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a multiplicidade de linguagens poéticas no interior da

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Eu, que tenho sofrido a angústia <strong>da</strong>s pequenas coisas ridículas,<br />

Eu verifico que não tenho par nisto tudo, neste mundo.<br />

To<strong>da</strong> a gente que eu conheço e que fala comigo<br />

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,<br />

Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes — na vi<strong>da</strong>...<br />

Quem me <strong>de</strong>ra ouvir <strong>de</strong> alguém a voz humana<br />

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;<br />

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!<br />

Não, são todos o I<strong>de</strong>al, se os oiço e me falam.<br />

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?<br />

Ó príncipes, meus irmãos.<br />

Arre, estou farto <strong>de</strong> semi<strong>de</strong>uses!<br />

On<strong>de</strong> é que há gente <strong>no</strong> mundo? (CAMPOS, 1997, p.134)<br />

Esse poema possui uma linguagem carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e mágoa. Já <strong>no</strong><br />

primeiro verso é estabeleci<strong>da</strong> a oposição básica que sustenta o texto. De um lado a<br />

figura do poeta, sempre ro<strong>de</strong>a<strong>da</strong> <strong>de</strong> um caráter negativo, <strong>de</strong> outro, os “perfeitos”, os<br />

“príncipes”.<br />

A partir do primeiro verso, o poeta enumera uma seqüência <strong>de</strong> fatos que comprovam<br />

a própria “vileza”. Esses fatos cotidia<strong>no</strong>s <strong>de</strong>sprezíveis remetem a uma profun<strong>da</strong><br />

sensação <strong>de</strong> isolamento, <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptar-se ao mundo.<br />

Álvaro <strong>de</strong> Campos expressa, <strong>de</strong> maneira radical, sua solidão, sua diferença em<br />

relação ao homem comum. O poeta sente-se um marginal, na medi<strong>da</strong> em que todos<br />

os seus conhecidos “têm sido campeões em tudo”. Ele promove uma total <strong>de</strong>molição<br />

<strong>de</strong> si, apontando seus mais graves <strong>de</strong>feitos.<br />

Mas essa avaliação negativa do próprio eu tem um sentido irônico, pois, enquanto<br />

se diminui, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> está se engran<strong>de</strong>cendo diante dos outros. Essa carga <strong>de</strong><br />

ironia sugere certa injustiça que o poeta <strong>de</strong>ixa subentendido. Percebe-se isso <strong>no</strong>s<br />

dois últimos versos: “Arre, estou farto <strong>de</strong> semi<strong>de</strong>uses! On<strong>de</strong> é que há gente <strong>no</strong><br />

mundo”.<br />

Campos é ansioso pelo progresso <strong>de</strong> sua terra, <strong>de</strong>ntre os heterônimos é o único que<br />

apresenta evolução. Esse se propõe a abrir seus sentidos todos ao mundo e à vi<strong>da</strong>,<br />

buscando uma linguagem poética capaz <strong>de</strong> exprimir sua alucinante vonta<strong>de</strong><br />

sensacionalista.<br />

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