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Revista de Estudos Anglo-Portugueses - Numero 3 - RUN UNL ...

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os 3000 km. Citando Joel Serrão, po<strong>de</strong>mos resumir os benéficos efeitos<br />

da Regeneração no sentido da prosperida<strong>de</strong>:<br />

"Raciocinando afortiori, pelos sinais <strong>de</strong>mográficos urba<br />

nos <strong>de</strong> 1878-90 po<strong>de</strong>r-se-á apreen<strong>de</strong>r algo do que principiou<br />

a ocorrer em Portugal a partir da um Regeneração: lento mas<br />

contínuo processus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolução económica, social e<br />

mental." (74)<br />

Acontece que Oldknow e Neale vieram até nós antes das sig<br />

nificativas realizações do projecto regenerador e, por isso, <strong>de</strong>pararam,<br />

em gran<strong>de</strong> parte, com o atraso e a pobreza que há séculos tolhiam a vida<br />

nacional. A inércia pareceu-lhes <strong>de</strong> tal forma enraizada em todas as<br />

esferas da socieda<strong>de</strong> portuguesa que não vislumbraram gran<strong>de</strong>s hipó<br />

teses <strong>de</strong>, a médio prazo, ser possível reduzir o enorme <strong>de</strong>sfazamento que<br />

evoluídas. Como não mais<br />

separava o nosso país das nações europeias<br />

voltaram a visitar Portugal, não tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constatar o<br />

progresso material <strong>de</strong>corrente da aplicação das políticas regeneradoras<br />

nem pu<strong>de</strong>ram reconhecer, enfim, que os portugueses tinham iniciativa<br />

empreen<strong>de</strong>dora e mereciam o respeito e a credibilida<strong>de</strong> que Neale lhes<br />

parece negar quando, a páginas 29 do Handbookfor Travellers in<br />

Portugal, faz questão <strong>de</strong> citar uma opinião veiculada na imprensa<br />

periódica portuguesa ao tempo da governação <strong>de</strong> Costa Cabral, minis<br />

tro <strong>de</strong> D. Maria II:<br />

"What can be expected from a nation where the <strong>de</strong>ad are<br />

buried on the Height of Pleasures, the queen occupies the<br />

Palace of Necessities, and the finance-minister resi<strong>de</strong>s in<br />

Thieves' Alley?"<br />

Em 1855, ao serem lançados no mercado livreiro o roteiro <strong>de</strong> Neale<br />

(numa época em que o turismo se faz já <strong>de</strong> guia na mão) e as impressões<br />

<strong>de</strong> viagem <strong>de</strong> Old know, o público britânico passou a dispor <strong>de</strong> mais duas<br />

— extremamente interessantes, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

obras sobre Portugal<br />

do historiador, para a reconstituição do modus vivendt em<br />

português<br />

meados da centúria <strong>de</strong> oitocentos —<br />

que, grosso modo, reproduziam a<br />

já tradicional visão <strong>de</strong> um país retrógrado e inculto que se integrava,<br />

aliás, num mais vasto estereótipo (75) do Sul, produto da atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fobia<br />

dos ingleses que, face à realida<strong>de</strong> da Europa meridional, valorizam a sua<br />

cultura <strong>de</strong> origem (superiorida<strong>de</strong> real, em termos económicos e indus<br />

triais) e <strong>de</strong>claram a inferiorida<strong>de</strong> dos países visitados.<br />

(74) "Regeneração" ln Dicionário <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Portugal, dirigido por Joel Serrão. Vol.<br />

V. Porto, Figueirinhas, 1990, p. 255.<br />

(75) A vasta produção <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> viagem sobre um dado país, neste caso Portugal,<br />

po<strong>de</strong> conduzir à formação <strong>de</strong> um estereótipo quando se dá a cristalização <strong>de</strong> uma Imagem<br />

esquemática que se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>finidora da natureza essencial do Outro e válida em<br />

qualquer momento histórico: "Ce clichage, qui resulte dune abondante production sur une<br />

époque ou un pays «à la mo<strong>de</strong>», aboutlt à la constitution d'un vérltable répertolre <strong>de</strong><br />

stéréotypes codifiés." ln MICHEL POTET, "Couleur locale: thème et version" in Revue <strong>de</strong><br />

Littérature Comparée, 49 ème année, n.8 1, Janvler-Mars 1975, p. 9.<br />

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