pré-história gestos intemporais - Museu do Côa
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III congresso de arqueologia trás-os-montes, alto <strong>do</strong>uro e beira interior | actas<br />
com cinco exemplares identifica<strong>do</strong>s até ao momento. Algumas das figuras indeterminadas<br />
poderão vir no futuro a aumentar este número e, por outro la<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> que são animais cuja<br />
morfologia tem muitas semelhanças com os cervídeos, é também provável que alguns <strong>do</strong>s<br />
motivos agora preliminarmente classifica<strong>do</strong>s como cervídeos possam ser, com uma melhor<br />
observação a partir <strong>do</strong>s levantamentos, reclassifica<strong>do</strong>s como capríneos.<br />
Na Rocha 92 há uma interessante figura de capríneo em traço simples, com um amplo corpo e<br />
uma minúscula cabeça, aparentemente em perspectiva distorcida, como se estivesse a<br />
afastar-se <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, algo semelhante a uma ou duas das figuras de capríneos da Rocha<br />
4 de Vale de Cabrões (Baptista, 1999: 134-135).<br />
Na Rocha 70 aparecem mais duas figuras de capríneos. Na primeira, de traço simples,<br />
adivinha-se uma cabeça com um longo corno em “S”, com paralelos na conhecida figura da<br />
Rocha 5 de Vale de Cabrões (Baptista, 1999: 130-131). A segunda figura é um belo animal em<br />
traço múltiplo, muito patina<strong>do</strong> e de difícil visualização, com a cabeça e o corpo semelhantes<br />
aos cervídeos de traço múltiplo, mas identifican<strong>do</strong>-se como capríneo pela presença de <strong>do</strong>is<br />
grandes cornos, de acentuada curvatura. Estes são vistos em perfil e perspectiva, e não têm<br />
terminação em “S”, como é normal nas representações de cabras no <strong>Côa</strong>, e que as<br />
identificam como cabras pirenaicas (capra pyrenaica), também conhecida como cabra montês<br />
ibérica. A representação <strong>do</strong>s cornos deste exemplar, curtos e em curva única, levanta duas<br />
hipóteses: poderá ser um juvenil de cabra pirenaica, em que os cornos não atingiram ainda a<br />
terminação em contracurva forman<strong>do</strong> o característico “S”, ou poderá ser um exemplar da<br />
espécie capra ibex, ou cabra montês <strong>do</strong>s Alpes. Tem algumas semelhanças com o capríneo<br />
da Rocha 6 de Vale de Cabrões (Baptista, 1999: 132-133).<br />
Os auroques são ligeiramente mais numerosos, com oito exemplares em seis rochas sen<strong>do</strong>,<br />
das espécies faunísticas da Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong>, a única em que não assinalamos nenhum exemplar<br />
delinea<strong>do</strong> a traço múltiplo. Na Rocha 148 há duas representações, muito diferentes uma da<br />
outra, sen<strong>do</strong> uma um pequeno prótomo, com uma cabeça longa e <strong>do</strong>is cornos projecta<strong>do</strong>s<br />
em perspectiva semi-frontal. O outro tem uma tipologia pouco comum no <strong>Côa</strong>,<br />
particularmente pela cabeça em perfil semi-torci<strong>do</strong>, mas com os cornos figura<strong>do</strong>s em perfil<br />
frontal, com as pontas quase se tocan<strong>do</strong> nas extremidades, forman<strong>do</strong> um semicírculo.<br />
Nas Rochas 69 e 157 há mais duas figuras de auroques, ambos de grandes dimensões,<br />
poden<strong>do</strong> atingir 1 m de comprimento, tanto mais extraordinário quanto são delineadas em<br />
traço filiforme simples, o que as torna de muito difícil visualização. Em ambos os casos serão<br />
figuras completas. É no entanto pelas cabeças que melhor se identificam, nomeadamente<br />
pelos cornos, de grandes dimensões e projecta<strong>do</strong>s para a frente, liga<strong>do</strong>s a uma grande<br />
cabeça, toscamente esboçada.<br />
Na Rocha 103 surge uma outra figura, de corpo muito bem delinea<strong>do</strong> e vinca<strong>do</strong>, contrastan<strong>do</strong><br />
com uma cabeça pouco visível, talvez a olhar de frente, de forma semelhante aos auroques<br />
incisos da Rocha 24 de Piscos.<br />
Tipologicamente, podemos considerar três grupos distintos de motivos. Por um la<strong>do</strong>, a figura<br />
da Rocha 148, única no <strong>Côa</strong>. Por outro, a figura da Rocha 103, que é muito similar aos<br />
auroques da Rocha 24 de Piscos, caracterizan<strong>do</strong>-se pelo excelente desenho naturalista <strong>do</strong><br />
corpo e pela cabeça em visão frontal, embora este último detalhe careça ainda de<br />
confirmação. As restantes figuras, com algumas diferenças de pormenor, caracterizam-se em<br />
geral pelo corno em perfil absoluto com a ponta revirada para cima, com vários paralelos no<br />
<strong>Côa</strong>, como por exemplo no auroque da Rocha 6 de Vale de Cabrões (Baptista, 1999: 136-137).<br />
Destaca-se também a ausência na Foz <strong>do</strong> <strong>Côa</strong> de representações de cornos em lira, tão<br />
característicos nas grandes figuras em picota<strong>do</strong> e abrasão típicas da fase antiga da Arte <strong>do</strong><br />
<strong>Côa</strong>.