a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da
a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da
a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
imagem que se tem do passado, na forma <strong>de</strong> lembranças, tenha sua existência<br />
questiona<strong>da</strong>.<br />
A musicali<strong>da</strong><strong>de</strong> é fun<strong>da</strong>mental para a leitura e interpretação do texto; para tanto, o<br />
poeta utiliza uma métrica tradicional e popular, <strong>de</strong> largo uso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fins <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Média: a redondilha me<strong>no</strong>r (verso <strong>de</strong> cinco sílabas <strong>poéticas</strong>). A música evoca a<br />
infância, elemento temático central do poema, sempre recor<strong>da</strong><strong>da</strong> em tons<br />
melancólicos.<br />
Há um paradoxo <strong>no</strong> último verso, como se a idéia <strong>de</strong> que a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> estava <strong>no</strong><br />
passado “outrora”, é na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma ficção gera<strong>da</strong> pelas emoções do presente<br />
“agora”, o que quer dizer que é <strong>no</strong> agora que ele pensa ter sido feliz <strong>no</strong> outrora.<br />
Esse saudosismo <strong>de</strong> Fernando Pessoa, ortônimo, é manifestado <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> pessoal,<br />
como um retor<strong>no</strong> à infância; <strong>no</strong> entanto, <strong>no</strong> ci<strong>da</strong>dão português, surge como um clima<br />
<strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> uma lembrança <strong>da</strong> grandiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> antiga do Império Português.<br />
Exemplo disso é o poema O Infante:<br />
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.<br />
Deus quis que a terra fosse to<strong>da</strong> uma,<br />
Que o mar unisse, já não separasse.<br />
Sagrou-te, e foste <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>ndo a espuma,<br />
E a orla branca foi <strong>de</strong> ilha em continente,<br />
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,<br />
E viu-se a terra inteira <strong>de</strong> repente<br />
Surgir, redon<strong>da</strong> do azul profundo.<br />
Quem te sagrou, criou-te português.<br />
Do mar e nós em ti <strong>no</strong>s <strong>de</strong>u sinal<br />
Cumpriu-se o Mar, e o império se <strong>de</strong>sfez.<br />
Senhor, falta cumprir-se Portugal! (PESSOA, 1993, p.89)<br />
Esse texto expõe a idéia que era vonta<strong>de</strong> divina que o Império Português se<br />
estabelecesse, unificando terras e mares. Pessoa coloca a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e o<br />
sonho huma<strong>no</strong> como forças responsáveis pela concretização <strong>da</strong> obra, <strong>no</strong> caso as<br />
Navegações.<br />
O final do poema “Senhor, falta cumprir-se Portugal”, reflete bem o espírito<br />
dominante em Mensagem: a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> Portugal como a super-<br />
25