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POEMAS IRÔNICOS, VENENOSOS E SARCÁSTICOS Álvares de ...

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No berço imperial um céu <strong>de</strong> Agosto<br />

Nos cantos <strong>de</strong> triunfo <strong>de</strong>spertou-o. . .<br />

As águias <strong>de</strong> Wagram e <strong>de</strong> Marengo<br />

Abriam flamejando as longas asas<br />

Impregnadas do fumo dos combates,<br />

Na púrpura dos Césares, guardando-o.<br />

E o gênio do futuro parecia<br />

Pre<strong>de</strong>stiná-lo à glória. A história <strong>de</strong>le?...<br />

Resta um crânio nas urnas do estrangeiro. . .<br />

Um loureiro sem flores nem sementes. ..<br />

E um passado <strong>de</strong> lágrimas. . . A terra<br />

Tremeu ao sepultar-se o Rei <strong>de</strong> Roma.<br />

Po<strong>de</strong> o mundo chorar sua agonia<br />

E os louros <strong>de</strong> seu pai na fronte <strong>de</strong>le<br />

Infecundos <strong>de</strong>por... Estrela morta,<br />

Só po<strong>de</strong> o menestrel sagrar-te prantos!<br />

VI<br />

Junto a meu leito, com as mãos unidas,<br />

Olhos fitos no céu, cabelos soltos,<br />

Pálida sombra <strong>de</strong> mulher formosa<br />

Entre nuvens azuis pranteia orando.<br />

É um retrato talvez. Naquele seio<br />

Porventura sonhei doiradas noites:<br />

Talvez sonhando <strong>de</strong>satei sorrindo<br />

Alguma vez nos ombros perfumados<br />

Esses cabelos negros, e em <strong>de</strong>líquio<br />

Nos lábios <strong>de</strong>la suspirei tremendo.<br />

Foi-se minha visão. E resta agora<br />

Aquela vaga sombra na pare<strong>de</strong><br />

— Fantasma <strong>de</strong> carvão e pó cerúleo,<br />

Tão vaga, tão extinta e fumarenta<br />

Como <strong>de</strong> um sonho o recordar incerto.<br />

VII<br />

Em frente do meu leito, em negro quadro<br />

A minha amante dorme. É uma estampa<br />

De bela adormecida. A rósea face<br />

Parece em visos <strong>de</strong> um amor lascivo<br />

De fogos vagabundos acen<strong>de</strong>r-se. . .<br />

E com a nívea mão recata o seio. . .<br />

Oh! quantas vezes, i<strong>de</strong>al mimoso,<br />

Não encheste minh'alma <strong>de</strong> ventura,<br />

Quando louco, se<strong>de</strong>nto e arquejante,<br />

Meus tristes lábios imprimi ar<strong>de</strong>ntes<br />

No poento vidro que te guarda o sono!<br />

17<br />

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