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OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO THE ...

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<strong>OS</strong> ELEMENT<strong>OS</strong> <strong>DE</strong> <strong>REFERÊNCIA</strong> <strong>NO</strong> <strong>TEXTO</strong> <strong>NARRATIVO</strong><br />

<strong>THE</strong> ELEMENTS OF REFERENCE IN <strong>THE</strong> NARRATIVE TEXT<br />

Maria Lúcia Krevey (P<strong>DE</strong>) 1<br />

Elódia Constantino Roman (UEPG) 2<br />

RESUMO: Este trabalho analisa os elementos que constituem o mecanismo de coesão referencial<br />

proposto por Koch (1998, 2007). O objetivo é examinar a ocorrência de elementos que propiciam a<br />

progressão textual em textos narrativos produzidos pelos alunos do segundo ano do ensino médio.<br />

Em nossa análise, focalizamos a referenciação realizada por meio do uso de expressões<br />

pronominais, de pronomes, os hipônimos e hiperônimos, elipse, expressões nominais definidas e<br />

indefinidas. Para Koch (2007) a referenciação é uma atividade discursiva que consiste na construção<br />

e reconstrução de objetos-de-discurso caracterizada pela retomada de elementos no texto. A partir<br />

dessa perspectiva, a compreensão de uma expressão não consiste em identificar um termo<br />

lingüístico, um antecedente, mas em estabelecer relações de sentido com as informações que já<br />

foram expressas no discurso. Com a análise dos textos, percebeu-se que a maneira como as<br />

estratégias de referenciação são abordadas pode estar relacionada ao empenho do escritor em<br />

facilitar a compreensão da leitura enfatizando uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem de<br />

língua portuguesa, visando a um ensino mais concreto e produtivo.<br />

Palavras-chave: Produção textual. Referenciação. Progressão textual<br />

ABSTRACT:This work analyzes the elements that constitute the mechanism of cohesion referencial<br />

proposed by Koch (1998, 2007). The objective is to examine the occurrence of elements that<br />

propitiate the textual progression in narrative texts produced by the students of the second year of the<br />

medium teaching. In our analysis, we focused the reference accomplished through the use of<br />

pronominal expressions, of pronouns, the hyponym and hyperonym etc. Koch (2007) argue the<br />

referenciation as a discursive activity that consists of the construction and object-of-speech<br />

reconstruction characterized by the retaking of elements in the text. Starting from that perspective, the<br />

understanding of an expression doesn't consist of identifying a linguistic term, an antecedent, but in<br />

establishing sense relationships with the information that were already expressed in the speech. With<br />

the analysis of the texts, it was noticed that the way as the reference strategies is approached can be<br />

related to the writer's pledge in facilitating the understanding of the reading emphasizing an<br />

improvement in the process of teaching-learning of Portuguese language, seeking to a more concrete<br />

and productive teaching.<br />

Keywords: Textual production. Referenciation. Textual progression<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Os pronomes são expressões referenciais que possuem um papel<br />

significativo na manutenção da coesão do texto, permitindo aos interlocutores<br />

estabelecerem as relações entre os diferentes elementos já apresentados.<br />

As insatisfações e inquietações advindas dos alunos têm sido muitas, como<br />

por exemplo: Por que devo fazer redação? Como iniciá-la? Como surgem as idéias?<br />

Como terminar?O que faço para não errar tanto? Quando vou usar meus<br />

conhecimentos gramaticais? Esses questionamentos têm feito com que nossa<br />

preocupação com a produção do texto escrito e o ensino da gramática nos<br />

1<br />

Professora Nível 3. Atua no Colégio Estadual Agrícola “Augusto Ribas” e Colégio Estadual Profa. Elzira de<br />

Sá Correia - Ponta Grossa.<br />

2<br />

Orientadora - Profa. Dra. do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Ponta Grossa


acompanhe durante nossa trajetória como professora de Língua Portuguesa.<br />

Durante esse tempo, verificou-se que, nas duas últimas décadas, muitas pesquisas<br />

têm sido desenvolvidas, com o intuito de investigar os problemas referentes à<br />

produção textual em redações de alunos de ensino médio e do segundo ciclo do<br />

ensino fundamental (5ª a 8ª séries), quanto à coesão e também à utilização de<br />

elementos que dão progressão ao texto. Esses estudos buscam uma metodologia<br />

adequada que possibilite o atendimento às especificidades dos alunos. Todavia, por<br />

mais que isso venha sendo discutido entre os profissionais do ensino, muitas são as<br />

falhas que perduram tanto em relação à inadequação dos currículos e programas<br />

quanto à ineficácia das metodologias de ensino.<br />

A criança, ao chegar à escola, é falante de uma língua e se comunica a partir<br />

de um conhecimento de uma gramática internalizada, independente de uma<br />

aprendizagem sistematizada.<br />

Na escola, espera-se que a criança amplie o domínio de uso da linguagem,<br />

que é instrumento indispensável tanto para a aquisição de conhecimento, como para<br />

a participação do indivíduo nas mais diversas situações sociais de interlocução<br />

(PCNEM, 2006, p.23). Assim sendo, o professor deve sistematizar o ensino<br />

gramatical, pois o aluno já tem a sintaxe no seu inconsciente, ele efetua operações<br />

com a linguagem e reflete sobre as diferentes formas de uso da língua. (DCE, p.30).<br />

Segundo as DCE (2006), os conteúdos gramaticais devem ser estudados a<br />

partir de seus aspectos funcionais na constituição da unidade de sentido dos<br />

enunciados. (p.28).<br />

Dessa forma, percebe-se que a escola, como instituição de ensino, deve criar<br />

oportunidades para que o aluno possa refletir, construir, ou reconstruir diferentes<br />

textos a partir da leitura e da escrita, a fim de levá-lo a compreender como a língua<br />

funciona. (DCE, p.29).<br />

Nesse sentido, observa-se que a produção escrita aparece como o grande<br />

“problema” no ensino. O ensino de redação não se deve resumir a uma atividade<br />

que se esgote em si mesma, mas em aulas voltadas especificamente para esse fim.<br />

(PCNEM, p.18). É preciso discutir com os alunos os tópicos relevantes para a<br />

compreensão das características formais e de conteúdos referentes aos vários<br />

textos. (DCE, p.29).<br />

Partindo desse pressuposto, considerando a interlocução como ponto de<br />

partida para o trabalho com o texto, há necessidade do domínio de estratégias de


organização da informação e da estrutura textual, estabelecendo pontos de<br />

ancoragem entre elas. (KOCH, 2004, p.2).<br />

Os PCN (2006:18), nesse aspecto, propõem a produção textual e a leitura<br />

como base para a formação do educando, criticando o uso do texto como pretexto<br />

para retirar exemplos de regras gramaticais, o que chamam de ensino<br />

descontextualizado de metalinguagem.<br />

Koch e Travaglia (1998, p.23- 50) entendem que, ao produzir seus textos, o<br />

aluno se vale de complexos e diversos procedimentos, pois ele planeja, lê para<br />

revisar e corrige seus escritos, considerando o funcionamento da língua; e a coesão<br />

e coerência estão intimamente relacionadas no processo de produção e<br />

compreensão do texto. Assim sendo, no momento da revisão, o aluno deve<br />

identificar os problemas e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los,<br />

acrescentando, retirando, deslocando ou substituindo termos ou expressões do<br />

texto, com o objetivo de torná-lo coerente para o leitor.<br />

Baseando-se nas premissas acima, este trabalho procura apontar as<br />

dificuldades mais comuns na produção textual, abordando a importância de um<br />

ensino baseado em textos. Optou-se por trabalhar com textos narrativos porque<br />

estes circulam bastante entre os alunos, desde as séries iniciais e, para observar as<br />

dificuldades estruturais, o desempenho dos alunos em organizar suas histórias<br />

(situação inicial, desenvolvimento e desfecho final), bem como o uso de pronomes, a<br />

repetição de expressões, a elipse, etc. em construções de referências sucessivas.<br />

Observou-se também a dificuldade que os alunos tiveram na manipulação de<br />

frases, especificamente problemas com a coesão e coerência textuais.<br />

Nosso objetivo foi levantar e interpretar os itens lexicais que operam como<br />

referenciadores discursivos nas produções textuais narrativas de alunos do segundo<br />

ano do ensino médio de uma escola pública de Ponta Grossa, verificando o uso dos<br />

elementos de referenciação em relação à progressão temática. O corpus da<br />

pesquisa constituiu-se de 12 redações entre os 120 textos, dos quais fez-se um<br />

recorte para este trabalho, dado a exigüidade de espaço. A proposta da redação<br />

determinava aos alunos que, após ler e verificar os referenciadores utilizados nos<br />

textos "Inferno Nacional", de Stanislaw Ponte Preta, um fragmento do romance<br />

"Triste fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto e uma paráfrase produzida por<br />

um aluno de 3º ano falando sobre o caos aéreo, escrevessem um texto narrativo<br />

falando sobre a problemática da saúde brasileira.


2. <strong>OS</strong> ELEMENT<strong>OS</strong> <strong>DE</strong> REFERENCIAÇÃO<br />

Para Koch, (2002, p.116) a coesão manifestada no nível microtextual, refere-<br />

se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras estão<br />

ligadas entre si, dentro de uma seqüência e as concatenações frásicas lineares<br />

dependem de cinco categorias de procedimento: referência, substituição, elipse,<br />

conjunção e léxico. Pela referência um signo lingüístico se relaciona ao objeto<br />

extralingüístico. Ela pode ser situacional ou exofórica e textual ou endofórica.<br />

Segundo Koch (1998, p.20), a coesão textual ou endofórica pode ser:<br />

anafórica – quando o signo de referência retoma um signo já expresso no texto ou<br />

catafórica, quando o signo de referência antecipa um signo ainda não expresso no<br />

texto.<br />

Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse, conjunção ou por<br />

coesão lexical) as quais a autora agrupa, pois, para ela, a separação entre<br />

referência, substituição e elipse não resiste a uma análise mais acurada, tendo em<br />

vista que a substituição também é uma forma de referência. Para Fávero (2006:<br />

p.18), se a elipse é considerada uma substituição por zero (∅), não há sentido em<br />

considerá-la um tipo a parte.<br />

Em nossa análise, será adotada a proposta de classificação de Koch e Elias (<br />

2007) que postula, em primeiro lugar, a existência de duas grandes modalidades de<br />

coesão: a referencial e a seqüencial. Destaca-se, em nossa análise, a coesão<br />

referencial, adotando também algumas considerações feitas por Fávero (2006).<br />

A coesão seqüencial é aquela que diz respeito aos procedimentos lingüísticos<br />

por meio dos quais se estabelecem diversos tipos de interdependência semântica<br />

e/ou pragmática entre enunciados (ou partes de enunciados) à medida que se faz o<br />

texto progredir, sem que haja retomada dos itens, sentenças ou estruturas.<br />

Já a coesão referencial ocorre entre dois componentes da superfície textual<br />

que remetem a (ou permitem recuperar) um mesmo referente (que pode,<br />

evidentemente, ser acrescido de outros traços que se lhe vão agregando<br />

textualmente). Esta é responsável pela progressão do texto através da retomada de<br />

referentes, utilizando vários mecanismos, como a repetição de expressões, o uso de<br />

pronomes, a elipse, etc.<br />

Segundo Fávero (2002), a coesão referencial pode ser obtida por substituição<br />

e por reiteração. A substituição acontece quando um componente é retomado ou


precedido de uma pró-forma. No caso de retomada, tem-se anáfora e, no caso de<br />

sucessão, a catáfora.<br />

As pró-formas podem ser , de acordo com Fávero ( 2002, p.4):<br />

a) Pronominais: Tenho um automóvel. Ele é verde. (no exemplo, a<br />

substituição se deu por um pronome reto, porém podem aparecer também, conforme<br />

o caso, pronomes oblíquos, demonstrativos, possessivos e adverbiais).<br />

francês.<br />

b) Verbais: Lúcia corre todos os dias no parque. Patrícia faz o mesmo.<br />

c) Adverbiais: Paula não irá à Europa em janeiro. Lá faz muito frio.<br />

d) Numerais: Mariana e Luiz Paulo são irmãos. Ambos estudam inglês e<br />

Além da substituição por pró-formas, pode ocorrer a substituição por<br />

“zero”(elipse) de entidades já introduzidas no texto, conforme: Paulo veio de carro,<br />

João (0) de ônibus. (elipse do verbo).<br />

A reiteração é a repetição de expressões no texto (os elementos repetidos<br />

têm a mesma referência) e pode-se apresentar da seguinte forma. Observe-se<br />

exemplos de Fávero (2002, p.4):<br />

a) repetição do mesmo item lexical: O fogo acabou com tudo. A casa estava<br />

destruída. Da casa não sobrou nada.<br />

b) hiperônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma<br />

relação todo-parte: Gosto de doces. Cocada, então adoro.<br />

c) hipônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma<br />

relação parte-todo: O gato arranhou-te? O que esperavas de um felino?<br />

Percebe-se, então, que a boa formação textual requer uma estabilidade entre<br />

uma informação nova e a repetição de informações já dadas pelo texto ou pelo<br />

contexto – informações já dadas ou velhas. É na repetição ou na retomada de<br />

informações novas ou velhas que acontece a continuidade temática, de suma<br />

importância para a compreensão textual. E uma das aplicações práticas do conceito<br />

de coesão referencial é precisamente a substituição de palavras por parte do aluno<br />

ao escrever um texto.


Observa-se que a referenciação está na construção e reconstrução de<br />

objetos-de-discurso, isto é, a utilização de elementos que se utiliza em nossos<br />

discursos está de acordo com a nossa percepção de mundo, nossos conhecimentos,<br />

pensamentos, nossas crenças, (KOCH & ELIAS: 2007, 123). Quando se escolhe<br />

termos para comunicar aos outros sujeitos, essas escolhas representam estados de<br />

coisas, um "querer-dizer", existe uma proposta, uma construção de sentido, uma<br />

interação entre os sujeitos.<br />

Segundo Koch e Elias (2007, 125-126), na construção dos referentes textuais,<br />

estão presentes as seguintes estratégias de referenciação:<br />

2.1 Introdução (construção): um referente textual ainda não mencionado é<br />

introduzido, permanecendo em foco. Veja o exemplo retirado do texto<br />

Desespero:<br />

" Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava<br />

com sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa,<br />

dizendo que sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.<br />

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa.(...)" (Desespero )<br />

No exemplo acima, o referente principal Carolina é introduzido, considerando-<br />

se o título do texto “Desespero”. Quando uma entidade é referenciada pela primeira<br />

vez em um texto, a expressão que a descreve é dita nova no discurso, é a primeira<br />

categorização do referente. A introdução desse novo referente se manifesta por um<br />

elemento formalmente definido, é a apresentação da personagem com a qual vai<br />

ocorrer a história. Observa-se como existe uma apresentação de Carolina: sua<br />

idade, características – esperta e feliz- e que ela tem uma irmã; somente então vai<br />

haver a citação do problema de saúde da personagem. Um fator coesivo que auxilia<br />

o interlocutor a compreender o texto consiste justamente no fenômeno das<br />

informações que são introduzidas, no texto, pelo locutor.<br />

2.2 Retomada (manutenção): um termo já introduzido no texto é retomado<br />

através de uma nova forma referencial, por pronomes (pessoais e possessivos), ou<br />

por sinônimos, mantendo a correferencialidade, fazendo com que seja ativado na<br />

memória, permanecendo saliente. Veja o exemplo acima:


O referente principal é introduzido (Carolina), sendo retomado pelos termos:<br />

uma menina e a garotinha, fazendo com que o objeto-de-discurso "Carolina"<br />

permaneça em foco. O referente Elisa é retomado através do pronome ela.<br />

Observa-se que a relação anafórica dá-se por meio das expressões<br />

pronominais e por palavras sinônimas, as quais, vazias de significação, são<br />

interpretáveis porque se referem a elementos já explicitados no co-texto.<br />

As anáforas são atividades de referenciação e remissão a termos<br />

indispensáveis para a compreensão textual. Elas são como “costuras”, porque<br />

unem os enunciados uns nos outros. Dessa forma, a atividade anafórica, como<br />

elemento de coesão, é muito importante na construção da coerência de um texto.<br />

Veja que nos exemplos dados, a função gramatical do pronome é justamente<br />

substituir ou acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda<br />

a idéia contida em um parágrafo ou no texto todo. Nos textos analisados são nítidos<br />

alguns casos de substituição pronominal. Observe os exemplos:<br />

Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha<br />

tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e<br />

levaram-na ao posto de saúde.<br />

Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um enfermeiro.<br />

Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua<br />

vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho.<br />

Nesse fragmento do texto escrito pelos alunos, o pronome na e la são<br />

anáforas lexicais de “Uma criança”. Observe que as anáforas pronominais que aqui<br />

aparecem são mais complexas e é difícil encontrá-las em textos de alunos. Observa-<br />

se, com isso, que o estudante já possui um certo conhecimento gramatical de maior<br />

complexidade e o utiliza em seus textos. O aluno utiliza corretamente o pronome ele<br />

fazendo referência ao enfermeiro (anáfora), o que demonstra que o aluno busca<br />

progressão temática em seu texto; ocorre o mesmo quando utiliza o pronome “seu”<br />

e “sua” para caracterizar as personagens, dando estabilidade à sua história, e isso<br />

resumindo o fato acontecido anteriormente..<br />

Observe outros exemplos de anáforas pronominais:<br />

"Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era<br />

um câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo.."(Problema grave,).


A mãe , desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho.<br />

(Descaso com a vida)<br />

Dona Ilda, uma dona de casa [...] .Um mês depois ela conseguiu sua<br />

primeira consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para<br />

tomar.(Um sistema inconfiável)<br />

Percebe-se, ainda, nos textos deles, o uso de muitas anáforas lexicais, pela<br />

repetição do mesmo item lexical, ou por sinônimos. Esses mecanismos de conexão<br />

marcam as grandes articulações da progressão temática e sua realização se dá<br />

pelos organizadores textuais. O termo pode ser repetido através de outro que o<br />

substitui; a substituição garante ao texto, ao mesmo tempo, a inserção de um novo<br />

elemento, quer seja pela particularização ou pela paráfrase do termo substituído.<br />

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de<br />

mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta.<br />

O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava<br />

com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme<br />

fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.<br />

A mãe, muito preocupada com a saúde do menino, preferiu esperar pela<br />

consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a<br />

vez de Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma<br />

receita, dizendo que se tratava apenas de uma gripe.(Descaso com a vida)<br />

Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma<br />

viagem que fez ao Rio de Janeiro. Ele não estava se sentindo bem, foi ao<br />

hospital, constatou-se que era uma gripe. Um mês depois, o rapaz ainda se<br />

sentia mal.(Falta de interesse governamental na saúde)<br />

Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a falecer. Não foi<br />

possível realizar o transplante. Parentes dizem: se não fosse o dinheiro,<br />

Carlos ainda estaria presente entre nós. (Se não fosse o dinheiro)<br />

Observe como o uso de sinônimos possibilita manter o mesmo tópico,<br />

assegurando a continuidade entre as partes do texto. Veja-se o exemplo Augusto<br />

sendo substituído por garoto, menino, criança; Jonathan é substituído por rapaz. No<br />

texto "Se não fosse o dinheiro" ocorre a repetição do mesmo referente Carlos, para<br />

ressaltar a crítica que o aluno faz ao poder de quem tem dinheiro. Essa repetição do<br />

mesmo termo é chamada de reiteração.


2.3 Desfocalização: ativação de um novo referente, deslocando a atenção para este<br />

que vai ocupar a posição focal, mas deixando o outro referente disponível para<br />

ser ativado a qualquer momento. Observe o exemplo dado por Koch & Elias<br />

(p.126):<br />

Ana Maria Braga vai se desfazer de dois de seus três barcos.<br />

A apresentadora está procurando comprador para as lanchas Âmbar I, de 47<br />

pés, e Âmbar II, de 52 pés. Ela pretende ficar apenas com Shambhala, o<br />

trawler de 85 pés que inclui até TV de tela plana na sala de estar. Lanchas<br />

com essas dimensões custam entre R$ 450 mil e R$ 600 mil.<br />

No texto acima, o Koch e Elias deixam o primeiro objeto de discurso<br />

introduzido: Ana Maria Braga" de lado e passam a falar sobre a lancha Shambala<br />

que passa a ocupar o foco de atenção; isto é uma desfocalização.<br />

3. FORMAS <strong>DE</strong> INTRODUÇÃO (ATIVAÇÃO) <strong>DE</strong> REFERENTES TEXTUAIS<br />

São de dois tipos os processos de construção de referentes textuais, isto é,<br />

de atuação no modelo textual: a ativação ancorada e a ativação não-ancorada. A<br />

introdução se constituirá em não-ancorada quando um objeto-de-discurso novo é<br />

introduzido no texto, sem associação com elementos que já estejam presentes.<br />

Observe um fragmento do texto utilizado como exemplo por Koch e Elias:<br />

"Nova espécie de ave é descoberta na grande SP.<br />

O Ibama anunciou ontem a descoberta de uma nova ave, o bicudinho-dobrejo-paulista.(...)"<br />

"Nova espécie de ave" é uma introdução não-ancorada.<br />

A ativação ancorada ocorre quando um novo objeto-de-discurso é introduzido,<br />

porém faz relação com elementos que já foram expressos no texto. (KOCH e ELIAS,<br />

2007, p.127). Ainda em Koch e Elias, tem-se como exemplo, que segue aqui<br />

parafraseado, em forma de diálogo:<br />

"__ Padre! Sou um alcoólatra! diz o pecador.<br />

__ Meu filho! Tem que ter forças para vencer o vício! Agora, vai se<br />

comungar! responde o padre.<br />

Ao receber a comunhão, o pecador pergunta:<br />

__ E o vinho? Não tem?”


Observe como, na última fala, foi introduzido o novo referente "vinho", que<br />

tem associação aos elementos "alcoólatra e vício" presentes no co-texto e ao<br />

contexto sociocognitivo.<br />

Estão entre esses casos, as chamadas anáforas associativas e as anáforas<br />

indiretas de modo geral.<br />

A anáfora associativa explora relações meronímicas, ou seja, as remissões<br />

são realizadas através de elementos que substituem ou mantêm relação com o<br />

referente, como se um fosse ingrediente do outro. Nesta perspectiva, considera-se<br />

também, não só as associações metonímicas, mas também as relações entre<br />

termos que se complementam. Observe o exemplo, encontrado em Koch & Elias<br />

(p.129).<br />

"A fazenda estava abandonada. Dava pena ver o pasto e as lavouras<br />

dominadas pelo mato, a porteira derrubada e o velho casarão em ruínas.<br />

Nada lembrava a fartura e a riqueza dos bons tempos."<br />

A anáfora associativa ocorre com a introdução de um referente novo<br />

"fazenda", explorando as relações meronímicas - pasto, lavouras, porteira, casarão,<br />

que são ingredientes, têm associação com o elemento "fazenda".<br />

Quer dizer, as descrições definidas o pasto, as lavouras, a porteira e o velho<br />

casarão não estão simplesmente apresentando um referente novo; mas ativando um<br />

referente que havia sido introduzido através de uma inferência, isto é, está<br />

ancorando-a a uma informação já mencionada no co-texto, permitindo assim que se<br />

use o artigo definido sem estranhamento por parte do leitor.<br />

Percebe-se que as informações textuais em que se ancoram as anáforas<br />

nominais associativas, apresentam pistas com as quais é possível estabelecer um<br />

sentido.<br />

Na anáfora indireta constrói-se uma relação inferencialmente, a partir do co-<br />

texto, com base em nosso conhecimento de mundo. Veja o exemplo de Koch e<br />

Elias:<br />

"Abro a antiga mala de velharias e lá encontro minha máscara de esgrima.<br />

Emocionante o momento em que púnhamos a máscara - tela tão fina – e nos<br />

enfrentávamos mascarados, sem feições. A túnica branca com o coração em<br />

relevo no lado esquerdo do peito, "olha esse alvo sem defesa, menina,<br />

defenda esse alvo!" – advertia o professor e eu me confundia e o florete do<br />

adversário tocava reto no meu coração exposto".


Observe como as expressões destacadas, no exemplo, remetem às âncoras<br />

esgrima, refocalizando indiretamente tal referente. No exemplo, o cenário da aula de<br />

esgrima só se configura com a introdução da entidade do professor.<br />

Assim, as anáforas indiretas caracterizam-se por não existir no co-texto um<br />

antecedente explícito, mas existe um elemento de relação que se pode denominar<br />

de âncora e que é decisivo para o entendimento, para se saber de que se está<br />

falando. Desta forma, nas anáforas indiretas, em geral, ocorre a seleção adequada<br />

das possíveis âncoras que vão permitir a mobilização das inferências necessárias à<br />

ativação do referente, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do texto, através<br />

da progressão referencial.<br />

Entre os casos de introdução ancorada de objeto-de-discurso, se incluem as<br />

chamadas nominalizações, isto é, uma operação discursiva que consiste em referir,<br />

por meio de um sintagma nominal, um processo ou estado significado por uma<br />

proposição que, anteriormente, não tinha o estatuto de entidade. Observe-se um<br />

exemplo retirado de Koch e Elias:<br />

"Fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança! Quem seria capaz de<br />

resolver todos esses problemas?" (Problemas transforma todos os<br />

enunciados: fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança, em um<br />

objeto-de-discurso- problemas.<br />

As nominalizações são consideradas rotulações, resultantes de<br />

encapsulamentos operados, isto é, introduz-se um referente novo, encapsulando-se<br />

a informação difusa no contexto precedente ou subseqüente, de forma a operar<br />

como objeto-de-discurso.<br />

O encapsulamento, para Koch & Elias (op.cit. p.138) é uma função particular<br />

das nominalizações que, conforme foi mencionado, sumarizam as informações-<br />

suporte contidas em segmentos precedentes do texto, encapsulando-as sob a forma<br />

de uma expressão nominal e transformando-as em objeto-de-discurso. Trata-se de<br />

nomes-núcleo inespecífico que exigem realização lexical no contexto. Tais<br />

expressões rotulam uma parte do co-texto que as estabelecem em novo referente<br />

que, por sua vez, poderá constituir um tema específico para os enunciados<br />

subseqüentes.<br />

Considere-se o exemplo extraído do texto Problema grave:


Tratamentos eram efetuados, operações, medicamentos tomados, mas o<br />

problema se agravava cada vez mais, (Problema grave)<br />

Tratamentos encapsula operações, medicamentos.<br />

Cabe, ainda, chamar a atenção para o fato de que a progressão e, portanto, a<br />

reativação de referentes textuais pode realizar-se, também, por meio de formas<br />

nominais indefinidas (normalmente introduzem referentes novos), ou expressões<br />

nominais definidas (é a ativação de um determinante definido – artigo definido ou<br />

pronome demonstrativo seguido de um nome - cujo conhecimento é partilhado com<br />

o interlocutor).<br />

flor.<br />

Confronte os exemplos:<br />

Um grupo de crianças entrou na sala. Uma garotinha loira me entregou uma<br />

O músico não pode fazer o concerto. O violão tinha sumido.<br />

O uso do artigo definido, nos exemplos acima, aponta que essa preferência<br />

de emprego deve-se, sobretudo, por sua função de marcar que a restrição foi<br />

realizada. E, ainda, que a forma definida no singular ocorre nos casos em que se<br />

preserva a identificação de um objeto que é único entre outros e é passível de ser<br />

localizado no mundo real.<br />

(...)As enfermeiras passavam por nós e não davam a mínima para os<br />

gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela cena ,<br />

reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido<br />

rapidamente.(Tumulto no hospital)<br />

agravava cada vez mais, o avanço da doença não tinha controle. Os<br />

profissionais também não eram especializados nesta área, eram apenas<br />

estagiários de medicina.(Problema grave)<br />

...filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito<br />

de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita<br />

freqüência...(Descaso com a vida)<br />

Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no<br />

coração . Portava essa doença desde os vinte anos. (Se não fosse o<br />

dinheiro)<br />

Nos exemplos acima, as expressões são formadas por grupos nominais<br />

introduzidos por artigo definido ou pronome demonstrativo (observe o exemplo<br />

acima essa doença, usando o pronome demonstrativo). Em geral, são de


conhecimento comum e dizem respeito a características do referente às quais se<br />

deseja dar ênfase ou ressaltar, ajudando o leitor na construção do sentido. É o que<br />

se comprova no exemplo o problema, / e essa doença, em que se desejava ressaltar<br />

a característica, a gravidade do problema de saúde.<br />

Como já foi dito, a referenciação é uma atividade discursiva que se processa<br />

através da seleção que os indivíduos fazem entre as múltiplas possibilidades que a<br />

língua oferece. Constitui as operações realizadas pelos sujeitos à medida que o<br />

discurso se desenvolve. Por sua vez, o discurso constrói os objetos a que faz<br />

remissão ao mesmo tempo em que é produto dessa construção. O uso de<br />

hipônimos e hiperônimos acontece para atualizar os conhecimentos do<br />

interlocutor, retomando um termo pouco usual.<br />

Hiperônimos são palavras gerais ou nomes genéricos usados para nomear<br />

toda uma classe de seres ou para abarcar os membros de um grupo. Por sua<br />

abrangência, asseguram a manutenção do tema.<br />

Em contrapartida, os hipônimos são palavras mais específicas em relação a<br />

uma outra mais geral. É o que ocorre no exemplo: a rosa, o cravo, a violeta são<br />

flores maravilhosas. (flores é hiperônimo de cravo, rosa, violeta, que são seus<br />

hipônimos).<br />

Nos textos dos alunos (em anexo), observa-se o uso de hipônimos e<br />

hiperônimos. Nesses exemplos, se observa a relação entre todo / parte: hospital<br />

(referente) é o conjunto maior do qual o setor da saúde (sala de exames, sala de<br />

cirurgia, enfermeira),faz parte. Destaca-se, a seguir, alguns trechos dos textos, que<br />

exemplificam o que foi discutido acima:<br />

(...)Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a<br />

sua vez. (...). A mãe , temendo pela vida da filha, ameaçou o enfermeiro,(...)<br />

mal humorado, tomou a garota nos braços e começou a caminhar para a<br />

sala de exames .(...) Após os exames, Letícia foi levada para a sala de<br />

cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, (...).(Desespero)<br />

No texto acima, têm-se os hipônimos: enfermeiro, sala de exames, sala de<br />

cirurgia contidos no hiperônimo hospital.<br />

4. <strong>DE</strong>SENVOLVIMENTO DO TRABALHO REALIZADO


A proposta deste trabalho adveio, principalmente, de nossa experiência em<br />

lecionar no Ensino Médio e na observação da grande dificuldade que os alunos<br />

demonstravam ao produzir seus textos, principalmente ao utilizar o processo coesivo<br />

textual.<br />

Entende-se que a produção de textos é um processo de acertos e<br />

inadequações, escrita e reescrita, segundo as Diretrizes Curriculares. (p.29).<br />

Vê-se, então, a necessidade de repensar o ensino da escrita, pois se observa<br />

que o ensino da Língua Portuguesa está passando por grande dificuldade, porque<br />

os alunos não demonstram interesse quando da produção textual , pois estes<br />

escrevem pouco e erram muito. Eles têm dificuldades em ligar alguns elementos<br />

frasais, dar continuidade aos seus escritos.<br />

No início do nosso trabalho, abordou-se o estudo da estrutura do texto<br />

narrativo, observando as personagens, o tempo, o lugar, o enredo. Solicitou-se aos<br />

alunos que escrevessem pequenos textos identificando os elementos estudados,<br />

procurando construir histórias relacionando as ações, às personagens.<br />

No decorrer do processo, mostrou-se aos alunos que as inadequações podem<br />

ser revistas, corrigidas, buscando a construção de sentido do texto. Apresentou-se,<br />

então, a fundamentação teórica dos elementos de referenciação aos alunos,<br />

discutindo a sua importância para uma boa elaboração textual. Explicou-se que<br />

elementos referenciais são aqueles termos ou formas de introdução, no texto, de<br />

novas entidades ou referentes; é quando se faz referência a alguém ou a coisas do<br />

próprio texto e nesse processo podem ser utilizados pronomes pessoais,<br />

possessivos, demonstrativos ou expressões adverbiais; e referência é a função pela<br />

qual uma palavra se relaciona a outro elemento do universo textual. Enfatizou-se o<br />

emprego da anáfora, da catáfora e das nominalizações, que fazem parte de nossa<br />

análise.<br />

Também observou-se que a referência pode ocorrer quando se faz remissão<br />

a algum elemento que está fora do texto – remissão exofórica- e quando o referente<br />

está no próprio texto – remissão endofórica. (KOCH: 1998, p.20).<br />

textual.<br />

Partiu-se, então, para um estudo sobre o conceito e ocorrências da referência<br />

Explicou-se que a coesão referencial é aquela utilizada para a progressão<br />

do texto através da retomada de referentes, usando a correferência. Essa se utiliza


de vários mecanismos, tais como a pura e simples repetição de expressões, o uso<br />

de pronomes; os hiperônimos, hipônimos e a elipse.<br />

Fez-se uma revisão, com os alunos, dos elementos que podem ser utilizados<br />

para realizar as cadeias referenciais, como os pronomes, os numerais e advérbios<br />

pronominais, as elipses, as nominalizações.<br />

Foram propostas então atividades para que os alunos observassem, em<br />

textos narrativos diversos, o uso dos elementos de referenciação e os destacassem.<br />

Essa proposta foi importante para que o aluno observasse o processo de construção<br />

da narrativa, a situação que a envolve e como a referenciação contribui para a<br />

construção do sentido e da progressão (continuidade) do texto.<br />

Chegou o momento de o aluno aplicar o seu conhecimento, escrevendo seu<br />

próprio texto, utilizando os elementos referenciais estudados.<br />

Foi interessante observar o procedimento dos alunos nesse momento. A<br />

maioria deles não teve dificuldade em criar suas histórias observando os elementos<br />

de referenciação utilizados. Após essa tarefa, foram recolhidos os textos e<br />

classificados alguns deles para fazer o estudo da referenciação usada pelos alunos.<br />

Para que os alunos visualizassem e entendessem melhor a nossa proposta<br />

de trabalho quanto à reestruturação e o emprego de elementos referenciais textuais,<br />

foi escolhido primeiramente um texto que apresentou poucas falhas de estrutura e<br />

reestruturou-se, coletivamente. Em seguida, apresentou-se um texto em que<br />

estavam presentes muitas repetições de um mesmo referente, o uso de termos<br />

inadequados ao sentido. Quando interrogados sobre esse emprego não sabiam<br />

explicar o porquê. Com o auxílio dos alunos, fez-se a reestruturação observando os<br />

elementos utilizados. Somente então foi apresentado um terceiro texto para que eles<br />

o reestruturassem individualmente. Muitos deles fizeram isso com facilidade, poucos<br />

apresentaram dificuldade em cumprir essa tarefa.<br />

Os textos produzidos depois dessa atividade melhoraram muito. Agora os<br />

alunos produzem seus textos, corrigem suas falhas através da reestruturação e<br />

somente então escrevem a versão definitiva.<br />

Questionados a respeito dessa atividade, em que ela melhorou a<br />

aprendizagem, ou se de alguma forma contribuiu para a melhoria de seus textos, a<br />

resposta/comentários foram gratificantes, como "agora eu realmente aprendi a<br />

escrever um texto", respondiam eles; "antes, a gente escrevia redação apenas para


cumprir uma tarefa, agora eu sei como devo escrever meus textos, ficou bem mais<br />

fácil". Foi compensador ouvir esses e outros comentários.<br />

Num primeiro momento, eles se mostraram desinteressados, relutantes em<br />

trabalhar essa atividade. Mas no final do trabalho, percebia-se a satisfação deles em<br />

saber empregar os elementos estudados para tornar seus textos coerentes.<br />

5. A ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL D<strong>OS</strong> ALUN<strong>OS</strong><br />

Os alunos, muitas vezes, utilizam expressões que não são condizentes com o<br />

que de fato querem escrever, mas as colocam por tê-las ouvido ou lido em algum<br />

lugar.<br />

A partir da fundamentação apresentada acima, pode-se fazer uma síntese do<br />

objetivo deste trabalho. Mostra-se a análise de fragmentos de algumas narrativas<br />

produzidas pelos alunos, observando as ocorrências com base em nosso trabalho<br />

realizado quando da explicação sobre os elementos referenciais textuais.<br />

Como foi dito anteriormente, selecionou-se 12 textos de alunos da 2ª. série<br />

do Ensino Médio de uma escola estadual de Ponta Grossa.<br />

Inicialmente foi feita leitura de todos os textos e selecionados aqueles que<br />

considerou-se estarem mais bem elaborados.<br />

5.1 Análise e discussão dos dados<br />

Constatou-se, pelos textos dos alunos, que eles utilizam a elipse que é<br />

caracterizada pela omissão de um item, de um sintagma ou até de orações,<br />

facilmente recuperáveis no contexto. É o que acontece nos exemplos abaixo, em<br />

que se omite o referente Sandra, já expresso pelo autor no texto O grande milagre, e<br />

o termo Dona Ilda, no texto Um sistema inconfiável. Nos textos dos alunos, percebe-<br />

se que é comum a ocorrência da elipse antes de verbos.<br />

(...) Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às<br />

23:40, Sandra sentiu dores e fortes contrações. ∅ Levada imediatamente<br />

ao hospital, foram feitos novos exames para ver a causa de tanta dor.<br />

Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Várias<br />

visitas ao médico, vários dias ∅ jogada nos corredores dos hospitais e nada<br />

de cirurgia. (O grande milagre)


Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público,<br />

por ∅ não ter uma daquelas carteiras de saúde particular. (Um sistema<br />

inconfiável)<br />

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. ∅ Estava diante<br />

de mais um desafio: levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma<br />

consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, ∅ tinha muita febre<br />

e vomitava com muita freqüência.(Descaso com a vida)<br />

No texto acima, tem-se uma referência por elipse. O sujeito dos verbos estava<br />

é Simone; e tinha, é o garoto. Veja que nos exemplos citados, que as expressões<br />

nominais não são retomados pelos pronomes correspondentes (ela, ele), mas por<br />

elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular - é que indica a<br />

referência.<br />

Aponta-se, ainda, o alto valor generalizante das expressões nominais<br />

destacando-se neste estudo o uso do demonstrativo que, na maioria delas,<br />

cumpre a função de sinalizar que o autor do texto está passando a um estágio<br />

seguinte de sua argumentação, fechando o anterior por meio de seu<br />

encapsulamento em uma forma nominal. Um dos efeitos do demonstrativo usado<br />

nos textos é o de recuperar a informação dada, anteriormente, formando uma cadeia<br />

referencial, encapsulando uma informação do texto precedente. Este fenômeno é<br />

claramente verificável quando o núcleo do sintagma nominal é um nome de<br />

processo, por terem valor semântico incompleto, sendo, pois, intrinsecamente<br />

anafóricos. Quando introduzidos por um determinante demonstrativo, este acarreta a<br />

captação do processo por meio de referência (KOCH, 1998:42). Observe os<br />

exemplos:<br />

(...)Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para<br />

acalmar a dor, mas pede à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade<br />

de saúde.<br />

A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro(...) O<br />

moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha<br />

para que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade ... . Elisa,<br />

inconformada com o atendimento daquele lugar... ( Desespero)<br />

(...)Seu trabalho era muito pesado, tinha que levantar tijolos, cimento, cal,<br />

etc., por isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o<br />

incomodou. Quando foi ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para<br />

detectar esse problema , não é muito difícil.(...) Mas como já faz cinco anos<br />

que ele carrega esse incômodo(...)(A espera pode trazer falecimentos)


(...)O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia<br />

evoluído para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital<br />

mais equipado. Quando ele chegou ao hospital, morreu. Esses são problemas<br />

que vivemos no dia-a-dia,(...)( Falta de interesse governamental na saúde)<br />

O uso do advérbio aparece nos textos exprimindo circunstâncias,<br />

principalmente as de lugar, chamado aqui de referência espacial, que ocorre quando<br />

a expressão é usada a partir de um ponto de referência constituído pelo lugar da<br />

enunciação. No caso da anáfora, a expressão coloca o referente como foco da<br />

atenção, como alguns exemplos, abaixo, retirado de textos de alunos:<br />

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi<br />

atendida pelo farmacêutico. Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede<br />

à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade de saúde.<br />

Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de<br />

repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais<br />

próximo.<br />

Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta. (Tumulto no hospital)<br />

Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então<br />

imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de<br />

chamar um médico... (A saúde pública brasileira)<br />

Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha<br />

tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e<br />

levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e<br />

velhos. Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da<br />

cidade. Lá o ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. (Desespero)<br />

É importante observar que a referência espacial possui referente no co-texto.<br />

Assim, lá e ali designam o local da enunciação.<br />

Notou-se também que o uso de pronomes (pessoais, possessivos,<br />

demonstrativos) é muito recorrente, sendo que, em sua maioria, são utilizados<br />

pronomes pessoais do caso reto, principalmente, os da terceira pessoa do singular e<br />

do plural. As retomadas feitas são mais explícitas e ocorrem bem próximas aos<br />

referentes. Porém, mesmo através do uso de pronomes demonstrativos, as<br />

remissões são realizadas também logo após o referente ser citado. Ressalva-se<br />

apenas que, com o uso dos pronomes demonstrativos, os referentes não ficam tão<br />

visíveis, mas é uma referência anafórica relacionada à locação de proximidade.<br />

Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública.


Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em<br />

1996, sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida.<br />

Dali em diante, começava um longo sofrimento.(Descaso com a vida)<br />

Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no<br />

coração .Portava essa doença desde os vinte anos.<br />

Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença.(Se<br />

não fosse o dinheiro)<br />

No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige<br />

para casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista,<br />

ela é atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante<br />

alguns minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro.<br />

(Realidade)<br />

A presença da catáfora nos textos: um aspecto encontrado em todos os<br />

textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora, que acontece quando um<br />

elemento de referência antecipa uma situação ainda não expressa no texto e que<br />

fica explicitada após esse elemento. Observe os exemplos retirados dos textos dos<br />

alunos:<br />

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de<br />

mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta.<br />

O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava<br />

com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme<br />

fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.(Descaso<br />

com a vida)<br />

A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse.<br />

Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu:<br />

Sandra deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de<br />

Vitória, era uma chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia<br />

desaparecido, como um milagre. (O grande milagre)<br />

Acima, no primeiro exemplo, aparece primeiramente a expressão: um desafio,<br />

e logo depois explicita qual é o desafio: levar seu filho Augusto para uma consulta;<br />

no segundo exemplo tem-se: o que viu, e após, a explicação: Sandra deu à luz a<br />

uma linda menina de quatro quilos. Essas expressões são exemplos de catáfora. Os<br />

alunos souberam usá-la adequadamente, criando, com seu uso, uma espécie de<br />

suspense.<br />

É importante ressaltar que os alunos, ao escreverem seus textos, não<br />

expressam em sua proposta uma preocupação com o uso ou não das estratégias de


eferenciação, eles fazem uso desses elementos de forma natural. O que se percebe<br />

é que eles escreveram numa linguagem mais simples, isto é, de acordo com um<br />

vocabulário conhecido e acessível a eles. A preocupação deles era criticar a saúde<br />

brasileira.<br />

De maneira geral, os alunos atenderam à tipologia textual solicitada,<br />

demonstrando que leram o texto-base oferecido a eles. Como se pôde observar, nos<br />

textos há um predomínio do uso dos pronomes (pessoais, possessivos,<br />

demonstrativos), isto é, a anáfora aparece com muita freqüência, dando clareza aos<br />

textos, garantindo a sua continuidade.<br />

6. CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

Pela análise dos fragmentos apresentados acima, pôde-se apontar a<br />

utilização de referentes nas produções dos alunos e demonstrar, de maneira sucinta,<br />

a importância da atuação do professor como orientador nessa atividade para que<br />

haja realmente a aprendizagem do ensino da língua. Há necessidade de o professor<br />

ser capaz de modificar seu posicionamento metodológico de ensino de produção de<br />

textos, para auxiliar os alunos nas suas dificuldades e para que eles possam<br />

escrever textos coerentes.<br />

É importante destacar a observação feita por Roman (2007, p.234)<br />

o professor, ao analisar os textos produzidos por seus alunos, deve-se<br />

perguntar: O que me leva a corrigir esta ou aquela forma? O que me leva a<br />

sugerir mudanças no texto? Como fazer isso sem discriminar a linguagem<br />

dos alunos? Como levar os alunos a saber avaliar a adequação do uso de<br />

uma forma ou de outra? [...] É importante realizar operações em que a<br />

expansão dos sintagmas expressem sinteticamente elementos dispersos no<br />

texto que predicam um mesmo núcleo ou o modificam.<br />

Acredita-se que este estudo, possa ter trazido uma contribuição para a<br />

melhoria do processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, visando a um<br />

ensino mais concreto e produtivo. É importante acrescentar informações novas ao<br />

texto, ancorando-as em informações dadas, já conhecidas pelo interlocutor.<br />

Analisados os textos, percebe-se que a repetição lexical foi a categoria com<br />

maior índice de ocorrências. Ressalta-se a repetição dos nomes genéricos,


hiperônimos, hipônimos, pronominalizações, expressões nominais. Outro aspecto<br />

encontrado nos textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora.<br />

Entende-se que os fragmentos textuais aqui analisados permitem observar<br />

que os referentes são objetos-de-discurso que vão sendo construídos e<br />

reconstruídos durante a interação verbal. Percebeu-se, com este trabalho, que os<br />

objetos-de-discurso são altamente dinâmicos, ou seja, quando introduzidos na<br />

memória discursiva, vão sendo constantemente transformados, reconstruídos,<br />

recategorizados no curso da progressão textual, como afirma Koch (2004, p.12).<br />

7. <strong>REFERÊNCIA</strong>S BIBLIOGRÁFICAS<br />

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa: ensino médio.<br />

Brasília: MEC, 2006.<br />

FÁVERO, Leonor Lopes Coesão e Coerência Textuais. 9ª edição,São Paulo: Ática,<br />

2002.<br />

KOCH, Ingedore G. V. Desvendando os Segredos do texto. São Paulo: Cortez,<br />

2002.<br />

_______ ;ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto, 2ª ed. São<br />

Paulo: Contexto, 2007.<br />

_______. Koch, Ingedore V. Linguagem e cognição: A construção de objetos-dediscurso.<br />

Veredas, MG, 2004.<br />

_______; TRAVAGLIA, L. C. Texto e Coerência. São Paulo, Cortez, 1998.<br />

_______. Trajetória da Lingüística Textual. São Paulo, 2004.<br />

NEVES, M.H.M. Funcionalismo e Lingüística Textual- Martins Fontes. São<br />

Paulo, 2004.<br />

ROMAN, Elódia Constantino. A diversidade de textos e a prática de análise<br />

lingüística. In: Línguas & Letras. EDUNIOESTE. Cascavel, v. 8, p.221-236, 2007.<br />

SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado<br />

do Paraná. Curitiba: Ed., 2006


ANEX<strong>OS</strong><br />

TEXT<strong>OS</strong> D<strong>OS</strong> ALUN<strong>OS</strong><br />

<strong>TEXTO</strong> 1 : TUMULTO <strong>NO</strong> H<strong>OS</strong>PITAL<br />

Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de<br />

repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais próximo.<br />

Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta . A enfermeira informou que ele teria<br />

que esperar sua vez, pois tinha outras pessoas na fila de espera e que havia só um<br />

médico de plantão.<br />

Após uns cinco minutos de espera, um senhor que estava sentado ao meu lado<br />

começou a se contorcer de dor. As enfermeiras passavam por nós e não davam a<br />

mínima para os gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela<br />

cena , reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido rapidamente.<br />

Depois do tumulto , todas as outras pessoas, inclusive meu primo , foram<br />

atendidos rapidamente.<br />

<strong>TEXTO</strong> 2: PROBLEMA GRAVE<br />

Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era um<br />

câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo por não ter condições<br />

financeiras para fazer o tratamento.<br />

José sofria muito, necessitava todos os dias de medicamentos e de assistência,<br />

porque a doença estava instalada em sua face, e não conseguia enxergar, porque<br />

seu rosto estava muito inchado. Tratamentos eram efetuados, operações,<br />

medicamentos tomados, mas o problema se agravava cada vez mais, o avanço da<br />

doença não tinha controle. Os profissionais também não eram especializados<br />

nesta área, eram apenas estagiários de medicina.<br />

Assim José se tornou um objeto de estudo para estagiários de medicina .<br />

Eram realizados diversos tipos de operações por eles . A vida de José cada vez<br />

mais chegava perto do fim, com gritos, choros, ranger de dentes de tanta dor, e isso<br />

causava espanto para outras pessoas. Professores e alunos de medicina sabiam<br />

que não havia solução para José , mas os familiares não sabiam de nada.<br />

Por não haver controle eficiente, o câncer chegou ao cérebro, no entanto, já<br />

não sabiam o que fazer, então realizaram uma eutanásia, sem ninguém saber que<br />

ele morreu desta maneira. Esta alternativa para José foi um alívio, só assim pôde<br />

descansar.<br />

<strong>TEXTO</strong> 3: O GRAN<strong>DE</strong> MILAGRE<br />

Foram exatamente 8 meses e meio de dor e desespero. Nos seus<br />

aproximadamente 45 anos, Sandra descobriu ser mais uma vítima do câncer.<br />

Sorrisos se transformaram em lágrimas e palavras bonitas eram apenas consolos.


Exames foram feitos e o tumor que dizia ter se agravava ainda mais. Vários<br />

médicos foram consultados e remédios fortíssimos estavam sendo ingeridos por<br />

Sandra, mas nada a salvaria. O desespero da família era tamanho, mas a fé em<br />

Deus era o que prevalecia.<br />

Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às 23:40,<br />

Sandra sentiu dores e fortes contrações. Levada imediatamente ao hospital, foram<br />

feitos novos exames para ver a causa de tanta dor. Impactado com o resultado, o<br />

médico a mandou imediatamente à maternidade.<br />

A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse.<br />

Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu: Sandra<br />

deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de Vitória, era uma<br />

chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia desaparecido, como um milagre.<br />

<strong>TEXTO</strong> 4: <strong>DE</strong>SCASO COM A VIDA<br />

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais<br />

um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto<br />

reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita<br />

freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava<br />

todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.<br />

A mãe, muito preocupada com a saúde do menino , preferiu esperar pela<br />

consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a vez de<br />

Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma receita,<br />

dizendo que se tratava apenas de uma gripe. A mãe ficou aliviada. Pegou os<br />

remédios e deu ao menino, mal sabia a mãe que esses remédios seriam piores. O<br />

menino estava com dengue e devido os remédios, ele piorou e faleceu.<br />

A mãe, desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho , mas<br />

logo perdeu as esperanças, ao saber que essas situações(anáfora) são muito<br />

freqüentes no Brasil e sempre ficam impunes.<br />

<strong>TEXTO</strong> 5: SISTEMA INCONFIÁVEL<br />

Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública.<br />

Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em 1996,<br />

sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida. Dali em diante,<br />

começava um longo sofrimento.Um mês depois ela conseguiu sua primeira<br />

consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para tomar.<br />

Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Varias visitas<br />

ao médico, vários dias jogada nos corredores dos hospitais e nada de cirurgia.<br />

Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público, por<br />

não ter uma daquelas carteiras de saúde particular.<br />

<strong>TEXTO</strong> 6: SE NÃO F<strong>OS</strong>SE O DINHEIRO...


Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no<br />

coração .Portava essa doença desde os vinte anos.<br />

Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença.<br />

Quando foi encontrado um coração compatível, estava na fila há oito anos. Estava<br />

tudo certo para a operação , mas um ator famoso também tinha o mesmo problema,<br />

e era compatível com o coração encontrado. O dinheiro falou mais alto e o coração<br />

foi para o ator.<br />

Passaram-se mais quatro anos e outro coração compatível apareceu, mas o<br />

destino é surpreendente. Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a<br />

falecer. Não foi possível realizar o transplante.<br />

Parentes dizem: se não fosse o dinheiro, Carlos ainda estaria presente entre<br />

nós.<br />

<strong>TEXTO</strong> 7: REALIDA<strong>DE</strong><br />

No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige para<br />

casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista, ela é<br />

atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante alguns<br />

minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro. O resgate<br />

demora a chegar. Quando finalmente o Samu chega, ela recebe os primeiros<br />

socorros e é levada ao Pronto Socorro, onde fica em uma maca no corredor. Ela<br />

começa a ter convulsões, vai perdendo seu fôlego de vida pouco a pouco, com<br />

muita dor. Quando os enfermeiros vão atende-la , é tarde demais, Flávia já havia<br />

morrido. Por imprudência de um motorista e a incompetência e descaso com a<br />

saúde pública, mais uma jovem perde a vida.<br />

<strong>TEXTO</strong> 8: <strong>DE</strong>SESPERO<br />

Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava com<br />

sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa, dizendo que<br />

sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.<br />

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi<br />

atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à<br />

mãe para leva-la imediatamente a uma unidade de saúde.<br />

A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro e diz a um<br />

enfermeiro que sua filha está com fortes dores no peito. Carolina fala para a mãe<br />

que não suporta as pontadas perto de seu coração.<br />

O moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha para<br />

que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade só havia um pediatra . Elisa,<br />

]inconformada com o atendimento daquele lugar, mas sem ter condições para ir a<br />

outro lugar, faz a ficha e espera pelo atendimento a sua filha.Horas depois, ela sem<br />

ser atendida, não suporta mais ver sua filha com fortes dores, implora por um<br />

atendimento. Enfim, ela precisou fazer um escândalo para que a menina fosse<br />

atendida. Ao entrar no consultório , o médico vê o estado da criança e pede<br />

imediatamente aos enfermeiros que a levem para a sala de cirurgia. A mãe , em<br />

desespero, fica em uma sala separada, orando para que não seja nada grave com<br />

sua linda filha. Depois de algumas horas, o doutor fala para a mãe que Carolina<br />

tinha veia entupida do coração, mas já tinha sido operada e passava bem.<br />

No outro dia, as duas voltam para casa e já estava tudo bem.


<strong>TEXTO</strong> 9: A ESPERA PO<strong>DE</strong> TRAZER FALECIMENT<strong>OS</strong><br />

Na fila de espera para cirurgia do SUS, encontrava-se um homem chamado<br />

João José. Ele já está a cinco anos nessa fila. Pedreiro particular, sempre pagou o<br />

INSS para ter assistência quando precisasse. Por este motivo,quando seu<br />

problema começou a aparecer, ele logo se encostou.<br />

Seu trabalho era muito pesado tinha que levantar tijolos, cimento, cal, etc., por<br />

isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o incomodou. Quando foi<br />

ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para detectar esse problema , não é<br />

muito difícil.<br />

Mas como já faz cinco anos que ele carrega esse incômodo , tornou-se um<br />

câncer, que piorou totalmente a situação. Logo, ele estava largado em um corredor<br />

do pronto-socorro, sentindo muitas dores, já em estado terminal.<br />

Depois de alguns dias, ele é retirado do corredor e levado para o necrotério .<br />

Acabou falecendo por falta de atendimento do SUS.<br />

<strong>TEXTO</strong> 10: A SAÚ<strong>DE</strong> PÚBLICA BRASILEIRA<br />

Já era de manhã quando Yasmim, de 28 anos, passou mal ao se dirigir ao<br />

banheiro. Ao levantar-se da cama, sentiu fortes dores na região do coração.<br />

Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então<br />

imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de chamar<br />

um médico, ficou conversando com sua colega de trabalho. Mhayuri pediu à<br />

enfermeira que chamasse um médico rápido, porque Yasmim estava muito mal.<br />

A enfermeira lhe disse que o médico já lhe atenderia, era pra esperar um pouco,<br />

mas o médico saiu em instantes, apressado, sem lhes dar explicações.<br />

Na tentativa de obter esclarecimentos, Mhaiuri procurou a direção do hospital<br />

para tentar solucionar o problema, mas sua amiga veio a falecer na fila de espera de<br />

atendimento.<br />

Ao perceber que sua amiga estava encostada, mórbida, gelada no encosto da<br />

cadeira, constatou que sua amiga estava morta, ela entrou em estado de choque<br />

profundo.<br />

Enquanto milhares de pessoas morrem em filas de espera, médicos e<br />

governantes tomam o cafezinho da tarde. E ainda dizem que a saúde pública<br />

brasileira presta serviços com rigor à população. Será mesmo verdade?<br />

<strong>TEXTO</strong> 11: FALTA <strong>DE</strong> INTERESSE GOVERNAMENTAL NA SAÚ<strong>DE</strong><br />

Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma<br />

viagem que fez ao Rio de Janeiro.<br />

Ele não estava se sentindo bem,foi ao hospital, constatou-se que era uma gripe.<br />

Um mês depois, o rapaz ainda se sentia mal. Voltou ao hospital ainda mais doente.<br />

Diagnosticaram que era apenas um resfriado. Mais um tempo se passou e Jonathan<br />

já não conseguia mais se levantar. Sua mãe levou-o ao hospital e exigiu que<br />

realmente o atendessem.<br />

O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia evoluído<br />

para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital mais equipado.<br />

Quando ele chegou ao hospital, morreu.


Esses são problemas que vivemos no dia-a-dia, às vezes de uma simples<br />

doença, fácil de ser tratada, acaba com a vida de uma pessoa.<br />

<strong>TEXTO</strong>12: <strong>DE</strong>SESPERO<br />

Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha<br />

tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e<br />

levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e velhos.<br />

Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da cidade. Lá o<br />

ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. Foram até a balconista e<br />

receberam uma senha. Aguardavam o atendimento, e a criança delirava . Então a<br />

mãe implorava por um atendimento de emergência, porém seu pedido era<br />

recusado. Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um<br />

enfermeiro. Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a<br />

sua vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho. A mãe , temendo pela vida da<br />

filha, ameaçou o enfermeiro , disse que chamaria a imprensa e que lhe processaria.<br />

Diante das ameaças, o enfermeiro , mal humorado, tomou a garota nos braços e<br />

começou a caminhar para a sala de exames . Durante alguns minutos ouviam-se<br />

apenas os passos ansiosos da mãe. Após os exames, Letícia foi levada para a sala<br />

de cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, vários remédios foram<br />

receitados, agora só restava esperar a reação da criança .

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