POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A que o gênio gravou na fronte — anátema!<br />
Desses que a turba com o <strong>de</strong>do aponta. . .<br />
Mas não; não hei <strong>de</strong> sê-lo! eu juro n'alma,<br />
Pela caveira, pelas negras cinzas<br />
De minha mãe o juro... agora há pouco<br />
Junto <strong>de</strong> um morto reneguei do gênio,<br />
Quebrei a lira à pedra <strong>de</strong> um sepulcro. . .<br />
Eu era um trovador, sou um mendigo... —<br />
Ergueu do chão a dádiva d'Elfrida;<br />
Roçou as flores aos trementes lábios;<br />
Beijou-as. Sobre o peito <strong>de</strong> Tancredo<br />
Pousou-as lentamente...<br />
— Em nome <strong>de</strong>le,<br />
Agra<strong>de</strong>ço estas flores do teu seio,<br />
Anjo que sobre um túmulo <strong>de</strong>sfolhas<br />
Tuas últimas flores <strong>de</strong> donzela! —<br />
Depois vibrou na lira estranhas mágoas,<br />
Carpiu à longa noite escuras nênias,<br />
Cantou: banhou <strong>de</strong> lágrimas o morto.<br />
De repente parou — vibrou a lira<br />
Co'as mãos iradas trêmulas... e as cordas<br />
Uma per uma rebentou cantando...<br />
Tinha fogo no crânio, e sufocava.<br />
Passou a fria mão nas fontes úmidas,<br />
Abriu a medo os lábios convulsivos,<br />
Sorriu <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero — e sempre rindo<br />
Quebrou as jóias e as lançou no abismo...<br />
VI<br />
No outro dia, na borda do caminho<br />
Deitado ao pé <strong>de</strong> um fosso aberto apenas<br />
Viu-se um mancebo loiro que morria. . .<br />
Semblante feminil, e formas débeis,<br />
Mas nos palores da espaçosa fronte<br />
Uma sombria dor cavara sulcos.<br />
Corria sobre os lábios alvacentos<br />
Uma leve umi<strong>de</strong>z, um ló d'escuma,<br />
E seus <strong>de</strong>ntes a raiva constringira...<br />
Tinha os punhos cerrados. . . Sobre o peito<br />
Acharam letras <strong>de</strong> uma língua estranha. . .<br />
E um vidro sem licor. . . fora veneno!. . .<br />
Ninguém o conheceu; mas conta o povo<br />
13<br />
13