You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
fui eu até a agência postal imaginan<strong>do</strong>, durante aquele curto trajeto, o que eu faria com o (não tão<br />
sua<strong>do</strong>) dinheirinho que em breve pingaria na minha conta especial.<br />
Duzentos mil por penduricalhos sufoca<strong>do</strong>s no interior de vidros antigos!<br />
Não enfrentei filas naquela manhã. Tu<strong>do</strong> transcorreu como de costume. Monika, a loirinha<br />
sardenta mais fofa da ilha, não tar<strong>do</strong>u a me contar num sussurro longe de ser discreto a sua mais<br />
nova façanha: ela tinha finalmente bati<strong>do</strong> uma pro seu namora<strong>do</strong> de longa data.<br />
“Mas não teve muita graça não, Zeeg”, ela continuou, sem um pingo de cerimônia, enquanto<br />
me passava o comprovante da postagem da grande caixa. “Achei que ia ser o máximo, mas o<br />
peepo dele mal encaixava direito na minha mão. E... olha só... ela é tão pequenina!”, disse Monika,<br />
me fazen<strong>do</strong> gestos nada sagra<strong>do</strong>s de como ela havia inicia<strong>do</strong> o bofe com sua mão delicada.<br />
Desatamos a rir e aproveitei o embalo para pedir um favor à minha tresloucada, <strong>do</strong>ce e<br />
admirada amiga postal.<br />
“Mô, eu preciso de uma força”, eu disse, tentan<strong>do</strong> simular a cara mais singela possível.<br />
“Quer que eu bata uma pra você também?”, disse Monika, a Discreta.<br />
“Se você tivesse um bigodinho e menos peitão, quem sabe eu poderia reavaliar a situação?”,<br />
ri da minha asneira proferida afetadamente.<br />
“Tá certo, quem sabe na próxima vida você venha como homem-hoommeem!”, retrucou<br />
Monika, fazen<strong>do</strong> cara de moleca inconformada.<br />
“Não existe ‘próxima vida’, lindinha. A vida é uma só. Existências sim, são muitas. Por<br />
favor, pegue o Catálogo pro seu hoommeem, pegue!”, pedi com paciência aparente.<br />
mãos.<br />
“Lá vem você com esse papo religioso de novo”, disse Monika, já com o livro amarelo nas<br />
“Não é religião. É uma... filosofia... ou quase isso, pra você entender melhor”, expliquei,<br />
acho que pela trigésima vez apenas naquele ano.<br />
“Tá certo. Depois vamos sair pra catar uns caras e você me explica melhor essa sua ‘filosofia<br />
ou quase isso’”, riu Monika. “Bom, aqui está. O que exatamente você está procuran<strong>do</strong>?”<br />
Nem tive tempo de responder, pois um ban<strong>do</strong> tomara conta <strong>do</strong> recinto, loucos para se livrar<br />
de suas papeladas, pagar contas, receber encomendas, entre outras coisas oferecidas por aquele<br />
estabelecimentossegun<strong>do</strong>pontodencontrodafofocaloveana.<br />
Monika, solitária e estabanada, pediu licença, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong>-me providencialmente.<br />
O “Catálogo” amarelo era um calhamaço de folhas carcomidas pelo tempo, onde eram<br />
registra<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os endereços das pessoas que viviam isoladas na zona rural de Lovland.<br />
Nolla havia me dito que o pesca<strong>do</strong>r de nome Michael morava pra lá de deus-me-livre, bem<br />
10