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a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da

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A dor que <strong>de</strong>veras sente.<br />

E os que lêem o que escreve,<br />

Na dor li<strong>da</strong> sentem bem,<br />

Não as duas que ele teve,<br />

Mas só a que eles não têm.<br />

E assim nas calhas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong><br />

Gira, a entreter a razão,<br />

Esse comboio <strong>de</strong> cor<strong>da</strong><br />

Que se chama o coração. (PESSOA, 1993, p. 97)<br />

Nesses diálogos <strong>no</strong>tam-se as divergências que há na maneira como ca<strong>da</strong> um vê a<br />

arte <strong>de</strong> escrever, e também a posição do poeta <strong>no</strong> ato <strong>da</strong> escrita. Caeiro escreve<br />

com simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> e transparência, ele mostra como é que faz seus versos, sem rima,<br />

sem padrão fixo, com um fluir espontâneo e natural do vento que se levanta. O<br />

poeta diz que seu modo <strong>de</strong> exprimir não é tão perfeito quanto o <strong>da</strong>s flores, e isso lhe<br />

causa insatisfação.<br />

Reis diz que palavras são idéias, que ele pensa e sente. E seus versos são seus <strong>da</strong><br />

mesma forma são dos outros que os lêem.<br />

Já Álvaro <strong>de</strong> Campos é <strong>de</strong>siludido com a vi<strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna e com o convívio social. Ele<br />

versa agressivamente e com virili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele não quer estéticas e nem moral, diz ser<br />

técnico, mas tem a técnica só <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> técnica. Consi<strong>de</strong>ra-se doido, e com todo<br />

direito a sê-lo.<br />

O ortônimo questiona a respeito <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a criação artística, principalmente à criação<br />

literária, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o artista recriar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> trabalhando a partir <strong>de</strong> suas<br />

emoções. Para ele o artista se transforma num criador <strong>de</strong> mundos, <strong>de</strong> sonhos, <strong>de</strong><br />

ilusões, <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Pessoa afirma que o poeta é um fingidor. Assim ele remete a<br />

uma relação fun<strong>da</strong>mental: a do artista e sua obra, o poeta e o poema. Os diálogos<br />

acima exemplificam muito bem as faces <strong>de</strong> Fernando Pessoa e as diferenças nas<br />

<strong>linguagens</strong> <strong>poéticas</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las.<br />

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