Dezembro de 2001 - Eb1 + Jardim de Infancia

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Todos as crianças são diferentes e algumas, na sua diferença, apresentam à escola desafios para os quais esta não encontra resposta dentro do seu espaço tradicional nem nos procedimentos que normalmente são eficazes para a generalidade da sua população escolar. Assim, a escola sente-se na necessidade de procurar outros espaços e outros actores que tenham a capacidade de oferecer experiências de aprendizagem ajustadas aos anseios de alguns dos seus alunos ou das respectivas famílias. Desta forma, espera-se que a diversidade de respostas permita que a escola se torne num ambiente de aprendizagem com que todos os alunos se podem identificar, por muito graves que sejam as suas necessidades educativas. Pensa-se que este processo é indispensável para garantir o direito de todos à educação, o direito à igualdade de oportunidades e o direito de todos à realização plena da sua cidadania, independentemente das limitações físicas ou psíquicas que possam apresentar. A transição para a vida activa é, para alguns destes alunos, um obstáculo muito difícil de vencer. Acreditamos que à escola compete desenvolver todos os esforços para facilitar este processo, proporcionando oportunidades de formação que permitam optimizar as potencialidades destes alunos em actividades para as quais eles manifestem um interesse específico. No contacto com experiências reais de trabalho, bem como com o contexto físico e humano em que estas se desenvolvem, os alunos tomam consciência das suas capacidades e afirmam tendências vocacionais. Por outro lado, a aprendizagem de uma actividade de reconhecido valor social contribui para o reforço da FLORESCER 4 DO NEIVA Transição para a Vida Activa Câmara Municipal de Vila Verde e Jorge Araújo colaboram com a escola na formação de alunos com NEE sua auto-estima, para a afirmação no seu grupo social de referência e para a sua realização pessoal. Tendo presente estes princípios, a escola assinou protocolos de colaboração com a Câmara Municipal de Vila Verde e com a empresa de comércio e reparação automóvel Jorge Araújo – Renault - de Freixo para a colocação, em situação de aprendizagem, de dois dos nossos alunos, de acordo com os seus currículos alernativos. A escolha destas entidades está directamente relacionada com as preferências manifestadas pelos alunos ou, quando esta não foi manifestada, com a actividade que professores e pais acharam melhor se encaixar no perfil comportamental do aluno. Esperamos poder contar com outras empresas, sobretudo as que estão mais próximas da escola, caso num futuro se verifique que alguma vertente da formação de algum aluno se concretiza melhor no mundo real do trabalho vivido nessas empresas do que na sala de aula. Jorge Araújo, Renault - Freixo Com a empresa Jorge Araújo, Lda., de reparações e comercialização de viaturas de marca Renault no concelho de Ponte de Lima, o protocolo visa a formação de um dos nossos alunos em actividades relacionadas com as tarefas de uma oficina de mecânica automóvel. Esta empresa já conta com vários anos de actividade em Freixo, onde actualmente mantém a sede dos seus serviços administrativos e comerciais, a oficina e a venda de peças. Em 1985 tornou-se agente da marca de automóveis Renault e em 1993 alargou-se com uma representação comercial à sede do concelho – Ponte de Lima – onde mantém uma filial na Quinta da Graciosa. Recentemente, com um investimento de vários milhares de contos, renovou o edifício sede e o equipamento e instalações da oficina, tornando-a numa das oficinas da área mais bem equipadas para oferecer um serviço de qualidade aos seus clientes, ao mesmo tempo que proporciona aos seus trabalhadores condições seguras de trabalho. E s t a empresa demonstrou um grande espírito de solidariedade para com a comunidade, já que esta colaboração no ensino não lhe traz nenhum benefício monetário. Enaltece-se, pois, a atitude generosa dos proprietários, Jorge e Glória Araújo, que, provavelmente, vai permitir ao Filipe realizar o grande sonho de ser mecânico, manifestado logo que chegou a esta escola e que só não foi cumprido mais cedo porque Jornal “Florescer do Neiva” Dezembro de 2001
também havia coisas muito importantes para aprender com os outros colegas antes de iniciar esta grande aventura. Mas os primeiros dias foram difíceis para o Filipe: era um ambiente FLORESCER novo que era preciso desbravar, pessoas estranhas que era necessário conhecer, formas de estar que era necessário aprender, uma linguagem nova para descodificar, o frio ou a fome para os quais era fundamental i r preparado... Enfim, obstáculos que quase o fizeram desistir. Mas a sua determinação em vencer foi maior: falou com o chapeiro, ajudou o pintor, acompanhou o mecânico.... Passou chaves de parafusos (e todas com números diferentes) a pedido, tirou a roda a um carro, .... Sentiu-se melhor e sentiu-se vencedor! Ganhou! (O Filipe gosta muito de ganhar). Agora, até “ia todos os dias...”. “Mesmo nas férias....”. Se não houvesse táxi “ia de bicicleta”... Temos a garantia que será, na vida adulta, um trabalhador responsável, numa oficina de automóveis. Câmara Municipal de Vila Verde Com a Câmara Municipal de Vila Verde, foi também assinado um protocolo de colaboração com vista ao treino de um dos nossos alunos em 5 DO NEIVA actividades relacionadas com a jardinagem. Agradecemos ao Dr. Vilela, Vereador do Pelouro da Educação, a rápida aceitação do nosso pedido e respectivo encaminhamento para o sector da jardinagem, sem a necessidade de grandes formalidades. Deu forma, assim, a um ideal de serviço à comunidade através da disponibilização dos recursos da Câmara Municipal e das vontades dos seus trabalhadores. O Sr. Francisco, responsável pelo sector da jardinagem na Câmara Municipal, foi de uma dedicação inexcedível e de imediato se mostrou disponível e pronto a colaborar na tarefa de ensino do Fernando nas lides da jardinagem. O seu sorriso simpático e acolhedor tornou muito mais fácil a iniciação do Fernando no novo ambiente de aprendizagem. Com o Sr. Francisco, o Fernando já aprendeu que é necessário aconchegar a terra à raiz, para que a planta tenha onde se agarrar, e que é necessário regá-la para que ganhe vontade de crescer. E mais coisas irá aprender. Devagarinho. Sem pressas. Sem ansiedades. O Fernando tem o seu ritmo próprio de aprendizagem. E tem muito medo de se enganar... Muito medo de fazer mal... muito medo de não ser bem sucedido... Muito medo de que alguém se zangue com ele... ou que não goste dele... Às vezes anda muito alegre, muito bem disposto, dá grandes gargalhadas, quer ouvir a música do rancho folclórico de Pedregais, o seu preferido. Outras vezes está triste, não quer falar, não quer música, não quer trabalhar. É assim o Fernando. Mas ele pode contar com muita gente para o ajudar a vencer os seus medos. O pai, o Sr. Amaro, está a ajudá-lo acompanhando-o nestes primeiros dias e permanecendo no local de aprendizagem. Os outros trabalhadores do viveiro, a D. Inocência e o Sr. Mota, empenhamse em tornar mais fácil a integração do Fernando e oferecendo a sua alegria no trabalho, a sua experiência, e o seu carinho. E todos nós estamos gratos à Câmara Municipal de Vila Verde por ter dado esta oportunidade ao nosso aluno de desenvolver competências que não seriam possíveis de adquirir noutro ambiente. Na oficina de mecânica Na sexta-feira andei a aprender mecânica na Renault em Freixo. Estive a tirar uma roda de um carro para ver os travões. Eu vi o chapeiro a desapertar um parafuso. O mecânico estava a arranjar o motor. O pintor não tinha carros para pintar, por isso arranjava um carro. Filipe Barbosa – 7.º B Fernando Gonçalves Jornal “Florescer do Neiva” Dezembro de 2001
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