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pré-história gestos intemporais - Museu do Côa

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72<br />

III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto <strong>do</strong>uro e beira interior | actas<br />

proporcionalmente mais afectada pela subida das águas, uma vez que a altura da encosta é<br />

aqui mais baixa.<br />

Há uma tendência para o aumento da densidade de rochas historiadas à medida que se desce<br />

na encosta, mas a máxima concentração não se verifica na zona mais inferior, mas numa faixa<br />

de terreno contida entre os 20 e os 50 metros acima da actual linha de água. Curiosamente, na<br />

faixa de terreno junto à linha de água, a concentração de rochas é bastante baixa em to<strong>do</strong>s os<br />

perío<strong>do</strong>s, e nem mesmo a deficiente prospecção aqui realizada (pelas razões já expostas)<br />

pode explicar este facto, que parece resultar de uma escolha intencional da não gravação das<br />

rochas desta zona.<br />

Das quarenta e cinco rochas com gravuras modernas, vinte e quatro apresentavam já motivos<br />

de perío<strong>do</strong>s anteriores, o que é uma apreciável percentagem. Ten<strong>do</strong> em conta a profusão de<br />

rochas com gravuras antigas, é normal que muitos motivos modernos se lhes pudessem<br />

juntar, e é bem provável que os grava<strong>do</strong>res modernos frequentemente não se apercebessem<br />

da sua existência, nomeadamente quan<strong>do</strong> são poucas e muito patinadas. Nalguns casos<br />

particulares, como nas Rochas 14 e 16, com painéis de enormes dimensões e totalmente<br />

repletos de evidentes gravuras antigas, a colocação das gravuras modernas (em ambos os<br />

casos figuras cruciformes) em zonas laterais e escusas <strong>do</strong>s painéis parece indicar a<br />

consciência da existência das gravuras antigas e o desejo de evitar sobreposições. Mas estas<br />

duas rochas, a par de diversas outras de características similares, parecem indicar que um<br />

<strong>do</strong>s principais critérios para a escolha de superfícies para a realização de gravuras modernas<br />

terá si<strong>do</strong> as suas grandes dimensões e/ou maior visibilidade no terreno, sen<strong>do</strong> assim natural<br />

que se juntem a gravuras mais antigas, para as quais critérios semelhantes poderão ter<br />

também existi<strong>do</strong>.<br />

Assim, a distribuição das rochas de cronologia moderna segue um padrão semelhante ao das<br />

restantes, sen<strong>do</strong> a principal diferença que a sua densidade parece ser mais ou menos<br />

uniforme ao longo da encosta, sem grandes concentrações, o que deverá reflectir a dispersão<br />

das actividades agrícolas por toda a área <strong>do</strong> núcleo, de alto a baixo da encosta, actividades<br />

essas que se deverão ter generaliza<strong>do</strong> precisamente na Época Moderna. A excepção a esta<br />

uniformidade vem <strong>do</strong> grupo de sete rochas com motivos picota<strong>do</strong>s, concentradas numa área<br />

restrita nas imediações da embocadura, cuja existência pelo menos em parte está<br />

comprovadamente ligada à existência de moinhos nesta zona, como no caso já conheci<strong>do</strong><br />

das gravuras <strong>do</strong> moleiro Alcino Tomé (García Diez e Luís, 2003), poden<strong>do</strong> estar de forma mais<br />

geral relacionadas com a existência de um importante foco de estruturas e actividades de<br />

época moderna, como já referimos.<br />

Os artistas proto-históricos foram aparentemente criteriosos na escolha <strong>do</strong>s painéis, ten<strong>do</strong><br />

evita<strong>do</strong> as rochas previamente gravadas no paleolítico, haven<strong>do</strong> sobreposição apenas em 16<br />

das 66 rochas da Idade <strong>do</strong> Ferro, o que é tanto mais notável quanto estas rochas tem uma<br />

distribuição que segue de perto a das rochas paleolíticas, ten<strong>do</strong> em geral os mesmos picos de<br />

concentração. Isto parece implicar que na Idade <strong>do</strong> Ferro se tinha consciência da existência<br />

das gravuras paleolíticas, o que parece ser reforça<strong>do</strong> se considerarmos que naquelas 16<br />

rochas raramente as gravuras mais recentes se sobrepõem às anteriores, estan<strong>do</strong> regra geral<br />

em zonas distintas <strong>do</strong>s painéis. É certo que esta aparente intenção em evitar misturas por<br />

parte <strong>do</strong>s artistas da Idade <strong>do</strong> Ferro poderia resultar muito simplesmente da aplicação de<br />

critérios bem defini<strong>do</strong>s e distintos para ambos os perío<strong>do</strong>s na escolha das superfícies e das<br />

zonas <strong>do</strong>s painéis para gravar, e mesmo que tenha existi<strong>do</strong> conhecimento da existência das<br />

gravuras paleolíticas, este parece ter ti<strong>do</strong> uma influência mínima nas temáticas e composições<br />

da arte proto-histórica.<br />

As rochas da Idade <strong>do</strong> Ferro localizam-se principalmente na zona mais central da encosta,

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