da coleção.<br />
A Say Brazil levou à passarela<br />
decotes, cores vibrantes e<br />
muita sensualidade. Elementos<br />
de alta costura ganham ares modernos<br />
com acessórios arrojados,<br />
feitos de fibra artesanal,<br />
usada também nas roupas. A<br />
Mulher Elástica encerrou o desfile<br />
com uma coleção que alia<br />
conforto e versatilidade. Cores<br />
vivas se mis
4<br />
fotos: alessandra oLiveira<br />
hábito<br />
ESTAÇÃO FASHION LONDRINA<br />
ex-madame<br />
pura mania<br />
basic<br />
lua morena<br />
matenyl<br />
íon positivo<br />
mulher elástica<br />
say brazil<br />
sonhart<br />
nélio pinheiro<br />
lucca<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro
6<br />
Inserir a exportação na pauta<br />
das empresas de confecção<br />
do Paraná foi um dos objetivos<br />
alcançados durante a 2ª Rodada<br />
Internacional de Negócios do<br />
Vestuário do Paraná, que se<br />
realizou nos dias 11 e 12 de<br />
novembro em Londrina, como<br />
parte do evento Estação Fashion<br />
Londrina.<br />
Nesses dois dias, cerca de 60<br />
produtores de moda da região<br />
sentaram-se à mesa com 14<br />
representantes de oito países:<br />
Alemanha, Argentina, Canadá,<br />
Chile, Estados Unidos, França,<br />
México e Uruguai. Ao todo, foram<br />
441 reuniões. A movimentação<br />
foi intensa no Centro de<br />
Exposições e Eventos de<br />
Londrina. Com auxílio de tradutores<br />
e com amostras das<br />
roupas produzidas por aqui, os<br />
empresários brasileiros transitaram<br />
de mesa em mesa negociando<br />
as possibilidades de<br />
atender às demandas dos compradores<br />
estrangeiros. Nas<br />
araras que carregavam pra lá e<br />
pra cá havia roupas de bebê,<br />
trajes de banho, jeans, roupas<br />
infantis, de fitness, confecções<br />
masculinas e femininas.<br />
No final da maratona, o resultado<br />
é avaliado como bastante<br />
positivo. A estimativa é de<br />
fechar negócios que ultrapassam<br />
os US$ 5,5 milhões no<br />
próximo ano. O balanço foi<br />
apresentado pelo Sebrae, que<br />
coordenou a Rodada.<br />
Segundo o presidente do<br />
Sivepar, Marcos Tadeu<br />
Koslovski, essa projeção de<br />
vendas ficou muito além da<br />
expectativa inicial que era de<br />
US$ 500 mil. Se os negócios<br />
realmente se concretizarem, irão<br />
possibilitar o aumento das<br />
exportações do setor no Paraná<br />
que são insignificantes. O Estado<br />
hoje não chega a exportar 1%<br />
das 130 milhões de peças que<br />
produz anualmente, segundo<br />
Koslovski. E a meta é em 2004 o<br />
Paraná vender pelo menos 5%<br />
para o mercado externo.<br />
Koslovski considera que,<br />
mesmo que as empresas participantes<br />
da Rodada não efetivem<br />
os negócios, os contatos<br />
feitos nesses dois dias são<br />
válidos pela experiência. “As<br />
empresas puderam mostrar<br />
ESTAÇÃO FASHION LONDRINA<br />
Passarela de negócios<br />
Rodada Internacional permite contato<br />
entre fabricantes da região e compradores<br />
do exterior<br />
seus produtos que foram avaliados<br />
como positivos ou negativos<br />
e assim vão poder se adaptar<br />
a esse novo conceito de<br />
exportação. Todas saíram dali<br />
com possibilidades de negócio,<br />
mesmo que não seja nesse<br />
momento. É um primeiro<br />
contato. As empresas vão<br />
descobrindo esse mercado e<br />
vendo que não é difícil exportar.”<br />
Entre os compradores estrangeiros,<br />
havia procura por preços<br />
mais competitivos e também por<br />
produtos com alta qualidade. O<br />
grupo Leopoldo Gross y<br />
Associados, de Montevidéu<br />
(Uruguai), que existe há 67 anos,<br />
já importa tecidos e confecções<br />
brasileiros há muitos anos, mas<br />
nunca fez negócios com o Paraná.<br />
O diretor da empresa, Jorge<br />
Fynn, disse que estava à procura<br />
de calças, bermudas e camisas<br />
masculinas com preços mais baixos<br />
do que encontrou na Rodada.<br />
Segundo ele, o Brasil hoje<br />
está caro para o Uruguai. “Mas<br />
existe possibilidade de alguns<br />
desses contatos virarem negócio<br />
no futuro”, afirmou.<br />
Fynn elogiou os produtos que<br />
viu e avaliou que algumas<br />
indústrias precisam melhorar a<br />
apresentação dos preços para<br />
exportar. Segundo ele, o Brasil<br />
tem um dos melhores algodões<br />
do mundo e produz tecidos com<br />
boa tecnologia.<br />
O brasileiro Paulo Costa,<br />
sócio da empresa norte-ameri-<br />
cana Last Chance, encarregado<br />
de encontrar fornecedores para<br />
distribuidores nos Estados Unidos,<br />
afirma que as rodadas de<br />
negócio contribuem para que os<br />
brasileiros aprimorem sua capacidade<br />
de negociação com o<br />
mercado externo. Segundo ele,<br />
os negócios que se iniciam nas<br />
rodadas demoram em média seis<br />
meses para se concretizar.<br />
“Agora levo amostras do que vi<br />
e, se for o caso, começamos a<br />
trocar informações para que o<br />
Brasil desenvolva as roupas nas<br />
especificações que interessam<br />
aos meus clientes americanos.”<br />
O canadense Peter Cullen,<br />
que já importa roupa brasileira<br />
para o Canadá e Estados Unidos,<br />
afirma que encontrou produtos<br />
e preços bons na Rodada.<br />
Na opinião dele, a moda brasileira<br />
está bem à frente da produzida<br />
Primeira edição do<br />
evento contou com 60<br />
empresas do segmento da moda<br />
Em dois dias de<br />
negociação, foram feitos 441<br />
agendamentos com compradores<br />
Expectativa de<br />
O canadense<br />
Peter Cullen: “O<br />
Brasil faz roupas<br />
coloridas,<br />
modernas e com<br />
tecnologia. E os<br />
meus clientes<br />
querem sempre<br />
novidades”<br />
faturamento é de US$ 5,5 milhões,<br />
segundo o Sebrae<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
no Canadá e EUA. “O Brasil faz<br />
roupas coloridas, modernas e<br />
com tecnologia. Os meus clientes<br />
querem sempre novidades.<br />
Já estão cansados do que existe<br />
por lá.”<br />
As argentinas Guillermina<br />
Casey, que trabalha com<br />
marketing, e Viviana Laura De<br />
Divitiis, analista de comércio<br />
exterior, representam a empresa<br />
House of Fuller, que faz<br />
vendas por catálogos de confecções,<br />
cosméticos e produtos<br />
para casa. Com sede em Buenos<br />
Aires, a House of Fuller conta<br />
com 80 mil revendedores em<br />
toda a Argentina, além de ter<br />
representantes no México, Uruguai<br />
e também no Brasil.<br />
A empresa já compra confecções<br />
e roupas para casa de<br />
Santa Catarina e calçados de<br />
São Paulo e está atrás de novos<br />
fornecedores. As representantes<br />
contam que o Mercosul<br />
facilitou a importação de produtos<br />
brasileiros. “A China<br />
acabou ficando cara por causa<br />
dos custos de importação.”<br />
Segundo elas, as camisetas<br />
e meias que viram por aqui<br />
estão com preços adequados<br />
para a empresa. Mas gostariam<br />
de negociar com alguns<br />
fabricantes a troca dos tecidos<br />
por outros mais baratos. “Gostamos<br />
das estampas e da qualidade.<br />
Os brasileiros geralmente<br />
fazem as adaptações de forma<br />
rápida. Acreditamos que<br />
faremos negócios. Começamos<br />
com um volume pequeno e<br />
vamos reforçando os pedidos.”<br />
O volume de vendas da empresa<br />
é de 100 mil peças de confecções<br />
a cada 20 dias – informam.<br />
Para o Sivepar, os benefícios<br />
dessas negociações vão além<br />
das vendas. Segundo Koslovski,<br />
Londrina terá um retorno muito<br />
grande na divulgação de seu<br />
parque fabril. “Para o próximo<br />
ano, a Rodada pode ter um<br />
crescimento de 20% a 30% no<br />
número de negócios”, prevê.
JORNAL DA ACIL/Novembro 7<br />
Otimismo e qualidade<br />
Aparecido Edgar Vieira participou<br />
pela primeira vez de<br />
uma rodada de negociação. Fabricante<br />
de lingerie há 22 anos,<br />
ele mantém uma produção de<br />
15 mil peças por mês na<br />
Matenyl, empresa que emprega<br />
20 funcionários em Londrina.<br />
Ele vende a produção em<br />
todo o Paraná e tem agora a<br />
expectativa de exportar o produto.<br />
“Apresentamos a produção<br />
para a Alemanha, Argentina<br />
e Chile. Acredito que sairá<br />
negócio com a Alemanha e<br />
Chile. O contato foi bom e consideraram<br />
nosso produto de<br />
boa qualidade.”<br />
Outro fabricante, Délcio de<br />
Almeida, da Hakme, empresa<br />
que há 15 anos faz calças e<br />
jaquetas jeans, estava confiante,<br />
depois do contato com<br />
quatro países. “Todo contato<br />
para venda é bom. Não formulamos<br />
nada efetivo, mas vamos<br />
enviar amostras para que o produto<br />
seja melhor avaliado”, comentou.<br />
A fábrica emprega<br />
1.050 funcionários, responsáveis<br />
pela produção de 120 mil<br />
peças por mês.<br />
O fabricante considera o<br />
evento importante para manter<br />
o contato direto com os<br />
compradores estrangeiros.<br />
“Nossa maior dificuldade é exportar.<br />
Esse contato direto facilita.”<br />
Confiante também estava o<br />
fabricante de malhas da Polo<br />
Mania, André Luiz Crespan. Há<br />
três anos com a empresa, ele<br />
mantém 150 empregados com<br />
uma produção de 90 mil peças,<br />
vendidas em todo o Brasil. O<br />
contato com os compradores<br />
argentinos só esbarrou no preço,<br />
que ainda será avaliado.<br />
“Eles querem um preço menor<br />
e tudo será discutido.” Crespan<br />
considera o evento importante<br />
para a região. “O entrosamento<br />
entre empresários e fabricantes<br />
é fundamental para o negócio<br />
dar certo.”<br />
A empresa La Playa, que<br />
existe há 17 anos em Londrina,<br />
vende biquínis para a<br />
Espanha. Mas a exportação<br />
não chega a 1% da produção,<br />
ESTAÇÃO FASHION LONDRINA<br />
Empresários do setor esperam<br />
fazer bons negócios com o<br />
exterior<br />
segundo o gerente de vendas<br />
Luiz Ranea Orlando. Em quatro<br />
anos, a La Playa quer exportar<br />
20% do que produz.<br />
Para atingir a meta, a empresa<br />
está há seis meses se<br />
preparando para a exportação.<br />
A busca do mercado externo<br />
– de acordo com Ranea – é<br />
uma estratégia de sobrevivência.<br />
“Dessa forma, aliviamos a<br />
carga tributária interna e melhoramos<br />
o nosso desempenho<br />
também no mercado interno.”<br />
Ele explica que a empresa<br />
não faz adaptações de seus produtos<br />
para o mercado externo<br />
porque trabalha com o conceito<br />
de exportar moda. “O Brasil<br />
hoje dita a moda praia para o<br />
mundo. É um conceito que se<br />
vende. A Gisele Bündchen e<br />
outras modelos brasileiras contribuíram<br />
para isso. Quando<br />
se vende um conceito, o lucro<br />
vem junto”, diz. Em 2002, o<br />
Brasil exportou 19 milhões de<br />
peças de moda praia para os<br />
Estados Unidos.<br />
Segundo Ranea, a La Playa<br />
trabalha com clientes que querem<br />
moda. “Se o consumidor<br />
quer apenas preço e exige mudança<br />
na modelagem é fácil ele<br />
trocar de fornecedor assim que<br />
encontrar um preço melhor.<br />
Por isso trabalhamos com conceito.”<br />
Para a empresa FA<br />
Maringá, que produz jeans,<br />
camisas e camisetas masculinas<br />
e femininas, a busca<br />
pelo mercado externo também<br />
é uma alternativa para<br />
superar os altos e baixos do<br />
mercado brasileiro - afirma o<br />
diretor de Assuntos para Exportação,<br />
Eduardo Borin.<br />
No mercado há 40 anos, a<br />
FA exporta entre 2% e 3% de<br />
sua produção para os Estados<br />
Unidos desde 1999. Para lá,<br />
vão calças femininas com lycra<br />
Aparecido Edgar<br />
Vieira, da Matenyl:<br />
“Apresentamos a<br />
produção para a<br />
Alemanha,<br />
Argentina e Chile”<br />
– que estão em baixa no mercado<br />
brasileiro. “Fazemos adaptações<br />
para atender aos clientes”,<br />
diz Borin.<br />
Segundo ele, a maior dificuldade<br />
para aumentar a exportação<br />
é conseguir contatos<br />
com os clientes. Por isso, ele<br />
considera importante a Rodada<br />
de negócios. “Encontrar o<br />
cliente é difícil também no Brasil.<br />
Fora, é ainda mais.” Outro<br />
benefício da Rodada – diz – é a<br />
troca de informações. “Como<br />
estão uma estação à frente da<br />
nossa, podem antecipar as tendências<br />
de inverno. Mas queremos<br />
esses contatos para fechar<br />
negócios. Sabendo o que<br />
querem esses clientes, adaptamos<br />
nossa produção para<br />
atendê-los.”<br />
Alaídes Medeiros, da SS<br />
Malhas, de Toledo, avalia que<br />
participar da Rodada é um dos<br />
primeiros passos para a exportação.<br />
Pelos contatos que man-<br />
Délcio de Almeida, da<br />
Hakme: “Nossa maior<br />
dificuldade é exportar. Esse<br />
contato direto facilita”<br />
teve, Medeiros avalia que a<br />
empresa, de 16 anos, não precisaria<br />
mudar seus produtos.<br />
“Teríamos apenas que aumentar<br />
a produção. Agora vou enviar<br />
amostras de camiseta pólo<br />
e calça de moleton para a<br />
Europa e o Uruguai.”<br />
Também de Toledo, o gerente<br />
de vendas André Winkelmann<br />
afirma que a empresa Blazius<br />
já fabrica com padrão<br />
internacional. “Fornecemos<br />
roupas para grandes redes de<br />
lojas no Brasil e trabalhamos<br />
com as normas da ABNT para<br />
exportação. Talvez tenhamos<br />
que fazer um ou outro ajuste,<br />
mas não teremos dificuldades”,<br />
diz. (Marta Ortega e Carina<br />
Paccola)
8<br />
BOM ATENDIMENTO<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
Tudo começa no sorriso<br />
Um novo passeio com o ET mostra os diversos<br />
tipos de atendimento que encontramos na Cidade<br />
Por Domingos Pellegrini<br />
O ET gosta de histórias, saber a origem de<br />
tudo, como surgiu cada coisa ou costume humano.<br />
Por exemplo, como surgiu o saca-rolhas; e eu<br />
vou lá saber? Também quis saber por que os<br />
homens deixaram de usar chapéu, e por que as<br />
pessoas mandam abraço para os outros, mesmo<br />
quando estão perto e podem abraçar realmente.<br />
Digo que é a natureza humana.<br />
Outro dia perguntou como surgiu o comércio,<br />
que ele acha a maior invenção humana<br />
depois da agricultura. Contei que os primeiros<br />
grandes comerciantes do mundo ocidental foram<br />
os fenícios, vendendo seus azeites e tecidos<br />
etc. por todo o Mediterrâneo e até na Ásia Menor,<br />
graças aos navios feitos com cedro do Líbano e<br />
aos camelos para as caravanas.<br />
– E graças também a outras grandes invenções,<br />
as malas e baús para embalar as mercadorias,<br />
sem o que o comércio marítimo e terrestre<br />
teria sido impossível.<br />
Conto que os imigrantes libaneses, quando<br />
chegavam aqui, vendiam de casa em casa, com<br />
malas, mascateando, até virarem lojistas estabelecidos.<br />
– Foram eles que nos trouxeram a venda a<br />
prestações.<br />
Mas o ET quer saber como começou o comércio<br />
ancestral, lá nos primórdios. Como o ser<br />
humano descobriu que podia produzir mais coisas<br />
do que necessita para viver, e vender sem dinheiro,<br />
que ele acha outra grande invenção humana.<br />
Conto que antes do dinheiro não havia vendas,<br />
o comércio começou com o que hoje chamamos<br />
mercado de troca. Um sujeito pescava mais<br />
do que podia comer, então salgava e trocava os<br />
peixes secos por peles de animais curtidas pelo<br />
caçador, que trocava alguns dos peixes por uma<br />
boa faca de osso feita pelo artesão, que dava um<br />
dos peixes para o feiticeiro da tribo fazer uma<br />
oração protetora e assim por diante.<br />
– Muito interessante – diz o ET. – Mas por que<br />
não continuaram assim para sempre sem precisar<br />
de dinheiro?<br />
Conto que a sociedade humana foi aumentando<br />
e complicando, as tribos nômades de<br />
caçadores e pescadores viraram aldeias de<br />
agricultores e pastores, com mais e mais utensílios<br />
e ferramentas para trabalhos<br />
especializados, portanto mais artesãos e operários,<br />
e segurança, governo, portanto fiscais e<br />
assessores, as aldeias virando cidades, surgindo<br />
também as empresas, portanto os burocratas,<br />
e as religiões e os templos, as indústrias<br />
etc, até as megalópoles de hoje, com gente<br />
trabalhando em todo tipo de coisa, até gente<br />
especializada em viver de lixo dos outros.
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
10 11<br />
Elói Müller, que produz o Vinho da<br />
Nossa Terra: “Quem compra, volta”<br />
A VERDADE DO VINHO<br />
Com o vinho se alimentam<br />
as forças, o sangue e o<br />
calor dos homens.<br />
(Plínio Antigo)<br />
O vinho alegrará o<br />
coração do homem.<br />
(Salmos, Antigo Testamento)<br />
O vinho, desde o princípio,<br />
foi criado para regozijo,<br />
e não para embriaguez.<br />
(Eclesiástico, Antigo Testamento)<br />
Quando o vinho desce,<br />
as palavras sobem.<br />
(Anônimo)<br />
O vinho é o cavalo dos poetas.<br />
(Pontanus)<br />
O vinho subiu-me à cabeça.<br />
(Petrônio)<br />
(Fonte: “Dicionário de Expressões e Frases<br />
Latinas”, compilado por Henerik Kocher)<br />
IN VINO VERITAS<br />
Terra vermelha<br />
de vinho<br />
A Cidade consome, aprecia e até começa<br />
a produzir a mais tradicional das bebidas<br />
José Antonio Pedriali<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
“In vino veritas”, diz o mais do<br />
que velho ditado latino a respeito da<br />
eficiência desse fermentado em abrir<br />
os corações, as mentes, a alma... o<br />
bolso. A mais antiga das bebidas –<br />
há notícia dela há mais de 8 mil anos<br />
– tem sido ao longo de milênios uma<br />
espécie de moto-contínuo da<br />
economia mundial: praticamente em<br />
todas as partes do mundo, do Velho<br />
Continente à Ásia, da América Latina<br />
à Austrália, consome-se vinho,<br />
em maior ou menor volume, de menor<br />
ou maior qualidade, mas consome-se.<br />
E onde há consumidor, diz outro<br />
desgastado princípio da filosofia<br />
capitalista, há um produtor disposto<br />
a satisfazê-lo. E, naturalmente, a<br />
lucrar com isso. Em 80 séculos,<br />
inúmeras nações e povos desapareceram,<br />
a face da Terra passou por<br />
transformações assombrosas, tudo<br />
mudou: mas o vinho continua, cada<br />
vez melhor, sempre abundante. O<br />
vinho, portanto, foi, é e, até onde se<br />
pode imaginar, continuará sendo o<br />
mais fiel entre os fiéis companheiros<br />
do homem. E também de todos os<br />
filhos de Deus, como atesta a Bíblia,<br />
que o cita mais de 400 vezes, do<br />
Antigo ao Novo Testamento.<br />
Há vinhos de todas as qualidades,<br />
procedências, matizes, sabores,<br />
odores, cores. Há de tudo, até o<br />
vinho de Guaravera, que se supõe<br />
um produto genuinamente<br />
londrinense, quando, na realidade,<br />
é apenas engarrafado naquele distrito.<br />
Londrina, então, não produz a<br />
mais antiga das mais antigas bebidas?<br />
Não, Londrina também tem sua<br />
fábrica de vinho, mesmo que<br />
incipiente: a Vinícola Müller é a<br />
pioneira em explorar esse nicho de<br />
mercado. Do primeiro lote, de 2 mil<br />
litros, produzidos no ano passado,<br />
restam alguns garrafões, enquanto<br />
alguns outros tantos mil litros, da<br />
segunda safra de uva destinada a<br />
esta finalidade, sabiamente repousam<br />
nas cubas de aço inoxidável<br />
para que o tempo e a natureza trabalhem<br />
no aprimoramento e acabamento<br />
final do produto.<br />
A Vinícola Müller produz o “Vinho<br />
da Nossa Terra” a partir das<br />
uvas niágara (no ano que vem ele<br />
terá o tinto, derivado de outras<br />
qualidades de uva, mas por enquanto<br />
produz e comercializa apenas o<br />
branco seco e o rosado suave) numa<br />
propriedade de cinco alqueires próximo<br />
à entrada do Distrito da Warta.<br />
A primeira<br />
e autêntica vinícola<br />
de Lon-<br />
drina, no entanto,<br />
fica<br />
mesmo é na<br />
zona rural de<br />
Cambé. É isso<br />
o que indicam<br />
os documentos,<br />
embora<br />
tanto o proprietário,<br />
Elói<br />
Müller, quanto<br />
seus vizinhos considerem a<br />
localização exata apenas um acidente<br />
geográfico-político.Toda a ligação<br />
comercial das propriedades<br />
da região é com Londrina. Mas quem<br />
dá a manutenção nas estradas é a<br />
Prefeitura da cidade vizinha. Outro<br />
detalhe, apenas.<br />
A propriedade de Müller não parece<br />
estar localizada no Norte do<br />
Paraná, seja em Londrina seja em<br />
Cambé. Não há gado, não há soja,<br />
nem milho, nada que caracterize a<br />
produção regional. Nos 3,5 alqueires<br />
explorados da propriedade – 1,5<br />
alqueire é de mata nativa, um dos<br />
orgulhos do proprietário – planta-se<br />
maracujá, ameixa, maçã, morango<br />
Distrito da Warta<br />
pode se transformar<br />
no primeiro centro<br />
produtor de vinho<br />
de Londrina<br />
e, naturalmente, uva.<br />
Müller produz frutas há 15 anos,<br />
atividade a que se dedica depois de<br />
abandonar a profissão de caixeiroviajante.<br />
A produção de vinho foi<br />
incentivada pelo professor aposentado<br />
da Universidade Estadual de<br />
Londrina Alcides Carvalho, um<br />
enólogo de mão cheia. Carvalho dá<br />
orientação técnica a Müller, “importou”<br />
com ele cepas finas do Rio<br />
Grande do Sul e assessora também<br />
mais de uma dezena de produtores<br />
da região, que estão se preparando<br />
para seguir a trilha aberta pela Vinícola<br />
Müller.<br />
Todos os produtores estão instalados<br />
na região da Warta, seja do<br />
lado de Londrina,<br />
seja do<br />
de Cambé. Se<br />
todos perseverarem<br />
como Müller,<br />
a Warta está<br />
na iminência<br />
de se transformar<br />
num<br />
centro produtor<br />
de vinho.<br />
O primeiro de<br />
Londrina (e<br />
talvez também o primeiro de Cambé).<br />
“Quem compra, volta”, afirma<br />
Müller, orgulhoso do seu produto,<br />
ainda que – reconheça – seja preciso<br />
melhorar a apresentação. Seus<br />
vinhos não são ainda expostos em<br />
estabelecimentos comerciais porque<br />
carecem do certificado de qualidade<br />
expedido pelo Ministério da Saúde.<br />
O processo burocrático está em<br />
andamento e, até que seja concluído,<br />
o “Vinho da Nossa Terra”<br />
continuará sendo vendido no local<br />
em que é produzido.<br />
Para você chegar lá, é o seguinte:<br />
tome a estrada de terra que começa<br />
à esquerda da entrada principal da<br />
Warta pela Rodovia Carlos Strass.<br />
Exatos dois quilômetros depois está<br />
a Vinícola Müller (fones 9991-9782 e<br />
9123-4028), aberta de segunda a<br />
segunda, do nascer ao pôr-do-sol.<br />
Lucro? Müller diz que ainda não<br />
tem. “Mas é assim mesmo, tem de<br />
ser devagar”, pondera. Ele acaba de<br />
investir em cubas, esmagador e<br />
outros equipamentos necessários<br />
para produzir vinho, e tudo o que<br />
tem foi comprado no Rio Grande do<br />
Sul – o centro produtor de vinho<br />
brasileiro -, onde estagiou para<br />
aprender as manhas e os segredos<br />
do seu ofício.<br />
O lucro virá com o tempo, acredita<br />
Müller e incentiva o professor<br />
Carvalho, que apresenta uma fórmula<br />
matemática simples para orçar<br />
o ganho potencial dos produtores<br />
de uva que aderirem à fabricação<br />
de vinho: um quilo de uva rende em<br />
média ao produtor, tomando-se como<br />
base a safra passada, R$ 0,50; para<br />
se elaborar um litro de vinho exigem-se<br />
três quilos de uva (que renderiam<br />
in natura R$ 1,50), produto<br />
que será vendido a pelo menos R$ 5<br />
se sua qualidade for no mínimo<br />
satisfatória. Ou seja, em cada três<br />
quilos de uva o lucro será de R$ 3,50<br />
sobre os R$ 1,50 previstos inicialmente.<br />
Além do valor agregado, o vinho<br />
“pode ser vendido em qualquer época”,<br />
ressalta o professor Carvalho, “e<br />
não apenas, como a uva, por ser<br />
perecível, logo após a safra, quando<br />
geralmente há excesso de oferta”. A<br />
Vinícola Müller prepara-se também<br />
para produzir outros derivados da<br />
uva, do conhaque (“Conhaque do<br />
Nosso Vinho”) à grappa (“Grappa da<br />
Nossa Uva”). As primeiras experiências<br />
desses derivados se revelaram<br />
um sucesso – da produção, não sobrou<br />
litro sobre litro.<br />
Londrina está usando<br />
mais o saca-rolha<br />
Supermercados, lojas e<br />
restaurantes confirmam: cresceu<br />
o número de<br />
consumidores de vinho<br />
em Londrina<br />
Se a produção de vinho em Londrina é<br />
ainda embrionária, o consumo está em<br />
fase adulta, consolidado e em expansão,<br />
afirmam comerciantes e especialistas. As<br />
adegas de vinho tipo colonial fazem parte<br />
da história da Cidade, mas as casas<br />
especializadas em vinhos de qualidade<br />
são um fenômeno relativamente novo – a<br />
pioneira, Vinho & Cia., foi aberta há 18<br />
anos – e os supermercados se viram<br />
obrigados a expandir a oferta de produtos<br />
de qualidade.<br />
“Nos últimos dois anos tivemos um<br />
crescimento de pelo menos 20% na demanda”,<br />
contabiliza o enólogo e comerciante<br />
Eduardo Rizzi Valença, que participa<br />
da administração da loja fundada pelo pai,<br />
Acir Antonio Valença. A Vinhos & Cia.<br />
passou por três locais (cada um mais<br />
espaçoso que o outro) na Avenida<br />
Higienópolis antes de se estabelecer, há<br />
pouco mais de um ano, na Rua Goiás.<br />
A Vinhos & Cia. tem poucos vinhos<br />
nacionais. Sua especialidade, entre as<br />
mais de 400 marcas em oferta, são os<br />
estrangeiros, dos quais se destacam, pela<br />
qualidade e preço acessível, os chilenos e<br />
argentinos. Os clientes da loja são na<br />
maioria profissionais liberais.<br />
As gôndolas dos supermercados refletem<br />
o aumento da demanda. Nas duas<br />
lojas do Super Mufatto, por exemplo, o<br />
espaço dedicado aos vinhos é generoso e<br />
a seção dos importados é visivelmente<br />
maior – e melhor tratada. Os importados<br />
são acondicionados com mais esmero,<br />
deitados, enquanto os nacionais ficam de<br />
pé. Na loja do grupo instalada na Avenida<br />
Duque de Caxias, a seção de vinhos tem o<br />
aspecto de uma adega genuína.<br />
O subgerente do Super Mufatto da Rua<br />
Quintino Bocaiúva, Maurinei Nunes, diz<br />
que a empresa está satisfeita com a<br />
comercialização de vinho, que sofreu com<br />
a elevação do dólar, mas mantém um<br />
fluxo satisfatório. “O que mais vendemos,<br />
durante todo o ano, são os espumantes.”<br />
Nos meses frios, acrescenta Cássia<br />
Aparecida Gonçalves, a representante da<br />
importadora Lapastina, de São Paulo –<br />
que abastece vários supermercados, restaurantes<br />
e casas especializadas de<br />
Londrina – os que mais saem são os tintos;<br />
Eduardo Rizzi<br />
Valença, da<br />
Vinhos & Cia:<br />
especializada<br />
em vinhos<br />
estrangeiros, a<br />
loja cresceu nos<br />
últimos anos<br />
nas festas de fim de ano, além dos espumantes,<br />
cresce também a procura pelos<br />
suaves.<br />
Em qualquer época do ano, no entanto,<br />
os vinhos mais vendidos, garantem<br />
Cássia e Nunes, são os importados.<br />
Além da qualidade, um dos atrativos<br />
dos importados é o preço, às vezes mais<br />
baixo até que o de um equivalente nacional.<br />
Nas gôndolas dos supermercados, há<br />
vinhos portugueses a partir de R$ 12 a<br />
garrafa, podendo um francês chegar a R$<br />
63 (Bourgogne pinot noir safra 1998 da<br />
vinícola Louis Jadot), mas a média dos<br />
importados é entre R$ 20 e R$ 30. Os<br />
nacionais podem ser adquiridos a partir<br />
de R$ 2,78, mas a qualidade é sofrível,<br />
chegando a R$ 21 (Cordelier tinto safra<br />
1999). A média de preços das boas marcas<br />
é de R$ 9 a R$ 15.<br />
O aumento do consumo de vinhos<br />
finos é sentido também nos restaurantes,<br />
o que levou muitos a sofisticarem sua<br />
carta de vinhos.<br />
O maior entusiasta da conversão vinícola<br />
do consumidor londrinense é Alexandre<br />
Moraes. O estabelecimento do qual ele<br />
é sócio passou a fazer menção explícita ao<br />
vinho até no nome, recentemente alterado<br />
para Pantanal Restaurante, Petiscaria e<br />
Wine Bar.<br />
Sentindo a inclinação cada vez maior<br />
de seus clientes para o consumo do vinho,<br />
Moraes adotou uma estratégia simples,<br />
mas eficiente: antes de mais nada, o cliente<br />
é apresentado à carta de vinho, depois ao<br />
cardápio de comida e outras bebidas.<br />
Há um ano, segundo ele, o Pantanal<br />
vendia uma média de 30 garrafas de vinho<br />
por mês. Agora, são 200. “O vinho fideliza<br />
o consumidor”, sentencia Moraes, que<br />
aderiu ao consumo dessa bebida há pouco<br />
tempo mas tanto é o seu entusiasmo que<br />
parece ser um apaixonado por ela desde<br />
criancinha, ele que já foi um grande<br />
consumidor de cerveja. “As pessoas que<br />
aderem ao vinho não voltam para a cerveja,<br />
porque o organismo rejeita”, garante<br />
Moraes. (J.A.P.)<br />
Dono de casa<br />
especializada diz<br />
que demanda<br />
aumentou 20%<br />
em dois anos
JORNAL DA ACIL/Novembro 9<br />
No comércio e na vida,<br />
o melhor sorriso é<br />
aquele de quem<br />
gosta do que faz<br />
– E o comércio vende de tudo para todo<br />
mundo. Uma sociedade tão complicada não<br />
pode viver só à base de troca. Aumentaram as<br />
necessidades humanas, até com o consumo de<br />
produtos supérfluos e...<br />
– Supérfluos?<br />
– Coisas que a gente usa embora não precise.<br />
Quanto mais supérfluos usa, mais a pessoa é<br />
rica. Os miseráveis têm falta do essencial para<br />
viver, os pobres têm apenas isso e os ricos têm<br />
demais.<br />
O ET resmunga:<br />
– Vocês humanos...<br />
No planeta do ET, não há dinheiro nem<br />
comércio. Por alguns instantes, ele fica pensando<br />
– e pergunta:<br />
– Por que lojas morrem se são coisas tão<br />
úteis e bonitas?<br />
Conto que pode ser por causa das mudanças,<br />
como os homens deixando de usar chapéus<br />
e quebrando as fábricas e lojas de chapéus.<br />
Pode ser por muitas causas, mas a principal,<br />
conforme as pesquisas, é o mau atendimento; e<br />
o ET, claro, quer saber o que é atendimento.<br />
Explico que o atendimento começa no sorriso:<br />
– Quem atende sorrindo, mesmo que seja<br />
atendendo pelo telefone, tem mais sucesso,<br />
vende mais, consegue mais freguesia e mais fiel,<br />
além de resolver melhor todos os problemas e<br />
até ter mais saúde física e mental.<br />
– Então por que todos não sorriem sempre?<br />
É difícil? Dói?!<br />
Em vez de responder, levo o ET para um giro<br />
pelo comércio. Já que ele tem o poder de ver<br />
sentimentos, que veja. Visitamos várias<br />
pequenas lojas, onde o próprio dono atende, e,<br />
ao final do dia, ele já tirou algumas conclusões:<br />
– Na primeira loja, o homem nos atendeu<br />
sorrindo, mas foi um sorriso ensaiado, e um<br />
sorriso só. Ensinaram a ele que sorrir é bom<br />
para vender, mas logo ele estava pensando só<br />
em vender, ou seja, pensando só nele, e não na<br />
gente, e não sorriu mais.<br />
– E na segunda loja?<br />
– Aí o homem nos atendeu sorrindo também,<br />
e sorriu várias vezes. Ele estava pensando em<br />
nos vender outras coisas, além do que pedimos,<br />
e por isso a todo momento se lembrava de sorrir<br />
mais. Mas era o mesmo sorriso do primeiro<br />
comerciante, só que repetido.<br />
– Na terceira loja foi diferente?<br />
– Ele nos atendeu sorrindo, e continuou<br />
sorrindo, porque estava falando de coisas que<br />
gosta, os artigos que vende, e falando com quem<br />
gosta.<br />
– Ele gosta de nós? Mas foi a primeira vez que<br />
me viu na vida!<br />
– Ele gosta de gente, vi bem que ele gosta de<br />
gente, seja quem for. Estou desconfiado de que,<br />
para ser comerciante, é preciso antes de tudo<br />
gostar de gente, e gostar do que se faz. Aliás,<br />
desconfio também que esse é o segredo da<br />
felicidade para vocês humanos. Só vejo feliz<br />
quem gosta do que faz.<br />
Digo que deve ser a mais pura verdade, e ele:<br />
– Por falar em verdade, desconfio mais, que<br />
não basta sorrir para ter sucesso no comércio.<br />
É preciso dizer a verdade. O primeiro comerciante<br />
mentiu quando lhe perguntamos se o<br />
produto mais barato era melhor, disse que é tão<br />
bom quanto o produto mais caro, mas via-se<br />
claramente que é um produto bem pior. Por que<br />
mentir assim?<br />
– Ele quer garantir que, se não vender o<br />
melhor, vende ao menos o pior.<br />
– Que bobo. E quando perguntamos se tinha<br />
assistência técnica, falou que sim, mas via-se<br />
nos olhos que não.<br />
– É que a assistência é terceirizada, e ele não<br />
queria perder a venda por causa disso.<br />
Tenho de explicar o que é terceirizar, e ele:<br />
– Mas se o produto der problema e a<br />
assistência falhar, no fim das contas é ele quem<br />
perderá o cliente, não? Não era melhor ele<br />
batalhar, como dizem vocês, para ter uma boa<br />
assistência?<br />
Concordo com o ET que atendimento e<br />
garantia de assistência são as chaves do sucesso,<br />
até porque a garantia de assistência é também<br />
garantia de qualidade:<br />
– Quem vende o que não funciona, não pode<br />
dar garantia, ou quebra de tanto dar assistência.<br />
– Mas então – ele não se conforma – por que<br />
todos não vendem só produtos de qualidade e<br />
com assistência realmente garantida?<br />
Explico de novo que a natureza humana é<br />
enganadora, sempre há quem pense que pode<br />
enganar alguém de alguma forma durante algum<br />
tempo. Afinal, se quebrar, depois é só abrir<br />
outra loja, muitas vezes lidando com outro tipo<br />
de produtos ou serviços, mesmo que não goste.<br />
– Mas, se não gostar, como o sujeito vai<br />
sorrir e atender bem?<br />
Digo que é um impasse, ele pergunta o que<br />
é um impasse, ouve e conclui:<br />
– Pelo que estou entendendo, impasse é<br />
quando vocês têm de resolver entre fazer o certo<br />
ou o errado, sabendo o que é o certo mas<br />
achando melhor fazer o errado mesmo que no<br />
fim não vá dar certo, certo?<br />
Digo que sim, é mais ou menos isso, e ele<br />
insiste:<br />
– Como mais ou menos? Se é mais, é mais,<br />
e se é menos, é menos. Mais ou menos não é<br />
nem mais nem menos, não é?<br />
Digo que sim, mas que muita gente é assim,<br />
nem mais, nem menos.<br />
– E você às vezes, com tanta pergunta, vira<br />
um verdadeiro mala.<br />
Ele quer saber o que é ser mala, explico, ele<br />
estranha:<br />
– Mas você não disse que a mala é uma<br />
grande invenção? Como ser mala pode ser ruim?<br />
Não é fácil explicar as coisas para o ET.<br />
Domingos Pellegrini é escritor em Londrina.<br />
Quem sorri tem<br />
mais fregueses,<br />
mais vendas e<br />
até mais saúde
12<br />
O consumo de vinho de qualidade<br />
aumenta, e aumentam<br />
também os consumidores<br />
especializados, que, de tão exigentes,<br />
reúnem-se em associações<br />
dedicadas exclusivamente à<br />
degustação, cujo ritual integra um<br />
longo processo de aprendizado e<br />
exige conhecimentos cada vez mais<br />
pormenorizados.<br />
Há duas associações – ou<br />
melhor, “confrarias” – de consumidores<br />
de vinho em Londrina. A<br />
primeira, a Confraria do Vinho de<br />
Londrina (Covil), foi criada há cerca<br />
de quatro anos. Seus membros<br />
reúnem-se quinzenalmente e as<br />
sessões de degustação são sempre<br />
acompanhadas de uma<br />
dissertação pormenorizada do<br />
Mestre das uvas<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
Alcides Carvalho produz anualmente 700 litros da bebida – só para ele e os amigos<br />
O professor aposentado da Universidade<br />
Estadual de Londrina<br />
Alcides Carvalho é um estudioso e<br />
prático da arte e cultura do vinho.<br />
Ele transformou a garagem de sua<br />
casa, no Jardim Quebec, em adega e<br />
fábrica de vinho, conhaque e grappa<br />
(que também é chamada graspa), a<br />
tradicional aguardente de origem<br />
italiana feita com a casca da uva que<br />
foi utilizada na elaboração do vinho.<br />
Na adega, com temperatura estável<br />
entre 18 e 20 graus centígrados,<br />
há um pequeno alambique e várias<br />
“bobonas”, garrafas de 40 litros que<br />
fazem as vezes de tonéis ou cubas,<br />
onde o professor Alcides estoca – e<br />
acompanha com o zelo de uma mãe –<br />
Alcides tomou<br />
gosto por fazer vinho<br />
há 25 anos, quando<br />
trabalhou em<br />
fazendas gaúchas<br />
IN VINO VERITAS<br />
Degustadores unidos<br />
Duas confrarias reúnem apreciadores<br />
londrinenses da bebida de qualidade<br />
produto que está sendo consumido.<br />
A Covil reúne-se no Hotel<br />
Crystal e é composta de 21<br />
membros efetivos, ou confrades,<br />
e 15 aspirantes. Não é fácil ser<br />
admitido na confraria: os<br />
membros e aspirantes têm de<br />
ser aprovados por escrutínio<br />
secreto. Quatro votos contrários<br />
inviabilizam uma candidatura<br />
a confrade e dois, a aspirante.<br />
Uma nova “eleição” só é possível<br />
para os candidatos a<br />
confrade. A confraria é uma<br />
entidade jurídica e, entre as<br />
exigências que faz a seus<br />
membros, está a de se permitir<br />
exclusivamente, durante as<br />
reuniões, que se fale de... vi-<br />
O professor Alcides Carvalho: paixão pela arte de fazer a bebida<br />
sua produção. Entre as “bobonas” há<br />
uma de sua predileção – é nela que<br />
amadurece o vinho do Porto também<br />
produzido por ele.<br />
O professor Alcides produz vinho<br />
há 25 anos, atividade pela qual tomou<br />
gosto quando, estudante no Rio<br />
Grande do Sul e sem dinheiro para<br />
nho.<br />
A Confraria Amigos do Vinho<br />
Pantanal (Coavip) foi oficializada<br />
como entidade jurídica<br />
em outubro, por iniciativa de<br />
Alexandre Moraes, sócio do restaurante<br />
Pantanal. A associação<br />
começou a ser estruturada<br />
em março deste ano, reunindo<br />
seis pessoas. Hoje, ela pode<br />
contar com a freqüência habitual<br />
de 24 confrades. A admissão<br />
na Coavip é mais fácil que na<br />
Covil, mas também se exige dos<br />
membros que se limitem a conversar<br />
sobre vinho. “Nossas<br />
sessões de degustação são um<br />
aprendizado”, diz Moraes.<br />
(J.A.P.)<br />
visitar durante as férias os pais em<br />
Minas Gerais, ajudava nos serviços<br />
gerais das fazendas de seus colegas<br />
gaúchos, onde a produção de vinho<br />
de colônia já era uma tradição.<br />
Algumas dessas fazendas se tornaram<br />
vinícolas famosas.<br />
Sua produção anual é de 700<br />
Confraria Amigos do Vinho Pantanal: uma<br />
das regras é falar apenas sobre... vinho<br />
litros em média. E somente para<br />
consumo próprio ou para presentear<br />
amigos. O professor Alcides acompanha<br />
toda a produção da uva – e às<br />
vezes faz intervenções, como atrasar<br />
a sua colheita para diminuir a<br />
umidade do produto final – e, uma<br />
vez colhida, promove o mais folclórico<br />
dos rituais da história do vinho: o<br />
esmagamento da uva com os pés.<br />
O ritual é feito todo ano, em sua<br />
própria casa e com a participação da<br />
família. “Nada mais perfeito do que o<br />
pé para esmagar a uva, porque o<br />
solado não danifica a semente, que é<br />
muito amarga”. (J.A.P.)<br />
Com a família, ele<br />
promove um folclórico<br />
ritual da bebida:<br />
o esmagamento das<br />
uvas com os pés
JORNAL DA ACIL/Novembro 13<br />
LIVRES PARA TUDO<br />
Feiras sem regras,<br />
Comerciantes<br />
questionam<br />
alvarás e lei que<br />
autorizam feiras<br />
que oferecem<br />
todo tipo de<br />
mercadoria e<br />
ainda funcionam<br />
quando querem<br />
Katia Baggio<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
A cena é recorrente e a pergunta<br />
surge na cabeça da grande<br />
maioria dos comerciantes de Londrina.<br />
Uma feira itinerante se<br />
instala na Cidade, oferecendo<br />
praticamente de tudo, de roupas,<br />
calçados e flores a móveis e pequenos<br />
animais. Entre os varejistas<br />
estabelecidos, ficam a indignação<br />
e a dúvida sobre o real ou<br />
os reais motivos que permitem<br />
essas atividades, com lojistas de<br />
outras cidades, em tempo préestabelecido<br />
e horários não<br />
permitidos ao restante do comércio.<br />
O Jornal da ACIL levantou os<br />
mesmos questionamentos há cerca<br />
de um ano, quando um promotor<br />
de feiras desse tipo instalou vários<br />
estandes no antigo prédio das Lojas<br />
Brasileiras. De lá para cá, outras<br />
feiras com esse perfil foram<br />
realizadas e nada de consistente e<br />
novo surgiu sobre o problema.<br />
Desta vez, o local escolhido foram<br />
as instalações da antiga concessionária<br />
de veículos Maracaju, com<br />
o devido alvará concedido pela<br />
Prefeitura de Londrina.<br />
Os comerciantes locais discutem<br />
pontos que prejudicam seu<br />
desempenho mesmo sem as feiras<br />
itinerantes. “O comerciante com<br />
estabelecimento fixo tem uma série<br />
de encargos, mas temos<br />
informação de que a maioria dos<br />
expositores dessas feiras não<br />
geram impostos para o<br />
município, nem criam empregos,<br />
o que prejudica não somente<br />
a nós, mas a própria Cidade”,<br />
analisa Sérgio Nabhan,<br />
proprietário do Feirão de<br />
Londrina.<br />
A lei que regula o funcionamento<br />
de feiras móveis na cidade<br />
é a 7.744, de 1999. O texto do<br />
documento cita a permissão<br />
para venda de artigos de<br />
floricultura, vestuário e confecções,<br />
produtos de couro e<br />
mercadorias de saldo de estoque<br />
em geral. O gerente de<br />
concessão de atividades econômicas,<br />
da Secretaria Municipal<br />
da Fazenda, Nicolsen Barros<br />
Silva, informou que a feira da<br />
Maracaju se enquadrou nas<br />
exigências da lei 7.744/99 e por<br />
isso o alvará foi concedido. “Se<br />
existe uma lei, temos que<br />
cumpri-la sob pena de sofrermos<br />
uma ação na Justiça”, observou<br />
Silva.<br />
Além da taxa de R$ 108,00<br />
para a obtenção do alvará, os<br />
organizadores pagaram apenas<br />
outra taxa, de vistoria do Corpo<br />
de Bombeiros. Silva acrescentou<br />
que, apesar de não estar<br />
prevista em lei, foi exigida dos<br />
organizadores uma lista<br />
protocolada na Receita Estadual,<br />
com o nome dos lojistas<br />
expositores, para facilitar a fiscalização<br />
pela instituição com-<br />
Código de Posturas não<br />
prevê normas para eventos<br />
dessa natureza<br />
problema sem fim<br />
Feira realizada na Avenida Tiradentes:<br />
com alvará e sem a carga tributária e as regras<br />
de horários impostas ao varejo da Cidade<br />
petente e recolhimento de possíveis<br />
impostos devidos, como<br />
o ICMS. “Mas, essa é uma<br />
iniciativa nossa, não está prevista<br />
na lei”, destacou o gerente.<br />
O Código de Posturas do<br />
Município não prevê normas<br />
para eventos dessa natureza. O<br />
deputado estadual André<br />
Vargas (PT), quando ainda era<br />
vereador, apresentou um projeto<br />
de lei mais rigoroso do que<br />
o de 1999, para a realização de<br />
feiras esporádicas na Cidade.<br />
Mas, assumiu a cadeira de legislador<br />
do Estado e o projeto<br />
foi retirado de pauta pelos vereadores<br />
em 27 de agosto do ano<br />
passado. E nenhum outro<br />
vereador pediu a retomada do<br />
assunto na Câmara desde então.<br />
O diretor comercial da Ajita<br />
Calçados, Eduardo Ajita, qualifica<br />
feiras desse tipo como danosas<br />
não só para o comerciante,<br />
mas também para o próprio<br />
consumidor. “É comum a gente<br />
atender em nossas lojas, alguns<br />
compradores dessas feiras<br />
tentando trocar calçados de<br />
qualidade inferior. Alguns dizem<br />
que receberam o produto como<br />
presente, mas não serviu ou está<br />
com defeito. Uns, mais insistentes,<br />
chegam a afirmar que compraram<br />
o artigo na loja. Essa<br />
situação gera desconforto para<br />
ambos os lados, mas é claro que<br />
não podemos resolver o problema<br />
do consumidor”, relata Ajita. Ele<br />
lembra que as instituições<br />
fiscalizadoras precisam agir<br />
com mais rigor, “pois há informações<br />
de que a maioria não<br />
emite nota fiscal”.<br />
O presidente da ACIL, David<br />
Dequêch Neto, reforça o ponto<br />
de vista dos comerciantes. “Essas<br />
feiras não contribuem para<br />
o desenvolvimento da Cidade,<br />
pelo contrário, prejudicam o<br />
comércio estabelecido. Além<br />
disso, podem funcionar em horários<br />
diferenciados, como o<br />
período noturno e em finais de<br />
semana, quando o comércio<br />
local fica engessado no que a<br />
lei estabelece para o setor”, critica<br />
Dequêch.<br />
A flexibilização do horário<br />
de funcionamento do comércio<br />
vem sendo defendida pela ACIL.<br />
Até o momento, porém, não<br />
houve avanço na negociação<br />
que já deveria ter sido concluída<br />
ou pelo menos estar adiantada<br />
entre os sindicatos Patronal e<br />
dos Trabalhadores no<br />
Comércio. Enquanto isso, o<br />
varejo de calçada, aquele que<br />
não está dentro dos shoppings<br />
ou hipermercados, paga o preço<br />
mais alto do imobilismo e da<br />
concorrência de iniciativas<br />
como as feiras que volta e meia<br />
se instalam na Cidade – e da<br />
mesma forma desaparecem,<br />
sem deixar impostos, postos<br />
de trabalho e segurança ao<br />
consumidor.
14<br />
IMPOSTO SOCIAL<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
Não custa nada. Ajuda muito<br />
Silvana Leão<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
Lei Federal permite que pessoas físicas e jurídicas destinem parte<br />
do Imposto Devido a projetos desenvolvidos no município<br />
Assim como milhares de<br />
crianças brasileiras que dependem<br />
de instituições beneficentes<br />
para sobreviver não imaginam<br />
de onde vem o dinheiro para<br />
sustentá-las, outro grande<br />
número de brasileiros não sabe<br />
que existe uma forma segura de<br />
contribuir para que as crianças<br />
carentes do próprio município<br />
sejam assistidas adequadamente<br />
– e o que é melhor, sem que isso<br />
pese no bolso. Trata-se da possibilidade<br />
de destinar parte do Imposto<br />
de Renda Devido a projetos<br />
que atendem crianças e adolescentes<br />
em situação de risco<br />
pessoal e social.<br />
A contribuição, prevista na<br />
Lei Federal nº 8069/90, é permitida<br />
a pessoas físicas e jurídicas<br />
e é considerada um adiantamento<br />
do imposto, já que o<br />
recolhimento da porcentagem<br />
permitida (até 6% para pessoa<br />
física e até 1% para pessoa<br />
jurídica, este último calculado<br />
sobre o lucro real) deve ser feito<br />
até o último dia útil do mês de<br />
dezembro. Mais tarde, na época<br />
de entregar a declaração do Imposto<br />
de Renda, este valor é<br />
deduzido do total do Imposto<br />
Devido.<br />
Os interessados em fazer o<br />
direcionamento de parte do<br />
imposto aos projetos desenvolvidos<br />
no município devem efetuálo<br />
através do Fundo Municipal<br />
dos Direitos da Criança e do<br />
Adolescente. O Fundo é<br />
gerenciado pelo Conselho<br />
Municipal dos Direitos da Criança<br />
e do Adolescente, órgão<br />
paritário, composto por representantes<br />
da sociedade civil e do<br />
poder público. É o Conselho que<br />
define a política de atenção aos<br />
direitos da criança e do<br />
adolescente adotada pelo muni-<br />
Lar Anália Franco: uma das instituições cadastradas em<br />
Londrina para receber os recursos do Imposto de Renda Devido<br />
cípio.<br />
A vice-presidente do Conselho<br />
Municipal dos Direitos da<br />
Criança e do Adolescente de<br />
Londrina, Sandra Nishimura,<br />
explica que existem na<br />
cidade 103 serviços cadastrados<br />
para receber os recursos<br />
provenientes do Imposto de<br />
Renda. Nesta relação estão<br />
incluídos projetos governamentais<br />
(desenvolvidos pela Prefeitura)<br />
e não-governamentais.<br />
“Os serviços indicados pelo<br />
contribuinte para receber a porcentagem<br />
do imposto devem<br />
apresentar um projeto com o<br />
plano de aplicação dos recursos<br />
e posteriormente têm que prestar<br />
contas do que foi feito. Com isso,<br />
tanto o contribuinte quanto o<br />
Conselho podem ficar seguros<br />
de que o dinheiro foi bem utilizado”,<br />
afirma Sandra. Ela esclarece<br />
que da quantia definida para<br />
determinada instituição, 10% fica<br />
para o Fundo, que utiliza este<br />
dinheiro em outros projetos não<br />
contemplados ou ações consideradas<br />
prioritárias.<br />
Sandra Nishimura ressalta<br />
que esta forma de contribuição<br />
não altera o valor do imposto<br />
pago. “É um dinheiro que, independentemente<br />
de ser<br />
direcionado para os projetos<br />
locais, terá que ser pago. Não se<br />
trata exatamente de uma doação,<br />
mas de um adiantamento.”<br />
A vice-presidente do Conselho<br />
argumenta ainda que a<br />
decisão de direcionar uma porcentagem<br />
do imposto para o<br />
Fundo Municipal é uma forma<br />
que as pessoas têm de garantir<br />
que parte do dinheiro que elas<br />
pagam ao Governo seja investido<br />
dentro do próprio município,<br />
para resolver problemas da realidade<br />
próxima a elas. De acordo<br />
com Sandra, 26 serviços de atenção<br />
à criança e ao adolescente de<br />
Londrina foram beneficiados pela<br />
lei 8069/90 este ano (impostos<br />
referentes a 2002).<br />
Já a gerente de projetos da<br />
ACIL, Cláudia Prochet, lembra<br />
um outro aspecto importante de<br />
beneficiar serviços oferecidos no<br />
município: “Quando as<br />
instituições têm mais dinheiro<br />
para investir, cria-se toda uma<br />
cadeia em torno. Além de melhorar<br />
as condições de cuidado com<br />
as crianças e adolescentes, compra-se<br />
mais materiais e emprega-se<br />
mais pessoas, aquecendo<br />
a economia e o mercado de<br />
trabalho. Não se trata apenas do<br />
aspecto filantrópico”, observa<br />
Cláudia.<br />
Segundo ela, é importante<br />
que os empresários, além de<br />
adotarem a prática de direcionar<br />
parte de seus impostos para a<br />
realidade local, incentivem os<br />
seus funcionários a fazerem o<br />
mesmo. “É uma forma de colaborarmos<br />
para que problemas<br />
como a violência urbana, a fome,<br />
a exclusão social do nos<br />
Contribuinte pessoa física<br />
pode destinar até 6% do<br />
Imposto de Renda Devido
JORNAL DA ACIL/Novembro 15<br />
so município sejam resolvidos.”<br />
Para quem imagina que fazer o<br />
cálculo antecipado do Imposto<br />
Devido seja complicado, a chefe do<br />
Setor de Controle Aduaneiro da<br />
Delegacia da Receita Federal em<br />
Londrina, Vera Lucia Esteves<br />
Malmegrin, avisa: “É muito fácil<br />
calcular. Como os salários das<br />
pessoas não têm tido grandes variações<br />
de um ano para o outro,<br />
recomendamos que se faça o cálculo<br />
tendo como base a última declaração<br />
entregue. É só ir lá no campo<br />
‘imposto devido’ e fazer o cálculo da<br />
porcentagem que se deseja<br />
destinar”.<br />
Vera Lucia lembra que a lei só<br />
vale para as pessoas físicas que<br />
preenchem o formulário completo<br />
da declaração e para as empresas<br />
tributadas pelo lucro real. Aquelas<br />
que fazem o cálculo sobre o lucro<br />
presumido ou arbitrado não podem<br />
contribuir com o Fundo Municipal.<br />
“É um sistema muito seguro, pois o<br />
Conselho envia as informações referentes<br />
à contribuição para a<br />
Receita via on-line, e a Receita, por<br />
sua vez, confronta as informações<br />
repassadas pelo Conselho com o<br />
valor declarado pelo contribuinte”,<br />
informa Vera Lucia.<br />
Os interessados em contribuir<br />
devem ligar para o Fundo Municipal<br />
dos Direitos da Criança e do<br />
Adolescente (fone 3379-3210), informar<br />
os dados necessários -<br />
nome completo, CPF ou CNPJ,<br />
endereço, valor da contribuição,<br />
data do vencimento e se pretende<br />
fazer a chamada ‘contribuição casada’,<br />
em que fica pré-determinado<br />
o serviço que receberá os recursos.<br />
Em poucos dias o contribuinte<br />
receberá no endereço citado<br />
o bloqueto para efetuar o crédito.<br />
Feito isso, ele receberá uma<br />
correspondência com o comprovante<br />
do recolhimento.<br />
Dúvidas sobre a Lei Federal nº 8069/<br />
90 podem ser esclarecidas no Plantão<br />
da Receita Federal, pelo fone<br />
3374-5000 (manhã) ou pessoalmente<br />
(tarde), na Rua Brasil, 865, Centro.<br />
“Toda doação é bem-vinda”<br />
Por fora, apenas uma<br />
edificação quarentona e bem<br />
cuidada. Por dentro, uma diversidade<br />
de salas, corredores<br />
e pátios emitindo risos, choros<br />
e vozes fáceis de identificar.<br />
São de crianças, muitas crianças,<br />
que estudam ou moram<br />
no Lar Anália Franco, uma das<br />
mais antigas instituições beneficentes<br />
de Londrina (o<br />
aniversário de 40 anos está<br />
sendo comemorado neste mês<br />
de novembro). Ali vivem 80<br />
crianças e adolescentes de 0 a<br />
18 anos e estudam outros 157<br />
pequenos. Todos vindos de famílias<br />
carentes e encaminhados<br />
pela Vara da Infância e da<br />
Juventude.<br />
As dificuldades para manter<br />
uma estrutura tão grande<br />
são muitas, segundo o presidente<br />
Waldir Piedade.<br />
“Estamos sempre com o pires<br />
na mão. Outro dia mesmo não<br />
tínhamos leite para as crianças.<br />
Tive que correr atrás.”<br />
O Lar Anália Franco é uma<br />
Sandra Nishimura:<br />
“Não se trata<br />
exatamente<br />
de uma doação,<br />
mas de um<br />
adiantamento”<br />
das instituições cadastradas<br />
em Londrina para receber os<br />
recursos encaminhados pelos<br />
contribuintes do Imposto de<br />
Renda. Recentemente o Lar<br />
recebeu R$ 1,8 mil, que ajudaram<br />
nas despesas do dia-adia.<br />
“Toda doação é muito bemvinda”,<br />
afirma Piedade.<br />
O presidente explica que<br />
aproximadamente 40% dos<br />
recursos necessários para a<br />
manutenção do Lar vêm do<br />
poder público. O restante é<br />
levantado pela própria entidade,<br />
como por exemplo através<br />
da reforma e venda de<br />
utensílios doados pela comunidade.<br />
“Muitas pessoas não<br />
conhecem o trabalho realizado<br />
por nós, por isso não<br />
ajudam. Seria muito bom se<br />
mais gente fosse nos visitar e<br />
visse de perto a importância<br />
do Lar Anália Franco para<br />
todas aquelas crianças.”<br />
(S.L.)<br />
Delta Vídeo abre megastore<br />
Pioneira no<br />
mercado, a locadora<br />
Delta Vídeo<br />
completou 17<br />
anos em outubro<br />
inaugurando a<br />
sua megastore na<br />
A v e n i d a<br />
Higienópolis, 925<br />
(perto do Galpão<br />
Nelore). Dentro do<br />
segmento de<br />
vídeo, é a primeira<br />
loja deste tipo<br />
no Norte do<br />
Paraná. Com 500 metros quadrados de área construída, a nova<br />
loja oferece mais conforto aos clientes.<br />
“Inaugurar a megastore é a realização de um antigo sonho<br />
nosso”, diz o proprietário da Delta, Odival Benedito de Matos<br />
(foto). Instalada em prédio próprio, a megastore é o resultado de<br />
um projeto que contemplou inúmeros detalhes: decoração<br />
temática, piso, ventilação, disposição do acervo, estacionamento<br />
etc. Para concluir a obra foram necessários 14 meses de<br />
trabalho. “Desde que abrimos a primeira loja, em 1986, sempre<br />
tivemos a preocupação em inovar: no auto-atendimento, na<br />
informatização e, agora, neste projeto”, observa Odival.<br />
A ousadia de fazer a megastore foi como protagonizar um filme<br />
de longa metragem, com toques de aventura e drama – e final feliz.<br />
Em seu novo espaço, a Delta Vídeo pretende continuar realizando<br />
os sonhos dos amantes do cinema.<br />
Desafio na natureza, superação na empresa<br />
Um novo modelo de treinamento empresarial, que leva seus<br />
participantes para perto da natureza e dos esportes radicais para<br />
mostrar que os desafios e o medo existem em todos os lugares e<br />
situações. E que o caminho para superá-los pode ser mais seguro<br />
se trilhado da maneira correta, trabalhando em parceira. Esse é um<br />
dos princípios do “Outdoor Training”, desenvolvido pela Flytour<br />
Viagens e Turismo, Caput Consultoria e Adrenalina.com. A apresentação<br />
do programa foi feita no Salto Bandeirantes Hotel Fazenda,<br />
no município de Santa Fé, que conta com belas cachoeiras, uma<br />
grande piscina com água corrente tratada e rio de corredeiras.<br />
Participaram do grupo empresários, executivos e jornalistas de<br />
Londrina.<br />
A modalidade escolhida para o grupo foi o rapel – o local oferece<br />
também bóiacross e trekking, além dos confortos do hotel,<br />
incluindo piscina aquecida. Com base nos preparativos, nos<br />
riscos e no trabalho em grupo exigidos pelo rapel, as atividades<br />
desenvolvidas pela Caput Consultoria mostraram como tudo se<br />
encaixa na realidade diária das empresas e na postura pessoal de<br />
cada um.<br />
O “Outdoor Training” foi criado para ser moldado à necessidade<br />
de cada empresa ou organização. Se ela atua num segmento<br />
específico, as atividades são adaptadas para aquele modelo. O<br />
mesmo ocorre quando um setor específico da empresa precisa ser<br />
melhor trabalhado.
16<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
Seminário de oportunidades<br />
Evento realizado pelo Convention<br />
vai trazer a Londrina especialistas do<br />
setor e grandes empresas<br />
contratadoras<br />
A Rodada de Negócios será o ponto alto do<br />
Seminário Destino Londrina, realizado pelo<br />
Convention nos dias 26, 27 e 28 deste mês, na<br />
ACIL, e representará uma experiência inédita<br />
para o setor de turismo e eventos na região.<br />
Programada para o dia 28, a Rodada vai colocar<br />
frente a frente grandes contratantes, organizadores<br />
e promotores de eventos do País e fornecedores de<br />
produtos e serviços filiados ao Convention.<br />
Serão oito empresas e instituições contratantes,<br />
quatro de Londrina e outras quatro de fora.<br />
Para estes, será uma oportunidade de conhecer os<br />
diferenciais oferecidos pelas empresas e estruturas<br />
da região. Já os fornecedores locais terão um<br />
dia de contatos intensos e estratégicos para a construção de negócios futuros.<br />
Estão abertas as inscrições para o curso “Coordenação e Gerenciamento de<br />
Eventos”, que também será realizado no dia 28 deste mês como parte da<br />
programação do Seminário Destino Londrina. O curso foi criado com a proposta<br />
de reciclagem para profissionais, empresários e estudantes de Turismo.<br />
A programação inclui, entre outros temas, contratação de fornecedores,<br />
equipamentos e recursos humanos, definição de data e local, análise de viabilidade,<br />
modelos de contratos, cronograma, controle financeiro, avaliação e relatório.<br />
O ministrante será Rogério Hamam, professor de Organização e Gestão de Eventos<br />
do curso de Turismo da Universidade Anhembi-Morumbi e diretor da R. Hamam<br />
Eventos.<br />
Confira ao lado a programação completa, os custos e como fazer as incrições.
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
Dois anos sem Roberto Campos<br />
José Pio Martins<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
Ninguém é insubstituível.<br />
Mas há pessoas que, quando<br />
morrem, deixam um vazio imenso.<br />
Roberto Campos era um desses<br />
homens raros e brilhantes.<br />
Sua morte, além da perda humana,<br />
foi como se uma biblioteca<br />
se incendiasse.<br />
Como menino pobre nascido<br />
em Mato Grosso, internouse<br />
em colégio de padres,<br />
diplomando-se em Filosofia e<br />
Teologia. Em 1938, abraçou a<br />
carreira diplomática, ingressando<br />
no Itamarati, e foi consignado<br />
ao Departamento Comercial,<br />
pejorativamente tachado<br />
de “secos e molhados”.<br />
Aos 27 anos, foi enviado a<br />
Washington como secretário na<br />
embaixada brasileira. Lá, começou<br />
a revelar o seu enorme<br />
talento como analista, gerador<br />
de idéias e formulador de<br />
políticas, sempre esgrimindo<br />
uma lógica implacável, uma<br />
refinada capacidade de argumentação<br />
e uma fina ironia.<br />
Participou da famosa conferência<br />
de Bretton Woods, na qual<br />
foram fundados o Banco<br />
Mundial e o Fundo Monetário<br />
Internacional. De lá para cá,<br />
todos os governos do Brasil se<br />
utilizaram dos seus serviços<br />
na formulação de soluções e<br />
na reforma das instituições.<br />
Roberto Campos fez<br />
mestrado em Economia na Universidade<br />
George Washington e<br />
estudos complementares na Universidade<br />
Columbia, em Nova<br />
York. Como economista<br />
talentoso, foi autor de muitos<br />
planos e programas de governo.<br />
Foi o criador do Banco Nacional<br />
de Desenvolvimento Econômico<br />
– BNDE e seu primeiro diretorgerente,<br />
e elaborou o Plano de<br />
Metas do governo Juscelino<br />
Kubistchek. Como embaixador<br />
do Brasil nos EUA, nos governos<br />
Jânio Quadros e João<br />
Goulart, foi negociador de acordos<br />
e interlocutor do Brasil perante<br />
o governo Kennedy. O presidente<br />
americano costumava<br />
dizer que um dos maiores especialistas<br />
em economia mundial<br />
era o embaixador brasileiro.<br />
Na condição de Ministro do<br />
Planejamento do primeiro governo<br />
da revolução de 1964,<br />
Roberto Campos elaborou e<br />
implementou, com Otávio<br />
Gouveia de Bulhões, as gran-<br />
Economista e diplomata de<br />
grande talento, ele esgrimia<br />
uma lógica implacável<br />
PAINEL<br />
PAINEL PAINEL ECONÔMICO<br />
EECONÔMICO CONÔMICO<br />
José Pio Martins<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
des reformas: a tributária, a trabalhista<br />
e a bancária. É de sua<br />
lavra a criação do ICM, do FGTS,<br />
do Banco Central e a Lei do<br />
Sistema Financeiro Nacional. Foi<br />
embaixador do Brasil na<br />
Inglaterra nos governos Geisel e<br />
Figueiredo. Retornou ao Brasil<br />
para se eleger, em 1982, senador<br />
pelo Mato Grosso e, depois,<br />
duas vezes deputado federal<br />
pelo Rio de Janeiro. Ele se lamentava<br />
de não ter conseguido<br />
convencer os militares de duas<br />
coisas: quebrar o monopólio da<br />
Petrobras, que julgava estúpido<br />
por impedir que outras empresas<br />
prospectassem petróleo; e<br />
implantar um programa de planejamento<br />
familiar, que achava<br />
necessário para evitar que o<br />
crescimento populacional acima<br />
do crescimento dos investimentos<br />
fizesse do Brasil um país<br />
estruturalmente pobre. Era um<br />
visionário!<br />
Sua carreira de escritor foi<br />
profícua. Publicou mais de 20<br />
livros e escreveu para os maiores<br />
jornais e revistas do Brasil.<br />
Dono de erudição incomparável<br />
e cultura mundial rara,<br />
Roberto Campos era respeitado<br />
por todos, inclusive por seus<br />
adversários. Dele se diziam<br />
duas coisas: que tinha a capacidade<br />
de ver antes do tempo e<br />
que guardava coerência em todas<br />
as suas idéias. Foi um defensor<br />
ferrenho das liberdades<br />
e dos direitos individuais, da<br />
democracia política e da livre<br />
iniciativa econômica. Era um<br />
liberal clássico, que se tornou<br />
17<br />
referência intelectual e guru de<br />
uma legião de políticos, pensadores,<br />
economistas e empresários.<br />
Ele provocava raiva nos<br />
seus oponentes. Não só por suas<br />
idéias, mas pela terrível capacidade<br />
de argumentar, convencer<br />
e demolir. Henry Kissinger<br />
dizia: “Conversar com Roberto<br />
Campos é, ao mesmo tempo,<br />
um prazer e uma humilhação.<br />
Um prazer pelos aforismos<br />
brilhantes que produz, e dos<br />
quais freqüentemente me aproprio.<br />
Humilhação, porque armazena<br />
na memória um montão<br />
enciclopédico de fatos que eu<br />
não teria a paciência de<br />
pesquisar”.<br />
Vale registrar uma resposta<br />
dada por ele, em entrevista de<br />
1965 como Ministro do Planejamento.<br />
“Detesto a promessa<br />
fácil do demagogo, que semeia<br />
ilusões para ganhar votos, deixando<br />
aos outros a colheita dos<br />
ressentimentos. Detesto o<br />
paternalismo do Estado<br />
cartorial, que distribui empregos<br />
sem exigir tarefas e, sob o<br />
pretexto de dar assistência,<br />
agrava a pobreza de todos. Detesto<br />
o falso nacionalista que,<br />
recusando sacrificar seu conforto,<br />
é incapaz de propor fórmulas<br />
de mobilização da poupança<br />
nacional e rejeita investimentos<br />
externos que gerariam<br />
empregos e tecnologia, preferindo<br />
o aumento da sua renda<br />
psíquica ao aumento da renda<br />
real do país.”<br />
Ele se foi em 9 de outubro de<br />
2001 e deixou um vazio de inteligência<br />
no debate econômico e<br />
político do país. O homem não é<br />
insubstituível, porém, temos de<br />
reconhecer, humildemente, que<br />
certos gênios não têm substitutos<br />
à altura... pelo menos não<br />
num horizonte previsível.<br />
José Pio Martins é economista,<br />
professor e vice-reitor do Centro<br />
Universitário Positivo.<br />
Dono de uma grande erudição,<br />
era respeitado por todos,<br />
inclusive pelos adversários
18<br />
ESPAÇO ESPAÇO APP APP LONDRINA<br />
LONDRINA<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
APP traz filmes de Cannes para Londrina<br />
“Noite da Propaganda” traz a Londrina o melhor da produção mundial de<br />
propaganda<br />
Valorizar o profissional de<br />
propaganda através de ações que<br />
fortaleçam o mercado e ofereçam<br />
atualização aos que trabalham na área é<br />
o objetivo principal da Associação dos<br />
Profissionais de Propaganda (APP). No<br />
último dia 28 de outubro, a entidade<br />
promoveu mais um evento que atende a<br />
essa perspectiva. Profissionais e<br />
estudantes reuniram-se no Empório<br />
Guimarães para prestigiar a “Noite da<br />
Propaganda”. Os pontos altos da festa<br />
foram a exibição de um vídeo com os<br />
filmes premiados no último Festival de<br />
Cannes e a apresentação da nova<br />
campanha de filiação da APP.<br />
“Trouxemos o melhor da produção<br />
mundial de propaganda para Londrina”,<br />
comenta o presidente da APP, Rafael<br />
Lamastra, referindo-se aos filmes do<br />
festival. Segundo ele, é função da<br />
entidade oferecer esse tipo de informação<br />
ao mercado. Sobre a campanha de<br />
filiação, ele esclareceu que a meta é<br />
atingir estudantes de Propaganda e<br />
Marketing e profissionais do setor de<br />
comunicação.<br />
Atualmente, esse público perfaz um<br />
total de três mil pessoas em Londrina. A<br />
APP, hoje, reúne 70 associados. “É uma<br />
vitória”, avalia Lamastra, acrescentando<br />
que a união faz parte do processo para<br />
obter mais respeito ao profissional.<br />
Sobre a idéia de trazer os estudantes<br />
para a entidade, ele explica que a<br />
intenção é oferecer vivência para que<br />
eles saiam da faculdade com bagagem<br />
sobre a prática da profissão. Dessa<br />
forma, estariam mais aptos a<br />
respeitarem as regras do mercado e os<br />
anseios dos clientes após a formatura.<br />
Rosana Modelli Kühnlein, produtora<br />
da “Noite da Propaganda”, concorda com<br />
Lamastra. “A associação está<br />
preocupada em melhorar a qualidade da<br />
mão-de-obra”, defende. Ela também<br />
aprovou a iniciativa de trazer os filmes<br />
de Cannes para Londrina. O festival,<br />
afirma, é uma importante referência<br />
sobre o que acontece mundialmente no<br />
setor de propaganda, incluindo<br />
linguagem, estética e recursos de<br />
produção.<br />
Grandes beneficiados pela<br />
preocupação da APP, estudantes de<br />
Propaganda e Marketing compareceram<br />
em massa. No primeiro ano do curso,<br />
Juliana Simiano estava ansiosa para<br />
assistir ao Festival de Cannes. “É uma<br />
oportunidade única de atualização”, diz.<br />
A estudante manifestou interesse em se<br />
filiar à APP. “É importante que eles nos<br />
incentivem.”<br />
A “Noite da Propaganda” foi<br />
patrocinada pelas empresas Metronorte<br />
e Metropolitana/IESB. Por serem<br />
clientes das agências de propaganda de<br />
Londrina, os diretores desses<br />
estabelecimentos têm interesse em<br />
apoiar ações que tragam mais qualidade<br />
aos serviços oferecidos.<br />
Élcio Okamura, coordenador do<br />
departamento de Marketing da<br />
Metronorte, explica que a revendedora é<br />
agressiva em suas estratégias de<br />
propaganda porque sabe que esse tipo<br />
de investimento é importante para o<br />
sucesso da empresa. “É louvável que a<br />
APP traga eventos como esse a<br />
Londrina.”<br />
O diretor adjunto da Metropolitana/<br />
Helenida Tauil,<br />
Rafael Lamastra,<br />
Elizabeth e Marco<br />
Antonio Laffranchi<br />
na "Noite da<br />
Propaganda":<br />
evento voltado para<br />
estudantes da área<br />
IESBE, Cleber Fagundes Ramos,<br />
argumenta que a organização dos<br />
profissionais é sempre benéfica para os<br />
clientes, pois traz ganhos de qualidade e<br />
produtividade. Diz também que a<br />
divulgação dos filmes de Cannes foi uma<br />
iniciativa louvável. “Amplia a visão dos<br />
empresários e oferece referências para<br />
que as campanhas locais sejam mais<br />
elaboradas.”<br />
Campanha<br />
A campanha para conseguir novas<br />
filiações à APP foi criada pela<br />
agência A3 Propaganda, de Wagner<br />
Rodrigues. Ele explica que a equipe<br />
partiu do logotipo da associação,<br />
simbolizada por um galo, para<br />
compor as peças. “Como a entidade<br />
é recente, achamos importante fazer<br />
uma breve apresentação. O<br />
comercial mostra o crescimento do<br />
galo para evidenciar que a APP<br />
chegou à Cidade e precisa de novos<br />
filiados para se fortalecer”, conta. A<br />
idéia culmina no slogan: “Com você<br />
o galo vai cantar mais forte”.<br />
São quatro anúncios para jornal,<br />
um spot para rádio e um filme para<br />
televisão. Esse último foi produzido<br />
pela NTVídeo, de Nilton Tanabe,<br />
mais conhecido como Kung Fu. Para<br />
ele, foi um desafio elaborar um<br />
trabalho cujo público-alvo são os<br />
profissionais de propaganda. “Tem<br />
que ser muito bem-feito”. Segundo o<br />
produtor, a parte mais complicada<br />
do filme foi trabalhar com o galo.<br />
“Não eram animais adestrados”,<br />
revela.<br />
Espaço APP-Londrina é uma publicação da<br />
Associação dos Profissionais de<br />
Propaganda – Capítulo Londrina em<br />
parceria com a Associação Comercial e<br />
Industrial de Londrina.<br />
Sede: Rua Minas Gerais, 297, 2 o andar –<br />
Edifício Palácio do Comércio – Tel.: (43)<br />
3329-5999.<br />
Endereço eletrônico:<br />
applondrina@sercomtel.com.br<br />
Edição: Midiograf<br />
Texto: Carolina Avansini<br />
Editoração eletrônica: Jornal da ACIL<br />
APP-Londrina<br />
Presidente: Rafael Lamastra Jr.<br />
Vice-presidente: JB Faria<br />
Diretor financeiro: Nivaldo Benvenho<br />
Diretora secretária: Rosana Modelli<br />
Kuhnlein<br />
Diretores e membros do Conselho de<br />
Administração:<br />
Antonio Carlos Macarini, Carlos Roberto<br />
Cunha, Cláudia Romariz, Francisco Senra<br />
Neto, Maria Aparecida Miranda, Nilton<br />
Tanabe, Renato Bastos Junior, Rosana<br />
Andrade, Valduir Pagani e Wagner<br />
Rodrigues
JORNAL DA ACIL/Novembro<br />
CRÔNICA<br />
CRÔNICA<br />
Jota Oliveira<br />
Especial para o Jornal da ACIL<br />
O fantasma da garagem<br />
Poucos lugares são quietos<br />
e aconchegantes (quentinhos<br />
no inverno, frescos no<br />
verão) quanto a garagem de<br />
um grande edifício numa manhã<br />
de domingo, ou numa<br />
manhã de Carnaval, quando<br />
os moradores ainda estão<br />
dormindo e os carros repousam.<br />
Ou em qualquer dia da<br />
semana, quando todos já saíram<br />
para o trabalho com<br />
seus automóveis.<br />
Nos momentos de silêncio,<br />
na garagem, gosto de<br />
entrar no carro e, recostado<br />
na poltrona, curtir um pouco<br />
daquela tranqüilidade antes<br />
de sair para a rua. A garagem<br />
é um universo, na semiobscuridade.<br />
Os canos azuis,<br />
verdes, amarelos, subindo<br />
(ou descendo) pela estrutura<br />
de concreto, são as veias e<br />
artérias do prédio, transportando<br />
o gás, a água, a energia<br />
elétrica, os dejetos dos banheiros<br />
e das cozinhas, os<br />
sons e imagens da televisão,<br />
as conversas ao telefone, as<br />
viagens do computador. Eles<br />
fazem, às vezes, sons que<br />
assustam. E tem as sombras<br />
da garagem.<br />
Dia desses um bêbado,<br />
que entrara na garagem durante<br />
os poucos momentos<br />
em que uma das portas eletrônicas<br />
estava aberta, começou<br />
a gritar e procurar<br />
uma saída. No térreo o vigia<br />
ouviu e desceu ao subsolo,<br />
para ver o que estava acontecendo.<br />
Encontrou o bêbado<br />
já quase sem fôlego, tentando<br />
abrir à força uma das portas<br />
da garagem – nem vira a<br />
escada pela qual poderia ter<br />
escapado e chegado à portaria<br />
em vez de fazer aquele<br />
berreiro.<br />
– Uma ‘sombração! – contou<br />
o bêbado, repetindo: –<br />
Uma alma penada! Um fantasma!<br />
O homem mal conseguiu<br />
explicar que entrara ali<br />
por acaso, pra “desapertar”,<br />
e que vira um fantasma<br />
olhando-o, ao lado do carro.<br />
Era só um vulto, não dera<br />
pra ver as feições. Mas,<br />
palavra de bêbado e cocô de<br />
cachorro têm o mesmo valor:<br />
nenhum. Assim, o bêbado foi<br />
Mal saio do elevador,<br />
na garagem semi-escura,<br />
percebo o vulto passando,<br />
rápido, pelo canto do olho<br />
expulso do prédio, mas ficou<br />
o boato, logo esquecido. Até<br />
o dia em que eu mesmo<br />
comecei a desconfiar de que<br />
tinha alguma esquisitice ali.<br />
Era minha vista, ou de fato<br />
eu andava vendo sombras<br />
fugidias.<br />
Era e continua sendo assim:<br />
mal saio do elevador,<br />
na garagem semi-escura,<br />
percebo o vulto passando,<br />
rápido, pelo canto do olho.<br />
Tento seguir a sombra, mas<br />
só tem as sombras dos carros<br />
e das colunas iluminadas<br />
pelas poucas luzes deixadas<br />
acesas – uma questão de economia<br />
– no subsolo. Sou, em<br />
condições normais, pragmático.<br />
“É problema da vista” –<br />
justificava. Antes de sair<br />
para a rua, notava a sombra<br />
fugaz, mais duas ou três<br />
vezes. Noto ainda, até quando<br />
entro no carro, quando<br />
sinto a sombra escapando<br />
do banco de trás pelos vidros<br />
e correndo ao longo das<br />
colunas e dos automóveis,<br />
escondendo-se no “hall” dos<br />
elevadores.<br />
Às vezes, sinto um arrepio.<br />
“Estou mesmo ruim da<br />
vista. Preciso ir ao médico de<br />
novo” – eu pensava antes,<br />
sem me decidir, porque os<br />
óculos ainda eram novos.<br />
Continuei sem explicação<br />
para as sombras rápidas da<br />
garagem, até que um dia minha<br />
mãe falou, sem saber da<br />
minha dúvida:<br />
– Tem um homem morando<br />
aqui na garagem...<br />
– Deve ser algum dos empregados<br />
– respondi. – Aqui<br />
não tem jeito de morar ninguém.<br />
– Não, é um homem que<br />
mora aqui mesmo. Está sempre<br />
por aqui, eu sempre vejo.<br />
– Se não é nenhum dos<br />
empregados, nem morador,<br />
nunca vi. Fora algum carregador<br />
de mudança.<br />
– Agora mesmo ele estava<br />
aqui, ali vigiando a entrada;<br />
olha ali, você não vê porque<br />
ele é um espírito.<br />
Mamãe sabia dessas coisas,<br />
ela era sensitiva – ou sei<br />
lá como se classificam essas<br />
pessoas que podem ver, conversar<br />
e até invocar coisas<br />
do outro mundo. Ela tinha<br />
ligações com o Além e ver<br />
fantasmas era um de seus<br />
estranhos poderes. Eu, porém,<br />
mal enxergo, quando<br />
enxergo, o cisco nos meus<br />
olhos.<br />
– Eu não acredito nessas<br />
bobagens – reagi, simplesmente<br />
pra não dar o braço a<br />
torcer.<br />
Foi num dia de eleição,<br />
quando a família saiu para<br />
votar. Na volta, de carro, ela<br />
disse, logo ao chegarmos à<br />
garagem:<br />
19<br />
– Não disse? Olha ele ali...<br />
– Como?<br />
– É um homem que nunca<br />
vi no prédio. Ele está ali. É<br />
magro, usa terno azulado e<br />
gravata...<br />
Eu e minha esposa conhecêramos,<br />
na portaria, um<br />
funcionário igual aquele. Parecia<br />
ser um sujeito de pouca<br />
fala, bravo, que dava medo.<br />
Passaram-se os dias e não<br />
vimos mais o “Alemão”, como<br />
era chamado. Um dia, perguntamos<br />
ao porteiro:<br />
– E aquele cara enfezado<br />
que tinha aqui? Faz tempo<br />
que não vemos ele...<br />
– O Alemão? Morreu na<br />
semana passada, de câncer.<br />
Com um arrepio, percebemos,<br />
eu e minha mulher,<br />
qual vulto a mamãe via na<br />
garagem. Como ela não morava<br />
comigo, mas ia de vez<br />
em quando passear em nossa<br />
casa, não tive dúvidas de<br />
que ela vira o Alemão na<br />
garagem. E, concluí, com<br />
outro arrepio: era o vulto furtivo<br />
que passava por mim na<br />
garagem. Ele passava as<br />
noites ali, vigiando os carros.<br />
Quase todo grande edifício<br />
tem seu(s) fantasma (s).<br />
Duvida? Preste atenção naquela<br />
sombra fugidia que<br />
parece não estar mais lá<br />
quando você quer identificála.<br />
É que esses fantasmas<br />
não estão ali para assustar,<br />
mas para vigiar.<br />
Jota Oliveira é jornalista e<br />
escritor em Londrina.
20<br />
JORNAL DA ACIL/Novembro