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Revista de Estudos Anglo-Portugueses - Numero 3 - RUN UNL ...

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coloridas, as formas e os irregulares jogos <strong>de</strong> luz o<br />

que surpreendiam<br />

viajante a cada passo, as melancólicas ruínas das construções medie<br />

vais, os edifícios <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes e cobertos <strong>de</strong> hera, as típicas casas <strong>de</strong><br />

campo, os rituais católicos, as pequenas al<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> gente ru<strong>de</strong> e<br />

também as figuras humanas que a literatura se encarregara <strong>de</strong> popu<br />

larizar: os pedintes, os e os monges bandidos.<br />

A leitura dos muitos relatos <strong>de</strong> viagem sobre Portugal escritos por<br />

britânicos nas primeiras décadas do século XIX mostra-nos <strong>de</strong> imedi<br />

ato, e <strong>de</strong> modo inequívoco, que, se abundam neles críticas severas ao<br />

Estado e à Igreja Católica, as entida<strong>de</strong>s responsáveis, segundo os<br />

autores, pelo sub<strong>de</strong>senvolvimento económico e pelo<br />

atraso cultural do<br />

nosso país, não é menos certo que em todos encontramos o enaltecimento<br />

das paisagens e do clima portugueses. No fundo, tais encantos natu<br />

rais, e mesmo os aspectos que suscitaram ferozes censuras, represen<br />

tavam, no seu conjunto, apelos ao viajante-escritor que, à semelhança<br />

do seu antepassado do século anterior, se <strong>de</strong>sloca movido pelo gosto<br />

pelo diferente, pelo exótico (10), então muito em moda.<br />

Efectivamente, e embora a busca do estranho, o fascínio pelo<br />

distante e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> evasão às obrigações, ansieda<strong>de</strong>s e preocupações<br />

quotidianas não sejam exclusivo dos dois séculos <strong>de</strong> que temos vindo<br />

a falar, a verda<strong>de</strong> é que o exotismo, associado à viagem, ocupou um<br />

lugar muito importante na vida e na literatura <strong>de</strong>ssas épocas. Durante<br />

o século XVIII os relatos <strong>de</strong> viagem, por serem particularmente aptos a<br />

propiciar reflexões <strong>de</strong> carácter moral, filosófico e político, foram muito<br />

utilizados pelos iluministas para, a pretexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>screverem lugares<br />

exóticos, fazerem crítica social e confrontarem doutrinas, costumes,<br />

Instituições. Ao longo do século XIX vamos continuar a encontrar nos<br />

purpose of Improvlng real landscape (1794-1798) <strong>de</strong> Uvedale Price, obras que difundiram<br />

e popularizaram a noção <strong>de</strong> pitoresco. Foi William Gilpin ( 1 724- 1 804) quem lançou a voga<br />

do turismo pitoresco <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> divulgação que tiveram não só os seus ensaios sobre<br />

este conceito mas também os vários livros <strong>de</strong> viagens que escreveu, resultantes <strong>de</strong> extensas<br />

<strong>de</strong>ambulações por toda a Grã-Bretanha. O que procuravam esses turistas em busca do<br />

pitoresco? Citemos as palavras <strong>de</strong> Malcolm Andrews a propósito do que era consi<strong>de</strong>rado por<br />

Uvedale Price (1747-1829) merecedor <strong>de</strong>sse adjectivo: "He | Price] chooses as prime<br />

Picturesque material hovels, cottages, dllapidated mllls, the lnteriors of old barns, 'old<br />

mossy, rough-hewn park pales of unequal heights', dlsturbed surfaces of water, certain<br />

—<br />

klnds of tree (oak, elm) particularly when shattered by storm —<br />

shaggy goats, and sheep<br />

with ragged fleeces. His <strong>de</strong>presslng list of <strong>de</strong>rellct and obsolescent Is flnlshed ofi" with a few<br />

human subjects ellglble for Picturesque treatment, the gypsies and beggars, 'who in ali the<br />

qualities which give them that Character, bear a close analogy to the wlld forester and the<br />

worn-out cart-horse, and again to old mllls, hovels, and other lnanlmate objects ofthe same<br />

kind. "In effect, only rulned human beings are Picturesque." In The Search for the<br />

Picturesque. Landscape Aesthetlcs and Tourlsm In Britain, 1760-1800. Al<strong>de</strong>rshot, Scolar<br />

Press, 1989, p. 59.<br />

(íoj -We may say tnat uterary exoticism is the lntegration or intrusion into the literary<br />

world of unusual geographical and ethnologlcal features; lt expresses the wrlter's taste for<br />

countries that seem excitlngly strange and charmingly new, and betrays his enchantment<br />

with the diverslty, with the even vagary of climate and custom.": In FRANCOIS JOST,<br />

Introduction to Comparative Literature. Indianapolis and New York, Pegasus: A Dlvlslon of<br />

the Bobbs-Merrill Company, 1974. p. 1 1 1.<br />

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