POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Senão hão <strong>de</strong> fazê-lo em sarrabulho,<br />
Puxado p'lo nariz o encher <strong>de</strong> lodo<br />
E espetar-lhe a careta sobre um mastro.<br />
Singofredo o feroz exige apenas<br />
Que o Rei <strong>de</strong>ixando o cetro <strong>de</strong>ste reino<br />
Seja sempre na corte Rei da Lua.<br />
Loriolo virá ao seu caminho<br />
Trajando seu gibão amarelado<br />
Com remendos <strong>de</strong> cor, e campainhas,<br />
Meias roxas e gorro afunilado."<br />
XVII<br />
Loriolo suspira. O povo espera.<br />
Pela face do Bobo corre a furto<br />
Uma lágrima trêmula. — É <strong>de</strong>sgraça<br />
Tendo subido a Rei voltar. . .<br />
Nem ousa<br />
O nome proferir <strong>de</strong> sua infâmia.<br />
De repente uma idéia o ilumina...<br />
Deu uma das antigas gargalhadas,<br />
Inda em trajes <strong>de</strong> rei graceja e pula.<br />
Foi uma dança cômica, fantástica,<br />
Um riso que doía — tão gelado<br />
Coava o coração!... Estava doudo...<br />
Dançou a gargalhar... caiu exausto,<br />
Caiu sem movimento sobre o lodo...<br />
Escutaram-lhe o peito. Estava morto.<br />
Ora o pirata, o invasor Normando,<br />
Era filho da nossa conhecida,<br />
Que, posto não pu<strong>de</strong>sse com acerto<br />
Dizer quem era o pai <strong>de</strong> seu boêmio,<br />
Afirmava contudo afoitamente<br />
Que, em todo o caso, tinha jus ao trono.<br />
Reina pela cida<strong>de</strong> a bebe<strong>de</strong>ira,<br />
E bebendo à saú<strong>de</strong> do bastardo<br />
O Bobo que foi rei ninguém sepulta...<br />
* * *<br />
Bem vês, amigo Puff, que neste conto<br />
Em poucos versos digo histórias longas:<br />
— Amores, mortes, e no trono um bobo<br />
37<br />
37