POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...
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E longas prateleiras <strong>de</strong> bom vinho!<br />
Níni<br />
Dou começo ao poema. Escuta um pouco.<br />
I<br />
“Havia um rei n’uma ilha solitária,<br />
Um rei valente, cavaleiro e belo.<br />
O rei tinha um irmão. — Era um mancebo<br />
Pálido, pensativo. A sua vida<br />
Era nas serras divagar cismando,<br />
Sentar-se junto ao mar, dormir no bosque<br />
Ou vibrar no alaú<strong>de</strong> os seus gemidos.<br />
II<br />
Vagabundo uma vez juntos das ondas<br />
O Príncipe encontrou na areia fria<br />
Uma branca donzela <strong>de</strong>smaiada,<br />
Que um naufrágio na praia arremessara.<br />
Revelavam-lhe as roupas gotejantes<br />
O belo talhe níveo, o melindroso<br />
Das bem moldadas formas. — O mancebo<br />
Nos braços a tomou, e foi com ela<br />
Escon<strong>de</strong>r-se no bosque.<br />
Quando a bela<br />
Suspirando acordou, o belo Príncipe<br />
Aos pés <strong>de</strong>la velava <strong>de</strong> joelhos.<br />
Amaram-se. É a vida. Eles viveram<br />
Desse <strong>de</strong>smaio que dá corpo aos sonhos,<br />
Que realiza visões e aroma a vida<br />
Na sua primavera. A lua pálida,<br />
As sombras da floresta, e <strong>de</strong>ntre a sombra<br />
As aves amorosas que suspiram<br />
Viram aquelas frontes namoradas,<br />
Ouviram sufocando-se n’um beijo<br />
Suspiros que o <strong>de</strong>leite evaporava.<br />
III<br />
O Rei tinha um truão. O caso é visto;<br />
É muito natural. — Se reis sombrios<br />
Gostam <strong>de</strong> bobos na doirada corte,<br />
Não admira <strong>de</strong> certo que um risonho<br />
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