Menina Que Brincava Com Fogo, A
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alunos notavam que as duas meninas nunca se falavam nem sentavam uma ao lado da outra.<br />
A partir do ginásio, não ficaram na mesma classe. <strong>Com</strong> doze anos, e depois que Todo o Mal<br />
aconteceu, haviam crescido cada qual na sua família adotiva. Não se viam desde que fizeram<br />
dezessete anos, e naquele dia o encontro terminara com um olho roxo para Lisbeth e um lábio<br />
partido para Camilla. Lisbeth não sabia por onde Camilla andava e também não tinha procurado<br />
saber.<br />
Não existia amor entre as irmãs Salander.<br />
Aos olhos de Lisbeth, Camilla era hipócrita, depravada e manipuladora. No entanto, fora<br />
em Lisbeth que a decisão do tribunal recaíra, determinando que ela não tinha juízo perfeito.<br />
Deixou o carro no estacionamento para visitantes, abotoou a jaqueta surrada e, debaixo<br />
de chuva, subiu para a entrada principal. Parou diante de um banco do jardim e olhou ao<br />
redor. Fora ali, naquele banco, que vira sua mãe pela última vez, um ano e meio antes. Passara<br />
sem avisar na casa de saúde de Appelviken, quando estava ajudando o Super-Blomkvist a<br />
pegar um assassino em série, louco sem dúvida, mas perfeitamente articulado. Sua mãe estava<br />
agitada, não a reconheceu, e mesmo assim não queria deixá-la ir embora. Tinha segurado sua<br />
mão e pousado na filha um olhar perplexo. Lisbeth estava com pressa. Soltara a mão, dera um<br />
abraço na mãe e correra até a moto para ir embora.<br />
A diretora de Áppelviken, Agnes Mikaelsson, pareceu contente em ver Lisbeth.<br />
Cumprimentou-a com simpatia e a acompanhou ao lugar onde estava guardada a caixa.<br />
Lisbeth ergueu-a. Pesava poucos quilos e não tinha muito a exibir como patrimônio de uma<br />
vida.<br />
—Eu não sabia o que fazer com as coisas da sua mãe - disse a Sra. Mikaelsson. —Mas<br />
tinha o sentimento de que você ia aparecer um dia.<br />
—Eu estava viajando - disse Lisbeth.<br />
23/101<br />
Agradeceu-lhe por ter guardado a caixa, carregou-a até o carro e foi embora de Áppelviken<br />
pela última vez.<br />
Lisbeth voltou à Fiskaregatan pouco depois do meio-dia e levou a caixa de sua mãe até o<br />
apartamento marcado V. Kulla. Guardou-a sem abrir no armário da entrada e tornou a sair.<br />
Ao abrir a porta do prédio, viu um carro de polícia passando com a velocidade de uma<br />
lesma. Lisbeth deteve-se e observou atentamente a autoridade diante de seu prédio. <strong>Com</strong>o os<br />
tiras não parecessem querer partir para o ataque, ela os deixou passar.<br />
A tarde, foi à H & M e à Dressman renovar seu guarda-roupa. Adquiriu um legítimo<br />
enxoval de roupas básicas sob a forma de calças, jeans, camisetas e meias. As caras roupas de<br />
marca não a interessavam, mas mesmo assim sentiu certo prazer em poder comprar meia<br />
dúzia de jeans de uma vez sem ser obrigada a contar moedinhas.<br />
<strong>Com</strong>prou um bom par de sapatos de inverno na Skoman e dois pares mais leves, para interiores.<br />
Depois cedeu ao impulso de levar também uma botina preta de salto alto, que a