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A escritora<br />
Conheci Yara em um chat temático onde certo número de pessoas tinha alguma<br />
preocupação literária. Dias depois de termos nos encontrado, e de ela ter lido uns<br />
textos meus, acabou me mostrando seus escritos, que me agradaram bastante.<br />
Recomendei que ela trabalhasse mais em alguns daqueles, e os publicasse em<br />
seguida, no mesmo site onde eu costumava postar meus textos. Ela realmente tinha<br />
talento, suas estórias eram muito boas, e ela se viu encantada com sua nova situação;<br />
sentia-se uma escritora, e era vista como tal, mais pelos indivíduos do ramo que por<br />
seus familiares e pessoas mais chegadas, que ainda mantinham sobre ela sua antiga<br />
visão.<br />
Suas narrativas eram sempre muito românticas, tocantes.<br />
Foi talvez por tê-la transformado em escritora que desde logo nos vimos<br />
envolvidos em uma forte intimidade. Por alguma razão além de meu alcance, não<br />
costumo ser hábil em cativar pessoas e construir amizades, o que me faz suspeitar que<br />
sua nova condição, de autora, a tenha trazido para perto de mim, de qualquer modo,<br />
em pouco tempo estávamos muito ligados, numa relação que incluía confissões<br />
raramente reveladas durante toda a vida, tanto por um, quanto por outro.<br />
Yara era casada havia muitos anos, e se proclamava fiel. Entre outras<br />
confidências, disse-me ter casado virgem, não tendo conhecido nenhum outro<br />
homem, exceto o marido. Colocações como esta me induziam a manter certa<br />
distância, a evitar certas intimidades que em outras circunstâncias eu já teria sondado.<br />
Mas foi, provavelmente, uma de suas confissões mais secretas que aguçou meu<br />
interesse por ela.<br />
Tendo sido criada em isolamento, Yara não teve o mesmo aprendizado que as<br />
moças comuns, e nunca aprendera a se masturbar. Revelou-me ter descoberto a<br />
sexualidade através das estórias românticas lidas principalmente nos clássicos<br />
brasileiros. Dessa maneira, durante a adolescência, tinha sido pega de surpresa pela<br />
estranhíssima e intensa sensação de orgasmo ocorrida durante a leitura de um<br />
romance de Jorge Amado!<br />
O mundo é surpreendente e muitas vezes admirável. Enquanto os mortais<br />
comuns se tocam e se excitam com as sensações tácteis provocadas em si mesmos,<br />
Yara buscava na leitura dos romances a saciedade dos intensos desejos que a<br />
assomavam, os mesmos que agitam todas as jovens saudáveis. Tal revelação me fez<br />
tentar imaginar a gigantesca paixão que os livros inexoravelmente lhe despertavam,<br />
me levando a concluir ser impossível imaginar o fascínio imenso que a ligava a eles.<br />
Pareceu-me impossível avaliar a magnitude da fascinação que tamanha fonte de<br />
prazeres deveria causar. Ao refletir sobre isso, nesse momento, sou invadido por uma<br />
série de sensações antagônicas enquanto tento avaliar os sentimentos que ela deve ter<br />
ainda hoje pelos escritores.<br />
Havia já certo tempo que eu me surpreendia interessado por moças muito<br />
novas, o que pode parecer natural para a maioria, mas não tendo sido a tônica de<br />
minha vida, vinha sendo motivo de reflexão. Durante quase toda a existência, preferi<br />
moças mais maduras, ou, ao menos, as não tão novinhas quanto as que me têm<br />
chamado a atenção já desde uns poucos anos. Andava a imaginar o que teria me