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LITERATURA LATINA II - Universidade Castelo Branco

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16<br />

1.3 - A Sátira Latina<br />

A sátira latina não só desperta interesse por suas<br />

próprias características, por afi gurar-se como uma espécie<br />

de crônica social em versos, como também por<br />

ter sido amiúde considerada como um gênero poético<br />

original. A seu respeito e em consideração ao fato<br />

de não se inspirar em modelos gregos equivalentes,<br />

afi rmou Quintiliano na Instituição – a sátira é toda<br />

nossa (satura tota nostra est - Inst. -.93), – porém é<br />

necessário fazer uma distinção entre as sátiras literárias<br />

que chegaram até nossos dias, trazendo preciosas<br />

informações sobre a vida cotidiana do romano, e a<br />

satura dramática da época primitiva. As sátiras literárias,<br />

produzidas por diversos autores, são composições<br />

poéticas narrativo-dissertativas ou dialogadas,<br />

que, apresentando fatos ou pondo pessoas em foco<br />

ridicularizam os vícios e defeitos de maneira jacosa e<br />

assumem não raro um tom fi losófi co-moral; a satura<br />

dramática é uma modalidade teatral rudimentar, que<br />

nunca encontrou expressão escrita e resulta da combinação<br />

de cantos fesceninos com danças mímicas.<br />

A mesma palavra – satura – foi utilizada para designar<br />

duas coisas distintas, a forma dramática embrionária<br />

e a espécie literária.<br />

Da forma dramática, que desapareceu em sua condição<br />

de modalidade primitiva, temos apenas vagas referências.<br />

Possivelmente, dado o seu caráter cômico,<br />

os atores se valessem de brincadeiras e caçoadas na<br />

representação, sendo esse talvez o ponto de contato<br />

com a sátira literária que também usava a zombaria<br />

como um de seus ingredientes essenciais.<br />

Muitas elucubrações linguísticas foram feitas em<br />

torno da palavra satura. Alguns nela viram uma possível<br />

origem grega, aproximando-a do nome dos sdtiros<br />

(satyroz), divindades campestres associadas aos<br />

faunos e presentes nos dramas satíricos. Tais dramas,<br />

porém, nada têm a ver com a satura dramática. De<br />

outro lado, como a palavra satura designava também<br />

cesta de primícias de frutas de várias qualidades, ofertada<br />

aos deuses no início do outono, e uma espécie<br />

de patê em cuja composição eram usados diferentes<br />

tipos de carne, a aproximação metonímico-catacrética<br />

possivelmente foi feita. A característica da satura<br />

– dramática ou literária – seria exploração de assuntos<br />

variados em sua composição e a utilização de diversidade<br />

de metros e de tons. Em ambos os casos pode<br />

ser considerada como criação latina.<br />

Ênio foi o primeiro poeta romano a dar o nome de<br />

sátiras (Saturae) a uma coletânea de poemas variados<br />

que compôs em metros diversos, agrupando-os<br />

em quatro livros. Desses poemas restam apenas fragmentos,<br />

insufi cientes para que neles sejam verifi cadas<br />

suas principais peculiaridades.<br />

A Sátira de Lucílio<br />

Lucílio (Caius Lucilius - 180-103 a.C.) pertencia à<br />

alta sociedade da época e era bastante rico; por essa<br />

razão, ao escrever suas sátiras, teve liberdade sufi -<br />

ciente para atacar tudo aquilo que julgou censurável:<br />

a venalidade dos homens públicos, a corrupção, a vaidade,<br />

o luxo, a gula e até mesmo o esnobismo helenizante<br />

daqueles que repudiavam sua própria cultura<br />

e língua.<br />

Compondo trinta livros de sátiras, dos quais restam<br />

cerca de 1.400 versos, Lucílio se refere, no prefácio<br />

do livro XXVI, a sua “intenção literária”: escrever<br />

com simplicidade, espontaneidade e realismo. A essas<br />

características que iriam marcar sua obra poderíamos<br />

acrescentar o moralismo, a franqueza e a precisão.<br />

Diversos são os temas abordados nas sátiras. De maneira<br />

geral Lucílio ridiculariza o que considera como<br />

defeito a ser corrigido, merecendo especial menção<br />

as sátiras em que o poeta, apontando modismos de<br />

estilo e de linguagem, acaba por apresentar questões<br />

de interesse literário.<br />

Um tom fi losófi co-moralista perpassa sua obra; embora<br />

ele não se fi liasse rigorosamente a uma corrente<br />

de pensamento nem procurasse divulgar princípios<br />

doutrinários, valeu-se da moral comum, própria das<br />

pessoas de bom senso. Lucílio se utilizou de muitos<br />

tipos de versos (jâmbicos, trocaicos, dísticos elegíacos),<br />

empregando predominantemente o hexâmetro<br />

que se tornaria mais tarde o metro usual dos poetas<br />

satíricos. Seu estilo, um pouco irregular – decorrência<br />

talvez do pouco tempo de que dispôs para escrever<br />

obra tão vasta –, chegou a ser censurado por alguns,<br />

mas não foi levado em conta na avaliação dos méritos<br />

de um pioneiro que agradou ao público.<br />

Varrão e as Sátiras Menipéias<br />

Após Lucílio, a sátira vai encontrar muitos cultivadores<br />

em Roma. Entre eles não poderíamos deixar de<br />

citar Varrão (Marcus Terentius Várro - 116-27 a.C.),<br />

autor de uma obra imensa e variada, da qual, infelizmente,<br />

pouca coisa restou. Entre os 74 trabalhos<br />

que escreveu – 600 livros, aproximadamente – estão<br />

as Sátiras menipéias (Saturae Menippeae), cerca de<br />

cento e cinquenta poemas inspirados nas diatribes de<br />

Menipo de Gádara, fi lósofo grego do século IV a.C.<br />

Como nesses textos Varrão mistura prosa e verso, a<br />

expressão sátira menipéia passou a designar uma forma<br />

literária mista não só sob o aspecto formal mas<br />

também quanto ao conteúdos e ao tom.

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