Aprender e ensinar Ciências: do laboratório à sala de aula e vice ...
Aprender e ensinar Ciências: do laboratório à sala de aula e vice ...
Aprender e ensinar Ciências: do laboratório à sala de aula e vice ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
58<br />
o consenso social da ciência na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong>: algumas ferramentas 31<br />
um problema óbvio é o <strong>de</strong> como levar <strong>à</strong> <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong> a visão da ciência como<br />
assunto social, sem cair em um relativismo que afirme que to<strong>do</strong> conhecimento é<br />
igualmente váli<strong>do</strong>, nem em simplificações com respeito ao significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
empíricos. Assim, a construção <strong>de</strong> conhecimento é um componente essencial da ciência<br />
“profissional” e, como tal, não po<strong>de</strong> estar alheia <strong>à</strong> ciência “escolar”. uma<br />
possibilida<strong>de</strong> é retornar ao velho sistema <strong>de</strong> diálogos orienta<strong>do</strong>s, outra é a <strong>de</strong><br />
apropriar-se <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> papel como julgamentos; em ambos os casos busca-se um<br />
âmbito <strong>de</strong> efervescência e discussão no qual se exponham e intercambiem i<strong>de</strong>ias<br />
sobre a base <strong>de</strong> que o conhecimento em ciências naturais provém <strong>de</strong> fontes puramente<br />
empíricas, mas é imprescindível interpretar, analisar e até brigar pelo significa<strong>do</strong><br />
das pesquisas.<br />
A construção <strong>do</strong> conhecimento científico <strong>de</strong> maneira consensual na <strong>sala</strong> <strong>de</strong> <strong>aula</strong><br />
permite apresentar <strong>à</strong> ciência como um tipo muito especial <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, no qual os<br />
observa<strong>do</strong>res <strong>de</strong> fenômenos <strong>de</strong>vem ficar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> sobre o que acontece e por<br />
que acontece. Ao adquirir um papel ativo na tarefa, os alunos vão realizan<strong>do</strong> uma<br />
série <strong>de</strong> operações mentais lógicas que melhoram a coerência interna <strong>do</strong> discurso<br />
<strong>à</strong> medida que se questionam os raciocínios.<br />
existem diversos exemplos nos quais o <strong>do</strong>cente mo<strong>de</strong>la para os alunos o diálogo<br />
socrático, procuran<strong>do</strong> extrair <strong>do</strong> interlocutor, por meio <strong>de</strong> perguntas e reperguntas,<br />
as premissas que lhes permitam construir um discurso lógico e coerente a respeito <strong>de</strong><br />
um tema particular. o diálogo po<strong>de</strong> ser complementa<strong>do</strong> por experimentos, embora<br />
isso não seja estritamente necessário. De qualquer maneira, a discussão se complementa<br />
<strong>de</strong> forma permanente com “experimentos mentais” (thought experiments),<br />
<strong>do</strong> tipo: “se realizasse tal experimento ou análise e achasse tal resulta<strong>do</strong>, então<br />
chegaria a esta conclusão”.<br />
um exemplo foi proposto por Gregory bateson em seu livro Espírito e Natureza<br />
(1990, retoma<strong>do</strong> em Bonaparte, 2001), 32<br />
quan<strong>do</strong> narra seu particular enfoque<br />
para encontrar regras na natureza. bateson conta, <strong>de</strong>sta maneira, sua aproximação<br />
aos estudantes <strong>de</strong> então:<br />
Na década <strong>de</strong> 1950 era instrutor <strong>de</strong> jovens da Califórnia, São Francisco.<br />
Era uma pequena <strong>sala</strong> <strong>de</strong> 10 a 15 estudantes, e eu sabia que entraria em uma atmos-<br />
31 exemplos toma<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Gellon et al. La ciencia en el <strong>aula</strong>. Buenos Aires: Paidós, 2005.<br />
32<br />
bAteSon, G. Espíritu y Naturaleza. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1990. bonAPARte, Pablo R. La mirada <strong>de</strong>l marciano. Ensayos para<br />
conocer lo conoci<strong>do</strong>. Buenos Aires, Eu<strong>de</strong>ba, 2001