MUSEU DO BRINQUEDO EM SEIA: UM ABSURDO ... - Faced.ufu
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Parece-nos indiscutível que a brincadeira é uma linguagem universal. Não importa em que país<br />
do mundo, não importa se os brinquedos são improvisados a partir do quotidiano da criança ou se são<br />
reproduções luxuosas e caras do mundo dos adultos. Em qualquer lado, em qualquer época, há<br />
crianças que brincam.<br />
Por isso, a origem do brinquedo perde-se nas profundezas do tempo.<br />
Poder-se-á dizer que o primeiro brinquedo nasceu com a primeira criança, quaisquer que tenham<br />
sido a latitude e a longitude em que essa criança nasceu.<br />
O brinquedo é universal, distinguindo-se tão somente pelas características que o ligam às<br />
diferentes culturas. Ele assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui, isto é, dependendo<br />
do lugar e da época, os brinquedos assumem significados diferentes. Por exemplo, o bumerangue, o<br />
arco e a flecha, hoje considerados brinquedos, em certas culturas indígenas, eram utilizados como<br />
instrumentos para caçar e pescar.<br />
Existem numerosos vestígios arqueológicos de brinquedos milenários. Entre os mais notáveis,<br />
destaca-se uma boneca de terracota, bem conservada, em posição vertical, com os quatro membros<br />
articulados, trajando um vestido de saia curta. Tendo sido descoberta na Itália Meridional, situa-se a<br />
sua origem, na época Helenística (300 a 100 anos a. c.) e encontra-se no Museu do Louvre, em Paris,<br />
onde existem, também, as figuras de três meninas jogando às pedrinhas, feitas com o mesmo material,<br />
oriundas da Grécia, do início do séc. V. No Museu de Arte e História, em Bruxelas, existe uma boneca<br />
semelhante, de origem grega (Beócia), do séc. IV a. c. e no Museu Nacional de Arqueologia, em<br />
Tarragona, uma roca em bronze, da época Romana.<br />
Michel Manson, no seu livro História do Brinquedo e dos Jogos 3 , afirma que os artistas foram<br />
os primeiros a valorizar os brinquedos e as brincadeiras das crianças, retratando-os nas suas obras,<br />
como testemunham os célebres quadros: Jogos Infantis (1560), de Brueghel, exposto no Museu de<br />
Viena, A Criança com Boneca, de Greuze, no Museu do Louvre, e A Criança com Polichinelo, de<br />
Francois Hubert Drouais, no Museu Cognacq-Jay.<br />
Este mundo maravilhoso e tudo aquilo que ele significa, permite reavivar recordações de<br />
infância e ajuda a compreender melhor a evolução das diferentes épocas, muitas vezes reflectidas nos<br />
brinquedos, na medida em que eles representam uma parte do nosso passado, porque todos nós<br />
jogámos e brincámos quando crianças.<br />
Onde quer que exista uma criança existe um brinquedo, muitas vezes, até, criado pela sua<br />
imaginação. Brincar e jogar sempre fizeram parte da vida da criança, ajudando-a a descobrir o que a<br />
rodeia, o mundo dos adultos, a construir a sua personalidade, a aprender a viver. Ela é um agente<br />
transmissor de cultura, na medida em que leva os seus jogos e brinquedos para onde quer que vá.<br />
Nas suas mãos tudo se transforma em brinquedo: um pedaço de papel, de cordel, uma flor, uma<br />
pedra, o próprio corpo humano.<br />
Mas, então, o que é um brinquedo?<br />
Um brinquedo será tudo aquilo com que se pode brincar e jogar. Até mesmo os objectos de<br />
acaso se tornam brinquedos porque conduzem ao jogo.<br />
Marie-Madeleine Rabecq-Maillard, fundadora do Museu do Brinquedo de Poissy, diz-nos que<br />
espera “sempre, que em qualquer canto do mundo, haja um menino capaz de fabricar um comboio<br />
com um cordel e três rolhas, uma carroça com uma caixa de sapatos e um apito com um ramo de<br />
sabugueiro” 4 .<br />
Os brinquedos servem para entreter, distrair, divertir, para que as crianças façam o que<br />
quiserem, para aprender servindo-se deles. O objecto de jogo é interpretado por Piaget como um<br />
instrumento de realismo dependente do sonho mas também da ilusão do jogo simbólico egocêntrico 5 .<br />
É um mediador entre a criança e o adulto, que permite desempenhar diferentes papéis, identificar-se,<br />
estudar e medir as suas capacidades, facilitando, desta forma, o estabelecimento de relações com o<br />
mundo em que deverá integrar-se.<br />
Segundo Michelet 6 , tanto o material como os brinquedos educativos foram idealizados para<br />
favorecer o desenvolvimento, o uso da inteligência e da lógica, pelo uso da mão e dos sentidos. A<br />
3<br />
2002.<br />
4<br />
Apud Jean Vial, op. cit. 1988:140.<br />
5<br />
1968.<br />
6<br />
Michelet, “Los utiles de la infância”, Herder, Barcelona, 1979, in Juguetes y Juegos de España, 1981.