Revista nº 39 - MULTIRIO

m ela se brinca, mais nova fica?
Convite, a sugestão fica clara: “Poesia, é brincar com palavras, como se brinca
com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião, de tanto brincar, se
gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas, mais novas ficam...”.
Mas existe diferença entre a palavra dirigida à criança e ao adulto? O que
interessa a um também é capaz de despertar o interesse do outro?
Muitas vezes, sim. A tradição oral presente nas manifestações
populares brasileiras é capaz de perpetuar histórias, “causos” e
lendas por várias gerações e trabalhar o imaginário de todas
as faixas de idade.
É freqüente pensarmos a literatura com textos
segmentados para crianças, adolescentes e adultos.
Essa diferenciação nasceu com o surgimento
do sentimento de infância na sociedade ocidental.
Na Idade Média, todos compartilhavam os mesmos
espaços. Não se manifestava uma preocupação
com as crianças nem se evitava tratar de determinados
assuntos ou usar determinadas palavras
na frente delas. Resumindo, não havia segredo
para os pequeninos nem existia o conceito de
conversa de criança ou conversa de adulto.
A diferenciação por faixa etária é abordada pela
professora Flávia Brocchetto Ramos, da Universidade
de Caxias do Sul, no artigo A brincadeira
na poesia infantil 1 . Segundo ela,
a literatura passou a ter caráter educativo
para formar os pequeninos e, por isso, consolidaram-se
as fábulas, cuja função era
essencialmente revelar uma lição de moral.
Além delas, havia os textos que orientavam
o leitor mirim sobre modos de se
comportar e de se relacionar com os mais
velhos. Mais tarde surgiram escritos que
tinham como proposta ensinar hábitos de
alimentação e de higiene. Tudo o que era
direcionado à criança tinha como finalidade a
sua formação de caráter e de personalidade.
1 RAMOS, Flávia Brochedo. Disponível no site
http://www.ucm.es/info/especulo/numero29/
brincade.html
TEXTO
CAROLINA BESSA
FOTOS
ALBERTO JACOB FILHO
capa
nº 39/2006 27