16.04.2013 Views

Charles Baudelaire – As Flores do Mal

Charles Baudelaire – As Flores do Mal

Charles Baudelaire – As Flores do Mal

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Repuxos no jardim choran<strong>do</strong> entre alabastros,<br />

Beijos como canções desde a manhã à tarde,<br />

Tu<strong>do</strong> o que de infantil o Idílio ainda guarde.<br />

O Alvoroço lá fora em tempestade cresça<br />

Mas eu nunca erguerei da carteira a cabeça;<br />

Mergulha<strong>do</strong> serei nesta sensualidade<br />

Do mês de abril chamar só com minha vontade,<br />

De um sol to<strong>do</strong> extrair de minha alma, que espera<br />

Mudar meu peito ardente em tépida atmosfera.<br />

O SOL<br />

Pois ao longo da viela em que, pelas mansardas,<br />

Persianas fazem véu às luxúrias bastardas,<br />

Quan<strong>do</strong> o sol reverbera, imponente e inimigo,<br />

Sobre a cidade e o campo e sobre o teto e o trigo,<br />

Eu ponho-me a treinar em minha estranha esgrima,<br />

Farejan<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> os acasos da rima,<br />

Numa frase a tombar como diante de obstáculos,<br />

Ou topan<strong>do</strong> algum verso há muito em nossos cálculos.<br />

Este pai nutritivo, a odiar sempre o que enferme,<br />

Pelos campos desperta a rosa como o verme;<br />

Faz as mágoas voar de que as almas são cheias,<br />

Enchen<strong>do</strong> o pensamento ao encher as colméias.<br />

Ele é quem dá o alento aos que vêm de muletas,<br />

Dan<strong>do</strong>-lhes um frescor de jóias ou violetas,<br />

Para ordenar depois que amadureça a messe<br />

No coração eterno, o que sempre floresce!<br />

E quan<strong>do</strong> vai à rua, à maneira de um poeta,<br />

Ele sabe aureolar a coisa mais abjeta.<br />

Sozinho e sem rumor, como um rei se introduz<br />

Nos hospitais da mágoa e nas mansões da luz!<br />

A UMA MENDIGA RUIVA<br />

Ruiva e branca a aparecer,<br />

Cuja roupa deixar ver<br />

Por seus rasgões a pobreza<br />

Como a beleza,<br />

A mim, poeta sofre<strong>do</strong>r,<br />

Teu corpo de um mal sem cura<br />

To<strong>do</strong> manchas de rubor,<br />

Só tem <strong>do</strong>çura.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!