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CADERNOS DE AÇÃO POLÍTICA 7<br />

PPB:<br />

Identidade,<br />

Unidade e Ação


CADERNOS DE AÇÃO POLÍTICA<br />

PPB:<br />

Identidade,<br />

Unidade e Ação


Sumário<br />

Apresentação ....................................................................04<br />

A matriz doutrinária progressista ...........................................08<br />

Ÿ Para começar, a pessoa humana .......................................................08<br />

Ÿ Pessoa, ser individual ou social ..........................................................09<br />

Ÿ Individualismo e coletivismo, erros fatais ..........................................10<br />

Ÿ Igualdade, um desafio ......................................................................12<br />

Ÿ A solidariedade ................................................................................14<br />

Ÿ O bem comum .................................................................................16<br />

Ÿ Esplendor e fracasso da liberdade .....................................................19<br />

Ÿ O papel subsidiário do Estado ...........................................................21<br />

Ÿ O direito à propriedade privada ........................................................26<br />

A ideologia e o programa do PPB ............................................29<br />

Ÿ O manifesto do partido .....................................................................29<br />

Ÿ O programa ......................................................................................30<br />

As bandeiras do PPB ...............................................................34<br />

O PPB que temos e o PPB que queremos .................................41<br />

Considerações sobre um plano de ação partidária ...................44


PPB: Identidade, Unidade e Ação<br />

O resultado do PPB nas eleições de 2002, no plano nacional, leva a<br />

uma conclusão objetiva: o partido precisa repensar-se, reconhecer erros,<br />

recuperar identidade doutrinária e programática, romper com práticas<br />

superadas pela modernidade política e formatar um projeto concreto de<br />

expansão a partir das bases estaduais e municipais.<br />

Uma das causas principais do mau desempenho residiu na posição<br />

partidária (ou na falta dela) diante do quadro da sucessão presidencial.<br />

Não bastasse a ausência de um representante progressista na disputa - o<br />

que, por si só, colabora sobremaneira para a dissociação da imagem do<br />

partido e de seus líderes -, o PPB optou por liberar filiados e diretórios<br />

estaduais, sequer prestando atenção para o fato de que compunha o<br />

governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ficamos sem<br />

unidade e identidade, como que tonteando em um cenário repleto de<br />

socialistas declarados e enrustidos, a despeito da clara postura<br />

ideológica que sempre tivemos.<br />

Ademais, foram poucos os estados em que o PPB disputou o<br />

governo local, e em apenas dois ou três o fez com chance de vencer, sem<br />

que se observasse maior interesse do comando partidário nacional para<br />

com esse fato.<br />

Tal quadro, confuso e problemático, foi provocado por uma<br />

legislação eleitoral equivocada - é verdade -, mas teve colaboração,<br />

4


também, da falta de articulação nacional do partido. O resultado, como<br />

não poderia deixar de ser, foi a perda ainda maior da identidade<br />

partidária, a diminuição do tempo no rádio e na televisão para as<br />

próximas eleições com a queda no número de parlamentares, o<br />

esquecimento do "11" na cena nacional e o insucesso colhido no único<br />

estado cujo governo detínhamos. No próximo quadriênio o PPB não terá<br />

representação no Senado da República.<br />

Tais constatações acendem um alarme. Há sinais suficientemente<br />

robustos para ensejar a reflexão de que o partido deve ser reconstruído e<br />

revigorado. De cima para baixo e de baixo para cima! O comando<br />

nacional precisa ser recomposto de forma plural e democrática, corrigir<br />

rumos e estabelecer metas de expansão para todos os estados.<br />

Ora, o PPB não parou de diminuir a partir do momento em que<br />

aceitou ser instrumento de interesses menores. E muitos daqueles que se<br />

utilizaram dessa estratégia acabaram prejudicados por ela, em vista do<br />

fato de que se tratou de um procedimento visivelmente suicida. As<br />

exceções aconteceram exatamente nos Estados em que o PPB soube<br />

preservar sua consistência.<br />

No imaginário coletivo, o PPB tem que readquirir significado, e<br />

sua bandeira precisa representar, efetivamente, os valores defendidos<br />

pela matriz doutrinária que o inspira. Énecessário ter coragem e ousadia.<br />

Assumir, com unidade, posições claras a respeito de temas de interesse<br />

nacional, a partir dos preceitos ideológicos que comungamos. É simples:<br />

a sociedade só reconhecerá o PPB, novamente, como partido, quando ele<br />

tiver posições que recrutem opinião pública para a parte que lhe cabe no<br />

espectro filosófico, ideológico e político do país. Questões no campo da<br />

reforma política (sistema de governo, legislação eleitoral, fidelidade<br />

partidária, funções típicas de estado, pacto federativo); no campo<br />

econômico e internacional (estratégias para0 desenvolvimento nacional,<br />

globalização, relações internacionais, ALCA, MERCOSUL); na área<br />

tributária e previdenciária, no campo social (reforma agrária,<br />

distribuição de renda, minorias), merecem posição inequívoca do PPB, e<br />

não podem ficar imprecisas ou relegadas à prateleira das coisas<br />

5


desnecessárias. Além disso, o programa do PPB contém tesouros que<br />

devem ser exibidos e politicamente sustentados pelo partido: bem<br />

comum, livre iniciativa, direito de propriedade, entre outros.<br />

Um partido de verdade interroga a sociedade. É deste modo que o<br />

PPB deve agir no Brasil, buscando respostas e apresentado soluções.<br />

Não é possível que continue sendo o eco tardio das interrogações que a<br />

sociedade faz, pois o mínimo que se pode esperar de um partido político<br />

é que tenha idéias claras e mais respostas do que perguntas.<br />

O comando nacional precisa dar início, também, a um processo de<br />

expansão em todos os estados e municípios, a partir das realidades<br />

locais. O PPB deve existir em todas as camadas sociais e compor suas<br />

bases municipais. É necessário um trabalho efetivo de atuação na<br />

juventude, formando novas lideranças e garantindo futuro aos ideais<br />

progressistas. As mulheres, os trabalhadores, os dirigentes sindicais,<br />

definitivamente, têm que ter voz e vez no PPB. Num país que se urbaniza<br />

cada vez mais, o PPB precisa estar em dia com os temas do meio urbano.<br />

O trabalho a ser realizado pode parecer difícil ou, aos olhos de<br />

alguns, impossível. Contudo, a partir de uma unidade política e<br />

doutrinária nacionalmente decidida, criam-se as condições necessárias<br />

para que os agentes desta transformação se multipliquem, a começar<br />

pelos nossos deputados federais e estaduais, chegando aos nossos<br />

prefeitos, vereadores, líderes e militantes. Através de um comando que<br />

efetivamente assuma a tarefa de conduzir o PPB com os olhos voltados<br />

para a realidade do Brasil, a unidade pode ser construída e a expansão,<br />

alcançada. Impossível não perceber que há um vácuo político<br />

exatamente no espaço que o PPB deveria estar ocupando.<br />

Não cremos, em sã consciência, que quem acompanhe de perto a<br />

vida partidária esteja, neste momento, convicto de que o Brasil precisa<br />

do PPB como ele se apresenta, hoje, aos olhos da nação. No entanto,<br />

nossas idéias e os valores que defendemos não são nem podem ser<br />

descartáveis. É preciso tornar isso evidente. Rompamos nossas amarras<br />

às práticas obsoletas, aos projetos individualistas, aos interesses<br />

paroquiais e às condutas fisiológicas. Proclamemos, pois, nossa<br />

6


liberdade, para que possamos ser o que devemos ser.<br />

Com este espírito, de repensar e revigorar o PPB, transformando-o<br />

efetivamente em um partido nacional, é que a <strong>Fundação</strong> <strong>Tarso</strong> <strong>Dutra</strong> de<br />

Estudos Políticos e Administração Pública lança o presente Caderno de<br />

Ação Política. Pretendemos que este material sirva de reflexão para as<br />

importantes decisões a serem tomadas na Convenção de 11 de abril<br />

próximo.<br />

7


A Matriz Doutrinária Progressista<br />

Percival Puggina,<br />

Presidente da <strong>Fundação</strong> <strong>Tarso</strong> <strong>Dutra</strong><br />

1. PARA COMEÇAR, A PESSOA HUMANA<br />

Em absoluta contradição com o que estamos habituados a<br />

presenciar, nossa dignidade e o decorrente respeito dessa dignidade<br />

pelos demais e pelas instituições da sociedade não pode provir do que<br />

nos diferencia (bens materiais, títulos, idade, raça, beleza, força física,<br />

etc.) mas deve basear-se no que temos em comum. E é na condição de<br />

pessoa humana que ela se firma, como reconhece o primeiro artigo da<br />

Constituição Federal ao incluir a "dignidade da pessoa humana" como<br />

um dos cinco fundamentos da existência da nação.<br />

O conceito de pessoa, é bom saber, foi articulado pelo pensamento<br />

cristão. Segundo ele, a pessoa humana é portadora de uma dignidade<br />

natural e de "direitos anteriores ao Estado" (Leão XIII, Rerum Novarum,<br />

1891). Conjugam-se nela dualidades aparentemente antagônicas mas<br />

complementares: ela é material e espiritual, individual e social,<br />

imperfeita e aperfeiçoável, racional e emocional, sendo dotada de<br />

inteligência, vontade e liberdade. É do encontro da inteligência com a<br />

vontade, na presença da liberdade, que se define a moralidade das ações<br />

humanas.<br />

Hoje fala-se muito em cidadão e pouco em pessoa humana. Mas<br />

esses dois conceitos não se confundem e remetem a uma outra questão<br />

fundamental: há um Direito Natural, inerente ao ser humano,<br />

8


ou existe apenas o Direito Positivo, expresso nos ordenamentos jurídicos?<br />

A pergunta não é teórica, como pode erroneamente parecer. Antes, é<br />

absolutamente prática, e da coluna onde cravarmos o X da resposta<br />

pendem maneiras totalmente divergentes de se viver a política e organizar<br />

a sociedade.<br />

Os que admitimos o conceito de pessoa humana, como acima<br />

expresso, afirmamos que antes de existirem o Estado e suas leis já existia<br />

a pessoa humana, portadora de direitos (Direitos Naturais), como o<br />

direito à vida e à liberdade. Admitimos também, que todos participamos<br />

da mesma e igual natureza. De outra parte, nas sociedades modernas,<br />

toda pessoa humana é também um cidadão, mas nessa condição, está<br />

submetida ao Estado e desfruta apenas dos direitos que os códigos lhe<br />

conferem (Direito Positivo). Já se percebe aqui a possibilidade de alguns<br />

problemas: o estrangeiro não é cidadão, o feto não é cidadão, e se a lei<br />

estabelecer que alguém pode ser eliminado, ele o será, legalmente; se a<br />

lei definir que o feto pode ser abortado, ele o será, legalmente. Daí se<br />

conclui que tanto mais perfeito é o Direito Positivo (legislado) quanto<br />

mais de acordo e~tiver com o Direito Natural. Por conseguinte, conhecer,<br />

reconhecer e valorizar o Direito Natural deveria ser critério importante<br />

na seleção dos que elaboram as leis e dos que as fazem cumprir.<br />

Enquanto houver sobre direitos naturais - no sentimento do corpo<br />

social - rombos ou fissuras, continuaremos a conviver com as muitas<br />

formas de brutalidade que por vezes nos sobressaltam mais do que<br />

deveria nos assustar o cotidiano ao qual nos acostumamos.<br />

2. PESSOA, SER INDIVIDUAL OU SOCIAL?<br />

Essa é uma das questões de fundo no debate ideológico entre<br />

esquerda e direita. Nossa natureza individual é algo que salta aos olhos<br />

de modo permanente. Quando tropeço numa pedra, o pé que dói é o meu<br />

e o de ninguém mais. Cada um de nós tem a sua memória, a sua história, a<br />

sua própria vocação, seus gostos e desgostos. Nossa carteira de identidade<br />

apresenta uma impressão digital que, como qualquer célula de nosso<br />

corpo, é única, própria e irrepetível. Se cada um de nós não existisse e<br />

9


quisesse Deus criar um outro ser como nós, precisaria recriar nossos<br />

pais, e os pais deles, e assim sucessivamente, até que toda a Criação<br />

tivesse sido refeita.<br />

Contudo, esse ser assim tão individual é, também, um ser social.<br />

Somos sociais por carência (precisamos dos demais) e por abundância<br />

(podemos e devemos contribuir para o conjunto da sociedade em que<br />

vivemos). Somos um elo da sociedade presente e um elo social do<br />

passado com o futuro. Nossas atitudes, nossa cultura, nossos hábitos são<br />

aprendidos do meio social. Se, a exemplo de Tarzan, fôssemos criados na<br />

floresta, por um bando de chimpanzés, sem contato com outros seres da<br />

própria espécie, nossos comportamentos reproduziriam em tudo o que<br />

fosse possível o ambiente social em que estaríamos inseridos. E ao<br />

chegar a idade adulta, se não nos aparecesse a Jane, acabaríamos<br />

casando com a Chita.<br />

No entanto, apesar da obviedade dessas constatações<br />

antropológicas, o fato é que as ideologias deste século penduraram-se<br />

nos fios do individualismo e do coletivismo. Para o individualismo o ser<br />

humano é movido pelo interesse próprio e sua natureza é puramente<br />

individual ou dominantemente individual. Para os coletivismos o ser<br />

humano é puramente social ou dominantemente social. Praticamente<br />

toda a confusão que operaram ao longo de quase dois séculos decorre<br />

desses erros fatais.<br />

3. INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO, ERROS FATAIS<br />

Para o individualismo liberal, uma de suas virtudes consiste em<br />

extrair do egoísmo os impulsos propulsores do interesse próprio para<br />

estimular as atividades econômicas. Entendem seus pensadores que as<br />

necessidades humanas são mais plenamente atendidas quando todos os<br />

indivíduos buscam suas conveniências afanosa e irrestritamente. Notese<br />

que há uma lógica sedutora nesse conceito porque a experiência<br />

mostra que as pessoas tendem a se dedicar mais ao que lhes convém<br />

pessoalmente do que ao interesse alheio. Já para o coletivismo, o<br />

interesse próprio precisa ser eliminado como condição indispensável a<br />

10


que o interesse coletivo prevaleça. A busca egoísta das conveniências<br />

individuais estabeleceria a prevalência dos mais fortes sobre os mais<br />

débeis com graves danos ao equilíbrio social. Também aqui há uma<br />

lógica sedutora pois é exatamente isso o que a experiência exibe ao<br />

observador atento.<br />

Como admitir-se que duas noções antagônicas possam estar<br />

corretas? Ou, ainda: como podem ambas estar erradas embora coincidam<br />

com o que se observa? Onde está, afinal, a verdade? Ela não está em<br />

qualquer das duas (como revelaram todas as práticas individualistas e<br />

coletivistas). Para encontrar-se a verdade é preciso reconhecer aquilo<br />

que a doutrina cristã ensina: a pessoa é um ser ao mesmo tempo individual<br />

e social. O bem da pessoa e da sociedade não pode ser atendido por<br />

uma ordem que desconheça essa dupla condição. Assim, o Estado não<br />

existe para garantir os espaços do egoísmo nem para extinguir o interesse<br />

individual.<br />

Cabe-lhe, ao contrário, atuar no sentido de que o interesse de cada<br />

um se ponha a serviço do bem comum, promovendo relações sociais<br />

solidárias. Produzir isso é o papel da atividade política. O segundo maior<br />

mandamento da lei de Deus é o princípio original do pensamento político<br />

cristão: não nos é imposto amar ao próximo mais do que a nós mesmos<br />

nem amar-nos a nós mesmos mais do que ao próximo. O justo<br />

equilíbrio leva à solidariedade.<br />

Dizia-me alguém, dias atrás: o homem é naturalmente egoísta. E<br />

eu complementei: e é, também, naturalmente comodista, naturalmente<br />

hedonista, naturalmente pecador, o que não significa que no confronto<br />

natural entre os vícios e as virtudes se deva deixar dominar por aqueles<br />

em detrimento destas. É bom saber, por fim, que assim como o individualismo<br />

estimula o egoísmo de cada um, o coletivismo - como a história,<br />

amplamente, demonstrou - organiza esse mesmo egoísmo em modelos<br />

políticos totalitários.<br />

A humanidade muito apanhou no brutal confronto entre o individualismo<br />

e o coletivismo. Este, criando estruturas de dominação social<br />

para inibir a expressão da individualidade; aquele, quando muito<br />

11


generoso, chegando ao social como um episódico ensaio de amabilidade,<br />

apropriado para as horas livres. Nas horas ocupadas, impondo<br />

estruturas de dominação individual.<br />

4. IGUALDADE, UM DESAFIO<br />

O tema da igualdade é, por certo, um dos que mais desafia aqueles<br />

que se preocupam com as questões sociais. De fato, não é um assunto que<br />

"se possa deixar para lá" porque, queiramos ou não, ele surge quotidianamente<br />

perante nossos olhos, nossa consciência, nossa vida cristã, nosso<br />

ambiente político e nossa realidade econômica. Não existem duas<br />

pessoas iguais. Mesmo aquelas que vemos como "parecidas" diferem<br />

entre si em uma infinidade de aspectos. Deus não se repete. E as conseqüências<br />

dessa originalidade se multiplicam pela combinação de<br />

diferentes vontades e graus de liberdade com desigualdades físicas,<br />

psíquicas, emocionais e intelectuais. Ao criar com tão caprichosa<br />

variedade, Deus expressa determinados desígnios que relutamos em<br />

aceitar.<br />

Lendo-se essas revistas que se debruçam sobre as exuberantes<br />

prodigalidades dos bilionários, percebe-se que há uma intransponível<br />

desigualdade entre o nosso padrão de vida e o deles (bilhões de pessoas,<br />

se tivessem a possibilidade de olhar para mim - para mim! - experimentariam<br />

a mesma sensação, e isso me causa certo mal-estar). Ao contemplar<br />

as piruetas de um atleta olímpico nas barras paralelas, a fluência de<br />

um poeta repentista, o comovente desempenho de um bom ator, a<br />

virtuosidade de um pianista consagrado (e fico por aqui porque a lista é<br />

inesgotável) nota-se que, neles, sobram capacidades que não só nos<br />

faltam como nos fazem falta. Todos gostaríamos de tê-las. É justo, isso?<br />

E no entanto, sabemos que nós mesmos, o atleta, o ator, o bilionário, o<br />

virtuose e o poeta, somos iguais. Iguais em quê? Iguais na mesma<br />

dignidade.<br />

Liberdade, igualdade e fraternidade!, berrava a burguesia francesa<br />

enquanto secionava o pescoço dos cortesãos, abrindo caminhos para<br />

uma nova elite em que não se viram donas de casa nem padeiros. De fato,<br />

a igualdade e a simetria dos pratos da balança servem à justiça e nos<br />

12


desconcerta ver o deserto e a várzea, quer estejam na natureza ou nas<br />

habilidades do corpo e do espírito.<br />

O tema da igualdade é um desafio que nos cria o Criador. Ele fez<br />

certo, embora na estreiteza de nosso entendimento, talvez nos sentíssemos<br />

tentados a lhe recomendar um melhor controle de qualidade e lhe<br />

indicássemos alguma bibliografia sobre produção em série. A mecatrônica<br />

sobrepujando o humanismo ... Imagine, leitor, o mundo que faríamos<br />

se o pudéssemos fazer ou refazer. Ali, nas nossas linhas de produção<br />

industrial, com um bom laboratório, chegaríamos a uma ISSO-900 1 da<br />

humanidade, onde todos seriam perfeitos e haveria uma correta distribuição<br />

dos atributos que tanto valorizamos, como beleza, saúde, inteligência,<br />

força, etc ..<br />

Não são poucos os que, inconformados com as desigualdades<br />

naturais, defendem um Igualitarismo em que todos seriam nivelados por<br />

força de lei humana. Várias utopias, aliás, foram construídas sob essa<br />

inspiração, confundindo a igualdade de direitos e a igualdade perante a<br />

lei, com igualdade por força de lei. É de se indagar: seria justa uma<br />

corrida em que cada competidor largasse de um ponto diferente da pista<br />

para cruzarem todos juntos a meta? Ou, ao contrário, o que torna justa a<br />

competição é estarem todos alinhados na hora da partida? Nosso principal<br />

equívoco, sob esse ponto de vista, está na largada e não na chegada.<br />

O padre Fernando Bastos de Ávila sintetiza bem a questão ao<br />

observar que o princípio da Igualdade, nas sociedades políticas, implica<br />

três exigências fundamentais: 1a) a igualdade inicial de oportunidades<br />

para todos (com especial aplicação nos campos da Educação e da<br />

Saúde); 2a) a disponibilidade, para todos, de iguais possibilidades de<br />

realizar sua dignidade essencial (com especial aplicação no campo do<br />

Trabalho); e 3a) a disponibilidade de condições diferentes para que cada<br />

um possa realizar talentos diferenciados (com uma quase infinita gama<br />

de possibilidades).<br />

13


5. A SOLIDARIEDADE<br />

"Cada um cuida de si e Deus de todos!" proclamam<br />

osindividualistas, embora sejam muito rápidos em pedir socorro nas<br />

próprias necessidades. Errando sobre a natureza humana, desconhecem<br />

a si mesmos, aos demais e, principalmente, não conhecem a Deus. O<br />

egoísmo que bem os caracteriza fundamenta-se naquilo que julgam<br />

aprender da Natureza: Os minerais, servem aos vegetais; os vegetais<br />

servem aos animais; os animais de ordem inferior, menores, mais fracos<br />

e mais lentos, servem aos animais de ordem superior, maiores, ou mais<br />

fortes ou mais ágeis; todos os animais, vegetais e minerais, servem ao<br />

homem. Ora, observando os homens, percebe-se que também entre eles,<br />

existem os menores, mais fracos, mais lentos, menos inteligentes, menos<br />

aptos. Logo, o mesmo princípio que em tudo se observa - os seres de<br />

ordem inferior servem aos fins a que se destinam os seres de ordem<br />

superior - há de valer para a humanidade inteira. Certo?<br />

Errado! Esse raciocínio esgota sua validade ao chegar ao gênero<br />

humano porque, como se viu antes, todas as pessoas,<br />

independentemente daquilo que as distingue, são titulares dos mesmos<br />

direitos naturais e da mesma dignidade.<br />

Os coletivistas, ao perceberem a natureza social da pessoa<br />

humana, sentindo o equívoco do individualismo e atentos aos seus<br />

péssimos reflexos na vida das sociedades, ensaiaram três versões de sua<br />

filosofia social. Vamos defender a nação dos egoísmos alheios! E<br />

criaram o fascismo. Vamos defender a raça dos egoísmos alheios! E<br />

criaram o nazismo. Vamos defender a classe social dos egoísmos<br />

alheios! E criaram o comunismo. Em cada um dos três coletivismos que<br />

a história conheceu está presente o germe do mesmo mal: há um coletivo<br />

que quer ordenar para dominar ou não ser dominado e onde os<br />

indivíduos do grupo social- abelhas de uma colméia, formigas de um<br />

formigueiro, cupins de um cupinzeiro - são fragmentos do todopoderoso<br />

coletivo, onde cada um se destrói e renasce como participante<br />

místico do todo em que se íntegra.<br />

14


Não preciso gastar palavras para rememorar o cortejo de<br />

tormentos e violências que os coletivismos produziram ao longo deste<br />

século. A partir de um engano antropológico, desconhecendo a natureza<br />

da pessoa humana, potencializaram o egoísmo individual. Deram<br />

caráter orgânico e místico ao mesmo egoísmo que no individualismo<br />

adquire feição maléfica, sim, mas desordenada e não sistêmica. Fizeram<br />

mais, lhe colocaram armas nas mãos e o levaram à guerra, pela direita e<br />

pela esquerda do estúpido arco ideológico.<br />

É parte dessa loucura, no caso dos coletivismos, o tipo de<br />

solidariedade que anunciam. Colocam rótulo legítimo num uísque<br />

paraguaio de péssima qualidade pois chamam solidariedade ao<br />

sentimento que une o coletivo. Ora, solidariedade não é mera união de<br />

interesses. Para exemplificar, indago: pode-se chamar solidariedade o<br />

espírito que congrega os participantes de uma reunião da poderosa<br />

Confederação Nacional da Indústria? É claro que não. Tal grupo se une<br />

por interesse, da mesma forma que por interesse se reúne a CUT no outro<br />

lado do corredor. Solidariedade é aquilo que acontece se e quando os<br />

dois grupos saem de suas salas para um sincero encontro com vistas ao<br />

bem comum.<br />

Não mais legítima é a beberragem servida com o rótulo de<br />

solidariedade pelos individualistas. Coerentemente com a filosofia<br />

social que esposam, ela se converte num sentimento individual, meio<br />

inadequado, uma extravagante combinação de caráter, circunstância e<br />

vontade, capaz de levar alguém, agindo contra a própria natureza<br />

naturalmente egoísta e voltada ao interesse próprio, a se ocupar<br />

episódica e esporadicamente, com os problemas alheios. Uma atitude<br />

nesse sentido, determinada e permanente, será, por certo, sintoma de<br />

grave deformidade moral ou enfermidade psíquica ...<br />

Uma vida social efetivamente democrática vai necessitar, como<br />

nós necessitamos do ar que respiramos, de uma cultura de solidariedade<br />

com vigência na alma social, ali convertida em virtude. Solidariedade<br />

não é parceria, embora a parceria possa ser expressão de solidariedade.<br />

Solidariedade não é tampouco um espasmo de sensibilidade individual,<br />

15


mas é um vínculo permanente do indivíduo com a vida, com certos<br />

interesses legítimos (também, sim), e com as responsabilidades de um<br />

grupo social, de uma nação e da própria humanidade.<br />

Não é estranho que na visão comum de solidariedade se promova<br />

um salto em dimensões meridianas, do núcleo familiar para o âmbito<br />

planetário? Temos, sim, consciência da solidariedade do núcleo familiar<br />

que dissolve, muitas vezes, os interesses divergentes de seus membros<br />

com vistas a um bem comum. Temos, também, e com igual<br />

conseqüência, noção de uma solidariedade planetária com vistas às<br />

questões ecológicas (sentimo-nos passageiros transitórios do planeta e<br />

crescentemente compreendemos que o compartilhamos com<br />

contemporâneos de outro hemisfério que jamais vimos e com gerações<br />

vindouras que jamais veremos). E nos falta, contudo, o sentido de<br />

solidariedade em tudo mais: na empresa, na cidade, no estado, no país,<br />

em relação aos povos vizinhos e assim por diante.<br />

É possível que a estas alturas, o leitor atento destas páginas esteja<br />

refazendo a questão da qual tratei anteriormente: mas o ser humano não é<br />

naturalmente egoísta? Reproduzo a resposta: e somos também<br />

naturalmente comodistas, hedonistas e predadores. Mas isso não<br />

significa que devamos permitir que nossos vícios sufoquem as virtudes,<br />

mesmo sabendo que aqueles unem tanto ou mais do que estas.<br />

Contudo, se somos assim (e somos assim), também é verdade que<br />

a solidariedade é parte - e parte boa - da nossa natureza social. E isso se<br />

comprova com o fato, por todos experimentado, de que jamais<br />

esquecemos das ocasiões em que fomos solidários, tanto quanto jamais<br />

olvidamos as ocasiões em que faltou solidariedade para conosco.<br />

6. O BEM COMUM<br />

É conhecida a definição de açúcar segundo a qual ele é um pozinho<br />

branco que deixa amargo o café quando não o adicionamos a ele.<br />

Analogamente, o bem comum é aquele princípio da vida social sem o<br />

qual uma comunidade se desagrega. Ele é formado pelo conjunto de<br />

condições materiais e espirituais necessárias a que as pessoas se<br />

realizem, presente em todos os grupos sociais harmônicos. Assim,<br />

16


há um bem comum familiar; há um bem comum do bairro, da cidade, do<br />

estado e do país; e há um bem comum à humanidade inteira. É da noção<br />

de bem comum que surge a consciência ecológica; e é da noção de bem<br />

comum que se pode realizar aquela reunião entre a CUT e a CNI<br />

mencionada no capítulo de que tratamos da solidariedade.<br />

Já se vê que o bem comum é um princípio indispensável à organização<br />

do Estado (sendo ele mesmo, o Estado, parte do bem comum<br />

nacional) e se formos apontar uma finalidade à Política, aí também<br />

estará a construção do bem comum como o seu mais nobre e legítimo<br />

objetivo.<br />

O princípio do bem comum é flagrantemente contraditório ao<br />

individualismo, que o rejeita com todas as forças de sua alma egoísta. A<br />

filosofia social individualista contrapõe ao bem comum o conceito de<br />

bem geral, formado não por um conjunto de bens efetivamente comuns<br />

mas pelo somatório dos bens particulares dos indivíduos e organizações.<br />

Pouco lhe importa o número de dígitos que cada um aporte a essa<br />

soma esdrúxula, nem lhe interessa se ela resultar algébrica pela soma<br />

dos números positivos de uns com os negativos de outros.<br />

Bem ao contrário do que decorra dessa matemática patrimonial, a<br />

experiência revela que, não raro, o bem comum resulta muito mais das<br />

renúncias de cada um do que dos ganhos que os indivíduos aufiram.<br />

Por paradoxal que possa parecer, o princípio do bem comum é<br />

contraditório, também, à filosofia social dos coletivismos, mesmo<br />

daqueles que, como o comunismo, sustentam o caráter comum dos<br />

bens. Para compreender razão disso é preciso perceber o caráter não<br />

pluralista e não democrático dos coletivismos, onde o único bem que<br />

conta é o bem do coletivo dominante: a nação no fascismo, a raça no<br />

nazismo e a classe social no comunismo. Portanto, no comunismo, até<br />

mesmo pela ausência de bens pessoais que possam conferir liberdade e<br />

autonomia aos indivíduos, a transferência dos bens econômicos ao<br />

Estado se converte em fonte de dominação política.<br />

17


É exatamente pela inexistência de um bem efetivamente comum<br />

que os coletivismos resultam totalitários. Como o único bem que conta é<br />

o do coletivo dominante, as liberdades públicas e os direitos políticos -<br />

parte expressiva do bem comum das sociedades efetivamente<br />

democráticas - são surrupiados até o último resíduo pelos coletivismos,<br />

como condição indispensável a moldar um rebanho de servos submissos<br />

ao poder político. Este, por seu turno, cuida logo de entupir os ouvidos da<br />

massa informe com as mentiras de sua propaganda. E enquanto subtrai<br />

ao povo o bem comum interno lhe dá coesão através da maliciosa<br />

construção de um sinistro mal comum externo. Não é por acaso que<br />

todos os coletivismos foram à guerra.<br />

Podemos falar em bem comum genérico, envolvendo objetivos<br />

permanentes da sociedade: segurança, liberdade, justiça, ordem e<br />

progresso, bem como o conjunto do patrimônio cultural, moral e<br />

institucional. E em bem comum específico, que são os bens materiais<br />

(riquezas naturais, bens públicos de infra-estrutura, etc.) disponíveis à<br />

manutenção e consecução do bem comum genérico. Desta última<br />

divisão conceitual decorrem nitidamente os papéis próprios e diferentes<br />

do Estado e dos governos. Cabe ao Estado zelar pelo bem comum<br />

genérico e cabe aos governos o cuidado do bem comum específico.<br />

Mas isso tudo não é muito vago? indagará, talvez o leitor.<br />

Felizmente, sim. Porque é desse caráter vago que decorre a própria<br />

necessidade da política e da democracia. Se tudo fosse absolutamente<br />

objetivo e o bem comum algo cientificamente definido -como<br />

pretendiam e infelizmente ainda pretendem alguns profetas dos<br />

totalitarismos e da organização científica das sociedades -bastariam as<br />

estruturas burocráticas para colocar em marcha o Estado. Apele à sua<br />

memória, leitor: não foi exatamente isso o que passaram a dizer as<br />

esquerdas nacionais quando caiu o muro de Berlim e se desfez o mito do<br />

socialismo de estado? Não passaram elas a proclamar, tentando salvar os<br />

fundilhos da utopia, e diferentemente de quanto diziam antes, que fora o<br />

socialismo burocrático que caíra?<br />

Quando compareço a um jantar servido em forma de buffet,<br />

18


torço para que, de alguma forma, o acesso ao mesmo seja organizado.<br />

Caso contrário, acaba havendo um corre-corre no qual os mais ágeis, os<br />

mais mal-educados e os mais corpulentos levam vantagem. Os mais<br />

ágeis porque chegam primeiro, os mal-educados porque furam a fila e os<br />

corpulentos porque ocupam maior frente de mesa e travessas. São os<br />

beneficiários da desorganização, que sempre prejudica os lentos, os<br />

fracos e os bem educados. A situação descrita pode ser considerada uma<br />

parábola do Brasil e de outros países com problemas de organização<br />

política com vistas à promoção do bem comum, cuja desordem política,<br />

econômica e administrativa serve aos interesses dos ágeis (espertos), dos<br />

mal-educados (sem caráter) e dos corpulentos (poderosos). Estes<br />

controlam o buffet, onde consolidam as posições privilegiadas e o acesso<br />

à maior parte dos bens disponíveis.<br />

Resumindo: não podemos acabar com a democracia do buffet para<br />

que o Estado coloque no prato de cada um uma porção insossa do pirão<br />

insuficiente que produza (como pretendem os coletivistas), nem<br />

transformar o acesso a ele numa cerimônia selvagem onde os mais fortes<br />

prevaleçam (como desejam, para benefício próprio, os individualistas).<br />

A verdadeira Liberdade, outra virtude social, não é isso.<br />

7. ESPLENDOR E FRACASSO DA LIBERDADE<br />

O macaco, quando empilha caixotes para apanhar bananas<br />

suspensas fora de seu alcance, está usando um atributo, denominado<br />

inteligência, comum a várias espécies animais. Já quem se empenha em<br />

conhecer a Verdade e o Bem, usa de uma outra faculdade,<br />

especificamente humana, chamada razão. A razão - a razão pura - esteve<br />

no centro da revolução filosófica dos séculos XVIII e XIX.<br />

Que decepção teriam os pensadores daquela época se pudessem<br />

confrontar o otimismo que suas idéias suscitaram com a quase absoluta<br />

irracionalidade a que chegamos! Nunca a humanidade foi tão destra em<br />

empilhar caixotes para apanhar bananas, quer elas pendam de Júpiter ou<br />

de uma retorta de laboratório, mas jamais esteve tão distante de<br />

apreender o sentido da vida e desinteressada de orientá-la para o Bem.<br />

Erich Fromm resume assim a situação: "Possuímos o saber-como<br />

19


(know-how), mas não possuímos o saber-por-que (know-why) nem o<br />

saber-para-que (know-what-for)".<br />

O motivo é evidente. Absolutizando razão e liberdade, essa<br />

filosofia desenrolou o tapete para o relativismo e o existencialismo: se a<br />

razão for a única fonte da verdade e se a liberdade for a essência do<br />

homem, ter-se-á uma verdade para cada mente e o homem deve ser o que<br />

quiser fazer de si. O resultado é a miséria da filosofia e o trágico<br />

descaminho, travestido de liberdade, percorrido por gerações<br />

despreocupadas com a Verdade e com o Bem, patrocinadoras da<br />

prosperidade de advogados e profissionais da saúde mental. Destes,<br />

porque lidam com os cacos que as pessoas acabam fazendo de si (e umas<br />

das outras) por não terem compreendido o que de fato são, e daqueles<br />

porque -ausente a noção de Bem -as relações sociais se orientam apenas<br />

por interesses que se complicam quando a regra é o desregramento.<br />

Um prato cheio -de bananas. Extraviada a idéia de Bem, a noção de<br />

erro se esvazia e a consciência pessoal se amordaça num novelo de<br />

racionalizações oportunistas e egoístas. Nada há de surpreendente,<br />

então, na derrocada da instituição familiar, na irresponsabilidade moral<br />

de pais, educadores e comunicadores, na decadência do papel do Estado,<br />

nem na insignificância das virtudes individuais e sociais. E ainda<br />

aparece quem recrimine o Cristianismo por não se moldar segundo tais<br />

paradigmas!<br />

Ninguém levanta cedo, troca o lazer pelo dever, o prazer pelo<br />

compromisso moral ou pelos desconfortos do trabalho, porque assim<br />

queira mas porque reconhece como verdade haver nisso um bem<br />

superior ao aconchego da cama, aos gostos da recreação, e às excitações<br />

dos muitos vícios com que poderia ocupar seu tempo. A liberdade, como<br />

virtude moral, não consiste em se fazer o que se quer mas em se fazer o<br />

que se deve com vistas ao Bem.<br />

Portanto, a liberdade só pode ser um princípio da vida social, se<br />

for, também, um valor moral que implica, conforme ensina Fernando<br />

Bastos de Ávila, o uso consciente dos direitos e o exercício responsável<br />

dos deveres. E aqui se reproduzem, mais uma vez, os antagonismos que<br />

20


que vimos assinalando nas páginas anteriores entre a essência do<br />

Cristianismo e as filosofias do individualismo e dos coletivismos.<br />

Com efeito, para o individualismo, a liberdade consiste, como se<br />

afirmou acima, em que cada um possa fazer o que deseja, contanto que<br />

não interfira na liberdade dos demais, cabendo ao Estado como função<br />

principal, assegurar aos indivíduos a possibilidade de usar dessa<br />

liberdade. No plano econômico, a liberdade se expressa no mercado,<br />

território vedado a qualquer interferência dos poderes públicos (é a<br />

essência do liberalismo econômico). Para os coletivismos, a liberdade é<br />

um atributo do coletivo dominante e não das pessoas. Assim, em todos<br />

eles, sofrem pesadas restrições as liberdades públicas, os direitos<br />

políticos e os diretos humanos, a começar pelos processos de<br />

doutrinação a que são submetidos os membros da sociedade, passando<br />

pelo tratamento dispensado às dissidências políticas, e chegando no caso<br />

do coletivismo marxista à supressão das liberdades de iniciativa<br />

econômica individual.<br />

Mais adiante nos deteremos na questão das liberdades<br />

econômicas, bastando, neste momento assinalar que essa liberdade faz<br />

parte da liberdade humana integral, onde o Estado vai cumprir, como em<br />

tudo mais, uma função subsidiária que o individualismo rejeita (porque<br />

o quer mínimo e insignificante) e o coletivismo marxista recusa (porque<br />

o deseja protagonista de todos os papéis relevantes).<br />

8. O PAPEL SUBSIDIÁRIO DO ESTADO<br />

Parece interessante introduzir este tema a partir de questão<br />

bastante prática e atual -o tamanho do Estado -que, como se sabe, excita<br />

e divide no plano ideológico e fisiológico o auditório nacional. Nas<br />

trincheiras ideológicas se debatem infatigáveis como de hábito a velha<br />

esquerda e a antiga direita. No plano fisiológico o conflito é mais agudo:<br />

de um lado os que, ao longo do tempo, foram firmando direitos e se<br />

apropriando de parcelas cada vez maiores do Estado, constituindo as<br />

poderosas corporações funcionais do país; de outro as corporações<br />

privadas que cobiçam deitar mão sobre tudo quanto hoje é dito público a<br />

começar pelas iguarias mais finas proporcionadas por nosso vastíssimo<br />

21


nosso vastíssimo cardápio estatal. Indagaria então o leitor: não existe<br />

qualquer vestígio de idealismo nesse debate? É difícil compreender que<br />

um debate entre partes tão mal-intencionadas possa repercutir entre<br />

pessoas sensatas. Mas como disse acima, as ideologias cumprem esse<br />

estonteante papel: embebedam o peru das massas para o posterior jantar<br />

das elites. Uma coisa é defender-se as relevantes funções civilizadoras,<br />

humanas e sociais do Estado; outra, é querer preservar estruturas estatais<br />

abusivas de privilégio e poder. Uma, é sustentar a prioridade das<br />

iniciativas privadas; outra, é querer derrubar a casinha do salva-vidas<br />

para que a praia fique entregue apenas aos atletas da economia. Portanto,<br />

a boa intenção corre por conta de quantos, ingenuamente, acreditam na<br />

sinceridade das exposições de motivos com que os antagonistas<br />

divulgam suas posições e se engajam nos respectivos movimentos. Não<br />

há como excluir do qualificativo fisiológico quem se mova por interesse<br />

próprio, ao arrepio do bem comum, em qualquer das duas facções que se<br />

rosnam reciprocamente à mesa desse banquete.<br />

O primeiro grupo fisiológico é formado por aqueles que, de<br />

maneira muito especial, se interessam em confundir público com estatal.<br />

A respeito, me parece oportuno transcrever, tomando a liberdade de uma<br />

tradução não-autorizada, trecho de conferência do prof. Andrés Ollero<br />

Tassara, catedrático de Filosofia do Direito na Universidade de Granada<br />

sobre o tema "La apropiación de lo público por el estado". Diz o<br />

professor e deputado granadense no parlamento espanhol: Se<br />

determinadas posturas ideológicas conseguem fazer seu o termo<br />

"público", chegando a convencer de apenas elas defendem tão nobre<br />

objetivo, jogam com vantagem. Se, ademais, conseguem apropriar-se do<br />

termo "social", até o ponto de que seu próprio nome aparece associado a<br />

ele -como ocorre com o socialismo -lhes resultará ainda mais fácil<br />

suscitar simpatias e afinidades quase inconscientes (...) Para completar<br />

nosso quadro teríamos que indagar-nos sobre o que se costuma entender<br />

por "privado". Algo "privado" aparece, antes de mais nada, como algo de<br />

que se excluiu alguém. O termo cobra assim, uma clara conotação<br />

negativa (...) Chega um momento em que a chave do privado já não se<br />

situa em seu titular senão para falar como os juristas - em sua excludente<br />

22


dimensão erga omnes ( ... ) Em tais circunstâncias, se alguém - no âmbito<br />

político - se deixa levar a essa forçada contraposição entre o privado e o<br />

público, terá a batalha perdida de antemão.<br />

E prossegue o professor Ollero, com muita agudeza, constando, na<br />

sociedade espanhola, algo que com ela compartilhamos: Se contrapõe<br />

em nossa sociedade uma arraigada divinização ética do Estado. Nisto<br />

somos, assombrosamente, "hegelianos" sem o saber, como aquele<br />

sujeito que falava sempre, inadvertidamente, em prosa ... O Estado se<br />

converte em símbolo do desinteresse absoluto. Todo o estatal é<br />

indiscutivelmente desinteressado, frente ao particular, interessado por<br />

definição. Como conseqüência, se uma determinada tarefa pode ser feita<br />

por um particular ou pelo Estado, as pessoas -prevendo benefício -<br />

optarão por que ela seja assumida pelo Estado, sobretudo se trata de um<br />

âmbito em que esteja afetada de maneira especial a vida dos cidadãos.<br />

Nada diferente do que, por longo tempo, aconteceu entre nós e<br />

com cujos desdobramentos ainda convivemos. As calçadas das Bolsas<br />

de Valores, em dia de leilão de empresas estatais, são as praças de guerra<br />

dos conflitos que refletem essas tensões fisiológicas e respectivos<br />

argumentos ideológicos.<br />

O segundo grupo à mesa do banquete proclamará que o Estado é<br />

um mal necessário e redutível a uma expressão mínima que acabe por lhe<br />

suprimir toda significação. Recém-desembarcadas de um curso sobre<br />

História Universal na constelação Alfa-Centauro, essas pessoas<br />

enfrentam dificuldades para compreender o mundo em que vivem e o<br />

gênero humano a que pertencem. Talvez porque absolutamente não<br />

consigam discernir o que acontece no mundo, certificam, no que lhes diz<br />

respeito, a exatidão de Vico quando afirmava que homo non intelligendo<br />

fit omnia.<br />

O Estado é um bem a ser buscado como necessário. O fato de que<br />

suas instituições muitas vezes sejam abusadas não torna menos evidente<br />

que na ausência do Estado a humanidade regrediria à uma selvageria<br />

com variáveis graus de sofisticação. Não parece razoável admitir que<br />

disfunções institucionais mais ou menos freqüentes façam<br />

23


transitar em julgado sentença condenatória a tudo que é público pela via<br />

estatal porque isso seria o mesmo que considerar desprezível o músculo<br />

cardíaco diante da grande incidência de cardiopatias.<br />

No entanto a vida continua e a questão persiste: que tamanho deve<br />

ter esse Estado, que é um bem? Creio que a conferência do professor<br />

Andrés Ollero, chamando a atenção para o fato de que o estatal não é<br />

necessariamente equivalente a social nem público, e indicando,<br />

ademais, que o conceito de privado não se opõe necessariamente ao de<br />

social e que nem sempre o estatal é desinteressado, nos sinaliza na<br />

direção de buscar resposta a essa pergunta no campo do interesse público<br />

e do social E a abandonar, por menos relevante, a mera tensão entre<br />

estatal e privado dentro da qual quase compulsivamente nos pautamos.<br />

Na medida em que nos fixamos no interesse público e social,<br />

estamos nos abeirando da idéia de bem comum, tratada em capítulo<br />

anterior e apontado como único motivo legítimo das ações políticas. O<br />

tamanho do Estado terá uma obrigatória relação com essa finalidade. Ali<br />

se viu que o bem comum não mantém relação exclusiva com a Política<br />

mas para ele também devem, por imposição moral, convergir as ações<br />

que habitualmente se incluem no campo das chamadas atividades<br />

privadas, razão pela qual não se pode pressupor uma incompatibilidade<br />

natural entre as expressões do binômio público! social e privado. De<br />

resto, as experiências empresariais mais bem sucedidas neste fim de<br />

século testemunham de modo tão eloqüente o acerto de tal ensinamento<br />

que fica difícil compreender porque tarda ele a penetrar e a fecundar de<br />

maneira eficaz determinados círculos públicos e privados brasileiros.<br />

Tendo presente o que ali se afirmou sobre a relação entre o<br />

conteúdo do bem comum especifico e os governos, será condição do<br />

Bem Comum que a sociedade possa periodicamente rever e, se for o<br />

caso, modificar, as estruturas do Estado, do Governo e da Administração<br />

em conformidade com aquilo que tenha sido decidido dentro do<br />

processo político. Mudanças estruturais não equivalem ao processo de<br />

sedimentação ocorrido no Brasil, onde cada governo, durante décadas,<br />

foi construindo sua própria estrutura sobre a estrutura anterior,<br />

agregando as próprias camadas às camadas preexistentes, e gerando a<br />

24


as próprias camadas às camadas preexistentes, e gerando a multifoliada<br />

e mastodôntica cebola burocrática com a qual convivemos.<br />

Por outro lado, e com isso chega-se ao núcleo do tema, a pessoa<br />

humana e a comunidade são anteriores ao Estado. Portanto, suas<br />

iniciativas não devem ser inibidas pelo Estado, nem pode o Estado<br />

assumir como encargo seu aquilo que a pessoa humana e a comunidade<br />

possam fazer bem feito. Trata-se do principio da Subsidiariedade: a<br />

sociedade maior não deve fazer aquilo que a sociedade menor possa<br />

fazer bem feito. O ancestral desacato a esse princípio no Brasil foi levado<br />

tão longe, criando situações tão aberrantes, que hoje, mesmo entre os<br />

segmentos políticos da esquerda, se encontra bolsões de consenso sobre<br />

a necessidade de se revisar as atribuições dos três níveis de governo.<br />

Portanto, à luz dos princípios do Bem Comum e da<br />

Subsidiariedade, o Estado deve ter, a cada momento, o tamanho<br />

necessário para fazer aquilo que a pessoa humana e a sociedade não<br />

possam fazer bem feito. Entendido esse conceito, torna-se inafastável a<br />

idéia de um Estado organizado de maneira flexível, cujo porte possa<br />

variar para atender e deixar de atender aquilo que a sociedade lhe vá<br />

balizando a partir dos limites de suas próprias possibilidades e<br />

competências. Num mundo em permanente mutação, no qual as ondas se<br />

sucedem com crescente rapidez, esse Estado dificilmente será mínimo<br />

no sentido equivalente a inexpressivo mas o será no sentido de menor<br />

possível, como conseqüência da conjugação do Bem Comum com a<br />

Subsidiariedade.<br />

Além da dimensão política que aqui se enfatizou, o princípio da<br />

subsidiariedade tem uma dimensão social: ela se expressa nas relações<br />

entre os membros de uma família (com o respeito dos pais à autonomia<br />

dos filhos); e também nos condomínios, onde a administração não deve<br />

ser chamada a interferir naquilo que seja próprio dos condôminos; nas<br />

cooperativas, nos sindicatos, e em todo o conjunto dos corpos<br />

intermediários existentes na sociedade. Às instituições de ordem<br />

superior compete orientar, harmonizar, suprir e jamais substituir, inibir<br />

ou eliminar as instituições de ordem inferior.<br />

25


Reconhecer a necessidade de se reduzir o porte do Estado não<br />

significa avalizar teses próprias do individualismo liberal. Por outro<br />

viés, defender a ação forte, ética e competente do Estado na promoção do<br />

bem comum não significa subscrever teses inerentes ao coletivismo. Os<br />

individualistas recusam o princípio da subsidiariedade por estarem<br />

ligados pelo umbigo à idéia de cada um por si e Deus por todos. Os<br />

coletivistas - especialmente os de perfil marxista - o rejeitam pelo<br />

excesso oposto: para eles, a pessoa e as instituições da sociedade é que<br />

são subsidiárias ao Estado. Se formos olhar bem, resta depositada no<br />

fundo desse caldo ideológico a questão do direito à propriedade privada.<br />

9. O DIREITO À PROPRIEDADE PRIVADA<br />

Suponha que você tenha dedicado anos de sua vida pesquisando<br />

algo que pudesse dar solução a um determinado problema da<br />

humanidade. Você se empenhou, renunciou a muitas horas de lazer,<br />

investiu recursos que poderiam ser aplicados em benefício imediato seu<br />

e de sua família. Por fim, encontrou o que buscava e com isso se tornou<br />

detentor de um conhecimento técnico e de uma tecnologia que só você<br />

tem. Trata-se de um bem intelectual, guardado no cofre de sua mente.<br />

Será difícil conceber uma propriedade tão pessoal: é seu e só você sabe<br />

que existe. Mas existe, é seu e tem valor. Para o coletivismo marxista,<br />

esse conhecimento não lhe pertence. Aliás, se você se apresentasse com<br />

ele ao poder público, na condição de cidadão de um estado coletivista,<br />

enfrentaria problemas sérios por ter desenvolvido seu trabalho fora do<br />

órgão oficial correspondente. Ali, não existe apropriação privada de<br />

conhecimento técnico e menos ainda de seus frutos.<br />

Já um individualista lhe dirá que você pode fazer o que bem<br />

entender com o conteúdo de seu cofre metal. O sagrado direito de<br />

propriedade lhe permite usar ou não usar do que sabe. O que você fizer<br />

com o que lhe pertence, para si ou para outrem é problema seu. Vender,<br />

emprestar, dar, alugar ou jogar fora são alternativas do proprietário.<br />

Contudo, essa propriedade, a exemplo de qualquer outra, tem uma<br />

função social. Você está moralmente obrigado a colocar esse bem a<br />

serviço dos demais. É lícito para você determinar o modo como fará isso:<br />

26


egistrar uma patente, vender para comprador nacional ou estrangeiro,<br />

criar uma fundação, estabelecer uma empresa industrial ou comercial<br />

para explorar economicamente seu invento, doá-lo para uma universidade,<br />

transferir direitos para herdeiros, ou qualquer alternativa que lhe<br />

ocorra. Mas não lhe é lícito ao menos num sentido moral-impedir que ele<br />

seja usado em benefício dos demais.<br />

Na situação imaginária que acima apresentamos estão os elementos<br />

fundamentais da grande questão ideológica envolvendo a propriedade<br />

privada dos bens, especialmente dos bens de produção. Há os que a<br />

recusam até em seus méritos; há os que a sustentam até em suas mazelas<br />

e expressões de egoísmo e dominação; e há o que aqui se ensina. O leitor<br />

atento terá percebido que ao apresentar a questão nessa perspectiva,<br />

surgiu uma divisão na relação que se estabelece entre a pessoa e o bem:<br />

tratou-se ali da posse (o direito de ter algo como próprio) e o uso (que<br />

deve cumprir função social). Esse ensinamento, absolutamente lógico,<br />

economicamente eficiente, moralmente perfeito, decorre do princípio da<br />

Destinação Universal dos Bens. Deus criou o mundo natural para todos<br />

os homens e não criou qualquer de seus filhos desprovido do direito de<br />

acesso aos bens que proporciona.<br />

O direito à propriedade privada serve à eficiência da vida econômica,<br />

à segurança pessoal e familiar, à liberdade e a civilização. Na<br />

ausência da propriedade as pessoas e as famílias vivem em grande<br />

insegurança e passam a depender de quem a tenha -seja do grande senhor<br />

feudal ou capitalista, quando a propriedade está mal distribuída seja do<br />

Estado e seus senhores, quando as propriedades são todas públicas e<br />

ficam sujeitas às decisões da esfera política. Os extintos regimes comunistas<br />

exacerbaram seu caráter totalitário precisamente ao conferirem o<br />

poder econômico nas mesmas mãos que assumiram o poder político.<br />

Criaram uma sociedade de servos indigentes que desabou por ser<br />

antropologicamente errada e economicamente incompetente.<br />

O direito à propriedade privada serve à eficiência da vida econômica,<br />

à segurança pessoal e familiar, à liberdade e a civilização. Na<br />

ausência da propriedade as pessoas e as famílias vivem em grande<br />

insegurança e passam a depender de quem a tenha -seja do grande senhor<br />

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feudal ou capitalista, quando a propriedade está mal distribuída seja do<br />

Estado e seus senhores, quando as propriedades são todas públicas e<br />

ficam sujeitas às decisões da esfera política. Os extintos regimes<br />

comunistas exacerbaram seu caráter totalitário precisamente ao<br />

conferirem o poder econômico nas mesmas mãos que assumiram o<br />

poder político. Criaram uma sociedade de servos indigentes que desabou<br />

por ser antropologicamente errada e economicamente incompetente.<br />

Assim, a propriedade privada: a) é um direito natural que, como<br />

salta aos olhos, vem depois de outros direitos naturais superiores, como<br />

por exemplo o direito à vida e a liberdade; b) é um direito de todos e não<br />

apenas dos que já a detêm e por isso deve estar dispersa e acessível a<br />

todos mediante o trabalho; c) implica deveres decorrentes da função<br />

social, que não é assessória nem secundária mas integra o próprio direito<br />

e lhe dá fundamento. Esses enunciados sobre o direito de propriedade<br />

surpreenderam o mundo quando foram formulados nas encíclicas<br />

sociais. Hoje, contudo, poucos países não incluem tais princípios no seu<br />

direito positivo sobre o instituto da propriedade.<br />

28


Ideologia e Programa<br />

A <strong>Fundação</strong> <strong>Tarso</strong> <strong>Dutra</strong> recupera sinteticamente, nesta<br />

seqüência do Caderno, o Manifesto do PPB, seu programa,<br />

bandeiras, compromissos éticos e de qualidade de gestão.<br />

O MANIFESTO DO PARTIDO<br />

O Partido Progressista Brasileiro, nascido do idealismo de seus<br />

fundadores e da determinação de contribuírem com o País na construção<br />

de uma sociedade livre, democrática e justa, pluralista, solidária e<br />

participativa, em que ressalte o absoluto respeito à dignidade da pessoa<br />

humana, dirige-se ao povo brasileiro, objeto de toda sua motivação, para<br />

firmar o compromisso de orientar sua ação política e parlamentar na<br />

sustentação desses princípios, detalhados e aprovados em Convenção<br />

Nacional Conjunta do Partido Progressista - PP e do Partido Progressista<br />

Reformador - PPR:<br />

1. sistema econômico livre, que favoreça a prática das regras de<br />

mercado, mas que tenha como objetivo maior o bem-estar dos<br />

brasileiros e a eliminação das desigualdades sociais;<br />

2. a ação econômica levará em conta valores sociais como a<br />

criação de riquezas para todos, através da geração de empregos, renda e<br />

poupança, e o funcionamento de efetiva economia social de mercado; e<br />

3. liberdade de culto religioso, garantia de inviolabilidade, da<br />

privacidade, o direito do trabalho digno, ao salário justo, à moradia, à<br />

educação, à alimentação, à segurança, como também ao exercício de<br />

uma imprensa livre e responsável e à preservação do meio ambiente.<br />

29


O PROGRAMA - DIRETRIZES BÁSICAS<br />

O PPB orientará a sua atuação pelos princípios que compreendem<br />

participação, solidariedade, justiça e pluralismo de idéias, e o respeito à<br />

dignidade da pessoa humana;<br />

Convicção de que a consolidação do regime democrático<br />

representativo pressupõe a existência de partidos fortes e bem<br />

estruturados;<br />

Fortalecimento do sistema partidário, pela fidelidade partidária,<br />

devendo os mandatos pertencer aos partidos políticos pelos quais os<br />

representantes foram eleitos;<br />

Criação e apoio ao funcionamento de entidade de estudos<br />

políticos, de fundamental importância para a atualização e formação de<br />

lideranças partidárias e quadros para a administração pública em todos<br />

os níveis;<br />

Defesa do Sistema Federativo e da forma de governo vigente,<br />

baseada na harmonia dos poderes e crescente autonomia das Unidades<br />

da Federação e Municípios, descentralização das decisões, na<br />

formulação de políticas e promoção do desenvolvimento;<br />

Erradicação da impunidade e combate à corrupção e à<br />

desonestidade pública, com o confisco dos bens mal havidos e punição<br />

severa, visando à moralidade na vida nacional;<br />

1. NO CAMPO ECONÔMICO<br />

O PPB propugna pelo desenvolvimento do País sustentado por<br />

uma economia social de mercado, considerando-se:<br />

- promoção de uma política de desenvolvimento auto-sustentável<br />

que se preocupe com a geração de empregos, a busca da igualdade<br />

econômica e a realização da justiça social, através da desconcentração<br />

da renda e da riqueza, tanto pessoal como regional;<br />

- defesa da livre iniciativa, com o fortalecimento da empresa<br />

privada;<br />

- tratamento privilegiado às micro-empresas e à pequena e à média<br />

empresas agropecuárias, industriais, comerciais ou prestadoras de<br />

serviços, nas políticas financeira, fiscal e de crédito;<br />

30


- defesa do meio ambiente para manter as condições naturais de<br />

vida e o equilíbrio ecológico, conservando a fauna e a flora;<br />

- implementação de políticas no setor agropecuário que priorizem:<br />

Ÿ desenvolvimento do setor, através de política de crédito e<br />

assistência, estimulando-se o cooperativismo como forma de proteger o<br />

segmento produtor de alimentos;<br />

Ÿ organização da produção, com tecnologias adequadas, para<br />

maior produtividade, propiciando abundância de alimentos e barateamento<br />

de seus custos e preços;<br />

Ÿ desenvolvimento rural integrado, objetivando a fixação do<br />

homem no meio rural de forma confortável;<br />

Ÿ desenvolvimento de uma política agrária que solucione os<br />

problemas de terras e propicie sua melhor destinação social, condenando-se<br />

o latifúndio improdutivo, assim, preconizando a reforma agrária<br />

feita mediante a distribuição de terras devolutas, do domínio do poder<br />

público e aquelas obtidas pela desapropriação, sendo que essa distribuição<br />

deve ser feita de forma que assegurem a subsistência e o progresso da<br />

família assentada, com assistência técnica, apoio creditício e infraestrutura<br />

social adequada;<br />

Ÿ criação do seguro agrícola privado que proteja a produção do<br />

agricultor.<br />

Ÿ democratização do consumo, apoiando os mecanismos de<br />

proteção ao consumidor.<br />

2. NO CAMPO SOCIAL<br />

A defesa do bem-estar social da pessoa humana é a principal razão<br />

de ser do PPB, assim sendo, para o segmento social, o partido quer,<br />

2.1. NO QUE TANGE AOS TRABALHADORES<br />

- garantia do poder aquisitivo dos salários, maior estabilidade no<br />

emprego, liberdade sindical e de associação, salário justo, seguro<br />

desemprego, participação nos lucros da empresas e, igualmente, de sua<br />

gestão, desde que livremente negociada entre patrões e empregados,<br />

primando que o trabalho não é mercadoria, mas expressão da dignidade<br />

humana;<br />

31


- defesa do direito de greve; combate à rotatividade injusta da mãode-obra;<br />

garantia de efetiva proteção ao trabalhador; combate aos<br />

desníveis salariais profundos;<br />

- previdência e assistência social em que prevaleçam os princípios<br />

da universalidade de cobertura e de atendimento e, uniformidade e<br />

equivalência de benefícios; defesa de uma profunda reforma no sistema<br />

previdenciário público e garantia de pagamento de provento justo para<br />

os pensionistas e aposentados em razão do tempo e do salário de contribuição;<br />

ampliação e aperfeiçoamento dos programas de assistência<br />

social, de amparo à maternidade, à infância, à velhice e aos desvalidos,<br />

assegurando atendimento, principalmente, através de abrigos, albergues,<br />

asilos e orfanatos;<br />

2.2. NO QUE DIZ RESPEITO ÀS CONDIÇÕES DE VIDA DO<br />

POVO<br />

Preservação dos direitos individuais, do respeito à dignidade<br />

humana e do justo tratamento de cada um diante da sociedade;<br />

- melhoria das condições de vida e combate à pobreza; direcionamento<br />

da política habitacional, prioritariamente, à população de baixa<br />

renda, destinando crédito a longo prazo, para a aquisição da casa própria,<br />

direito fundamental da pessoa e da família;<br />

- implementação de políticas, normas e atos em defesa da moral e<br />

dos bons costumes visando assegurar estabilidade à família.<br />

2.3. NA ÁREA DA SAÚDE<br />

Fortalecimento do Sistema Único de Saúde, com aumento da<br />

responsabilidade dos municípios e sua gestão, permitindo uma integração<br />

cada vez maior com a comunidade que se destina, objetivando:<br />

- garantia de assistência médica, odontológica e hospitalar à toda<br />

população;<br />

- implementação de um programa permanente de prevenção, com<br />

ênfase na vacinação, saneamento básico, educação sanitária e combate<br />

às endemias;<br />

32


2.4. NO QUE SE REFERE À CULTURA, EDUCAÇÃO E<br />

CIÊNCIA E TECNOLOGIA<br />

- respeito à pluralidade de culturas nacionais que o Estado tem o<br />

dever de preservar;<br />

- estímulo as culturas popular e regional, apoiando as manifestações<br />

folclóricas e as festas religiosas, dentre outras;<br />

-atribuição de responsabilidade aos meios de comunicação de<br />

massa como elementos de difusão cultural, a serviço do bem comum;<br />

- concepção do desporto como expressão cultural, por intermédio<br />

do qual o homem se manifesta e se desenvolve, determinando uma<br />

atenção prioritária ao esporte amador e comunitário, estimulando-se,<br />

através dos sistemas escolares a cultura física e os esportes;<br />

- consideração de que à família estão afetos o direito e o dever de<br />

educar a criança, já que é a sua primeira e mais importante comunidade<br />

educacional;<br />

- ratificação de que ao Estado cabe assegurar o ensino fundamental,<br />

obrigatório e gratuito, tornando universal o acesso de todos ao saber,<br />

por intermédio da escola pública ou a compra de vagas, assegurando-se o<br />

direito à matricula;<br />

- garantia, aos estudantes carentes, de ensino gratuito em todos os<br />

níveis, seja por estabelecimento de ensino público, seja através de bolsas<br />

de estudo, crédito educativo, compra de vagas e outras formas de apoio,<br />

inclusive custeio e financiamento;<br />

- admissão da educação como instrumento de liberdade e aperfeiçoamento<br />

do homem, razão pela qual a boa qualidade do ensino deve se à<br />

preocupação primordial dos sistemas educacionais;<br />

- apoio à pesquisa, tanto pura como aplicada, reservando-se esta,<br />

preferencialmente, às empresas e aquela às instituições de ensino<br />

superior, visando diminuir o grau de dependência externa, científica e<br />

tecnológica do País;<br />

- devido respeito ao magistério, proporcionando aos professores<br />

capacitação permanente e remuneração condigna, compatível com suas<br />

responsabilidades.<br />

33


1. POR A UMA VIDA DIGNA<br />

Valorização o respeito à dignidade da pessoa humana, com ênfase<br />

aos menos favorecidos. É importante que os Governos Municipais do<br />

PPB estejam voltados para o resgate da dívida social e que isso fique<br />

muito claro nas comunicações do partido com a comunidade. Tal zelo é<br />

imperativo de Justiça - valor que, numa sociedade, se mede pela situação<br />

dos menos favorecidos.<br />

2. PELA EDUCAÇÃO E SAÚDE<br />

Educação o Saúde deverão ser as grandes prioridades dos governos<br />

do PPB. Essa prioridade deve se refletir nos investimentos públicos,<br />

na presença de nossas lideranças em todos os episódios em que o tema<br />

esteja administrativa e politicamente envolvido, bem como na valorização<br />

dos profissionais que atuam em ambas as áreas.<br />

3. PELA SEGURANÇA<br />

As bandeiras do PPB<br />

Segurança é o objetivo original da formação do Estado. Desde a<br />

antiguidade, as sociedades políticas se constituíram, originalmente, em<br />

vista da segurança dos seus membros. Os governos municipais do PPB,<br />

onde o tema for relevante, devem buscar parcerias com o governo<br />

estadual, visando a impedir a crescente falta de respeito à vida e à<br />

propriedade. A segurança pública precisa ser cuidada de forma abrangente,<br />

que inclui causas e conseqüências, e de maneira profissional<br />

34


4. POR UMA AGRICULTURA FORTE<br />

Agricultura é a vocação original do Rio Grande do Sul e da maior<br />

parte de suas comunidades. Os governos municipais do PPB podem e<br />

devem buscar o desenvolvimento econômico (que se liga ao desenvolvimento<br />

social) mediante a defesa e o tratamento justo do setor agropecuário.<br />

O PPB, seus governos e lideranças devem estar presente e atuantes<br />

junto aos que querem trabalhar na terra e na produção de alimentos.<br />

5. TRABALHO E RENDA<br />

Geração de postos de trabalho, no campo e nas cidades, passa a ser<br />

objeto prioritário das políticas públicas que devem incluir: a busca de<br />

investimentos para os municípios mediante políticas tributárias e de<br />

incentivos; identificação de pontos interesse turístico e desenvolvimento<br />

do turismo; e qualificação dos recursos humanos para as áreas de<br />

atividade identificadas como próprias à vocação econômica local ou<br />

regional<br />

6. CASA PRÓPRIA<br />

Habitação é elemento indispensável à estabilidade social, à<br />

personalização e à segurança familiar. Temos, hoje, um grande déficit<br />

habitacional nos municípios. É importante criar um programa de apoio<br />

aos que necessitam de moradia urbana e rural. Para isso contribuirão<br />

soluções comunitárias (cooperativas e mutirões) estimuladas e assistidas<br />

pelas prefeituras, a instalação de olarias municipais e a adoção de<br />

planos públicos para venda de lotes urbanizados.<br />

7. FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS<br />

Atenção ao servidor o qualidade de serviços públicos constituem<br />

um binômio inseparável. Toda administração bem-sucedida deve zelar<br />

por aqueles que representam a municipalidade nas relações com a<br />

comunidade. É importante estabelecer, por isso, uma parceria harmônica<br />

e responsável entre governo e servidores. Da qualidade dos serviços<br />

prestados dependem a imagem do partido, o desenvolvimento econômico<br />

e social das comunidades e, principalmente, as pessoas mais carentes<br />

e que mais recorrem ao poder público e a seus serviços.<br />

35


8. A FAMÍLIA<br />

A Família é a base da sociedade. Não se pode conceber uma<br />

sociedade justa e solidária sem a garantia da manutenção, da estabilidade<br />

e do desenvolvimento integral das famílias que a compõem. As ações<br />

dos governos municipais do PPB devem, sempre, enfatizar a atenção às<br />

famílias e, em especial, às mulheres e aos jovens, que costumam ser os<br />

mais negligenciados pelas administrações municipais quando estas<br />

elaboram seus planos e gerem seus recursos.<br />

9. O ESPORTE<br />

O Esporte tem sido muito pouco usado no Brasil como forma de<br />

integração social, desenvolvimento harmônico das crianças e dos<br />

jovens, e parte importante das políticas de saúde pública. O PPB tem<br />

como bandeira de suas administrações o desenvolvimento de políticas<br />

de apoio ao esporte, desde as escolas (onde se deve buscar a integração<br />

das famílias, através dos CPMs, às práticas esportivas curriculares e<br />

extracurriculares) até o conjunto da comunidade.<br />

NOSSOS COMPROMISSOS ÉTICOS E DE QUALIDADE DE GESTÃO<br />

Todos os candidatos do PPB ao pleito de 2000 subscreveram um<br />

termo de compromisso ético e de qualidade de gestão. Esse termo de<br />

compromisso se soma, é claro, às exigências constitucionais, à Lei<br />

Orgânica de cada município, ao Estatuto, Código de Ética e Programa<br />

Partidário do PPB, bem como às diretrizes fixadas por suas Convenções<br />

e Diretórios.<br />

Aquele compromisso ético, assim se expressa:<br />

I - Disciplina o fidelidade partidária, como reconhecimento de<br />

que o registro de cada candidatura é uma deferência do PPB o que os<br />

mandatos conquistados pertencem ao partido.<br />

De fato, um bom partido político - e o PPB quer ser um partido<br />

cada vez melhor -precisa de disciplina e fidelidade internas. Essa<br />

disciplina não significa submissão da consciência individual a algum<br />

36


foro coletivo, o que não seria aceitável. Ela significa compromissos<br />

recíprocos e iguais: o partido se compromete com o filiado eleito, o<br />

filiado eleito se compromete com o partido e ambos se comprometem<br />

com o programa partidário.<br />

O programa partidário, subscrito por todos os filiados, é o elo de<br />

ligação dessa corrente ética pois o partido jamais obrigará ou demandará<br />

qualquer filiado, moralmente, fora dos conteúdos programáticos de<br />

todos conhecidos e por todos subscritos no próprio ato de filiação.<br />

II - Zelo pela existência, pelo prestígio o pela unidade do Partido,<br />

contribuindo para difusão de sua doutrina o de seu programa.<br />

Trata-se de deveres comuns a todos os filiados, segundo os<br />

Estatutos do PPB. De maneira muito especial, portanto, devem ser<br />

obrigações dos filiados que exercendo mandatos eletivos em nome do<br />

partido respondem solidariamente por sua imagem perante a comunidade.<br />

O PPB quer ser e continuar sendo motivo de orgulho de seus membros<br />

e isso implica esforços comuns, renúncias pessoais e disposição de<br />

tratar as questões partidárias com o mesmo interesse e zelo que devotamos<br />

às questões particulares.<br />

O crescimento do PPB passa, necessariamente, pela ação daqueles<br />

que o representam através dos mandatos que detêm. A coerência entre a<br />

ação política dos progressistas e o programa do PPB é a melhor forma de<br />

expandir o partido de modo sustentado e firme.<br />

III - Cumprimento das decisões, diretrizes o recomendações dos<br />

órgãos partidários, acatando-as o apoiando-as.<br />

Um partido político não se afirma sobre decisões e diretrizes<br />

individuais de seus membros. E nos colegiados partidários que se<br />

constrói a legenda como um bem comum de todos. Na medida em que<br />

todos devemos participar dos órgãos partidários, em vasta complementaridade<br />

de formas, níveis, funções e responsabilidades, e na medida em<br />

que as decisões partidárias estejam alinhadas com o programa do<br />

partido, elas se impõem a todos os filiados.<br />

37


É fácil compreender que o contrário disso consumiria o partido em<br />

divergências internas.<br />

IV - Conduzir-me com lealdade o fraternidade na relação com os<br />

companheiros.<br />

Lealdade e fraternidade são conseqüências indispensáveis das<br />

relações solidárias que se estabelecem entre os que participam de uma<br />

mesma comunidade. E o partido é uma comunidade.<br />

Fazem parte dessa lealdade e dessa fraternidade o apoio e a assistência<br />

na dificuldade, a orientação sadia na ocasião do erro e o encaminhamento<br />

aos foros partidários de questões em que se requeira a ação do<br />

partido junto a companheiros.<br />

V - Pagar a contribuição financeira estabelecida pelo Diretório.<br />

Trata-se de um dever muitas vezes descuidado e causa permanente<br />

de inúmeros desconfortos. O dever de contribuir para as despesas do<br />

partido se impõe como obrigação moral que se reforça na medida em que<br />

todos o fazem e que se dilui quando poucos o fazem.<br />

É claro que nesta última hipótese a ação partidária -quando não a<br />

própria imagem do partido -fica comprometida pela falta de recursos ou<br />

por dívidas que desgastam a presença e a credibilidade do partido. Por<br />

outto lado, a contribuição de todos, dá ao PPB os meios materiais<br />

necessários para se expandir. O PPB recomenda insistentemente às suas<br />

bases que o direito de voto nos atos partidários seja exercido apenas por<br />

aqueles filiados que estejam quites com a tesouraria.<br />

VI - Exercer com dignidade cargos de direção partidária,<br />

mandato parlamentar ou executivo o demais funções públicas (obedecendo<br />

ao programa, diretrizes o deliberações legitimamente tomadas<br />

pelos órgãos partidários).<br />

VII - Observar com fidelidade os princípios da probidade, da<br />

moralidade administrativa o da qualidade de gestão.<br />

Trata-se de dois conjuntos de exigências que se acrescem e que se<br />

impõem pelas mesmas razões morais.<br />

O exercício de qualquer atribuição em nome do partido é um ato<br />

38


pessoal de conseqüências coletivas. O membro do partido no desempenho<br />

de quaisquer atribuições públicas arrasta consigo a imagem do<br />

partido e o conjunto de seus companheiros. Assim como todos se beneficiam<br />

da imagem que se constrói com uma boa administração, assim<br />

como se reflete sobre todos o bom desempenho parlamentar de um<br />

vereador ou de um deputado, assim como o conjunto partidário atrai para<br />

si o conceito de dignidade, probidade, moralidade e qualidade que<br />

decorra das ações de seus membros, o reverso pesa de modo nocivo<br />

sobre todos.<br />

Por isso, o zelo nos temas de que aqui se trata não tem escala de<br />

grandeza. Tanto faz estar-se lidando com o orçamento do município<br />

quanto com o uso de material de expediente no gabinete do vereador.<br />

Note-se, por outro lado, que o compromisso moral com a qualidade<br />

não é menor do que o compromisso moral com a probidade e com a<br />

dignidade. A sociedade tem uma justa expectativa em relação à qualidade<br />

da ação daqueles a quem elege; descuidar dessa expectativa, satisfazer-se<br />

com a rotina, renunciar à criatividade, e adotar outros comportamentos<br />

insuficientes significa frustrar, na própria origem, aquilo que a<br />

sociedade espera daqueles a quem elegeu, seja para as tarefas de governo,<br />

seja para as de oposição.<br />

O PPB não faz oposição no sentido de travar as ações de quem<br />

governa. Para o PPB, o exercício da oposição importa: a) fiscalizar<br />

legitimamente a aplicação dos recursos públicos; b) acompanhar a<br />

execução dos compromissos assumidos com a comunidade (piano de<br />

governo) por que se elegeram; c} buscar influir no sentido de que -na<br />

medida do possível - o governo recolha do PPB sugestões para ações que<br />

estejam em conformidade com nosso programa partidário. Na oposição,<br />

a qualidade significa uma competente combinação de fiscalização,<br />

denúncia e anúncio.<br />

Moralidade, dignidade, probidade, qualidade e observância do<br />

programa partidário são o cerne do compromisso ético dos membros do<br />

PPB. A própria existência do partido se dá com vistas a possibilitar a<br />

realização desses compromissos no seio da comunidade.<br />

39


VIII - Garantir uma forte participação comunitária na definição<br />

de prioridades o total transparência a aplicação de recursos públicos.<br />

A democracia deve evoluir para formas crescentes de participação<br />

da comunidade. Por sua relevância, o tema é objeto de capítulo<br />

específico neste documento.<br />

IX - Priorizar políticas em favor da valorização o do respeito à<br />

dignidade da pessoa humana, com ênfase para a agricultura, educação,<br />

saúde o segurança.<br />

Construir à dignidade da pessoa humana é a essência do bem<br />

comum. O PPB, ao longo da campanha eleitoral deve ter sustentado<br />

perante a sociedade que essa construção implicava priorizar a agricultura,<br />

a educação, a saúde e a segurança. Trata-se, agora, de cobrar de nós<br />

mesmos a seqüência -no governo ou na oposição -das ações com as quais<br />

nos comprometemos.<br />

O PPB se propõe como foro para enriquecer esse debate, recolhendo<br />

sugestões, desenvolvendo estudos, promovendo reuniões e difundindo<br />

boas idéias.<br />

X - Lutar pela erradicação da impunidade através do combate<br />

sistemático à corrupção o à desonestidade pública, com o confisco dos<br />

bens mal-havidos, a punição severa dos beneficiários do enriquecimento<br />

ilícito e da malversação dos recursos públicos, visando à<br />

restauração da moralidade e da ética na administração pública e na<br />

vida nacional.<br />

A sociedade brasileira, em todas as pesquisas de opinião pública,<br />

tem manifestado que as expectativas éticas se situam em primeiro plano<br />

entre seus critérios de voto. O PPB conclama todos os companheiros<br />

detentores de mandato partidário ou cargo público a uma ação nesse<br />

sentido.<br />

Na oposição ou no governo, os progressistas devem estar vigilantes<br />

no sentido de que se cumpra esta tão elevada aspiração da sociedade.<br />

Não se deve descuidar, ao mesmo tempo, de que exista e atue, em cada<br />

diretório municipal, uma Conselho de Ética Partidária.<br />

40


O PPB que temos e O PPB que queremos<br />

Celso Bernardi<br />

Presidente do PPB/RS<br />

As eleições deste ano transformaram o país. É preciso agora que seus<br />

resultados e efeitos transformem o nosso PPB.<br />

Já fomos, um dia, o maior partido do Ocidente. Esquecidos de como<br />

chegamos a ser um gigante, entramos em um roteiro de equívocos que nos<br />

levou a ser, hoje, um partido médio, com risco de ficar pequeno. Nos<br />

últimos dez anos fizemos fusões improvisadas, mudamos de siglas, abdicamos<br />

de candidaturas e navegamos ao sabor dos ventos e das ondas eleitorais,<br />

sem, no entanto, saber com clareza a que porto queremos chegar.<br />

Ao analisarmos as eleições de 2000, para as Câmaras Municipais, e<br />

de 2002, para a Câmara Federal, o que permite avaliar com exatidão o<br />

tamanho do partido, verificamos que o nosso PPB vem decrescendo. Senão,<br />

vejamos: nas eleições municipais de 2000, para Vereador, em relação aos<br />

votos conquistados em1996, tivemos uma queda de 8,5%.<br />

Em 1998, na legenda para Deputado Federal, o PPB fez, no Brasil,<br />

7.553.169 votos (11,3% do total de votos válidos); já em 2002, fez<br />

6.839.440 votos (7,8%). Ou seja, perdeu 9,45% dos votos entre uma eleição<br />

e outra.<br />

É de salientar que destes 6.839.440 votos conquistados no Brasil, o<br />

Rio Grande do Sul participa com 1.061.006 votos, isto é, 15,51 % da<br />

legenda. Enquanto no Brasil a legenda federal baixou 9,45%, no Rio<br />

Grande do Sul aumentou 38,15%.<br />

Apenas nos Estados do Rio Grande do Sul (12,85%) e em Santa<br />

Catarina (I 1,32%), alcançamos percentual superior a 10% dos votos para<br />

Deputado Federal. Em estados importantes, como São Paulo, Ceará, Bahia,<br />

Maranhão e Pará, nossa legenda para Deputado Federal não alcançou 3%<br />

dos votos. Em muitos estados sequer disputamos eleições para a Câmara<br />

Federal. Em apenas seis estados, das 27 unidades federadas, concorremos<br />

com candidatura própria a Governador e Senador.<br />

41


Infelizmente, entre os partidos médios, fomos o único a não eleger<br />

nenhum Governador e nenhum Senador.<br />

Por certo, em cada estado, teremos razões locais e motivos de ordem<br />

externa a influenciar estes resultados. Mas há pelo menos duas razões<br />

comuns a contar pontos negativos: a falta de identidade e a falta de comando)<br />

nacional. Nos tornamos um partido silencioso sobre a nossa ideologia,<br />

discreto sobre o nosso programa, sem uma agenda positiva, sem alternativas<br />

para as reformas que o país precisa, enfim, um partido que não se<br />

modernizou, mesmo dispondo de líderes fortes e de um quadro intelectual<br />

de qualidade.<br />

Nestas eleições de 2002, por exemplo, um dos equívocos residiu na<br />

posição partidária (ou na falta dela) diante do quadro da sucessão presidencial.<br />

Não bastasse desestimular qualquer possibilidade de candidatura<br />

própria, que seria muito importante para a identidade do partido e visibilidade<br />

de seu programa, o PPB Nacional optou em liberar os diretórios estaduais<br />

e filiados, sequer prestando atenção para o fato de que participa com dois<br />

ministérios do governo Fernando Henrique Cardoso. Ficamos, sem unidade<br />

e identidade, meio tontos, ziguezagueando em um cenário repleto de<br />

contradições, com líderes apoiando socialistas, e outros, enrustidos,<br />

pedindo voto para nossos adversários ideológicos, a despeito da clara<br />

postura doutrinária que sempre tivemos.<br />

O resultado, como não poderia deixar de ser, foi a perda ainda maior<br />

da identidade partidária, a diminuição de tempo de rádio e televisão na<br />

próxima eleição e a ausência do PPB no debate político nacional.<br />

Não nos reunimos, a não ser em momentos obrigatórios e, na maioria<br />

das vezes, com uma decisão pré-tomada. Poderia citar inúmeras vezes em<br />

que os desafios e os rumos do PPB foram decididos não como fruto de um<br />

amplo debate, não pela maioria, mas sim pela vontade e conveniência de<br />

poucos.<br />

Já ouvi muitos dizerem que o PPB se comunica mal. Apontar problemas<br />

de comunicação onde há problemas políticos é o caminho dos que tem<br />

dificuldade de encarar e corrigir seus próprios erros. Se falta melhor<br />

comunicação, falta, antes de qualquer coisa e acima de tudo, o que comunicar:<br />

qual a nossa identidade programática? Temos uma visível e consistente<br />

42


linha de ação nacional? Quais são nossas principais bandeiras, reconhecidas<br />

pela sociedade brasileira?<br />

Pergunto-me: como poderíamos ter identidade, linha de ação e<br />

bandeira nacionais se nem ao menos nos reunimos para propor uma agenda<br />

positiva ao país? Andamos nós, líderes progressistas, como pastores sem<br />

evangelho. Qual nossa posição sobre as reformas constitucionais? O que<br />

pensamos sobre reforma político-eleitoral (sistema de governo - voto<br />

distrital - fidelidade partidária - financiamento de campanha); sobre<br />

reforma tributária, previdenciária, reforma agrária, direito de propriedade,<br />

etc? E sobre a ALCA? E quanto aos subsídios agrícolas e outros temas<br />

importantes? Quais os estudos que apresentamos, qual a linha de<br />

argumentação progressista, quem a elabora?<br />

Chegou a hora de buscarmos maior densidade ideológica. Somos de<br />

direita, centro, de centro-direita? E exatamente o que é isso? Atrás do rótulo,<br />

o que tem? Qual nossa diferença com outros partidos? Precisamos<br />

remodelar nossa cultura partidária, modernizar a doutrina, redefinir nossas<br />

aspirações.<br />

Precisamos de mais substrato ideológico, a exemplo da direita<br />

européia. A <strong>Fundação</strong> Milton Campos deve receber do partido, em todos os<br />

estados, as condições para capitanear esse processo, a exemplo do que<br />

consegue no Rio Grande do Sul através da integração estabelecida com a<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Tarso</strong> <strong>Dutra</strong>.<br />

Temos muitas perguntas e poucas respostas. Paradoxalmente,<br />

estamos, pela primeira vez, conectados ao Brasil, que também tem muitas<br />

dúvidas sobre seu novo rumo. Por isso a hora é tão importante. Estamos<br />

numa crise, mas é ela que nos apresenta os caminhos para a retomada do<br />

crescimento partidário.<br />

O Brasil vai entrar em uma nova fase, a fase da "batalha das idéias".<br />

De um lado, o PT defendendo sua visão de governo e de país; do outro, a<br />

oposição, contrapondo argumentos e soluções diferentes. Sabemos de que<br />

lado estamos, mas ainda não sabemos de que armas dispomos para a luta.<br />

E ela se avizinha mortal: ou nos preparamos, ou vamos perder ainda<br />

mais espaços vitais, vitimados por nossos próprios erros, no próximo<br />

combate eleitoral.<br />

43


Considerações sobre um plano<br />

de ação partidária<br />

Conforme foi bem sublinhado na primeira parte deste Caderno, o<br />

Brasil precisa de partidos políticos fortes, identificados e reconhecidos<br />

pelos seus princípios e valores, com identidade doutrinária e programática.<br />

Estruturas frágeis, fisiológicas e sem consistência doutrinária -meras<br />

máquinas eleitorais nacionais e estaduais -perdem sucessivamente seus<br />

espaços.<br />

Queremos um bom partido político que pode ser concebido pela<br />

cúpula mas precisa ser definido e construído pela base, de modo a bem<br />

significar e representar a parte que lhe corresponde no pensamento<br />

político da sociedade brasileira. Por isso, é fundamental a criação de<br />

núcleos e movimentos que articulem, motivem e organizem os vários<br />

segmentos da pirâmide social e que essa articulação produza reflexão e<br />

ação política no topo da estrututa partidária.<br />

Um partido sem raízes, sem identidade e sob um comando<br />

apenas formal não edifica o suporte necessário para crescer e chegar<br />

ao poder. Hoje, a identidade do PPB está relacionada ao setor<br />

ruralista e isso, num cenário demográfico de urbanização acelerada,<br />

o restringe. O partido tem conteúdo para ser bem mais e lideranças<br />

para transformá-lo naquilo que deve ser.<br />

Ao cumprir seu verdadeiro papel, ao assumir com coerência suas<br />

posições, um partido político enfrenta adversários. Para ter posições, o<br />

partido precisa unir-se e reunir-se; para crescer e enfrentar seus adversários,<br />

ele precisa planejar suas estratégias, prever acontecimentos, .<br />

organizar-se. Organização é uma das três fontes do poder político e por<br />

isso os partidos costumam ser chamados de "organizações partidárias".<br />

44


A finalidade de toda estratégia é proporcionar melhores condições<br />

para a vitória. E para que esta aconteça é fundamental que tenhamos um<br />

PPB estruturado, organizado e preparado para enfrentar seus adversários.<br />

O processo político-eleitoral sempre se faz "contra" algo ou alguém.<br />

Tradicionalmente, o nosso partido (ARENA, PDS, PPR e hoje<br />

PPB) vencia eleições fáceis. Adversários fracos e despreparados, debate<br />

ideológico entre o progresso capitalista e o atraso socialista ou comunista.<br />

O eleitorado era dominantemente rural e detinhamos o poder político<br />

e econômico. Hoje a realidade é se inverteu. A força do PPB está concentrada,<br />

principalmente, nos menores municípios e, em muitos casos, a<br />

vitória do partido é consequência do poder pessoal de alguns líderes e<br />

não do partido como um todo. Nas regiões metropolitanas o PPB apresenta<br />

estrutura reduzida e enormes dificuldades de montar um projeto<br />

com uma ação partidária eficiente.<br />

Há que destacar, aqui, o papel que cabe à <strong>Fundação</strong> Milton<br />

Campos, tanto na formação dos quadros partidários quanto na elaboração<br />

de estudos que contribuam para a definição das posições partidárias,<br />

avaliação de estratégias e desempenhos eleitorais.<br />

A estrutura partidária deve ter vida permanente, revigorando-se<br />

nos períodos não eleitorais porque esses interregnos são definitivos para<br />

a montagem, estruturação e aperfeiçoamento da organização. Para<br />

consolidar e ampliar nossa estrutura de base são fundamentais os seguintes<br />

procedimentos:<br />

a) Identificar a realidade do partido. Número de filiados.<br />

Recadastramento e classificação do comportamento desses em<br />

relação ao PPB - militantes ou ativistas, simpatizantes, indiferentes,<br />

independentes e revoltados.<br />

b) Fortalecer e formar militância. Após a identificação das razões<br />

das atitudes dos próprios filiados em relação ao PPB deve ser<br />

desenvolvido um programa de cooptação interna. O partido<br />

unido será mais forte e largará motivado, entusiasmado e com<br />

expectativa, esperança de vitória.<br />

45


c) Planejar a ação partidária. Após a correção das distorções<br />

(problemas internos, interesses pessoais ou grupais), o<br />

Diretório Nacional, Estaduais e Municipais devem organizar<br />

um Plano de Trabalho permanente;<br />

d) Reativar o Projeto TOME PARTIDO, buscando a filiação de<br />

novas lideranças para ampliação do quadro;<br />

e) Elaborar um calendário de reuniões da Executiva, Diretório e<br />

filiados para avaliar e planejar a ação partidária;<br />

f) Realizar congressos, reuniões e assembléias em todos os níveis<br />

da federação na cidade e no campo para identificar a realidade,<br />

os problemas e -juntos debater propostas a serem incluídas nos<br />

planos de governo;<br />

g) Motivar os companheiros pré-candidatos aos vários cargos<br />

(Presidente, Governador, Senador, Deputado, Prefeito, Vice e<br />

Vereadores para estabelecerem um programa de trabalho<br />

(realização de visitas e reuniões com companheiros, amigos,<br />

vizinhos, parentes, em associações de classes, clubes, comunidades,<br />

igrejas, etc ... ) com vista ao fortalecimento de suas<br />

candidaturas;<br />

h) Reorganizar o PPB, em todos os níveis, pois a organização é<br />

uma das três fontes do poder político;<br />

i) Identificar da realidade do partido no país, nos estados e nos<br />

municípios, dando origem à imediata reestruturação, motivação<br />

e fortalecimento quantitativo e qualitativo do PPB, no<br />

período não-eleitoral e pós-eleitoral, em todos os níveis;<br />

j) Preparar lideranças e futuros candidatos (preparação das nominatas)<br />

através de cursos, reuniões, palestras, materiais de apoio,<br />

etc;<br />

k) Estabelecer um plano nacional de campanha, visando os<br />

objetivos imediatos para os três níveis da organização políticoadministrativa<br />

do país;<br />

1) Construir núcleos de base de filiados (urbano, rural,<br />

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empresários, profissionais liberais, comunicadores,<br />

trabalhadores, mulheres, jovens, etc.);<br />

m) Reavaliar e definir as posições do partido em relação a temas<br />

importantes da vida político-administrativa do país;<br />

n) Organizar as finanças partidárias, pois recursos financeiros são<br />

uma segunda vertente de poder político;<br />

o) Cooptar e formar novas lideranças carismáticas em todos os<br />

níveis da ação política, pois o carisma é a terceira e última fonte do poder<br />

político.<br />

Não devemos esquecer que a peça central, indispensável à<br />

mobilização, é o envolvimento dos filiados nas decisões e<br />

procedimentos do PPB. Existem vários graus para este envolvimento:<br />

escolha dos candidatos majoritários e proporcionais; coligações;<br />

programa de governo; prévias; provimento de cargos; linha de atuação<br />

no caso de oposição; debates temáticos, estruturação dos diretórios,<br />

comissões, conselhos e núcleos de ação política.<br />

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7<br />

CADERNOS DE AÇÃO POLÍTICA<br />

Praça Marechal Deodoro, 134<br />

CEP 90.010-300 - Centro - Porto Alegre - RS<br />

Pedidos:<br />

Fone/Fax: (51) 3533-4756<br />

e-mail: ftd@pp-rs.org.br

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