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pré-história gestos intemporais - Museu do Côa

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88<br />

III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto <strong>do</strong>uro e beira interior | actas<br />

posição naturalista em relação às presumíveis progenitoras, uma no meio das patas, a outra<br />

ligeiramente à frente, sen<strong>do</strong> a fêmea sobrejacente a única das figuras desta rocha que tem a<br />

cabeça orientada para baixo, como que cheiran<strong>do</strong> ou lamben<strong>do</strong> o flanco da cria. O presumível<br />

vea<strong>do</strong> <strong>do</strong>minante está na frente <strong>do</strong> grupo, olhan<strong>do</strong> para trás e para cima. Poderá haver outros<br />

painéis com mais representações de grupos de cervídeos em manada, como os das Rochas<br />

162 e 52, mas só após o seu levantamento e estu<strong>do</strong> se poderão entender melhor.<br />

Entre os vea<strong>do</strong>s merece destaque a bela figura da Rocha 148, com o traço de contorno mais<br />

carrega<strong>do</strong> que o estria<strong>do</strong> interno, com uma armação em perspectiva distorcida semi-frontal,<br />

uma das hastes colocada na horizontal e a outra na vertical e com numerosos galhos. Outra<br />

figura singular é o vea<strong>do</strong> da Rocha 69, uma das mais naturalistas da Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>, com um<br />

galho frontal em perfil absoluto e a armação em perspectiva distorcida, reduzida a uma única<br />

ramificação. Os vea<strong>do</strong>s das Rochas 16 e 157, tipologicamente bastante distintos, partilham<br />

entre si o facto de figurarem unicamente os galhos frontais, tratan<strong>do</strong>-se provavelmente de<br />

indivíduos jovens, ainda sem armação desenvolvida. O primeiro tem a boca aberta e a cabeça<br />

levantada, na típica posição de brama. Por fim, os vea<strong>do</strong>s das Rochas 41, 73 e 103 to<strong>do</strong>s em<br />

traço múltiplo, e com a cabeça e armação em perspectiva distorcida frontal, a cabeça em<br />

perfil e a armação em visão frontal. O da Rocha 73, tal como a cerva ao la<strong>do</strong>, é de muito difícil<br />

visualização, devi<strong>do</strong> à patina acentuada <strong>do</strong>s seus traços finíssimos. Quanto ao vea<strong>do</strong> da<br />

Rocha 41, é a maior figura de cervídeo da Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>, apenas inferior aos grandes auroques<br />

das Rochas 69 e 157, e tem a mais complexa de todas as armações <strong>do</strong>s vea<strong>do</strong>s deste núcleo<br />

rupestre.<br />

Conclusões Pelas razões apontadas, a margem esquerda da Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong> foi o primeiro sítio <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> <strong>Côa</strong><br />

objecto de uma prospecção rupestre sistemática, com uma observação directa e exaustiva de<br />

todas as superfícies grauváquicas afloradas. Se se tiver em atenção o tipo de gravuras que<br />

aqui foram sen<strong>do</strong> detectadas e inventariadas, só assim poderíamos ter a certeza de que<br />

pouca coisa nos escaparia. Por vezes foi necessário regressar aos mesmos sítios, esperar pela<br />

melhor luz <strong>do</strong> dia e voltar a analisar as mesmas superfícies apaineladas. E ir cortan<strong>do</strong> alguma<br />

vegetação, limpan<strong>do</strong> musgos e alguns líquenes a fim de que as rochas nos fossem<br />

entregan<strong>do</strong> os seus segre<strong>do</strong>s rupestres. Isto permitiu-nos ampliar consideravelmente o<br />

número de rochas gravadas conhecidas nesta zona e compreender relativamente melhor a<br />

realidade rupestre da envolvente <strong>do</strong> futuro <strong>Museu</strong> de Arte e Arqueologia <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>, que<br />

entretanto começou (finalmente!) a ser construí<strong>do</strong> (Janeiro de 2007).<br />

Para que isto fosse consegui<strong>do</strong>, foi fundamental a contratação pelo CNART de um elemento<br />

(MR) cujo trabalho foi quase inteiramente dedica<strong>do</strong> a esta tarefa. As impressões que aqui<br />

deixamos neste texto são fruto deste minucioso trabalho de inventário, <strong>pré</strong>vio ao levantamento<br />

em desenho e fotografia que será a próxima etapa a desenvolver na Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>. Etapa<br />

seguramente ainda mais difícil e morosa, mas urgente, indispensável e... aliciante! Para que as<br />

impressões que aqui deixamos possam ser melhor confirmadas e aprofundadas, já que na Foz<br />

<strong>do</strong> <strong>Côa</strong> confluem alguns <strong>do</strong>s melhores exemplos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is principais ciclos rupestres que<br />

caracterizam a arte rupestre <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>: a arte da época glaciar e as incisões da IIª Idade<br />

<strong>do</strong> Ferro.<br />

Quanto à arte paleolítica, hoje podemos afirmar com relativa segurança que se des<strong>do</strong>bra em<br />

pelo menos <strong>do</strong>is grandes e longos perío<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> o único aqui presente. Com<br />

efeito, temos reafirma<strong>do</strong> em vários textos que ao longo <strong>do</strong> Magdalenense, o chama<strong>do</strong><br />

“santuário arcaico” (Gravetto-Solutrense) se vai deslocan<strong>do</strong> para a região da foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong> e é<br />

caracteriza<strong>do</strong> fundamentalmente pela presença quase exclusiva de gravuras incisas, com

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