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Mulheres negras e não negras vivendo com HIV ... - Nepaids - USP

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As normas e valores sociais incutidos nos corpos e nas mentes humanas<br />

desencadeiam os processos de vulnerabilização. Em consonância <strong>com</strong> as “regras<br />

sociais”, as mulheres têm menos controle das cenas e cenários sexuais, ou seja,<br />

exercem menos controle sobre as circunstâncias da relação sexual e as práticas<br />

protegidas. Nas raras oportunidades de discussão sobre essas e outras características<br />

da relação, a dependência econômica e a falta de argumentos plausíveis <strong>com</strong> seu<br />

mundo amoroso-reprodutivo reforçam suas vulnerabilidades e, assim, do número<br />

elevado de casos entre pessoas de sexo masculino deriva o aumento crescente do<br />

número de casos em mulheres, <strong>com</strong> destaque para aquelas que recebem o rótulo de<br />

“mulheres <strong>com</strong>uns” – monogâmicas, <strong>com</strong> parceiros estáveis e, em sua maioria,<br />

únicos (Santos, 1994, 1996; Barbosa e Villela, 1996; Guimarães, 1996; Villela, 1996;<br />

Santos e Munhoz, 1996; UNAIDS, 1998, 2000, 2002a, 2002b; Barbosa, 1999; Paiva,<br />

1999; OPAS, 2002).<br />

1.3.2 Vidas positivas<br />

Entrevistando mulheres soropositivas atendidas em um serviço de ginecologia<br />

e obstetrícia da cidade de Porto Alegre, Knauth (1999) pôde observar que as<br />

entrevistadas ressaltavam a existência de dois modelos ou padrões de contaminação:<br />

um voluntário, derivado de práticas e <strong>com</strong>portamentos irresponsáveis e condenáveis;<br />

e outro involuntário, que se concretiza no desempenho de suas funções sociais de<br />

esposa (indulgente quanto à conduta do marido/<strong>com</strong>panheiro) e que se dá em<br />

conseqüência da natureza masculina indomável. Em virtude dos valores morais que<br />

hierarquizam as vidas e as experiências vividas, o segundo padrão é <strong>com</strong>umente<br />

legitimado. Reflexões semelhantes já haviam sido apresentadas por Santos (1994,<br />

1996), Santos e Munhoz (1996), Guimarães (1996).<br />

Outro predicado social que contribui para a vulnerabilidade das mulheres ao<br />

adoecimento por aids é o acesso restrito aos serviços de saúde e às informações úteis<br />

e precisas para melhoria de sua qualidade de vida (Gollub, 1999; OPAS, 2002). Tal<br />

restrição deriva principalmente de sua responsabilidade, quase absoluta, pelo cuidado<br />

<strong>com</strong> a família, <strong>com</strong> os doentes, <strong>com</strong> os filhos, <strong>com</strong> o marido, <strong>com</strong> os idosos... Ao se<br />

dedicar ao cuidado <strong>com</strong> os outros, elas tendem a conceber o cuidado <strong>com</strong> a própria<br />

saúde <strong>com</strong>o uma questão de ocasião ou oportunidade, imprimem menos atenção às<br />

mudanças em seu corpo ou mesmo aos sinais e sintomas de adoecimento.<br />

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