«... a guerra <strong>de</strong>clarada das classes, numa socieda<strong>de</strong> afogada em riqueza, e correspon<strong>de</strong>ntemente em cobiça, como a Europa está hoje, forma o solo ar<strong>de</strong>nte sobre que os costumes e as Intrigas, as ambições e as vaida<strong>de</strong>s, as Insti tuições e os homens, se agitam vagamente, dançando como títeres ao som da orquestra invisível do Capricho. Em tempos - como os nossos, a vida real parece e fantasmagórica; compre en<strong>de</strong>-se que a visão do Nihilismo endoi<strong>de</strong>ça tanta gente.» (p. 8) Estas e outras opiniões inseridas no mesmo texto preambular, mas obviamente escritas <strong>de</strong>pois do resto da obra para a edição em livro, permitem afinal presumir a existência <strong>de</strong> um crescente pendor <strong>de</strong>pressivo no percurso mental <strong>de</strong> Oliveira Martins. Pelo menos ao longo dos cinco últimos anos <strong>de</strong> vida do historiador, o processo ter-se-á agravado com diversos acontecimentos cujos reflexos viriam, cada vez mais, a assu mir proporções verda<strong>de</strong>iramente traumáticas. Entre as principais ocorrências, contar-se-iam, por or<strong>de</strong>m cronológica, os efeitos do Ulti mato, o suicídio <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental (1891), a frustrante experiência governativa àe 1892 e, durante 1893, a progressão visível da doença que o levaria à morte em 24 <strong>de</strong> Agosto do ano seguinte. Natural seria também que a difícil situação do país em diversos planos, sobretudo no financeiro, se tornasse para ele fonte <strong>de</strong> séria preocupação, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o cargo ministerial. É o que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> em vários pontos <strong>de</strong>AInglaterra <strong>de</strong> Hoje, como, por exemplo, ao subir as escadas da Bolsa <strong>de</strong> Londres, Oliveira Martins quando, <strong>de</strong>clara sentir-se «pobre filho <strong>de</strong> um país pobríssimo, e ainda por cima falido»(p. 1 10). Confluindo sucessivamente com formações preexistentes e avolumando-as, esses traumas psíquicos terão porventura originado perspectivas cada vez mais sombrias quanto ao futuro, assim como falta <strong>de</strong> confiança nos resultados éticos da civilização e das mais avançadas realizações humanas. De resto, segundo António José Saraiva, (13) o crescente pessimis mo do historiador remontaria ainda mais atrás, ao <strong>de</strong>sfecho também pouco agradável do que para ele po<strong>de</strong>ria ter sido a primeira intervenção num governo (1886). Acentuar-se-ia gradualmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da década, tornando-se já bastante notório em certos passos <strong>de</strong> Osfilhos <strong>de</strong> D. João 1(1891), sobretudo no tocante à figura do infante D. Pedro. Oliveira Martins «tinha refluído do mundo para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si próprio. Tinha <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong> realizar na política e na vida social -económica a Or<strong>de</strong>m , a Razão, a Cida<strong>de</strong> I<strong>de</strong>al», procurando na escrita a a «fuga este estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo mortal, feito <strong>de</strong> isolamento, <strong>de</strong>cepção e amor próprio ferido.» (14) Por outro lado, patenteava, nesta fase, forte influên cia do pensamento <strong>de</strong> Schopenhauer, sobretudo recebida através da (,3)Cf.AntónloJosé Saraiva, «Dois ritmos da obra <strong>de</strong> Oliveira Martins», ln António José Saraiva, ParaaHlstórladaCulturaemPortugaHvol. I), Publicações Europa-América, Lisboa, 1961, pp. 228-229. (M) António José Saraiva, op. ctt, pp. 234-235. 88
leitura, cm tradução francesa, dos ensaios e aforismos <strong>de</strong> Parerga und Paralipomena. Assim, A Inglaterra <strong>de</strong> Hoje surge num período a muitos títulos quase terminal para o autor, cuja morte ocorreria cerca <strong>de</strong> um ano após a publicação em volume das suas crónicas. Além <strong>de</strong>, até certo ponto, resultar <strong>de</strong> uma viagem-fuga, a obra revela um antigo optimis ta, sempre forte perante os óbices da vida, agora amargurado e <strong>de</strong>clinante, cujos objectivos fundamentais haviam pouco antes sido levados ao fracasso por cabalas mesquinhas. Livro parcial, dogmático e, não raro, injusto, ditando ao leitor opiniões cujo fundamento muitas vezes nem chega a sugerir, <strong>de</strong>le se po<strong>de</strong>ria afirmar que, em certa medida, permite conhecer melhor uma etapa crucial na vida <strong>de</strong> quem o escreveu do que propriamente as características, as realiza ções ou o passado do povo <strong>de</strong> além-Mancha. 89
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