LITERATURA LATINA II - Universidade Castelo Branco
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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE<br />
COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA<br />
<strong>LITERATURA</strong> <strong>LATINA</strong> <strong>II</strong><br />
Conteudista<br />
Zeandra dos Santos Oliveira<br />
Rio de Janeiro / 2008<br />
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À<br />
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO<br />
Todos os direitos reservados à <strong>Universidade</strong> <strong>Castelo</strong> <strong>Branco</strong> - UCB<br />
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou<br />
por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da <strong>Universidade</strong> <strong>Castelo</strong><br />
<strong>Branco</strong> - UCB.<br />
Un3l <strong>Universidade</strong> <strong>Castelo</strong> <strong>Branco</strong><br />
Literatura Latina <strong>II</strong> / <strong>Universidade</strong> <strong>Castelo</strong> <strong>Branco</strong>. – Rio de Janeiro: UCB,<br />
2008. - 32 p.: il.<br />
ISBN 978-85-7880-028-4<br />
1. Ensino a Distância. 2. Título.<br />
<strong>Universidade</strong> <strong>Castelo</strong> <strong>Branco</strong> - UCB<br />
Avenida Santa Cruz, 1.631<br />
Rio de Janeiro - RJ<br />
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Tel. (21) 3216-7700 Fax (21) 2401-9696<br />
www.castelobranco.br<br />
CDD – 371.39
Apresentação<br />
Prezado(a) Aluno(a):<br />
É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,<br />
na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, consequentemente, propiciando<br />
oportunidade para melhoria de seu desempenho profi ssional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam<br />
retribuir a sua escolha, reafi rmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma<br />
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.<br />
Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento<br />
teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.<br />
Seja bem-vindo(a)!<br />
Paulo Alcantara Gomes<br />
Reitor
Orientações para o Autoestudo<br />
O presente instrucional está dividido em três unidades programáticas, cada uma com objetivos defi nidos e<br />
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam<br />
atingidos com êxito.<br />
Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares.<br />
A Unidade 1 corresponde aos conteúdos que serão avaliados em A1.<br />
Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das três unidades.<br />
Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o<br />
conteúdo de todas as Unidades Programáticas.<br />
A carga horária do material instrucional para o autoestudo que você está recebendo agora, juntamente com<br />
os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 30 horas-aula, que<br />
você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros<br />
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.<br />
Bons Estudos!
Dicas para o Autoestudo<br />
1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja<br />
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.<br />
2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite<br />
interrupções.<br />
3 - Não deixe para estudar na última hora.<br />
4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.<br />
5 - Não pule etapas.<br />
6 - Faça todas as tarefas propostas.<br />
7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento<br />
da disciplina.<br />
8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a autoavaliação.<br />
9 - Não hesite em começar de novo.
SUMÁRIO<br />
Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 09<br />
Contextualização da disciplina .................................................................................................................... 11<br />
UNIDADE I<br />
INTRODUÇÃO<br />
1.1 - Aspectos históricos ................................................................................................................................... 13<br />
1.2 - A poesia elegíaca de Roma .................................................................................................................. 14<br />
1.3 - A sátira latina ...................................................................................................................................... 16<br />
UNIDADE <strong>II</strong><br />
PRIMEIRO SÉCULO DA ERA CRISTÃ<br />
2.1 - As fábulas de Fedro ............................................................................................................................. 19<br />
2.2 - A formação da prosa latina .................................................................................................................. 19<br />
2.3 - O romance ........................................................................................................................................... 20<br />
UNIDADE <strong>II</strong>I<br />
DO SEGUNDO AO QUINTO SÉCULOS<br />
3.1 - A Patrística ........................................................................................................................................... 22<br />
3.2 - Santo Agostinho ................................................................................................................................... 22<br />
3.3 - A Vulgata Latina .................................................................................................................................. 25<br />
Glossário ......................................................................................................................................................30<br />
Gabarito ........................................................................................................................................................ 31<br />
Referências bibliográfi cas ............................................................................................................................ 32
Quadro-síntese do conteúdo<br />
programático<br />
UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS<br />
I. INTRODUÇÃO<br />
1.1 - Aspectos históricos<br />
1.2 - A poesia elegíaca de Roma<br />
1.3 - A sátira latina<br />
<strong>II</strong>. PRIMEIRO SÉCULO DA ERA CRISTÃ<br />
2.1 - As fábulas de Fedro<br />
2.2 - A formação da prosa latina<br />
2.3 - O romance<br />
<strong>II</strong>I. DO SEGUNDO AO QUINTO SÉCULOS<br />
3.1 - A Patrística<br />
3.2 - Santo Agostinho<br />
3.3 - A Vulgata Latina<br />
• Despertar o interesse para o estudo e análise da Literatura<br />
Latina;<br />
• Conhecer a importância da estética e ideologia dos<br />
escritores da Literatura Latina;<br />
• Oferecer subsídio para a análise e interpretação de<br />
autores de outras épocas literárias.<br />
• Caracterizar as fábulas da Literatura Latina quanto<br />
à época e à natureza dos textos.<br />
• Identifi car as principais obras da Literatura Latina,<br />
caracterizando-a de acordo com a natureza dos textos.<br />
9
Contextualização da Disciplina<br />
Qual a Importância da Literatura Latina?<br />
Tanto a literatura como a fi losofi a latinas apresentam notável infl uência da cultura grega. Seus poetas, dramaturgos,<br />
oradores e fi lósofos constituem, com os gregos, o grande binômio conhecido como “cultura grecolatina”,<br />
que serviu de modelo para a literatura ocidental. Pouco se sabe sobre a literatura latina antes de sua<br />
helenização, mas já existiam alguns gêneros: a oratória, a história e o direito; poemas para serem cantados em<br />
cerimônias; e uma literatura popular nos versos fesceninos e nas farsas atelanas. O esplendor da literatura latina<br />
coincide com a época de Augusto (séculos I a.C.-I). No teatro, destacam-se Plauto (254-184 a.C.) e Terêncio<br />
(184-159 a.C.); e na oratória, Cícero. Virgílio, Horácio e Ovídio elevaram a poesia latina à perfeição expressiva;<br />
a prosa teve autores como Tito Lívio (59 a.C.-19); e a sátira, gênero romano por excelência, Lucílio (149-<br />
103 a.C.), Marcial (40-104 a.C.) e Juvenal (65?-128).<br />
Início da Literatura latina – 250 a 100 a.C.<br />
Dois gêneros iniciam a literatura latina: o teatro e a poesia satírica. A tragédia e a comédia, inspiradas nas<br />
gregas, alcançaram notável desenvolvimento. A tragédia fi cou reservada à leitura e a comédia fl oresceu com<br />
Plauto e Terêncio.<br />
Catão (234 - 149 a.C.) – O primeiro prosador romano escreveu Dicta Catonis (Ditos de Catão), uma coleção<br />
de máximas morais.<br />
A Sátira<br />
É um gênero que nasce latino. Trata-se de uma composição, em verso ou prosa, que critica ou ridiculariza<br />
pessoas ou coisas. Na cultura grega só ganha importância no século I, com as obras de Luciano de Samosata.<br />
O primeiro grande poeta satírico conhecido é Lucílio. Com um estilo simples, Lucílio criticava os costumes<br />
e a vida cotidiana. Pequena parte dos 30 livros que escreveu foi conservada.<br />
Período de 100 a 44 a.C.<br />
A República cai frente ao Império. Três fi guras dominam esse período da literatura latina:<br />
Lucrécio (99? - 55 a.C.?) – Sua obra-prima é o poema didático Da Natureza (De rerum natura), em que proclama<br />
fé na ciência e tenta erradicar as superstições.<br />
Catulo (84-54 a.C.) – Autor de 116 composições de variada extensão e temática: cantos de amor e amizade,<br />
relatos do cotidiano, sátiras políticas, poemas eróticos.<br />
Cícero (106 - 43 a.C.) – Político, orador, retórico, advogado, poeta, fi lósofo e gramático. Escreveu discursos<br />
(Catilinárias); tratados retóricos (Do Orador, O Orador); tratados fi losófi cos e morais (Sobre a Natureza dos<br />
Deuses etc.); cartas e poemas.<br />
Período de 44 a.C. a 18<br />
Época do reinado de Augusto, cuja característica é a perfeição. Surgem muitos poetas e desenvolvem-se escritos<br />
históricos, em especial os de Tito Lívio, autor de História de Roma, em 142 volumes.<br />
11
12<br />
Horácio (65-8 a.C.)<br />
É o poeta da refl exão. Escreveu sátiras, odes e epístolas. Predominam o equilíbrio e a harmonia de suas imagens.<br />
Em seus últimos anos de vida preferiu as epístolas, nas quais tratou de assuntos morais e literários.<br />
Virgílio (71-19 a.C.)<br />
Tem três obras básicas: as Bucólicas, dez églogas em que descreve a natureza como refúgio de paz e sossego;<br />
as Geórgicas, poema didático em quatro partes (agricultura, árvores frutíferas, rebanhos e abelhas), e a Eneida,<br />
poema épico inspirado em Homero, no qual apresenta o imperador Augusto como descendente de Enéias, herói<br />
da Guerra de Troia.<br />
Ovídio (43 a.C.-17)<br />
Na obra do mais jovem poeta da época de Augusto destacam-se: Ars Amandi (A Arte de Amar) e as Metamorfoses,<br />
em que relata as transformações míticas de deuses, homens e heróis. Seu estilo é fácil, elegante e<br />
harmonioso.<br />
Período de 18 a 200<br />
Inicia-se com a morte de Augusto. O Império Romano desmoronava. Ressurge a sátira com Marcial, famoso<br />
por seus epigramas, e Juvenal, crítico violento da sociedade romana.<br />
Nesse período, a tragédia e a épica foram tentativas de recuperar a grandeza passada. Na tragédia, o representante<br />
máximo foi Sêneca (4 a.C. - 65). Autor de tratados fi losófi cos e tragédias: Medéia e Fedra.<br />
Lucano (39-65) escreveu a obra épica mais importante, a Farsália, sobre a guerra civil entre César e Pompeu.<br />
Satiricon, de Petrônio (?-66), um relato satírico de aventuras e viagens em forma novelesca, dá novo ímpeto<br />
à narrativa.<br />
Apuleio (130-180), em sua estranha novela A Metamorfose, ou OAsno de Ouro revela a infl uência das religiões<br />
orientais.
UNIDADE I<br />
INTRODUÇÃO<br />
1.1 1.1– Aspectos Históricos<br />
Todas as civilizações conheceram alguma forma<br />
de poesia, embora variem muito, de grupo para<br />
grupo, as modalidades de composições poéticas<br />
produzidas.<br />
Entre as velhas culturas mediterrâneas, de origem<br />
indo-européia, as mais antigas manifestações<br />
de poesia se associam invariavelmente à música:<br />
são cânticos, portanto, e pelo que deles sabemos,<br />
por meio do exame de formas arcaicas, podemos<br />
supor que tinham como base estrutural o verso, a<br />
unidade rítmica que corresponde à acomodação de<br />
uma frase a um esquema melódico, caracterizado<br />
por certo número de sílabas (ou conjuntos de sílabas)<br />
e pela colocação de sílabas de determinadas<br />
categorias em posições mais ou menos fixas.<br />
Variaram, nas diversas civilizações, os tipos de<br />
versos conhecidos. Enquanto na Grécia, por exemplo,<br />
havia grande quantidade de espécies rítmicas,<br />
adequadas aos diferentes gêneros poéticos, na Itália<br />
central, ao que se sabe, a poesia só se valia de<br />
um único modelo de verso em seus primórdios: o<br />
chamado verso satúrnio.<br />
O desenvolvimento das artes em Roma sofreu influência<br />
das culturas etrusca, grega e, em menor<br />
escala, de outros povos. De 27 a.C. a aproximadamente<br />
200 d.C., houve uma grande produção no<br />
campo artístico. Após a conquista do Mediterrâneo,<br />
os romanos estabeleceram um maior contato<br />
com a civilização grega e com as de outros povos<br />
do Oriente, fato que gerou o início das atividades<br />
literárias e um maior desenvolvimento das artes<br />
em geral.<br />
A literatura romana foi fortemente influenciada<br />
pela civilização grega e pela civilização helenística.<br />
No entanto, não deixou de produzir grandes<br />
obras, que influenciaram posteriormente a produção<br />
literária do Ocidente.<br />
Pode-se dividir a literatura latina da seguinte forma:<br />
• Período antigo: neste, destacam-se Plauto e Terêncio<br />
no teatro – mais especificamente na comédia<br />
–, além de Catão, na prosa.<br />
• Época de Cícero: ao fi m da República, Cícero é o<br />
maior orador, tendo produzido grandes discursos; mas,<br />
além disso, também escreveu inúmeros textos de conteúdo<br />
fi losófi co, sendo sobretudo um "divulgador" da<br />
fi losofi a. Destacam-se ainda Lucrécio, com sua poesia<br />
fi losófi ca; Catulo, na poesia lírica; Júlio César, com<br />
seus comentários acerca das guerras Civil e Gálica; e<br />
Salústio, em narrativas históricas.<br />
• Época de Augusto: esta é a época áurea da literatura<br />
latina. Sob os auspícios de Augusto as artes<br />
tiveram grande impulso, tendo como expoentes da<br />
literatura Virgílio, Horácio, Ovídio e Propércio na<br />
poesia; além de Tito Lívio na história.<br />
• Período da decadência: os destaques são Pérsio,<br />
Juvenal e Marcial na poesia; Petrônio e Apuleio na<br />
prosa; Sêneca, na tragédia e na fi losofi a; Tácito e<br />
Suetônio, na história; e ainda Plínio o Velho, com<br />
seus escritos sobre os conhecimentos científi cos da<br />
época.<br />
Vale lembrar que a literatura na época de Augusto<br />
corresponde à idade de ouro (últimos anos da República<br />
e os primeiros do Império) da literatura romana.<br />
A prosperidade do Império, sob o governo de Otávio<br />
Augusto, foi um poderoso estímulo para o progresso<br />
das letras e das artes. Virgílio (70-19 a. C), o mais<br />
célebre dos poetas romanos, é o autor de Eneida, poema<br />
épico aos moldes da Ilíada e da Odisséia, de<br />
Homero. Em Os trabalhadores da terra, Virgílio nos<br />
leva a conhecer melhor a vida do camponês romano.<br />
Ovídio (43 a.C -17 d.C) apresenta-nos a alma feminina<br />
e o papel da mulher na sociedade romana, com<br />
a sua obra A arte de amar.<br />
Lucrécio (96-53 a.C), poeta e fi lósofo, discorre sobre<br />
o pensamento fi losófi co dos gregos, as origens<br />
da vida em sociedade e os primeiros progressos da<br />
civilização, em sua obra Da natureza das coisas.<br />
A produção histórica entre os romanos foi fortemente<br />
valorizada, reconhecida como a "mestra da<br />
vida", pois possibilitava os seres humanos a compreender<br />
o seu destino. Entre os principais historiadores<br />
da Roma Antiga estão Tácito (55-118 d.C), o mais<br />
famoso deles e autor de Anais e Histórias; e Suetônio<br />
(69-140 d.C), autor de Vida dos doze Césares.<br />
13
14<br />
1.2 – A Poesia Elegíaca de Roma<br />
Ao lado da poesia pastoril e da ode, a elegia é a uma<br />
forma poética que atinge grande desenvolvimento na<br />
época de Augusto.<br />
Pouco se sabe sobre as origens dessa modalidade<br />
poética. Expandindo-se na Grécia durante toda a Idade<br />
Média Lírica como uma das principais manifestações<br />
da poesia monódica, supõe-se, contudo, que<br />
provenha do Oriente, dado o fato de ter sido cantada<br />
originalmente ao som de música de fl auta, instrumento<br />
musical inventado provavelmente na Ásia.<br />
Na Grécia, a elegia descreveu longo percurso literário.<br />
Caracterizando-se pela construção formal<br />
– compõe-se de estrofes de dois versos denominadas<br />
dísticos elegíacos –, a elegia nasceu possivelmente<br />
como treno ou lamentação fúnebre. Entre os séculos<br />
V<strong>II</strong> e VI a.C., tomou rumo diverso, servindo de veículo<br />
à expressão patriótica; assumiu, depois, caráter<br />
moral e, fi nalmente, sentimental. Perdendo algo de<br />
sua primitiva importância no século V, vai recuperála<br />
na época Alexandrina, quando se torna uma das<br />
formas literárias prediletas, prestando-se à exposição<br />
de lendas mitológicas, sobretudo das que continham<br />
elementos eróticos.<br />
Como poesia erótico-mitológica, a elegia foi introduzida<br />
em Roma, onde, imediatamente, assumiu dimensões<br />
especiais, colocando-se a serviço do amor<br />
subjetivo ou retomando, novamente, o caráter patriótico.<br />
Dos primeiros autores de poemas elegíacos pouco<br />
restou. Há fragmentos inexpressivos da obra de Licínio<br />
Calvo, Varrão de Átax e Comélio Galo. Sabe-se,<br />
porém, que cantaram, em seus versos, as fi guras de<br />
mulheres, supostamente identifi cadas com amadas<br />
reais dos poetas.<br />
De Catulo temos três elegias. A primeira (Catul.<br />
64) é de cunho mitológico e se baseia na poesia da<br />
Calímaco, poeta alexandrino que exerceu grande infl<br />
uência sobre Propércio e Ovídio. Nela Catulo relata<br />
uma lenda, segundo a qual um cacho de cabelos da<br />
rainha Berenice oferecido aos deuses em sacrifício<br />
transformou-se em cometa. A segunda (Catul. 65) é<br />
uma espécie de epicédio, em que o poeta lamenta a<br />
morte de seu irmão. A terceira (Catul. 68), bastante<br />
complexa quanto à construção, mescla amor subjetivo<br />
e erotismo mitológico. Nela o poeta justapõe à<br />
fi gura de Lésbia a de Deidamia, personagem bastante<br />
explorada pela lírica Alexandrina.<br />
Se, entretanto, dessas primeiras manifestações elegíacas<br />
não há muita coisa a ser dita, a modalidade<br />
literária vai ganhando impulso com Tibulo e Propércio<br />
– responsáveis por signifi cativo número de elegias<br />
– e com Ovídio, cuja versatilidade poética o fez<br />
enveredar por diversos caminhos da poesia.<br />
As Elegias de Tibulo: o Corpus Tibullianum<br />
Frequentador do chamado Círculo de Messala, Tibulo<br />
(Albius Tibullus - 60? - 19? a.C.) é um dos legítimos<br />
representantes da juventude que viveu nos dias<br />
de Augusto. Sem grandes interesses políticos ou militares<br />
(conquanto, ao que parece, tenha participado de<br />
algumas campanhas) e sem maiores expectativas no<br />
plano profi ssional, Tibulo cultivou (ou disse que cultivava)<br />
o amor livre, a vida simples, a paz e o otium,<br />
ou seja, a inatividade preconizada pelo epicurismo,<br />
que não pode ser confundida com a preguiça ou o lazer<br />
prazeroso, mas que se identifi ca com a disponibilidade<br />
que propicia a meditação, a contemplação, a<br />
atividade teorética.<br />
O nome de Tibulo é frequentemente associado ao de<br />
Valério Messala, seu protetor, fi gura que soube aliar à<br />
atividade artística intensa vida de campanhas militares.<br />
As elegias que Tibulo compôs não só evocam, de<br />
quando em quando, a pessoa de Messala ou as de familiares<br />
seus, como foram agrupadas num conjunto,<br />
os chamados Corpus Tibullianum, que enfeixa produções<br />
poéticas de diversos escritores relacionados com<br />
o Círculo de Messala, o salão literário mantido pela<br />
personagem em questão.<br />
Esse discutível Corpus é composto de três livros (ou<br />
quatro, segundo um outro critério de agrupamento e<br />
divisão). Os dois primeiros, compreendendo respectivamente<br />
dez e seis poemas, são indiscutivelmente<br />
de autoria de Tibulo: o estilo uniforme e característico<br />
não deixa margens de dúvida. O terceiro livro é<br />
bastante complexo, encontrando-se nele um aglomerado<br />
irregular de vinte poemas. Há, inicialmente, seis<br />
elegias (<strong>II</strong>I, 1-6) de autoria ignorada, nas quais um<br />
poeta, chamando a si próprio de Lígdamo (Lygdamus)<br />
– pseudônimo poético, evidentemente –, canta<br />
o amor pela jovem e bela, o sofrimento advindo de<br />
um sentimento não correspondido. Embora apresentem<br />
certa beleza, essas elegias não podem ser atribuídas<br />
a Tibulo, uma vez que o estilo delas não se<br />
assemelha ao dos poemas considerados autênticos.<br />
Em seguida, há um panegírico anônimo, em versos<br />
hexâmetros, dedicado a Messala. Após o panegírico<br />
(<strong>II</strong>I, 7), há cinco elegias compostas possivelmente por<br />
Tibulo (<strong>II</strong>I, 8-12). Embora reduzidas em suas dimensões,<br />
o estilo nelas observado se aproxima do estilo<br />
dos poemas dos dois primeiros livros. Nessas cinco<br />
elegias desenvolvem-se os mesmos temas explorados<br />
nos seis poemetos seguintes (<strong>II</strong>I, 13-18), seis curtos<br />
epigramas cuja autoria é atribuída a Sulpícia, sobrinha<br />
de Messala. São pequenos bilhetes de amor em<br />
versos, nos quais uma jovem mulher fala de sua paixão<br />
por Cerinto, um escravo, possivelmente. Os dois<br />
últimos poemas do terceiro livro (<strong>II</strong>I, 19-20) voltam a<br />
ser de autoria de Tibulo.
Em todas as elegias que ele compôs, existem<br />
certas tônicas inconfundíveis. Tibulo – como o<br />
fizera Catulo e como o vão fazer outros contemporâneos<br />
– canta o amor puro e desinteressado,<br />
entendendo-se por pureza não a sacralização<br />
através do matrimônio, mas, sim, a sinceridade<br />
amorosa que faz uma pessoa inclinar-se por outra<br />
e desejá-la. Não importa qual seja o objeto<br />
dessa espécie de amor. Nas elegias que Tibulo<br />
consagra a Délia – uma jovem bela, delicada e<br />
loura (1, 1; 2; 3; 5 e 6) – existe essa “pureza”,<br />
apesar de o fato de ser ela apresentada como<br />
uma mulher casada. A mesma “pureza” existe<br />
no amor que o “eu poético” devota a Márato, o<br />
escravo (1,4; 8 e 9), e a Nêmesis, a prostituta<br />
(lI, 3; 4 e 6). A ausência de laços matrimoniais<br />
e o homossexualismo não “poluem” o amor, não<br />
lhe tiram o halo de “quase-santidade”.<br />
As Elegias de Propércio<br />
Contemporâneo de Tibulo, mas em tudo diferente<br />
do “cantor de Délia”, muito embora também<br />
tivesse escolhido a elegia como forma de<br />
expressão poética, Propércio (Sextus Propertius<br />
- 45? - 15? a.C.) chegou a ser considerado algumas<br />
vezes como um poeta de menor importância.<br />
A crítica moderna, porém, tem procurado<br />
rever esse posicionamento, atribuindo-lhe um<br />
justo valor.<br />
Como seus predecessores e contemporâneos,<br />
Propércio compôs, sobretudo, elegias amorosas,<br />
imortalizando nos versos a figura inesquecível<br />
de Cíntia.<br />
Os biógrafos dos poetas ditos subjetivos procuraram,<br />
desde a Antiguidade, identificar as figuras<br />
das “musas inspiradoras” que surgem nos<br />
poemas como mulheres reais, conferindo assim<br />
aos textos poéticos uma importância documental.<br />
Essa atitude é hoje encarada com muitas restrições.<br />
Os poemas de inspiração Alexandrina,<br />
em vez de serem considerados como peças confessionais,<br />
são vistos atualmente como obras<br />
artísticas, construídas rigorosamente de acordo<br />
com padrões estéticos especiais. Admite-se,<br />
pois, não somente que o poeta alexandrino se<br />
apoiasse em modelos e cânones como também<br />
que burilasse o verso da mesma forma que o<br />
artesão esculpia a estatueta ou retocava o camafeu.<br />
É, realmente, muito difícil tentar entrever a<br />
confissão de sentimentos reais numa obra poética<br />
em que o artificialismo impera e tudo é convencional<br />
e maneiroso, dos temas às imagens,<br />
do vocabulário aos exemplos.<br />
Assim, a bela Cíntia, de cabelos loiros e olhos<br />
brilhantes como estrelas, “esbelta no porte e divina<br />
no andar”, passou a ser vista como uma<br />
criação estética e não como a mulher volúvel e<br />
perjura, ambiciosa e frívola, vaidosa e pérfida,<br />
que torturou o poeta nos longos anos em que<br />
ele, como servo humilde e fiel, esteve a seus<br />
pés, pronto a satisfazer-lhe os desejos e caprichos.<br />
Como criação literária, Cíntia não precisa ser<br />
associada a uma dama qualquer da sociedade da<br />
época; não há mais necessidade de elucubrações<br />
sobre seu nome verdadeiro, sua idade, seu estado<br />
civil e sua posição. Dela temos o que o texto<br />
nos dá, e isso já é o bastante. Propércio fartouse<br />
de trabalhar na modelagem de sua criação.<br />
Construiu um retrato feminino complexo, o<br />
mais detalhado de toda a poesia latina conhecida.<br />
Esmerou-se na caracterização dos pormenores<br />
físicos, compôs sua textura psicológica,<br />
conferiu-lhe personalidade. Mostrou-nos Cíntia<br />
em diversas situações: adormecida como uma<br />
bacante cansada, provocante e sensual em seu<br />
traje transparente, dançando, bebendo, jogando<br />
dados, esmorecida e doente no leito de morte,<br />
tomando sol na praia e contemplando o mar,<br />
conduzindo a biga veloz no meio da noite, festejando<br />
o aniversário, dirigindo-se ao templo,<br />
esbofeteando o amante num acesso de ciúme,<br />
desnudando-se diante dele numa noite de amor.<br />
Até morta, como espectro saído do mundo das<br />
trevas, Propércio a coloca ante os olhos, com<br />
seus atributos de sempre, seus cabelos esvoaçantes,<br />
seus olhos ardentes.<br />
Das noventa e duas elegias que compôs, setenta<br />
e três se ocupam do amor e, na grande maioria<br />
delas, a figura de Cíntia domina o texto.<br />
São quatro os livros de elegias escritos por<br />
Propércio (Elegiarum libri IV). O primeiro, o<br />
Livro de Cíntia (Cynthia monobiblos), foi publicado<br />
durante a curta vida do escritor, em 27<br />
a.C., provavelmente. Contém vinte e duas peças<br />
elegíacas. Acredita-se que Mecenas, o “ministro”<br />
de Augusto, tenha então insistido com<br />
o poeta para que ele, a exemplo de Virgílio e<br />
Horácio, colocasse sua inspiração a serviço da<br />
política imperial, escrevendo sobre temas patrióticos<br />
ou cívicos. No início do livro <strong>II</strong> o poeta<br />
deixa de escrever tal fato. Dirigindo-se a Mecenas,<br />
fala sobre a impossibilidade de aquiescer<br />
ao convite que lhe teria sido feito, uma vez que<br />
sua lira, até então, só se deixara tanger pelo sentimento<br />
amoroso.<br />
15
16<br />
1.3 - A Sátira Latina<br />
A sátira latina não só desperta interesse por suas<br />
próprias características, por afi gurar-se como uma espécie<br />
de crônica social em versos, como também por<br />
ter sido amiúde considerada como um gênero poético<br />
original. A seu respeito e em consideração ao fato<br />
de não se inspirar em modelos gregos equivalentes,<br />
afi rmou Quintiliano na Instituição – a sátira é toda<br />
nossa (satura tota nostra est - Inst. -.93), – porém é<br />
necessário fazer uma distinção entre as sátiras literárias<br />
que chegaram até nossos dias, trazendo preciosas<br />
informações sobre a vida cotidiana do romano, e a<br />
satura dramática da época primitiva. As sátiras literárias,<br />
produzidas por diversos autores, são composições<br />
poéticas narrativo-dissertativas ou dialogadas,<br />
que, apresentando fatos ou pondo pessoas em foco<br />
ridicularizam os vícios e defeitos de maneira jacosa e<br />
assumem não raro um tom fi losófi co-moral; a satura<br />
dramática é uma modalidade teatral rudimentar, que<br />
nunca encontrou expressão escrita e resulta da combinação<br />
de cantos fesceninos com danças mímicas.<br />
A mesma palavra – satura – foi utilizada para designar<br />
duas coisas distintas, a forma dramática embrionária<br />
e a espécie literária.<br />
Da forma dramática, que desapareceu em sua condição<br />
de modalidade primitiva, temos apenas vagas referências.<br />
Possivelmente, dado o seu caráter cômico,<br />
os atores se valessem de brincadeiras e caçoadas na<br />
representação, sendo esse talvez o ponto de contato<br />
com a sátira literária que também usava a zombaria<br />
como um de seus ingredientes essenciais.<br />
Muitas elucubrações linguísticas foram feitas em<br />
torno da palavra satura. Alguns nela viram uma possível<br />
origem grega, aproximando-a do nome dos sdtiros<br />
(satyroz), divindades campestres associadas aos<br />
faunos e presentes nos dramas satíricos. Tais dramas,<br />
porém, nada têm a ver com a satura dramática. De<br />
outro lado, como a palavra satura designava também<br />
cesta de primícias de frutas de várias qualidades, ofertada<br />
aos deuses no início do outono, e uma espécie<br />
de patê em cuja composição eram usados diferentes<br />
tipos de carne, a aproximação metonímico-catacrética<br />
possivelmente foi feita. A característica da satura<br />
– dramática ou literária – seria exploração de assuntos<br />
variados em sua composição e a utilização de diversidade<br />
de metros e de tons. Em ambos os casos pode<br />
ser considerada como criação latina.<br />
Ênio foi o primeiro poeta romano a dar o nome de<br />
sátiras (Saturae) a uma coletânea de poemas variados<br />
que compôs em metros diversos, agrupando-os<br />
em quatro livros. Desses poemas restam apenas fragmentos,<br />
insufi cientes para que neles sejam verifi cadas<br />
suas principais peculiaridades.<br />
A Sátira de Lucílio<br />
Lucílio (Caius Lucilius - 180-103 a.C.) pertencia à<br />
alta sociedade da época e era bastante rico; por essa<br />
razão, ao escrever suas sátiras, teve liberdade sufi -<br />
ciente para atacar tudo aquilo que julgou censurável:<br />
a venalidade dos homens públicos, a corrupção, a vaidade,<br />
o luxo, a gula e até mesmo o esnobismo helenizante<br />
daqueles que repudiavam sua própria cultura<br />
e língua.<br />
Compondo trinta livros de sátiras, dos quais restam<br />
cerca de 1.400 versos, Lucílio se refere, no prefácio<br />
do livro XXVI, a sua “intenção literária”: escrever<br />
com simplicidade, espontaneidade e realismo. A essas<br />
características que iriam marcar sua obra poderíamos<br />
acrescentar o moralismo, a franqueza e a precisão.<br />
Diversos são os temas abordados nas sátiras. De maneira<br />
geral Lucílio ridiculariza o que considera como<br />
defeito a ser corrigido, merecendo especial menção<br />
as sátiras em que o poeta, apontando modismos de<br />
estilo e de linguagem, acaba por apresentar questões<br />
de interesse literário.<br />
Um tom fi losófi co-moralista perpassa sua obra; embora<br />
ele não se fi liasse rigorosamente a uma corrente<br />
de pensamento nem procurasse divulgar princípios<br />
doutrinários, valeu-se da moral comum, própria das<br />
pessoas de bom senso. Lucílio se utilizou de muitos<br />
tipos de versos (jâmbicos, trocaicos, dísticos elegíacos),<br />
empregando predominantemente o hexâmetro<br />
que se tornaria mais tarde o metro usual dos poetas<br />
satíricos. Seu estilo, um pouco irregular – decorrência<br />
talvez do pouco tempo de que dispôs para escrever<br />
obra tão vasta –, chegou a ser censurado por alguns,<br />
mas não foi levado em conta na avaliação dos méritos<br />
de um pioneiro que agradou ao público.<br />
Varrão e as Sátiras Menipéias<br />
Após Lucílio, a sátira vai encontrar muitos cultivadores<br />
em Roma. Entre eles não poderíamos deixar de<br />
citar Varrão (Marcus Terentius Várro - 116-27 a.C.),<br />
autor de uma obra imensa e variada, da qual, infelizmente,<br />
pouca coisa restou. Entre os 74 trabalhos<br />
que escreveu – 600 livros, aproximadamente – estão<br />
as Sátiras menipéias (Saturae Menippeae), cerca de<br />
cento e cinquenta poemas inspirados nas diatribes de<br />
Menipo de Gádara, fi lósofo grego do século IV a.C.<br />
Como nesses textos Varrão mistura prosa e verso, a<br />
expressão sátira menipéia passou a designar uma forma<br />
literária mista não só sob o aspecto formal mas<br />
também quanto ao conteúdos e ao tom.
Os fragmentos supérstites dessas sátiras demonstram<br />
que o escritor sofreu infl uência de Ênio e de<br />
Lucílio e atestam fi nalidade moralística dos poemas;<br />
aproveitando-se dos múltiplos incidentes que marcaram<br />
a vida romana da época.<br />
As Sátiras de Horácio<br />
Entre 41 e 30 a.C., Horácio compôs suas primeiras<br />
obras: os Epodos (Epodoi), dezessete poemas líricos<br />
de tom satírico, e as Sátiras (Sermones), em dois livros.<br />
O mesmo caráter jocoso, resvalando pelo irônico<br />
e, por vezes, pelo mordaz, perpassa essas obras<br />
nas quais se percebe também, a todo o momento, a<br />
preocupação fi losófi ca. Os Epodos, conquanto sejam<br />
usualmente considerados apenas como poemas líricos,<br />
estão muito próximos das Sátiras. É certo que<br />
no primeiro poema dos Epodos Horácio fala de sua<br />
amizade por Mecenas, da vida simples que se leva<br />
no campo e da paz que almeja acima de tudo; que no<br />
nono há uma exaltação à vitória de Augusto, em Ácio,<br />
e no décimo sexto a lembrança idealizada de uma<br />
nova idade de ouro. Tais temas o fazem prenunciar as<br />
Odes, das quais se aproximam. Todavia, a infl uência<br />
de Arquíloco, poeta lírico grego do século V<strong>II</strong> a.C.,<br />
que utilizou metros jâmbicos para expressar o lirismo<br />
satírico, se faz presente em alguns ataques pessoais<br />
contra fi guras vivas, na ironia sutil que desprende dos<br />
poemas e na evidente preocupação com a pregação<br />
de caráter moral: característica peculiar da poesia dita<br />
satírica.<br />
Os Epodos são, portanto, uma espécie de elemento<br />
mediador entre as Sátiras e as Odes, mostrando de<br />
forma ainda não muito pronunciada as qualidades do<br />
poeta que iria renovar o gênero satírico, em Roma.<br />
Nas sátiras essas qualidades desabrocham. Embora<br />
Horácio não tenha conseguido libertar-se totalmente<br />
da infl uência de Lucílio, quem, aliás, criticou com alguma<br />
dureza, deu uma nova confi guração à sátira.<br />
A Sátira Pós-Horaciana: a Apocolocintose<br />
de Sêneca<br />
Se, na época de Augusto, o ambiente político era<br />
desfavorável à sátira sarcástica e virulenta, a situação<br />
se agrava no momento em que exercem seus mandatos<br />
imperadores totalitários e intransigentes como Tibério,<br />
Calígula e Cláudio. Na época de Nero, todavia,<br />
o gênero volta a encontrar adeptos, reaparecendo com<br />
a Apocolocintose (Apocolocynthosis) de Sêneca e as<br />
Sátiras (Saturarum liber) de Pérsio.<br />
Para compreender a Apocolocintose e tentar chegar<br />
às razões que teriam determinado a elaboração do texto,<br />
é importante conhecer alguns pormenores da vida<br />
de Sêneca. Figura de projeção no mundo literário e<br />
político, Sêneca fora banido de Roma por Cláudio,<br />
em 41, por prováveis intrigas palacianas. Após permanecer<br />
oito anos exilado na miserável ilha de Córsega,<br />
foi redimido, graças à intervenção de Agripina,<br />
que se casara com Cláudio, e pôde retornar a Roma.<br />
Tornou-se então preceptor do jovem Nero, fi lho de<br />
Agripina, adotado pelo imperador, passando a desfrutar<br />
de invejável posição. Após a morte de Cláudio, em<br />
circunstâncias estranhas e discutíveis, provavelmente<br />
envenenado pela própria esposa, Sêneca escreveu um<br />
elogio fúnebre que foi lido por Nero, durante os funerais.<br />
Mas logo depois, uma vez que nunca perdoara<br />
Cláudio os males que este lhe causara ao bani-lo da<br />
cidade, Sênica, num autêntico ato de vingança tardia,<br />
escreveu Apocolocintose deixando que seus sentimentos<br />
ali se extravasassem.<br />
Durante a realização dos funerais dos imperadores<br />
ilustres, costume que se iniciou com Júlio César,<br />
ocorria a cerimônia da apoteose do morto, ou seja,<br />
sua deifi cação, sua transformação em deus.<br />
A Apocolocintose – “aboborifi cação”, literalmente<br />
– parodia o que poderia ser a narração de uma apoteose:<br />
é o relato de como o imperador, após a morte,<br />
foi recebido no Inferno pelos deuses. Sátira menipéia<br />
– com partes em verso alternadas com outras em<br />
prosa –, engraçada, espirituosa e imaginativa, a Apocolocintose<br />
caricatura o morto e prenuncia uma nova<br />
idade de ouro: a época que se inicia com o governo<br />
de Nero.<br />
Esse aspecto de gênio criativo e satírico de Sêneca<br />
é observado também em alguns trechos das obras<br />
fi losófi cas, nas quais o escritor relembra anedotas e<br />
fatos pitorescos, oferecendo-nos fl agrantes curiosos<br />
da vida romana.<br />
Na Apocolocintose, porém, a capacidade para a sátira<br />
é demonstrada em toda a sua extensão. Sêneca<br />
constrói a fi gura de um Cláudio abobalhado, surdo,<br />
ridículo e maldoso, que assiste ao próprio enterro e<br />
custa a perceber que está morto.<br />
As Sátiras de Pérsio<br />
Contemporâneo e amigo de Sêneca, embora muito<br />
mais jovem do que o poeta-filósofo, Pérsio (Aules<br />
Persius Flaccus 34-62) deixou para a posteridade<br />
uma pequena coletânea de seis sátiras, publicadas<br />
após a morte prematura do poeta.<br />
Duas influências dominantes marcam a obra de<br />
Pérsio: de Lucílio, o criador da sátira latina, cuja<br />
obra o escritor teria lido na juventude, e a de Cornuto,<br />
que, com suas lições, iniciara o jovem no conhecimento<br />
do estoicismo.<br />
17
18<br />
São variados os assuntos explorados por Pérsio nas<br />
Sátiras. A primeira versa sobre uma questão literária.<br />
É um diálogo em que o eu-narrador discute com um<br />
poeta anônimo, defensor da poesia moderna, e combate<br />
as tendências helenizantes.<br />
A Obra de Juvenal<br />
Vivendo entre o fi m do século I e o início do século <strong>II</strong><br />
d.C., Juvenal (Decimus Iunius Iuuenalis - 60?-130?)<br />
escreveu dezesseis sátiras (Satyrae), nas quais, com<br />
realismo e alguma violência, censurou os vícios da<br />
época e discorreu sobre questões de moral. As sátiras<br />
se agrupam em cinco livros, embora, para efeito de<br />
indicação, costumem ser numeradas em sequência.<br />
O livro I apresenta cinco sátiras, cujo tom é áspero e<br />
agressivo, próprio de quem pretende acusar para corrigir.<br />
Nelas Juvenal explorou os seguintes assuntos:<br />
a vocação do poeta satírico (I), a hipocrisia (<strong>II</strong>), os<br />
problemas da vida citadina (<strong>II</strong>I), a prodigalidade e a<br />
tolice dos nobres (IV), o parasitismo (V). São poemas<br />
Exercícios de Autoavaliação<br />
1. O que disse Quintiliano a respeito da sátira latina?<br />
2. O que designa a palavra satura?<br />
3. Comente sobre as sátiras de Lucílio.<br />
4. Que são Esopos?<br />
5. Quais as infl uências dominantes que marcam a vida de Pérsio?<br />
6. Comente sobre a elegia na Grécia.<br />
7. Quais são as elegias que temos de Catulo?<br />
que demonstram grande originalidade. O livro <strong>II</strong> contém<br />
apenas uma sátira (VI), na qual o poeta se detém<br />
em considerações sobre as mulheres; o livro <strong>II</strong>I apresenta<br />
três poemas que focalizam, respectivamente, a<br />
miséria sofrida pelos homens de letras (VIl), as características<br />
da verdadeira nobreza (V<strong>II</strong>I) e o problema<br />
da devassidão (IX). O tom das sátiras se modifi ca nos<br />
livros IV e V, aproximando-se do de Pérsio. No livro<br />
IV Juvenal fala da natureza dos votos (X), do luxo excessivo<br />
e dos prazeres da mesa (XI), e do retorno de<br />
um ente querido (X<strong>II</strong>); no livro V aborda assuntos relacionados<br />
com o remorso (X<strong>II</strong>I), o valor do exemplo<br />
na educação (XIV), as superstições egípcias (XV) e<br />
as vantagens da carreira militar (XVI). A última sátira<br />
não está completa.<br />
Variadas quanto ao assunto, as sátiras de Juvenal<br />
também o são quanto à extensão: a mais curta tem 130<br />
versos e a mais longa, 660. O estilo, embora monótono<br />
em alguns trechos, é brilhante, rico e carregado de<br />
retoricismo. São abundantes os recursos ornamentais<br />
empregados para a obtenção de efeitos estéticos.
UNIDADE <strong>II</strong><br />
PRIMEIRO SÉCULO DA ERA CRISTÃ<br />
2.1 - As Fábulas de Fedro<br />
Em um estudo sobre a poesia latina não poderíamos<br />
deixar de fazer uma referência especial às Fábulas<br />
(Fabuae) de Fedro (Caius Iulius Phaedrus ou Phaeder),<br />
cujo tom moralista é indiscutível.<br />
Embora seja o primeiro escritor a escrever fábulas<br />
em latim, Fedro não é romano. Nasceu na Trácia, foi<br />
levado a Roma como escravo, pertenceu ao imperador<br />
Augusto e foi por esse libertado. Suas fábulas, em<br />
número de 123, agrupam-se em cinco livros. Inspirando-se<br />
em fábulas gregas atribuídas a Esopo, Fedro<br />
as modifi cou e escreveu também alguns poemas originais.<br />
Utilizou-se do mesmo recurso empregado na<br />
fábula grega – narrar uma pequena história alegórica,<br />
2.2 - A Formação da Prosa Latina<br />
Embora a escrita tivesse aparecido muito cedo em<br />
Roma, a chamada prosa literária só vai desenvolverse<br />
tardiamente. Quando falamos em prosa literária<br />
não estamos referindo-nos a textos quaisquer, mas,<br />
sim, àqueles que revelam terem sido alvo de preocupação<br />
especial do autor no tocante ao tratamento<br />
estético da linguagem.<br />
São da chamada “época primitiva” as primeiras<br />
inscrições latinas em prosa. Têm inestimável valor<br />
documental, evidentemente, mas falta-lhes o apuro<br />
estilístico que caracteriza as obras literárias.<br />
O mesmo ocorre com os primeiros documentos públicos,<br />
que existiam em número bastante expressivo<br />
que podiam ser classifi cados em diversas categorias:<br />
Arquivos, Comentários, Anais, Livros. Os Arquivos<br />
ou Atos (Acta) são registros de acontecimentos ligados<br />
à magistratura. Existiram desde tempos muito<br />
remotos até a época de Júlio César, que, instituindo<br />
ofi cialmente os Atos do Senado e do Povo (Acta senatus<br />
et populil), pretendeu documentar tudo aquilo<br />
que se decidia nas sessões do Senado e nas assembléias<br />
populares, a fi m de que se evitassem as falsifi -<br />
cações e fosse possível controlar, de alguma forma, as<br />
deliberações. Os Comentários (Comentarii), muitos<br />
dos quais anônimos, eram anotações e registros de<br />
atos de pontífi ces e sacerdotes. Os Anais (Annales)<br />
eram calendários organizados pelo sumo pontífi ce,<br />
nos quais se registravam os dias fastos e nefastos e<br />
as datas importantes do ponto de vista político ou<br />
cujas personagens são animais simbólicos, e com ela<br />
ilustrar um pensamento ou máxima moral –, mas se<br />
distanciou, em parte, do modelo. Escreveu em versos<br />
jâmbicos quando as fábulas atribuídas a Esopo são<br />
em prosa; aludiu claramente a fatos e pessoas de sua<br />
época, o que lhe valeu o exílio, na época de Tibério,<br />
quando Sejano, principal auxiliar do imperador, se<br />
viu retratado em alguns dos poemetos conseguiu ser<br />
pitoresco, mesmo construindo textos extremamente<br />
breves, e primou pela vivacidade do diálogo.<br />
Bastante difundidas, imitadas por escritores de várias<br />
épocas e nacionalidades, as fábulas de Fedro conservam<br />
a pureza e a nobreza.<br />
religioso. Os Livros (Libri) consistiam em anotações<br />
sobre feitos importantes de magistrados ou de pontífi<br />
ces. Esses textos, embora não tenham valor literário<br />
propriamente dito, são fontes importantíssimas para o<br />
conhecimento da história romana.<br />
O mesmo se pode dizer dos primeiros textos legais.<br />
Se nada apresenta de artístico um documento como a<br />
Lei das X<strong>II</strong> Tábuas, por exemplo, seu valor histórico<br />
e jurídico é imenso. Considerado como o mais antigo<br />
texto latino – escrito por volta de 450 a.C. –, apresenta<br />
frases rígidas e sem muita articulação. Conserva,<br />
entretanto, uma cadência rítmica especial que lembra<br />
as sentenças versifi cadas.<br />
Dessa forma, só podemos falar, realmente, em prosa<br />
literária quando, no início da chamada época helenística,<br />
a infl uência grega se torna sensível e a linguagem<br />
poética, estruturada nas obras em verso, passa ser utilizada<br />
também nos textos em prosa. Desenvolvem-se<br />
então os gêneros literários, representados por obras<br />
de real valor. Desabrocham a história, a oratória (de<br />
que Ápio Cláudio Cego, ao fi nal da época primitiva,<br />
teria sido possivelmente um dos iniciadores), a retórica,<br />
a epistolografi a, a fi losofi a e a erudição. Nasce o<br />
romance. Embora seja este o gênero mais novo – teria<br />
surgido ao alvorecer de nossa era. Diante dos demais<br />
gêneros, primordialmente pragmáticos e informativos,<br />
o romance desfruta de uma importância especial<br />
pela fi nalidade estética que tem pela originalidade de<br />
que se reveste.<br />
19
20<br />
2.3 - O Romance<br />
A primeira obra que, por sua estrutura e características,<br />
poderia ser considerada como romance é o<br />
Satiricon, de Petrônio, texto basicamente em prosa,<br />
apesar de apresentar, ocasionalmente, alguns trechos<br />
em verso. A obra chegou fragmentada aos nossos<br />
dias e seu título em latim. Hesita-se entre Satiricon<br />
ou Satyricon libri (Livros de assuntos referentes aos<br />
sátiros) e Saturae (Sátiras). Embora não haja no texto<br />
referências expressas a sátiros – personagens mitológicas<br />
que pertenciam ao cortejo de Dioniso –, o título<br />
Satiricon ou Satyricon libri não seria descabido uma<br />
vez que o romance gira em torno da lubricidade, da<br />
qual os sátiros representam o símbolo, e nele se alude<br />
a um cerimonial em homenagem a Priapo, divindade<br />
que, de certa forma, também se associa ao culto<br />
de Dioniso. Por outro lado, uma vez que no texto se<br />
alternam partes em prosa e trechos em verso, procedimento<br />
comum na chamada sátira menipéia, o título<br />
Saturae também não seria inadequado. Fica a dúvida,<br />
pois. O livro, entretanto qualquer que fosse seu título,<br />
é indiscutivelmente uma da mais curiosas obras deixadas<br />
pela Antiguidade.<br />
O Satiricon<br />
Atribui-se a autoria do Satiricon a um certo Petrônio<br />
e, embora entre os séculos I e <strong>II</strong>I de nossa era vários<br />
escritores romanos assim se chamassem, a tradição<br />
considera como autor do texto o famoso Caio ou Tito<br />
Petrônio (Caius ou Titus Petronius - ?-65 d.C), o árbitro<br />
da elegância que frequentava a corte de Nero<br />
e cuja morte, decorrente da suposta participação do<br />
intelectual na conspiração de Pisão, foi descrita por<br />
Tácito nos Anais (XVI, 18).<br />
O Satiricon está incompleto. Temos alguns trechos<br />
dos livros XIV, XV e XVI de uma grande obra cujo<br />
início e cujo fi m se perderam. Nos fragmentos supérstites<br />
podemos apreciar fl ashes de uma divertida<br />
e fantástica história vivida por três jovens depravados<br />
– Encólpio, Ascilto e Gitão – e um velho poeta,<br />
Eumolpo, que peregrinam por cidadezinhas da Itália<br />
meridional. Embora conheçamos a história só a partir<br />
de um determinado ponto, é possível acompanhar<br />
relativamente bem o fi o condutor do enredo. Logo de<br />
início defrontamo-nos com Encólpio, o narrador, perdido<br />
na cidade em que está por ter saído à procura de<br />
seu amigo Ascilto. Uma velha mulher se oferece para<br />
guiá-lo e o conduz a um bordeI. A descrição do local<br />
é minuciosa e engraçadíssima; apresenta lances tão<br />
inesperados que ousaríamos qualifi cá-los de surrealistas.<br />
Depois de alguns incidentes e de serem “atacados”<br />
por frequentadores do bordel, os dois jovens,<br />
cada um por sua vez, conseguem fugir. Ao chegar<br />
à hospedaria, Encólpio encontra seu amante, Gitão,<br />
que, em prantos, lhe relata como foi “abordado” por<br />
Ascilto. Há sério desentendimento entre os rivais e<br />
eles partem alguns dias depois para a casa de campo<br />
de alguns amigos. Os excessos sexuais são ali tão<br />
grandes que, mais uma vez, os jovens decidem partir.<br />
Há peripécias pelo caminho, durante as quais eles<br />
vêm a conhecer uma sacerdotisa de Priapo, Quartila,<br />
que os leva para sua casa, verdadeiro antro de libertinagem.<br />
Os companheiros escapam, não sem terem<br />
passado por situações engraçadas e vexatórias, dirigem-se<br />
a um albergue e, no dia seguinte, participam<br />
de uma ceia que lhes oferece o novo-rico Trimalquião.<br />
A descrição da ceia ocupa mais de cinquenta capítulos<br />
e pode ser considerada como verdadeira sátira aos<br />
costumes da época.<br />
Após a ceia, os jovens se encontram com o velho<br />
Eumolpo, em cuja companhia realizam um acidentado<br />
passeio de barco. Ao regressarem, Encólpio vem a<br />
conhecer a bela Circe, por quem se apaixona. A virilidade,<br />
porém, o abandona, faro que o obriga a valer-se<br />
de incríveis bruxarias.<br />
Há cenas inesquecíveis no livro: a da “revelação”,<br />
feita por Gitão, a da troca do manto roubado por uma<br />
túnica miserável, em cuja bainha havia sido costurada<br />
grande quantidade de ouro; a do casamento simulado<br />
de Gitão com uma garotinha; a do romântico e infausto<br />
“namoro” de Encólpio e Circe no jardim.<br />
Duas historietas nos moldes dos contos milésimos,<br />
picantes e engraçadas, são contadas por personagens,<br />
no correr da narrativa: a história do garoto de Pérgamo,<br />
iniciado por um velho em práticas homossexuais,<br />
e a da matrona de Éfeso, desolada pela viuvez recente<br />
e devidamente “consolada” por um jovem militar.<br />
Muitos poemas entremeiam a narrativa, quase sempre<br />
paródias de textos clássicos, que, por um pretexto<br />
qualquer, uma das personagens declama. Esse fato fez<br />
o texto de Petrônio ser considerado por alguns como<br />
sátira menipéía. É difícil, porém, julgá-lo como tal.<br />
Pouco se sabe a respeito dessa modalidade de sátira,<br />
introduzida na literatura latina por Varrão, ao inspirar-se<br />
ele nas diatribes de Menipo de Gádara. É provável<br />
que tivessem um tom moral, a exemplo das<br />
sátiras em geral, e esse tom não se faz presente na<br />
obra de Petrônio. O que se diz a respeito da sátira<br />
menipéia – que nela se mesclavam estilos, indo-se<br />
do sublime ao grotesco, que se parodiavam outros<br />
gêneros, que se empregavam processos de carnavalização,<br />
explorando-se a vida dos submundos e
apresentando-se personagens burlescas e inverossímeis<br />
– partiu, provavelmente, da análise do próprio<br />
Satiricon. Por essa razão, porque nos faltam<br />
informações sobre tal gênero e por encontrarmos<br />
na obra de Petrônio características da narrativa<br />
ficcional em prosa, preferimos considerá-la como<br />
romance.<br />
O Romance de Apuleio<br />
Além do Satiricon, a literatura latina oferece mais<br />
um curioso exemplo de narrativa novelística. Trata-se<br />
do texto de Apuleio (Lucíus Apuleíus - 125?-<br />
170?), Metamorfoses (Líbrí Metamorphoseon), conhecido<br />
também como O asno de ouro.<br />
Profundamente interessado em cultos misteriosos,<br />
no maravilhoso e no sobrenatural, autor de obras<br />
fi losófi cas, oratórias e científi cas, Apuleio fez das<br />
Metamorfoses uma autêntica obra-prima em que se<br />
revela preocupação com a ornamentação da frase,<br />
embora sem sobrecarga de recursos estilísticos, com<br />
o realismo descritivo e a força da expressão.<br />
Composto de onze livros, o texto conta as aventuras<br />
do jovem Lúcio, metamorfoseado em burro em<br />
Exercícios de Autoavaliação<br />
1. Que obra poderia ser considerada o primeiro romance? Justifi que a sua resposta.<br />
2. Cite alguns personagens do Satiricon, tecendo comentários dos mesmos.<br />
3. Como pode ser considerada a descrição da ceia oferecida por Trimalquião?<br />
4. De que forma foi considerado Apuleio por alguns?<br />
5. Cite uma das passagens curiosas na obra de Apuleio.<br />
virtude de um engano: durante uma viagem à Grécia<br />
hospedara-se na casa de uma feiticeira e experimentara<br />
uma de suas pomadas, acreditando que poderia<br />
transformar-se em um pássaro. Ao tornar-se burro,<br />
todavia, conservou seu espírito crítico e seu pensamento<br />
humano; foi iniciado na vida reservada aos<br />
animais, da qual veio a conhecer os aspectos mais<br />
miseráveis. Passou por donos sucessivos, serviu a<br />
um sacerdote, um moleiro, um jardineiro, um confeiteiro<br />
e um cozinheiro, até que Ísis, em sonhos,<br />
lhe ensinou como retomar à forma humana. Consagrou-se,<br />
então, ao serviço da deusa e de seu esposo<br />
Osíris.<br />
Há passagens curiosas na obra, como aquela que<br />
Lúcio ouve, no interior de uma caverna habitada por<br />
salteadores, a história de Cupido e Psiquê, contada<br />
por uma velhinha.<br />
Embora recheada de passagens dignas de um romance<br />
picaresco, nas quais não faltam alegria, espírito<br />
e até mesmo algum erotismo, a obra de Apuleio<br />
foi considerado por alguns como uma representação<br />
alegórica do mito platônico de Fedro: a alma deve<br />
morrer para chegar à concepção do divino e sofrer<br />
duras provas para elevar-se a deus.<br />
21
22<br />
UNIDADE <strong>II</strong>I<br />
DO SEGUNDO AO QUINTO SÉCULOS<br />
3.1 - A Patrística<br />
Nome dado à fi losofi a cristã dos primeiros séculos,<br />
elaborada pelos Pais da Igreja e pelo escritores escolásticos,<br />
consiste na elaboração doutrinal das verdades<br />
de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os<br />
ataques dos “pagãos” e contra as heresias. Quando o<br />
Cristianismo, para defender-se de ataques polêmicos,<br />
teve de esclarecer os próprios pressupostos, apresentou-se<br />
como a expressão terminada da verdade que<br />
a fi losofi a grega havia buscado, mas não tinha sido<br />
capaz de encontrar plenamente, enquanto a Verdade<br />
mesma não tinha ainda se manifestado aos homens,<br />
ou seja, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado,<br />
não existia ainda o Senhor.<br />
De um lado se procura interpretar o Cristianismo mediante<br />
conceitos tomados da fi losofi a grega, do outro<br />
se reporta ao signifi cado que esta última dá ao Cristianismo.<br />
Os primeiros pensadores cristãos, ao mesmo<br />
tempo em que se valeram, também se debateram<br />
com os fi lósofos quer com Platão e com Aristóteles,<br />
quer, sobretudo, com os estóicos e com os epicureus.<br />
Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles<br />
buscaram encontrar, frente à Filosofi a e aos fi lósofos,<br />
o lugar apropriado da refl exão fi losófi ca e do pensar<br />
cristão. “É comum a afi rmação de que o Cristianismo<br />
primitivo sofreu infl uências de vários setores da Filosofi<br />
a Grega – de Platão, de Aristóteles, dos epicuristas<br />
e dos estóicos – sem que se determine claramente<br />
3.2 - Santo Agostinho<br />
Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como<br />
Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos.<br />
E como Tomás de Aquino se inspira na fi losofi a de<br />
Aristóteles, e será o maior vulto da fi losofi a metafísica<br />
cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor,<br />
no neoplatonismo. Agostinho, pela profundidade do<br />
seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em<br />
si mesmo o caráter especulativo da patrística grega<br />
com o caráter prático da patrística latina, ainda que<br />
os problemas que fundamentalmente o preocupam<br />
sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal,<br />
a liberdade, a graça, a predestinação.<br />
Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da<br />
Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro<br />
do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão, tendo<br />
recebido o batismo pouco antes de morrer; sua<br />
a amplitude e os limites de tais infl uências. Também é<br />
comum dizer-se que os fi lósofos convertidos ao Cristianismo<br />
buscaram dar à doutrina cristã um status<br />
fi losófi co, mas sem o cuidado de salientar as fontes<br />
das quais se serviram ou sem analisar os conceitos<br />
dos quais se apropriaram...” (SPINELLI, Miguel.<br />
Helenização e Recriação de Sentidos. A Filosofi a na<br />
época da expansão do Cristianismo – Séculos <strong>II</strong>, <strong>II</strong>I e<br />
IV. Porto Alegre: Edipucrs, 2002, p.3). Foram vários<br />
autores que se ocuparam dessa tarefa: Justino, Tertuliano,<br />
Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de<br />
Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa... Sendo considerado<br />
como a fi gura mais importante dessa corrente<br />
de pensamento o cristão Santo Agostinho.<br />
A Patrística divide-se geralmente em três períodos:<br />
• até o ano 200 dedicou-se à defesa do Cristianismo<br />
contra seus adversários (padres apologistas, São Justino<br />
Mártir).<br />
• até o ano 450 é o período em que surgem os primeiros<br />
grandes sistemas de fi losofi a cristã (Santo<br />
Agostinho, Clemente Alexandrino).<br />
• até o século V<strong>II</strong>I reelaboram-se as doutrinas já formuladas<br />
e de cunho original (Boécio).<br />
O legado da Patrística foi passada à Escolástica.<br />
mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa<br />
e exercia sobre o fi lho uma notável infl uência<br />
religiosa. Indo para Cartago, a fi m de aperfeiçoar<br />
seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente.<br />
Caiu em uma profunda sensualidade, que,<br />
segundo ele, é uma das maiores consequências do<br />
pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente,<br />
fazendo com que aderisse ao maniqueísmo,<br />
que atribuía realidade substancial tanto ao<br />
bem como ao mal, julgando achar neste dualismo,<br />
a solução do problema do mal e, por consequência,<br />
uma justifi cação da sua vida. Tendo terminado os<br />
estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu<br />
para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se<br />
defi nitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois<br />
anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões<br />
de ordem espiritual.
Entrementes – depois de maduro exame crítico<br />
– abandonara o maniqueísmo, abraçando a fi losofi a<br />
neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade de<br />
Deus e a negatividade do mal. Desta arte chegara a<br />
uma concepção cristã da vida – no começo do ano<br />
386. Entretanto a conversão moral demorou, por razões<br />
de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração<br />
do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta,<br />
no mês de setembro do ano 386. Agostinho renuncia<br />
inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio;<br />
retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o<br />
recolhimento, em companhia da mãe, do fi lho e de<br />
alguns discípulos, perto de Milão. Escreveu seus diálogos<br />
fi losófi cos e, na Páscoa do ano 387, juntamente<br />
com o fi lho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu<br />
o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio,<br />
cuja doutrina e eloquência muito contribuíram para<br />
a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade.<br />
Depois da conversão, Agostinho abandona Milão<br />
e, com o falecimento da mãe em Óstia, volta para<br />
Tagasta. Vendeu todos os haveres e, distribuído o<br />
dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa<br />
das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em<br />
391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja<br />
de Hipona até a morte, que se deu durante o assédio<br />
da cidade pelos vândalos, a 28 de agosto do ano 430.<br />
Tinha setenta e cinco anos de idade.<br />
Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente<br />
ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia<br />
revelada, e à redação de suas obras, entre as quais<br />
têm lugar de destaque as fi losófi cas. As obras de<br />
Agostinho que apresentam interesse fi losófi co são,<br />
sobretudo, os diálogos: Contra os acadêmicos, Da<br />
vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da<br />
alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre,<br />
Sobre a música. Interessam também à fi losofi a os<br />
escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes,<br />
Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza<br />
do bem.<br />
Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que<br />
a fi losofi a e a teologia andam juntas, compreendese<br />
que interessam à fi losofi a também as obras teológicas<br />
e religiosas, especialmente: Da Verdadeira<br />
Religião, As Confi ssões, A Cidade de Deus, Da Trindade,<br />
Da Mentira.<br />
Agostinho considera a fi losofi a praticamente, platonicamente,<br />
como solucionadora do problema da<br />
vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução<br />
integral. Todo o seu interesse central está, portanto,<br />
circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto<br />
serem os mais importantes e os mais imediatos para<br />
a solução integral do problema da vida.<br />
O problema gnosiológico é profundamente sentido<br />
por Agostinho, que o resolve superando o ceti-<br />
cismo acadêmico mediante o iluminismo platônico.<br />
Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da<br />
própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior,<br />
imutável, condição e origem de toda verdade<br />
particular. Embora desvalorizando, platonicamente,<br />
o conhecimento sensível em relação ao conhecimento<br />
intelectual, admite Agostinho que os sentidos,<br />
como o intelecto, são fontes de conhecimento.<br />
E como para a visão sensível além do olho e da coisa<br />
é necessária a luz física, do mesmo modo, para o<br />
conhecimento intelectual, seria necessária uma luz<br />
espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o<br />
Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias<br />
platônicas. No Verbo de Deus existem as verdades<br />
eternas, as idéias, as espécies, os princípios formais<br />
das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos<br />
as verdades eternas e as idéias das coisas<br />
reais por meio da luz intelectual a nós participada<br />
pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação<br />
do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido<br />
teísta e cristão. Permanece, porém, a característica<br />
fundamental, que distingue a gnosiologia platônica<br />
da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia<br />
platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize<br />
o conhecimento intelectual humano, as forças<br />
naturais do espírito, mas é mister uma particular e<br />
direta iluminação de Deus.<br />
A Metafísica<br />
Em relação a esta gnosiologia, e dependente dela,<br />
a existência de Deus é provada, fundamentalmente,<br />
a priori, enquanto no espírito humano haveria uma<br />
presença particular de Deus. Ao lado desta prova a<br />
priori, Agostinho não nega as provas a posteriori<br />
da existência de Deus, em especial a que se afi rma<br />
sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas.<br />
Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma<br />
noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder racional<br />
infi nito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa,<br />
consciência, o que era excluído pelo platonismo.<br />
Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfi m, às relações<br />
com o mundo, Deus é concebido exatamente<br />
como livre criador. No pensamento clássico grego,<br />
tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento<br />
cristão – agostiniano – temos ainda um dualismo,<br />
porém moral, pelo pecado dos espíritos livres, insurgidos<br />
orgulhosamente contra Deus e, portanto,<br />
preferindo o mundo a Deus. No cristianismo, o mal<br />
é, metafi sicamente, negação, privação; moralmente,<br />
porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante<br />
de Deus. O problema que Agostinho tratou, em especial,<br />
é o das relações entre Deus e o tempo. Deus<br />
não é o tempo, o qual é uma criatura de Deus: o<br />
tempo começa com a criação. Antes da criação não<br />
há tempo, dependendo o tempo da existência de coisas<br />
que vem-a-ser e são, portanto, criadas.<br />
23
24<br />
Também a psicologia agostiniana harmonizou-se<br />
com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não<br />
é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser<br />
essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez<br />
boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma<br />
é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo<br />
não formam aquela unidade metafísica, substancial,<br />
como na concepção aristotélico-tomista, em virtude<br />
da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com<br />
o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específi -<br />
ca criatura divina, como todas as demais. Entretanto,<br />
Agostinho fi ca indeciso entre o criacionismo e o traducionismo,<br />
isto é, se a alma é criada diretamente por<br />
Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma<br />
é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue,<br />
platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva<br />
e intelectiva, mas afi rma que elas são fundidas em<br />
uma substância humana. A inteligência é divina em<br />
intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a<br />
primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no<br />
animal é instinto, nos seres inferiores, cego apetite.<br />
Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como já<br />
foi dito, a natureza não entra nos interesses fi losófi -<br />
cos de Agostinho, preso pelos problemas éticos, religiosos,<br />
Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa<br />
doutrina dos germes específi cos dos seres – rationes<br />
seminales. Deus, a princípio, criou alguns seres já<br />
completamente realizados; de outros criou as causas<br />
que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às<br />
existências dos seres específi cos. Esta concepção nada<br />
tem que ver com o moderno evolucionismo, como alguns<br />
erroneamente pensaram, porquanto Agostinho<br />
admite a imutabilidade das espécies, negada pelo moderno<br />
evolucionismo.<br />
Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã<br />
e, logo, transcendente e ascética. Notável característica<br />
da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia<br />
do prático, da ação – própria do pensamento latino<br />
– , contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento<br />
– próprio do pensamento grego. A vontade<br />
não é determinada pelo intelecto, mas precede-o.<br />
Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas,<br />
por exemplo, quando afi rma que Deus, fi m<br />
último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência.<br />
A virtude não é uma ordem de razão, hábito<br />
conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma<br />
ordem do amor.<br />
Entretanto a vontade é livre e pode querer o mal,<br />
pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente,<br />
imoralmente, contra a vontade de Deus. E<br />
deve-se considerar não causa efi ciente, mas defi ciente<br />
da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade<br />
metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente<br />
a pena da sua desordem, porquanto a criatura,<br />
não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, de-<br />
terminando a dilaceração da sua natureza. A fórmula<br />
agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do<br />
pecado original – é: poder não pecar; depois do pecado<br />
original é: não poder não pecar ; nos bem-aventurados<br />
será: não poder pecar. A vontade humana,<br />
portanto, já é impotente sem a graça. O problema da<br />
graça – que tanto preocupa Agostinho – tem, além de<br />
um interesse teológico, também um interesse fi losófi<br />
co, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta<br />
de Deus com o livre arbítrio do homem. Como<br />
é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento,<br />
tende a descurar o segundo.<br />
Quanto à família, Agostinho, como Paulo apóstolo,<br />
considera o celibato superior ao matrimônio; se o<br />
mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrarse-ia,<br />
como da passagem do tempo para a eternidade.<br />
Quanto à política, ele tem uma concepção negativa da<br />
função estatal; se não houvesse pecado e os homens<br />
fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante<br />
Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e<br />
não natural. Nem a escravidão é de direito natural,<br />
mas consequência do pecado original, que perturbou<br />
a natureza humana, individual e social. Ela não pode<br />
ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto<br />
a natureza humana já é corrompida; pode ser superada<br />
sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a<br />
conformação cristã de quem é escravo e a caridade<br />
de quem é amo.<br />
Agostinho foi profundamente impressionado pelo<br />
problema do mal – de que dá uma vasta e viva fenomenologia.<br />
Foi também longamente desviado pela<br />
solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o<br />
conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade<br />
da vida moral. A solução deste problema por<br />
ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta<br />
fi losófi co-teológica, e marca uma diferença<br />
fundamental entre o pensamento grego e o pensamento<br />
cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica<br />
do mal. O mal não é ser, mas privação de ser,<br />
como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação<br />
é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto<br />
criado, limitado. Destarte é explicado o assim<br />
chamado mal metafísico, que não é verdadeiro mal,<br />
porquanto não tira dos seres o que lhes é devido por<br />
natureza. Quanto ao mal físico, que atinge também<br />
a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justifi<br />
cá-lo mediante um velho argumento, digamos assim,<br />
estético: o contraste dos seres contribuiria para<br />
a harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos<br />
afortunada da doutrina agostiniana do mal.<br />
Quanto ao mal moral, existe realmente a má vontade<br />
que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa<br />
efi ciente, mas defi ciente, sendo o mal não-ser. Este<br />
não-ser pode unicamente provir do homem, livre e<br />
limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz uni-
camente o ser. O mal moral entrou no mundo humano<br />
pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade<br />
foi punida com o sofrimento, físico e moral, além de<br />
o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus.<br />
Como se vê, o mal físico tem, deste modo, uma outra<br />
explicação mais profunda. Remediou este mal moral<br />
a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à<br />
humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade<br />
do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento,<br />
consequência do pecado, como meio de purifi cação<br />
e expiação. E a explicação última de tudo isso<br />
– do mal moral e de suas consequências – estaria no<br />
fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do<br />
mal, do que não permitir o mal. Resumindo a doutrina<br />
agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal<br />
é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este<br />
bem pode ser não-devido (mal metafísico) ou devido<br />
(mal físico e moral) a uma determinada natureza; se<br />
o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal;<br />
a solução deste problema é estética para o mal físico,<br />
moral (pecado original e Redenção) para o mal moral<br />
(e físico).<br />
Como é notório, Agostinho trata do problema da<br />
história na Cidade de Deus, e resolve-o ainda com<br />
os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção.<br />
A Cidade de Deus representa, talvez, o maior<br />
monumento da Antigüidade cristã e, certamente, a<br />
obra-prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica<br />
original do cristianismo, que é uma visão orgânica<br />
e inteligível da história humana. O conceito de<br />
criação é indispensável para o conceito de providência,<br />
que é o governo divino do mundo; este conceito<br />
de providência é, por sua vez, necessário, a fi m de que<br />
a história seja suscetível de racionalidade. O conceito<br />
de providência era impossível no pensamento clássico,<br />
por causa do basilar dualismo metafísico. Entretanto,<br />
para entender realmente, plenamente, o plano<br />
da história, é mister a Redenção, graças a ela que é<br />
explicado o enigma da existência do mal no mundo e<br />
a sua função. Cristo tornara-se o centro sobrenatural<br />
da história: o seu reino, a cidade de Deus, é representado<br />
pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a<br />
terra, e pela Igreja depois de seu advento. Contra esta<br />
cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica,<br />
3.3 - A Vulgata Latina<br />
Vulgata é uma tradução para o latim da Bíblia escrita<br />
em meados do século IV por São Jerônimo, a<br />
pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja<br />
Católica e ainda é muito respeitada.<br />
Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo<br />
da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito<br />
todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos<br />
Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos<br />
cristãos de séculos seguintes.<br />
que será absolutamente separada e eternamente punida<br />
nos fi ns dos tempos.<br />
Agostinho distingue em três grandes seções a história<br />
antes de Cristo. A primeira concerne à história das<br />
duas cidades, após o pecado original, até que fi caram<br />
confundidas em um único caos humano, e chega até<br />
a Abraão, época em que começou a separação. Na<br />
segunda descreve Agostinho a história da cidade de<br />
Deus, recolhida e confi gurada em Israel, de Abraão<br />
até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa<br />
do ponto em que começa a história da Cidade<br />
de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar<br />
paralela e separadamente da Cidade do mundo, que<br />
culmina no império romano. Esta história, pois, fragmentária<br />
e dividida, onde parece que Satanás e o mal<br />
têm o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e<br />
um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais<br />
claramente, conscientemente e divinamente esperado<br />
e profetizado em Israel; e profetizado também,<br />
a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou<br />
inconscientemente, lhe preparavam diretamente o<br />
caminho. Depois de Cristo, cessa a divisão política<br />
entre as duas cidades; elas se confundem como nos<br />
primeiros tempos da humanidade, com a diferença,<br />
porém, de que já não é mais união caótica, mas confi<br />
gurada na unidade da Igreja. Esta não é limitada por<br />
nenhuma divisão política, mas supera todas as sociedades<br />
políticas na universal unidade dos homens e na<br />
unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível,<br />
invisivelmente, também às almas de boa vontade<br />
que, exteriormente, dela não podem participar. A<br />
Igreja transcende ainda os confi ns do mundo terreno,<br />
além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto<br />
que todos, predestinados e ímpios, se encontram<br />
empiricamente confundidos na Igreja – ainda que só<br />
na unidade dialética das duas cidades, para o triunfo<br />
da Cidade de Deus – a divisão defi nitiva, eterna, absoluta,<br />
justíssima, realizar-se-á nos fi ns dos tempos,<br />
depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso<br />
e no inferno. É uma grande visão unitária da história,<br />
não é uma visão fi losófi ca, mas teológica: é uma teologia,<br />
não uma fi losofi a da história.<br />
No século IV, o importante biblista São Jerônimo<br />
traduz pelo menos o Antigo Testamento para latim e<br />
revê a Vetus Latina. A Vulgata foi produzida para ser<br />
mais exata e mais fácil de compreender do que suas<br />
predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única,<br />
versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente<br />
do hebraico e não da tradução grega conhecida<br />
como Septuaginta. No Novo Testamento, São<br />
Jerônimo selecionou e revisou textos. Ele inicialmente<br />
não considerou canônicos os sete livros, chamados<br />
25
26<br />
por católicos e ortodoxos de deuterocanônicos. Porém<br />
trabalhos seus posteriores mostram sua mudança<br />
de conceito, pelo menos a respeito dos livros de Judite,<br />
Sabedoria de Salomão e o Eclesiástico. Chamase<br />
Vulgata esta versão latina da Bíblia, que foi usada<br />
pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos,<br />
e ainda hoje é fonte para diversas traduções.<br />
O nome vem da frase versio vulgata, isto é “versão<br />
dos vulgares”, e foi escrito em um latim cotidiano<br />
usado na distinção consciente ao latim elegante de<br />
Cícero, do qual Jerônimo era um mestre.<br />
Após o Concílio Vaticano <strong>II</strong>, por determinação de<br />
Paulo VI, foi realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo<br />
para uso litúrgico. Esta revisão, terminada<br />
em 1975 e promulgada pelo Papa João Paulo <strong>II</strong> em 25<br />
de abril de 1979, é denominada Nova Vulgata.<br />
Prólogos da Vulgata<br />
Além do texto bíblico da Vulgata, ela contém<br />
prólogos dos quais a maioria foi escrito por Jerônimo.<br />
Esses prólogos são escritos críticos e não<br />
eram destinados ao público em geral.<br />
O tema recorrente dos prólogos se refere a primazia<br />
do texto hebraico sobre os textos da Septuaginta<br />
(LXX) em grego.<br />
Entre os mais notáveis prólogos se destaca o<br />
Prologus Galeatus, na qual Jerônimo descreve um<br />
Cânon bíblico judaico composto de 22 livros. Independente<br />
disto, Jerônimo traduziu e incluiu no<br />
Antigo Testamento da Vulgata os livros Deuterocanônicos.<br />
O prólogo “Primum Quaeritur”, de autoria desconhecida,<br />
defende a autoria Paulina para a carta<br />
aos Hebreus.<br />
Os textos da Vetus Latina chegou até nosso tempo<br />
através de vários códices, os mais conhecidos<br />
são:<br />
Vetus Latina Vulgata<br />
Et factum est eum in Sabbato secundoprimo abire per<br />
segetes discipuli autem illius coeperunt vellere spicas<br />
et fricantes manibus manducabant. Quidam autem de<br />
farisaeis dicebant ei, Ecce quid faciunt discipuli tui<br />
sabbatis? Quod non licet? Respondens autem IHS<br />
dixit ad eos, Numquam hoc legistis quod fecit David<br />
quando esurit ipse et qui cum eo erat?<br />
Intro ibit in domum Dei et panes propositionis manducavit<br />
et dedit et qui cum erant quibus non licebat<br />
manducare si non solis sacerdotibus?<br />
Códice Bobienus (K) - Séc. IV. É um manuscrito<br />
africano em Unçais. Contém fragmentos dos<br />
Evangelhos de Marcos e Mateus;<br />
Códice Vercellensis (a) - Séc. IV. Texto em Unçais.<br />
Contém todos os quatro Evangelhos;<br />
Códice Bezae (q) - Séc. V. É um manuscrito bilingue,<br />
com o Grego no verso e o Latim na frente.<br />
Contém os quatro Evangelhos, Atos e 3 João;<br />
Códice Monacensis 13 (q) - Séc. VI-V<strong>II</strong>. Texto<br />
em Unçais. Contém os quatro Evangelhos;<br />
Palimpsest 53 (s) - Séc. VI. Conhecido também<br />
como Bobiensis ou Vindobonensis. Texto em meio<br />
unçal. Contém fragmentos dos Actos e as 14 Cartas<br />
Católicas.<br />
Com a publicação da Vulgata de São Jerônimo,<br />
os textos traduzidos para o Latim ganharam unidade,<br />
estilo e consistência, atributos que não eram<br />
presentes na Vetus Latina; por isso esta foi ficando<br />
em desuso com o tempo.<br />
São Jerônimo, em duas de suas cartas, queixa-se<br />
que sua nova versão das Escrituras para o Latim<br />
não tenha agradado inicialmente os Cristãos, que<br />
estavam familiarizados com as expressões da Vetus<br />
Latina. Entretanto, como as cópias da Bíblia<br />
completa eram difíceis de se achar, as traduções da<br />
Vetus Latina para os vários livros bíblicos foram<br />
copiadas junto com os textos da Vulgata, o que gerava<br />
transtornos para a leitura.<br />
Os textos da Vetus Latina organizados como um<br />
único livro foram encontrados em manuscritos tardios,<br />
datados do séc. X<strong>II</strong>I. Mesmo assim, a Vulgata<br />
suplantou a Vetus Latina e foi reconhecida como<br />
a versão da Igreja Católica no Concílio de Trento.<br />
Abaixo segue uma amostra comparativa entre o<br />
texto da Vetus Latina e da Vulgata. O texto refere-se<br />
a Lc 6,1-4, segundo o que consta no Codex<br />
Bezae.<br />
Factum est autem in sábbato secúndo, primo, cum<br />
transíret per sata, vellébant discípuli ejus spicas, et<br />
manducábant confricántes mánibus.<br />
Quidam autem pharisæórum, dicébant illis: Quid fácitis<br />
quod non licet in sábbatis?<br />
Et respóndens Jesus ad eos, dixit: Nec hoc legístis<br />
quod fecit David, cum esurísset ipse, et qui cum illo<br />
erant?<br />
quómodo intrávit in domum Dei, et panes propositiónis<br />
sumpsit, et manducávit, et dedit his qui cum<br />
ipso erant: quos non licet manducáre nisi tantum sacerdótibus?
O texto do Latim antigo sobreviveu na Igreja em muitas partes, especialmente na Liturgia, como se pode<br />
observar no conhecido canto de Natal em Lc 2,14:<br />
Vetus Latina Vulgata<br />
Gloria in excelsis Deo, et in terra pax hominibus bonae<br />
voluntatis<br />
Provavelmente a mais conhecida diferença entre o<br />
texto da Vetus Latina e da Vulgata seja a oração do<br />
Pai Nosso. Enquanto a Vetus Latina traz “quotidianum<br />
panem” (pão nosso de cada dia), na Vulgata está<br />
“supersubstantialem panem” (pão supervigoroso).<br />
Quadro Cronológico da Literatura Latina<br />
Fase Primitiva (século V<strong>II</strong> a.C - 250? a.C)<br />
Literatura oral: cânticos heróicos, triunfais, convivais,<br />
religiosos, fúnebres; cantos fesceninos; discursos;<br />
Textos epigráfi cos: inscrições;<br />
Textos escritos paraliterários e protoliterários: arquivos,<br />
livros de pontífi ces, anais, leis, sentenças em<br />
versos.<br />
Fase Helenística (250? a.C - 81 a.C.)<br />
Textos epigráfi cos (epitáfi os, inscrições, sentenças).<br />
Textos literários:<br />
Lívio Andronico (poesia épica, dramática e lírica);<br />
Névio (poesia épica e dramática);<br />
Plauto (poesia dramática: comédias);<br />
Ênio (poesia épica, dramática, lírica e didática);<br />
Catão (oratória, epistolografi a, erudição, história,<br />
retórica); Terêncio (poesia dramática: comédias);<br />
Lucílio (sátira).<br />
Fase Clássica (81 a.C a 68 d.C.)<br />
Época de Cícero (81 a 43 a.C.):<br />
Cícero (oratória, retórica, fi losofi a, epistolografi a);<br />
Lucrécio (poesia didático-fi losófi ca);<br />
César (historiografi a, oratória);<br />
Salústio (historiografi a); Catulo (poesia lírica); Varrão<br />
(erudição e sátira).<br />
Época de Augusto (43 a.C. a 14 d.C.):<br />
Virgílio (poesia lírico-pastoril, didática e épica);<br />
Horácio (sátira, epistolografi a e poesia lírica); Tito<br />
Lívio (historiografi a);<br />
Glória in altíssimis Deo, et in terra pax in homínibus<br />
bonæ voluntátis<br />
Vitrúvio (erudição);<br />
Tibulo (poesia elegíaca);<br />
Propércio (poesia elegíaca);<br />
Ovídio (poesia elegíaca e didática); Sêneca, o Retor<br />
(retórica).<br />
Época dos imperadores júlio-claudianos (14 a 68<br />
d.C.):<br />
Fedro (poesia didática: fábulas); Sêneca, o Retor<br />
(retórica);<br />
Sêneca, o Filósofo (fi losofi a, epistolografi a e tragédia);<br />
Lucano (poesia épica);<br />
Petrônio (romance);<br />
Pérsio (sátira).<br />
Fase Pós-Clássica (68 d.C. ao século V)<br />
Época neoclássica (de 68 a 192 d.C. - da morte de<br />
Nero ao fi m do governo dos Antoninos):<br />
Plínio, o Velho (erudição);<br />
Quintiliano (retórica);<br />
Estácio (poesia épica e lírica); Marcial (epigramas);<br />
Juvenal (sátira);<br />
Tácito (retórica, biografi a, historiografi a); Plínio, o<br />
Jovem (epistolografi a, oratória); Suetônio (história);<br />
Apuleio (romance).<br />
Época cristã (fi nal do século lI, séculos m, IV e<br />
V):<br />
Aulo Gélio (erudição);<br />
Minúcio Félix (apologética);<br />
Tertuliano (apologética, oratória);<br />
São Cipriano (fi losofi a e epistolografi a);<br />
Eutrópio (historiografi a);<br />
Santo Ambrósio (oratória e epistolografi a);<br />
São Jerônimo (epistolografi a, crônica, biografi a);<br />
Santo Agostinho (fi losofi a, autobiografi a, história,<br />
oratória); Prudêncio (poesia lírica);<br />
São Paulino de Nola (poesia lírica); Sulpício Severo<br />
(historiografi a); Claudiano (poesia lírica);<br />
Orósio (historiografi a);<br />
Sidônio Apolinário (poesia lírica).<br />
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28<br />
Exercícios de Autoavaliação<br />
1. Como se destaca Santo Agostinho?<br />
2. O que é a Vulgata Latina?<br />
3. Quem foi responsável pela Vulgata Latina e quem a encomendou?<br />
4. Defi na patrística.<br />
5. O que diz Agostinho quanto à natureza de Deus?
Se você:<br />
1) concluiu o estudo deste guia;<br />
2) participou dos encontros;<br />
3) fez contato com seu tutor;<br />
4) realizou as atividades previstas;<br />
Então, você está preparado para as<br />
avaliações.<br />
Parabéns!<br />
29
30<br />
Glossário<br />
Dionísio: deus grego dos ciclos vitais, do vinho e da alegria (para os romanos, Baco).<br />
Elegia: poema lírico, em geral triste.<br />
Estoicismo: escola fi losófi ca que se caracteriza, sobretudo, pela consideração do problema moral.<br />
Lenda: tradição popular, narração de caráter maravilhoso.<br />
Libertinagem: relativo a prazer sexual ou que sugere, lascivo.<br />
Menipéia: admirador e/ou profundo conhecedor da obra de Menipeu ou seu imitador.<br />
Odes: composição em versos que se destina a ser cantada.<br />
Sátira: obra de caráter livre (no gênero, na forma e na métrica), que censurava os costumes, as instituições e<br />
as idéias em estilo irônico ou mordaz.
Gabarito<br />
Unidade I<br />
1. Que a sátira de fato era latina: “a sátira é toda nossa”.<br />
2. Designa duas coisas distintas, a forma dramática embrionária e a especial literária.<br />
3. Formule a sua resposta a partir do tópico “A Sátira de Lucílio”.<br />
4. São uma espécie de elemento mediador entre as sátiras e as odes.<br />
5. Lucílio, o criador da sátira latina, e Cornuto, que suas lições iniciaram o jovem no conhecimento do estoicismo.<br />
6. Na Grécia, a elegia descreveu longo percurso literário. Caracterizando-se pela construção formal – compõe-se<br />
de estrofes de dois versos denominadas dísticos elegíacos.<br />
7. De Catulo, temos três elegias. A primeira (Catul. 64) é de cunho mitológico e se baseia na poesia da Calímaco,<br />
poeta alexandrino que exerceu grande infl uência sobre Propércio e Ovídio. Nela Catulo relata uma lenda,<br />
segundo a qual um cacho de cabelos da rainha Berenice oferecido aos deuses em sacrifício transformou-se em<br />
cometa. A segunda (Catul. 65) é uma espécie de epicédio, em que o poeta lamenta a morte de seu irmão. A terceira<br />
(Catul. 68), bastante complexa quanto à construção, mescla amor subjetivo e erotismo mitológico. Nela o<br />
poeta justapõe à fi gura de Lésbia a de Deidamia, personagem bastante explorada pela lírica Alexandrina.<br />
Unidade <strong>II</strong><br />
1. A primeira obra que, por sua estrutura e características, poderia ser considerada como romance é Satiricon,<br />
de Petrônio.<br />
2. Formule a resposta com base no tópico “O Satirion”.<br />
3. A descrição da ceia ocupa mais de cinquenta capítulos e pode ser considerada como verdadeira sátira aos<br />
costumes da época.<br />
4. Apuleio foi considerado por alguns como uma representação alegórica do mito platônico de Fedro.<br />
5. Há citações no tópico “O Romance de Apuleio”.<br />
Unidade <strong>II</strong>I<br />
1. Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E<br />
como Tomás de Aquino se inspira na fi losofi a de Aristóteles, e será o maior vulto da fi losofi a metafísica cristã,<br />
Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo.<br />
2. Vulgata é uma tradução para o latim da Bíblia escrita em meados do século IV por São Jerónimo.<br />
3. Foi São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I. A Vulgata Latina foi usada pela Igreja Católica e ainda é<br />
muito respeitada.<br />
4. Nome dado à fi losofi a cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos Pais da Igreja e pelo escritores escolásticos,<br />
consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques<br />
dos "pagãos" e contra as heresias.<br />
5. A existência de Deus é provada, fundamentalmente, a priori, enquanto no espírito humano haveria uma<br />
presença particular de Deus.<br />
31
32<br />
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NOVAK, Maria da Gloria & NERI, Maria Luiza (orgs.). Poesia lírica latina. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,<br />
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PETRONIO. Satiricon. São Paulo: Martin Claret, s/d.<br />
PLATÃO. Fedro. São Paulo: Martin Claret, s/d.<br />
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TRIGALI, Dante. Horácio poeta da festa: navegar não é preciso. São Paulo: Musa Editora, 1995.<br />
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ALTERNER Berthold & STUIBER Alfred. Patrologia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.<br />
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DROBNER, Hubertus. Manual de Patrologia. Petrópolis: Vozes, 2003.<br />
SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos. A fi losofi a na época da expansão do cristianismo,<br />
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SILVA, José Vieira da. Estudo dirigido da gramática histórica e teoria da Literatura. 8. ed. São Paulo: Editora<br />
do Brasil, s/d.<br />
VERÍSSIMO, José. Que é Literatura? E outros escritos. São Paulo: Landy, 2001.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio, o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.