AS LAGOAS COSTEIRAS - Georeferencial
AS LAGOAS COSTEIRAS - Georeferencial
AS LAGOAS COSTEIRAS - Georeferencial
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
9 9<br />
líquida, represando areia na margem direita de sua foz e acumulando este material na<br />
margem esquerda.<br />
No processo de formação da planície aluvial e da restinga, ambas holocênicas, houve<br />
recuos e avanços da linha da costa, o que não sucedeu com a restinga meridional, constituída<br />
há cerca de 120 mil anos A.P. e não imersa pelo último máximo transgressivo. Num<br />
determinado momento, ela chegou mesmo a ultrapassar a linha atual, sobretudo na altura do<br />
Cabo de São Tomé, onde seu recuo deixou como rastro os parcéis até hoje encontrados<br />
naquele ponto (MARTIN, et al., 1984; In: LACERDA, 1984; e 1997).<br />
Pela amostra remanescente de vegetação entre Grussaí e Iquipari, pode-se<br />
reconstituir um cenário em que dois cursos d’água atravessavam a restinga em meio a matas<br />
cerradas que iam diminuindo de altitude à medida que se aproximavam da costa. Tocando-a,<br />
primeiro talvez mantivessem contato permanente com o mar. Em seguida, por força da<br />
energia oceânica, suas desembocaduras foram vedadas por barras arenosas que se abriam<br />
periodicamente por ação das águas acumuladas em sua caixa ou por transgressões marinhas<br />
em eventos de ressaca.<br />
Vegetação, economia e sociedade<br />
O primeiro cientista a se dedicar mais sistematicamente ao estudo da dimensão<br />
biótica das restingas do norte fluminense foi o botânico campista Alberto José de Sampaio.<br />
Em 1915, ele escreveu vários pequenos artigos acerca das avenidas naturais, do efeito dos<br />
ventos sobre a vegetação e do comportamento de saúvas no cômoro das restingas de Grussaí<br />
e Atafona (SAMPAIO, 1915 a, b, c).<br />
Em Fitogeografia do Brasil, livro resultante de um curso ministrado no Museu<br />
Nacional em 1932, o botânico divide as formações vegetais nativas em duas grandes<br />
províncias: a flora amazônica ou hiléia brasileira e a flora geral do Brasil ou extra-<br />
amazônica. Esta é dividida em seis zonas, uma delas a zona marítima que se subdivide em<br />
flora marinha, flora das ilhas costeiras e afastadas e flora halófila ou litorânea. No<br />
entendimento do autor, esta última subdivisão engloba a flora dos manguezais e a flora<br />
psamófila, aquela que medra nas areias de restingas e dunas (SAMPAIO, 1945).<br />
Sampaio desce ainda a detalhes quanto à flora psamófila em sua dimensão<br />
heteróclita, na medida em que as restingas apresentam variações topográficas e pedológicas.<br />
Assim, ele distingue, como integrando a flora psamófila, a flora xerófila lenhosa dos lugares<br />
altos, a flora higrófila das baixadas úmidas e a flora hidrófila dos alagados e lagoas<br />
(SAMPAIO, p. 223-227).<br />
Mais recentemente, Dorothy Sue Dunn de Araujo e Raimundo Henriques<br />
reconheceram que “As restingas ainda são pouco conhecidas com respeito a sua composição