Download do Livro - Moa Sipriano

passado.
Felicidade... me engana... e aí... onde você se esconde?
* * *
Passo horas e horas perdido em devaneios nesse meu passeio fúnebre. Caminhar entre os
mortos me conforta. Me faz acreditar que nada acaba. Apenas o resumo de tudo consiste numa
porta desconhecida que deve ser aberta novamente e um mundo novo, cheio de possibilidades, se
descortina diante de nossos olhos embasbacados. A vida nunca cessa sua caminhada evolutiva.
* * *
A galeria em Paderborn havia exigido dezoito peças para compor uma exposição no final de
setembro. Eu tinha que despachar a mercadoria até o começo de julho. Desleixado como sou, eu
havia produzido apenas oito peças até ontem. E nada no mundo era capaz de me proporcionar
inspiração necessária para compor o restante do pedido imposto.
Eu não podia desperdiçar a chance que me era oferecida. O equivalente a duzentos mil lovs
assim, de mão beijada, não deveriam ser desprezados. Se os endinheirados dos meus conterrâneos
alemães queriam a porra das dezoito peças, oras bolas, eu tinha obrigação de encher a porra das
garrafas de leite da vovó com penduricalhos inusitados, criativos, torturantes, polêmicos.
de espírito.
O que fazer? Toca esse corpo mole pro cemitério, caralho!
Foi o que eu fiz no 18 de junho. O princípio de tudo. O fim do que eu julgava ser minha paz
* * *
O dia estava nublado, carregado de sal e tristeza. Entornando uma lata de Sub Zero, lá fui eu
perscrutar mais uma vez o território sagrado daqueles que apenas sonhavam em ser deixados em
paz.
Eu andava assim, molambo, sem direção. Sem vontade nenhuma de curtir uma obra de arte
barroca ou de me deliciar com as frases clichês esculpidas nas lápides repletas de limo.
Depois de muito “descanse em paz”, “filho adorado”, “esposa incomparável” etc eu me
preparava para deixar o recinto, louco para chegar na bodega e encher a pança de chouriço e
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