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Prosa romântica: Bernardo Guimarães e Visconde ... - marcelo::frizon

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A RETIRADA DE LAGUNA :: Incursões paraguaias no sul de Mato Grosso, no início<br />

da Guerra do Paraguai (1865-1870) levaram o comando militar do Império a enviar uma<br />

coluna para manter incólume a fronteira brasileira e, dependendo das circunstâncias,<br />

invadir o território inimigo. Ao acompanhar a expedição, como tenente de engenharia,<br />

Taunay não podia imaginar o horror que os aguardava.<br />

Por erro fatal do comandante - acusado de covardia em outro episódio - que<br />

contrariando toda a lógica, decidiu-se pela invasão do Paraguai. Sem cavalaria, sem<br />

retaguarda, com poucas munições e víveres, a tropa de cerca de mil e setecentos homens<br />

penetrou num sertão inóspito, numa vastíssima região de pantanais, febres e campinas que<br />

os paraguaios incendiavam, colocando a soldadesca brasileira dentro de um inferno. Ao<br />

fogo somou-se a fome. E a estes, a terrível doença da cólera, causada pela região insalubre.<br />

A campanha - que durou apenas um mês transformou-se m grande desastre. Em condições<br />

lamentáveis, sobreviveram tão somente setecentos homens.<br />

A visível inépcia do comandante, intensificado pelo desconhecimento das condições<br />

adversas do meio, o heroísmo de oficiais e soldados no dia a dia da expedição e,<br />

principalmente, a carnificina da guerra e da peste aparecem numa prosa simultaneamente<br />

objetiva e dramática. A retirada da Laguna não tem o vigor trágico de Os sertões, de<br />

Euclides da Cunha, mesmo assim possui força descritiva, interesse documental e,<br />

muitas vezes, emociona os leitores. Tome-se, como exemplo, este fragmento sobre as<br />

primeiras manifestações da cólera:<br />

Caiu à noite uma chuva abundante que agravou todos os nossos sofrimentos. Os<br />

coléricos, amontoados junto da pequena barraca dos médicos, ao ar livre e sem abrigo,<br />

recebiam no corpo enregelado os aguaceiros, que se sucediam a intervalos. Penalizavanos<br />

ver aqueles desgraçados, extremamente agitados, rasgando os farrapos com que<br />

procurávamos cobri-los, rolando uns sobre os outros, contorcendo-se de cãibras,<br />

vociferando, lançando urras que se confundiam num único grito articulado: "Água!"

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