AS LAGOAS COSTEIRAS - Georeferencial
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Dr. Aristides Arthur Soffiati Netto<br />
Geologia e sistemas hídricos<br />
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ECOFISIONOMIA E HISTÓRIA<br />
Ainda hoje, o trecho entre a margem direita do rio Paraíba do Sul e a lagoa do Açu,<br />
no interior da maior restinga do Estado do Rio de Janeiro, é pouco conhecido. Os viajantes<br />
naturalistas do século XIX costumavam vir do Rio de Janeiro ou de Salvador pela costa.<br />
Mas, chegando à praia do Cabo de São Tomé, rumavam para Campos tomando uma estrada<br />
que os afastava do litoral e só voltavam a ele descendo o rio Paraíba do Sul até a foz e<br />
passando para a margem esquerda deste, dirigindo-se ao Espírito Santo. Este roteiro foi<br />
percorrido por Maximiliano de Wied-Neuwied, Friedrich Sellow, Georg Wilhelm Freyreiss,<br />
Auguste de Saint-Hilaire, Antonio Muniz de Souza, Charles Ribeyrolles e Jacob Tschudi.<br />
Não se passava na seção meridional da restinga, entre Barra do Furado, Cabo de São Tomé e<br />
a foz do rio Paraíba do Sul. O caminho para o norte só voltava a esta restinga em sua seção<br />
setentrional, entre a margem esquerda do rio Paraíba do Sul e a praia de Manguinhos. Eis<br />
porque a restinga entre Macaé e Barra do Furado foi mais conhecida que o trecho de restinga<br />
entre o Cabo de São Tomé e a margem direita do rio Paraíba do Sul. E o curioso é que, até<br />
hoje, a comunidade científica se dedica mais ao estudo da restinga sul que ao da restinga<br />
norte.<br />
Com relação a este trecho de restinga, existem referências que remontam ao século<br />
XVI, registradas por navegantes que não tocaram em terra por dois grandes medos: os<br />
baixios do Cabo de São Tomé e os temíveis índios goitacás. No século XVIII, Manoel<br />
Martins do Couto Reis percorreu toda a restinga para desenhar sua carta e redigir seu<br />
relatório, ambos famosos. No século XIX, nenhuma informação ultrapassou as que Couto<br />
Reis produziu. Já no século XX, foram produzidos pelo menos duas macro-interpretações<br />
para a formação geológica da restinga e escassos estudos pontuais sobre aspectos<br />
ecossistêmicos da mesma.<br />
Escrevendo em meados do século XVI, Jean de Léry registrou que “A primeiro de<br />
março alcançamos uma região de pequenos baixios, isto é, escolhos e restingas salpicadas de<br />
pequenos rochedos que entram pelo mar e que os navegantes evitam passando ao largo.<br />
Desse lugar avistamos uma terra plana na extensão de 15 léguas...” (LÉRY, 1961). Os<br />
pequenos rochedos a que se refere Léry devem ser falésias ou fragmentos delas. Depois, uma<br />
longa extensão de terras planas, bem típicas das restingas da região, até Macaé, ponto em que<br />
o cristalino confina com o mar e forma várias ilhas, como nota Léry.<br />
Redigido, ao que parece, a partir de 1573/1574 até, talvez, 1590, o Roteiro de todos<br />
os sinais conhecimentos, fundos, baixos, Alturas e derrotas, que há na Costa do Brasil desde