Menina Que Brincava Com Fogo, A
Menina Que Brincava Com Fogo, A
Menina Que Brincava Com Fogo, A
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
impossível e agora já era tarde demais. Em sua escolha por um parceiro de vida, porém, não<br />
podia imaginar alternativa melhor e mais estável - um homem em quem podia confiar totalmente<br />
e estava sempre presente quando precisava dele.<br />
Mikael era diferente. Era um homem com traços de caráter tão cambiantes que, a seu ver,<br />
às vezes parecia dotado de múltiplas personalidades. No lado profissional, era teimoso e quase<br />
doentiamente focado no trabalho. Apossava-se de uma história e ia avançando obstinadamente<br />
por ela até o ponto, próximo à perfeição, em que todos os fios se desatavam. Nos seus<br />
melhores momentos, era simplesmente brilhante e quando acontecia de ele ser ruim, ainda<br />
assim era muito acima da média. Parecia possuir um talento quase intuitivo para pôr o dedo<br />
em histórias que tinham dente-de-coelho e deixar para lá as que nunca passariam de bagatelas<br />
sem interesse. Nunca, em momento algum, Erika Berger se arrependera de ter se associado a<br />
Mikael.<br />
Também nunca se arrependera de ter se tornado sua amante.<br />
O único que entendia a paixão sexual de Erika Berger por Mikael Blomkvist era seu marido,<br />
e entendia porque ela tinha coragem de conversar sobre suas necessidades com ele. Não<br />
se tratava de infidelidade, mas de um desejo. Dormir com Mikael mergulhava-a em delícias<br />
que nenhum outro homem, inclusive Lars, sabia lhe dar.<br />
O sexo era importante para Erika Berger. Ela perdera a virgindade aos catorze anos e passara<br />
boa parte de sua adolescência frustrada buscando a satisfação. Adolescente, experimentara<br />
de tudo: flertes avançados com colegas de escola, relação complicada com um professor<br />
bem mais velho, sexo por telefone e sexo com um neurótico. Provara de tudo o que lhe interessava<br />
no campo do erotismo. Se ensaiara em práticas sadomasoquistas, fora membro do<br />
clube Xtreme, que organizava festas pouco recomendáveis. Em várias oportunidades, experimentara<br />
o sexo com outras mulheres e concluíra, decepcionada, que não era a praia dela e que<br />
as mulheres eram incapazes de excitá-la como um homem. Ou dois homens. Experimentara o<br />
sexo com dois homens - Lars e um conhecido galerista. Percebera que seu marido tinha uma<br />
tendência bissexual muito acentuada, e que ela própria ficava quase paralisada de gozo ao<br />
sentir dois homens acariciando-a e satisfazendo-a, assim como sentia um túrbido prazer ao<br />
ver seu marido ser acariciado por outro homem. Lars e ela tinham repetido essa prática com<br />
parceiros regulares e a apreciaram.<br />
Assim, não é que sua vida sexual com Lars fosse tediosa ou insatisfatória. É que simplesmente<br />
Mikael Blomkvist lhe oferecia uma experiência muito diversa.<br />
Ele tinha talento. Era simplesmente um Amante Danado de Bom.<br />
51/101<br />
Tão bom que ela tinha a impressão de ter alcançado o equilíbrio perfeito com Lars como<br />
marido e Mikael como amante substituto segundo as necessidades. Não podia passar sem<br />
nenhum dos dois e não tinha a menor intenção de optar por um deles.<br />
O que mais a atraía na relação com Mikael é que ele não tinha a menor propensão para<br />
controlá-la. Não era nem um pouco ciumento, e se ela própria tivera várias crises de ciúmes<br />
no início do seu relacionamento, vinte anos atrás, descobrira que, no caso dele, não tinha por