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pré-história gestos intemporais - Museu do Côa

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III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto <strong>do</strong>uro e beira interior | actas<br />

3. Cores e texturas das superfícies<br />

Ten<strong>do</strong> em conta a ampla variedade de escolha, é interessante notar que parecem existir<br />

algumas tendências diferentes na escolha das superfícies dentro <strong>do</strong>s diferentes perío<strong>do</strong>s<br />

cronológicos.<br />

Na época Moderna/Contemporânea não nos pareceu que houvesse algum critério defini<strong>do</strong> na<br />

escolha das cores, parecen<strong>do</strong> haver apenas algum cuida<strong>do</strong> com a escolha de superfícies de<br />

textura minimamente regular. Já no perío<strong>do</strong> Paleolítico, o critério <strong>do</strong>minante, com poucas<br />

excepções, parece ser o da procura de superfícies de boa ou excelente qualidade, as quais,<br />

de uma forma geral, se associam às cores castanha e cinzenta, com relevo para matizes de<br />

castanho-vinhoso, que está normalmente associa<strong>do</strong> às melhores superfícies em toda a área<br />

<strong>do</strong> núcleo, e que quase sempre ostentam gravuras paleolíticas, facto tanto mais relevante<br />

quanto são relativamente raras, e o cinzento-esverdea<strong>do</strong>, que caracteristicamente se associa<br />

a umas pequenas manchas avermelhadas ou, mais raramente, azuladas, e as quais os artistas<br />

paleolíticos parecem por vezes ter aprecia<strong>do</strong>, como se vê no belo efeito cromático na cabeça<br />

de uma das fêmeas de cervídeo da Rocha 149.<br />

Já na Idade <strong>do</strong> Ferro os critérios parecem ser mais heterogéneos, ten<strong>do</strong> menos a ver com a<br />

qualidade das superfícies e mais com a sua cor. Assim, encontram-se gravuras proto-<br />

-históricas em quase todas as texturas disponíveis, incluin<strong>do</strong> algumas de muito má qualidade<br />

e, embora de forma geral se procurem texturas com alguma regularidade, não parece notar-se<br />

uma procura deliberada das melhores superfícies. Por outro la<strong>do</strong>, quase to<strong>do</strong> o espectro de<br />

cores existente nas superfícies da Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong> é utiliza<strong>do</strong> para a realização de gravuras deste<br />

perío<strong>do</strong>, com pre<strong>do</strong>mínio das superfícies de cor castanha e, particularmente, castanho-<br />

-alaranja<strong>do</strong> ou castanho-avermelha<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> esta uma tendência que se nota também em<br />

outros núcleos <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>, parecen<strong>do</strong> ser esta a cor preferida <strong>do</strong>s grava<strong>do</strong>res proto-<br />

-históricos. Estas superfícies são normalmente bons painéis, de textura lisa e regular, mas<br />

ainda assim de qualidade inferior à de outras superfícies disponíveis, sen<strong>do</strong> mais duras, mais<br />

baças e ligeiramente mais rugosas e sen<strong>do</strong>, com algumas excepções, tendencialmente<br />

evitadas pelos artistas paleolíticos.<br />

4. Tamanho <strong>do</strong>s painéis e localização das gravuras nas superfícies<br />

De uma forma empírica, a relação da frequência <strong>do</strong>s afloramentos em função <strong>do</strong> tamanho da<br />

sua face principal (o que se aplica a to<strong>do</strong>s os afloramentos existentes na encostas da Foz <strong>do</strong><br />

<strong>Côa</strong> e não apenas aos que apresentam gravuras) parece ter uma variação inversamente linear,<br />

isto é, quanto maiores são menos gravuras existem e vice-versa. Relativamente às rochas<br />

historiadas, vemos que a relação é tendencialmente semelhante, ou seja, há um claro<br />

pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s tamanhos intermédios e uma tendência para evitar os painéis maiores e os<br />

muito pequenos. Apenas neste último caso se parece fugir ao padrão natural, pois são<br />

bastante frequentes ao longo de toda a encosta e apenas um reduzidíssimo número foi<br />

aproveita<strong>do</strong> para fazer gravuras. Isto mostra que, em to<strong>do</strong>s os perío<strong>do</strong>s, se evitou<br />

tendencialmente aproveitar este tipo particular de painéis para a realização de gravuras, o que<br />

não é surpreendente, da<strong>do</strong> que as suas escassas dimensões e o facto de quase sempre se<br />

encontrarem junto ao solo os tornam pouco práticos para serem trabalha<strong>do</strong>s e visualiza<strong>do</strong>s.<br />

À primeira vista, poderíamos dizer que o tamanho <strong>do</strong> painel não parece ter si<strong>do</strong> um critério<br />

muito importante, com excepção da época Moderna, em que há alguma tendência para a<br />

escolha <strong>do</strong>s painéis de maiores dimensões. No entanto, este panorama muda um pouco se<br />

introduzirmos o critério da maior ou menos importância das rochas historiadas e o<br />

relacionarmos com o tamanho <strong>do</strong>s respectivos painéis. Naturalmente, é arrisca<strong>do</strong> utilizarmos<br />

estes critérios, dada a sua evidente subjectividade e a dificuldade de sabermos se os nossos

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