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Projeto Arara-azul - Viva Marajó

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<strong>Projeto</strong> <strong>Arara</strong>-<strong>azul</strong><br />

modo de vida das espécies, os índios se preocupavam em manter a alimentação correta de cada<br />

animal (NOGUEIRA-NETO, 1973; SICK, 1997b). É importante ressaltar que a utilização da fauna<br />

silvestre pelos índios era realizada com critérios, sem ameaçar a sobrevivência das espécies, atividade<br />

bastante lucrativa, se tornou um novo ramo de negócios, como, por exemplo, não abatiam fêmeas<br />

grávidas ou animais em idade reprodutiva. No entanto, esses índios mudaram após o contato<br />

com os colonizadores e exploradores europeus. Começaram a explorar os recursos naturais mais<br />

seletivamente e intensamente, e em muitos casos eram usados como agentes depredadores desses<br />

recursos. Começa aí a história da exploração comercial da fauna silvestre brasileira, que pela sua<br />

diversidade gerava idéia de ser abundante e inesgotável.<br />

O comércio de animais silvestres, como jacarés e sucuris oriundos da região amazônica, já<br />

era realizado pelos Incas, no Peru, mas só atingiu proporções maiores depois da chegada da exploração<br />

européia (REDFORD, 1992). Esse comércio se desenvolveu paralelamente com o crescimento<br />

do interesse das pessoas por esses animais.<br />

No século XVI, época da abertura do mundo para a exploração européia, era motivo de orgulho<br />

para os viajantes retornarem com animais desconhecidos, comprovando assim o encontro<br />

de novos continentes (SICK, 1997a). Em 27 de abril de 1500, pelo menos duas araras e alguns<br />

papagaios, frutos de escambo com os índios, foram enviados ao rei de Portugal, juntamente com<br />

muitas outras amostras de animais, plantas e minerais. A impressão que tais aves causaram foi<br />

tanta, que por cerca de três anos o Brasil ficou conhecido como Terra dos Papagaios (BUENO,<br />

1998a). Em 1511, a nau Bertoa levou para Portugal 22 periquitos tuins e 15 papagaios (SANTOS,<br />

1990). Em 1530 o navegador português Cristóvão Pires levou 70 aves de penas coloridas (POLI-<br />

DO e OLIVEIRA, 1997). Esses foram os primeiros registros de envio da fauna silvestre brasileira<br />

para a Europa. Esses animais, que chegavam à Europa por meio de poucos viajantes e exploradores,<br />

despertavam a curiosidade e interesse do povo europeu, e logo começaram a ser expostos e<br />

comercializados nas ruas (HAGENBECK, 1910). Passaram a ser cobiçados para estimação e no<br />

século XVI já eram encontrados primatas sul-americanos nas residências inglesas, como também<br />

era comum encontrar indígenas e animais brasileiros em residências pela França (KAVANAGH,<br />

1983; BUENO, 1998b). Possuir animais silvestres sempre foi símbolo de riqueza, poder e nobreza,<br />

conferindo um certo status ao seu dono perante a sociedade (KLEIMAN et al., 1996). A partir do<br />

momento que o comércio de animais foi notado como uma atividade bastante lucrativa, se tornou<br />

um novo ramo de negócios, com viajantes especializados em obter animais para depois vendê-los<br />

(HAGENBECK, 1910). A comercialização da fauna silvestre ocidental, para a Europa, se sistematizou<br />

no final do século XIX, e a partir de então se iniciou o processo de extermínio de várias<br />

espécies de animais brasileiros para atender ao mercado estrangeiro.<br />

Os beija-flores eram exportados aos milhares para abastecerem a indústria de moda, como<br />

também eram utilizados, embalsamados, para ornamentação das salas européias (PAIVA, 1945;<br />

FITZGERALD, 1989; REDFORD, 1992; SICK, 1997a). As penas de garças e guarás eram utilizadas<br />

como adornos de chapéus femininos na Europa e na América do Norte, e o abate desses<br />

animais foi tão excessivo que, em 1895 e 1896, Emílio Goeldi (na época diretor do Museu Paraense<br />

de História e Etnografia), encaminhou duas representações ao governo do Estado do Pará,<br />

protestando contra a matança desses animais na Ilha de <strong>Marajó</strong> (ROCHA, 1995; POLIDO e OLI-<br />

VEIRA, 1997). No ano de 1932, cerca de 25 000 (vinte cinco mil) beija-flores foram mortos no<br />

Pará e suas penas destinadas à Itália, onde eram utilizadas para enfeitar caixas de bombons. Em<br />

1964, chegou-se ao absurdo de importar um canhão francês para se atirar nos bandos de marrecas<br />

na Amazônia, sendo registrada a morte de 60 000 (sessenta mil) marrecas em apenas uma fazenda<br />

no Amapá (SICK, 1997a).<br />

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