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a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da

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on<strong>de</strong> todos representam e o “eu” é o único que não sabe nem po<strong>de</strong> representar.<br />

Devido a isso, seu lugar <strong>no</strong> teatro é <strong>no</strong> vestiário e jamais <strong>no</strong> palco.<br />

Os versos finais do poema colocam frente a frente o eu - poético e o do<strong>no</strong> <strong>da</strong><br />

tabacaria que representa o homem comum. Ao vê-lo, o poeta experimenta uma<br />

sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto e passa a ter a sensação <strong>da</strong> absoluta inutili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tudo,<br />

até <strong>da</strong> própria poesia.<br />

O poema fecha com a absoluta solidão do poeta, que tem consciência <strong>de</strong> que na<strong>da</strong><br />

vale a pena, enquanto o do<strong>no</strong> <strong>da</strong> tabacaria, sem consciência alguma do que o cerca,<br />

apenas sorri.<br />

Álvaro <strong>de</strong> Campos é o poeta do integrar-se e do entregar-se. Sofreu gran<strong>de</strong><br />

influência <strong>de</strong> Walt Whitman, que nasceu <strong>no</strong>s Estados Unidos, foi poeta e jornalista.<br />

Whitman passou parte <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> em Brooklyn Ferry (Nova Iorque), vivendo todo<br />

período <strong>de</strong> transformação industrial <strong>de</strong> seu país, produziu uma obra poética bastante<br />

original escrita em versos <strong>de</strong> métrica livre, linguagem vibrante e musicali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

própria.<br />

Seus poemas apresentam longas enumerações <strong>de</strong> imagens, pregando a valorização<br />

dos sentidos e exaltando a vi<strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rna e a <strong>de</strong>mocracia. Campos confessa sua<br />

admiração por este poeta em Sau<strong>da</strong>ção a Walt Whitman:<br />

... Meu velho Walt, meu gran<strong>de</strong> Camara<strong>da</strong>, evohé!<br />

Pertenço à tua orgia báquica <strong>de</strong> sensações-em-liber<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

Sou dos teus, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sensação dos meus pés até à náusea em meus<br />

sonhos,<br />

Sou dos teus, olha pra mim, <strong>de</strong> aí <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Deus vês-me ao contrário:<br />

De <strong>de</strong>ntro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —<br />

Essa vês tu propriamente e através dos olhos <strong>de</strong>la o meu corpo —<br />

Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro <strong>de</strong> Campos, engenheiro,<br />

Poeta sensacionista,<br />

Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,<br />

Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!<br />

Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir <strong>de</strong>mais...<br />

Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,<br />

E cheira-me a suor, a óleos, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana e mecânica.<br />

Nos teus ver sos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,<br />

Não sei se o meu lugar real é <strong>no</strong> mundo ou <strong>no</strong>s teus versos,<br />

Não sei se estou aqui, <strong>de</strong> pé sobre a terra natural,<br />

Ou <strong>de</strong> cabeça pra baixo, pendurado numa espécie <strong>de</strong> estabelecimento,<br />

No teto natural <strong>da</strong> tua inspiração <strong>de</strong> tropel,<br />

No centro do teto <strong>da</strong> tua intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> inacessível.<br />

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