FACULDADE CÁSPER LÍBERO Tatiana Pacheco Benites ...

dialoga, evoca, cita, veste, cria o espaço no interior do qual se move. No dress-code,
cada traço não tem um significado codificado pelo uso (moda), menos ainda pelo
inconsciente. Os símbolos são confundidos e “jogados”, os arquétipos desprezados e
dissolvidos. Símbolos e arquétipos vêm tratados como merecem: como simples
evocações generalistas e totlizantes que são sacudidas, liberando multidões de
fragmentos férteis como os de Testaccio (Ibidem, 38).
O poder da lingerie não está somente no desejo de utilizá-la, mas também no prazer
que ela pode proporcionar a quem usa (conforto, modismo, luxo etc.) e na sedução do
próximo.
Em sua obra, Da Sedução, Jean Baudrillard (2004: 11) atesta que a mulher seduz o
homem com a seguinte frase: “Esse poder feminino é o da sedução.” Para o autor, essa é a
alternativa ao sexo e ao poder, algo que a psicanálise não pode conhecer.
Ainda nessa obra, Baudrillard expõe o tema sob a ótica da psicanálise de Freud, além
de teorias de nomes como Nietzsche e Lévi-Strauss:
Ora, somente a sedução opõe-se radicalmente à anatomia como destino. Somente a
sedução rompe com a sexualização distintiva dos corpos e a inelutável economia
fálica dela resultante (...)
Ora, a mulher nada mais é que a aparência. E é o feminino como aparência que põe
em xeque a profundidade do masculino. Ao invés de se insurgirem contra essa forma
“injuriosa”, as mulheres fariam bem em se deixar seduzir por essa verdade, pois aí
reside o segredo de seu poder, que estão quase a perder, levando a profundidade do
feminino contra a do masculino (2004: 15)
Segundo ele, esse é um complexo tema de estudo e um dos motivos pelos quais a
psicanálise deixou-o de lado, pois é muito comum ser comparado com sexualidade. A lingerie
também colabora com essa medida, uma vez que instiga a sensualidade e também a
sexualidade, tanto feminina quanto masculina. Para ele, a forma de sedução que induz ao sexo
também fez crescer o mercado de objetos sexuais.
Em lugar de uma forma “sedutiva”, tem-se a partir de então o processo de uma
forma produtiva, de uma “economia” do sexo: retrospectiva de uma pulsão,
alucinação de uma reserva de energia sexual, de um inconsciente em que se
inscrevem o recalque e a repressão do desejo: tudo isso, além do psíquico em geral,
resulta da forma sexual autonomizada – como outrora a natureza e o econômico
foram a aceleração da produção. Natureza e desejo, ambos idealizados, sucedem-se
nos esquemas progressivos de liberação, antes a das forças produtivas, hoje a do
corpo e do sexo (BAUDRILLARD, 2004: 49).
Para o autor, nossa cultura valoriza muito mais o sexo do que a sedução:
É verdade que, na nossa cultura, o sexual triunfou sobre a sedução e anexou-a como
forma subalterna. Nossa visão instrumental inverteu tudo. Pois na ordem simbólica é
a sedução quem está lá primeiro, sendo que o sexo ocorre apenas por acréscimo
(2004: 51).
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