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FIGURAS DE LINGUAGEM E HUMOR Com exercícios

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<strong>FIGURAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>LINGUAGEM</strong> E <strong>HUMOR</strong><br />

<strong>Com</strong> <strong>exercícios</strong><br />

Prof. Jorge Jr.<br />

www.profjorge.com.br<br />

___________________________________________________________________________<br />

As figuras de linguagem se dividem em: figuras de<br />

pensamento, palavra, sintaxe e som. Abaixo<br />

seguem algumas das principais figuras de<br />

linguagem.<br />

<strong>FIGURAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>LINGUAGEM</strong> PENSAMENTO<br />

As figuras de pensamento são recursos de<br />

linguagem que se referem ao significado das<br />

palavras, ao seu aspecto semântico.<br />

São figuras de pensamento:<br />

Antítese:<br />

Ocorre antítese quando há aproximação de palavras<br />

ou expressões de sentidos opostos.<br />

Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em<br />

posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazemnos<br />

bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem<br />

o mal." (Rui Barbosa).<br />

Apóstrofe:<br />

Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma<br />

pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar<br />

presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na<br />

análise sintática e é utilizada para dar ênfase à<br />

expressão.<br />

Exemplo: "Deus! ó Deus! onde estás, que não<br />

respondes?" (Castro Alves).<br />

Paradoxo:<br />

Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de<br />

palavras de sentido oposto, mas também na de<br />

idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo<br />

termo. É uma verdade enunciada com aparência de<br />

mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação<br />

para paradoxo.<br />

Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; / É<br />

ferida que dói e não se sente; / É um contentamento<br />

descontente; / É dor que desatina sem doer;"<br />

(Camões)<br />

Eufemismo:<br />

Ocorre eufemismo quando uma palavra ou<br />

expressão é empregada para atenuar uma verdade<br />

tida como penosa, desagradável ou chocante.<br />

Exemplo: "E pela paz derradeira (morte) que enfim<br />

vai nos redimir Deus lhe pague". (Chico Buarque).<br />

Gradação:<br />

Ocorre gradação quando há uma seqüência de<br />

palavras que intensificam uma mesma idéia.<br />

Exemplo: "Aqui... além... mais longe por onde eu<br />

movo o passo." (Castro Alves).<br />

Hipérbole:<br />

Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia,<br />

a fim de proporcionar uma imagem emocionante e<br />

de impacto.<br />

Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!"<br />

(Olavo Bilac).<br />

Ironia:<br />

Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela<br />

entonação, pela contradição de termos, sugere-se o<br />

contrário do que as palavras ou orações parecem<br />

exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.<br />

Exemplo: "Moça linda, bem tratada, / três séculos<br />

de família, / burra como uma porta: / um amor."<br />

(Mário de Andrade).<br />

Prosopopéia:<br />

Ocorre prosopopéia (ou animização ou<br />

personificação) quando se atribui movimento, ação,<br />

fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres<br />

animados a seres inanimados ou imaginários.<br />

Também a atribuição de características humanas a<br />

seres animados constitui prosopopéia o que é<br />

comum nas fábulas e nos apólogos, como este<br />

exemplo de Mário de Quintana: "O peixinho (...)<br />

silencioso e levemente melancólico..."<br />

Exemplos: "... os rios vão carregando as queixas<br />

do caminho." (Raul Bopp)<br />

Um frio inteligente (...) percorria o jardim..." (Clarice<br />

Lispector)<br />

Perífrase:<br />

Ocorre perífrase quando se cria um torneio de<br />

palavras para expressar algum objeto, acidente<br />

geográfico ou situação que não se quer nomear.<br />

Exemplo: "Cidade maravilhosa / Cheia de encantos<br />

mil / Cidade maravilhosa / Coração do meu Brasil."<br />

(André Filho).<br />

<strong>FIGURAS</strong> <strong>DE</strong> PALAVRA<br />

As figuras de palavra consistem no emprego de um<br />

termo com sentido diferente daquele<br />

convencionalmente empregado, a fim de se<br />

conseguir um efeito mais expressivo na<br />

comunicação.<br />

São figuras de palavras:


<strong>Com</strong>paração:<br />

Ocorre comparação quando se estabelece<br />

aproximação entre dois elementos que se<br />

identificam, ligados por conectivos comparativos<br />

explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal<br />

como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer,<br />

assemelhar-se e outros.<br />

Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse<br />

máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógico."<br />

(Chico Buarque);<br />

"As solteironas, os longos vestidos negros fechados<br />

no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam<br />

aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).<br />

Metáfora:<br />

Ocorre metáfora quando um termo substitui outro<br />

através de uma relação de semelhança resultante<br />

da subjetividade de quem a cria. A metáfora<br />

também pode ser entendida como uma comparação<br />

abreviada, em que o conectivo não está expresso,<br />

mas subentendido.<br />

Exemplo: "Supondo o espírito humano uma vasta<br />

concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso<br />

extrair pérolas, que é a razão." (Machado de Assis).<br />

Metonímia:<br />

Ocorre metonímia quando há substituição de uma<br />

palavra por outra, havendo entre ambas algum grau<br />

de semelhança, relação, proximidade de sentido ou<br />

implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se<br />

numa relação objetiva, real, realizando-se de<br />

inúmeros modos:<br />

- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de<br />

sair, tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice)<br />

de licor.<br />

- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o<br />

operário ia / <strong>Com</strong> suor e com cimento (com<br />

trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um<br />

apartamento." (Vinicius de Moraes).<br />

- o lugar de origem ou de produção pelo produto:<br />

<strong>Com</strong>prei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da<br />

cidade do Porto).<br />

- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a<br />

obra de Jorge Amado).<br />

- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não<br />

devemos contar com o seu coração (sentimento,<br />

sensibilidade).<br />

- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o<br />

poder) foi disputada pelos revolucionários.<br />

- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o<br />

bronze (o sino) soa.<br />

- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica)<br />

ilumina o mundo.<br />

- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da<br />

Prefeitura).<br />

- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um<br />

bom garfo (guloso, glutão).<br />

Sinédoque:<br />

Ocorre sinédoque quando há substituição de um<br />

termo por outro, havendo ampliação ou redução do<br />

sentido usual da palavra numa relação quantitativa.<br />

Encontramos sinédoque nos seguintes casos:<br />

- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o<br />

povo) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro<br />

sumir de ladrão, fugindo nos cascos (parte das<br />

patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Carvalho)<br />

- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista<br />

(todos os paulistas) é tímido; o carioca (todos os<br />

cariocas), atrevido.<br />

- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome<br />

comum): Para os artistas ele foi um mecenas<br />

(protetor).<br />

Catacrese:<br />

A catacrese é um tipo de especial de metáfora, "é<br />

uma espécie de metáfora desgastada, em que já<br />

não se sente nenhum vestígio de inovação, de<br />

criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada<br />

hábito lingüístico, já fora do âmbito estilístico."<br />

(Othon M. Garcia).<br />

São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele<br />

de tomate / dente de alho / montar em burro / céu<br />

da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre<br />

da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.<br />

Sinestesia:<br />

A sinestesia consiste na fusão de sensações<br />

diferentes numa mesma expressão. Essas<br />

sensações podem ser físicas (gustação, audição,<br />

visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).<br />

Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro<br />

velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha<br />

várias feridas no reboco e veludo de musgo.<br />

Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e<br />

úmida, macia [sensações táteis], quase irreal."<br />

(Augusto Meyer)<br />

Antonomásia:<br />

Ocorre antonomásia quando designamos uma<br />

pessoa por uma qualidade, característica ou fato<br />

que a distingue.<br />

Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo<br />

que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um<br />

aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome<br />

próprio.<br />

Exemplos: "E ao rabi simples (Cristo), que a<br />

igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica<br />

inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson<br />

Arantes do Nascimento) / O Cisne de Mântua (=<br />

Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O<br />

Dante Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (=<br />

Napoleão)<br />

Alegoria:<br />

A alegoria é uma acumulação de metáforas<br />

referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética<br />

que consiste em expressar uma situação global por<br />

meio de outra que a evoque e intensifique o seu<br />

significado. Na alegoria, todas as palavras estão<br />

transladadas para um plano que não lhes é comum


e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um<br />

referencial e outro metafórico.<br />

Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera.<br />

O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em<br />

presença do baixo e dos comprimários, quando não<br />

são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor,<br />

em presença do mesmo baixo e dos mesmos<br />

comprimários. Há coros numerosos, muitos<br />

bailados, e a orquestra é excelente..." (Machado de<br />

Assis).<br />

<strong>FIGURAS</strong> <strong>DE</strong> SINTAXE<br />

As figuras de sintaxe ou de construção dizem<br />

respeito a desvios em relação à concordância entre<br />

os termos da oração, sua ordem, possíveis<br />

repetições ou omissões.<br />

Elas podem ser construídas por:<br />

a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;<br />

b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;<br />

c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e<br />

hipálage;<br />

d) ruptura: anacoluto;<br />

e) concordância ideológica: silepse.<br />

Portanto, são figuras de construção ou sintaxe:<br />

Assíndeto:<br />

Ocorre assíndeto quando orações ou palavras<br />

deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas,<br />

aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.<br />

Exigem do leitor atenção maior no exame de cada<br />

fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).<br />

Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se<br />

estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegandose,<br />

apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis).<br />

Elipse:<br />

Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração<br />

que facilmente podemos identificar ou subentender<br />

no contexto. Pode ocorrer na supressão de<br />

pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É<br />

um poderoso recurso de concisão e dinamismo.<br />

Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve,<br />

sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela<br />

veio) e da preposição de (de sandálias...).<br />

Zeugma:<br />

Ocorre zeugma quando um termo já expresso na<br />

frase é suprimido, ficando subentendida sua<br />

repetição.<br />

Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os<br />

partidários dos Felipes." (Zeugma do verbo: "e<br />

foram assassinados...") (Camilo Castelo Branco).<br />

Anáfora:<br />

Ocorre anáfora quando há repetição intencional de<br />

palavras no início de um período, frase ou verso.<br />

Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o<br />

oceano de pó... / Depois no horizonte imenso /<br />

Desertos... desertos só..." (Castro Alves).<br />

Pleonasmo:<br />

Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma<br />

idéia, isto é, redundância de significado.<br />

a) Pleonasmo literário:<br />

É o uso de palavras redundantes para reforçar uma<br />

idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do<br />

ponto de vista sintático. Usado como um recurso<br />

estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à<br />

mensagem.<br />

Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia /<br />

Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quando<br />

em visão com os da saudade via." (Alberto de<br />

Oliveira).<br />

"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves<br />

Dias)<br />

"Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas<br />

de Portugal" (Fernando Pessoa).<br />

b) Pleonasmo vicioso:<br />

É o desdobramento de idéias que já estavam<br />

implícitas em palavras anteriormente expressas.<br />

Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não<br />

têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas<br />

fruto do descobrimento do sentido real das palavras.<br />

Exemplos: subir para cima / entrar para dentro /<br />

repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia<br />

de sangue / monopólio exclusivo / breve alocução /<br />

principal protagonista.<br />

Polissíndeto:<br />

Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de<br />

uma conjunção coordenativa mais vezes do que<br />

exige a norma gramatical (geralmente a conjunção<br />

e). É um recurso que sugere movimentos<br />

ininterruptos ou vertiginosos.<br />

Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres, /<br />

e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres<br />

do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel<br />

Bandeira).<br />

Anástrofe:<br />

Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão<br />

de palavras vizinhas (determinante/determinado).<br />

Exemplo: "Tão leve estou (estou tão leve) que nem<br />

sombra tenho." (Mário Quintana).<br />

Hipérbato:<br />

Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa<br />

de membros da frase.<br />

Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. "<br />

(As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Carlos<br />

Drummond de Andrade).<br />

Sínquise:<br />

Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta<br />

de distantes partes da frase. É um hipérbato<br />

exagerado.<br />

Exemplo: "A grita se alevanta ao Céu, da gente. "<br />

(A grita da gente se alevanta ao Céu ) (Camões).<br />

Hipálage:<br />

Ocorre hipálage quando há inversão da posição do<br />

adjetivo: uma qualidade que pertence a um objeto é<br />

atribuída a outro, na mesma frase.<br />

Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." (as<br />

lojas dos barbeiros loquazes.) (Eça de Queiros).<br />

Anacoluto:<br />

Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano<br />

sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a


sequência lógica. A construção do período deixa um<br />

ou mais termos - que não apresentam função<br />

sintática definida - desprendidos dos demais,<br />

geralmente depois de uma pausa sensível.<br />

Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode<br />

confiar nelas." (Alcântara Machado).<br />

Silepse:<br />

Ocorre silepse quando a concordância não é feita<br />

com as palavras, mas com a idéia a elas associada.<br />

a) Silepse de gênero:<br />

Ocorre quando há discordância entre os gêneros<br />

gramaticais (feminino ou masculino).<br />

Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer<br />

bonito." (Guimarães Rosa).<br />

b) Silepse de número:<br />

Ocorre quando há discordância envolvendo o<br />

número gramatical (singular ou plural).<br />

Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam."<br />

(Mário Barreto).<br />

c) Silepse de pessoa:<br />

Ocorre quando há discordância entre o sujeito<br />

expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou<br />

escreve se inclui no sujeito enunciado.<br />

Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas<br />

algumas pessoas." (Machado de Assis).<br />

<strong>FIGURAS</strong> <strong>DE</strong> SOM<br />

Chamam-se figuras de som os efeitos produzidos<br />

na linguagem quando há repetição de sons ou,<br />

ainda, quando se procura "imitar" sons produzidos<br />

por coisas ou seres.<br />

As figuras de som são:<br />

Aliteração:<br />

Ocorre aliteração quando há repetição da mesma<br />

consoante ou de consoantes similares, geralmente<br />

em posição inicial da palavra.<br />

Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na<br />

janela." (Chico Buarque).<br />

Assonância:<br />

Ocorre assonância quando há repetição da mesma<br />

vogal ao longo de um verso ou poema.<br />

Exemplo: "Sou Ana, da cama / da cana, fulana,<br />

bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque).<br />

Paronomásia:<br />

Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons<br />

semelhantes em palavras de significados diferentes.<br />

Exemplo: "Berro pelo aterro pelo desterro / berro<br />

por seu berro pelo seu erro / quero que você ganhe<br />

que você me apanhe / sou o seu bezerro gritando<br />

mamãe." (Caetano Veloso).<br />

Onomatopéia:<br />

Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras<br />

imita um ruído ou som.<br />

Exemplo: "O silêncio fresco despenca das árvores.<br />

/ Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados<br />

onde o guaxe passe rápido... / Vvvvvvvv... passou."<br />

(Mário de Andrade).<br />

"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno."<br />

(Fernando Pessoa).<br />

EXERCÍCIOS<br />

1. (Fei 1995) Assinalar a alternativa que contém as<br />

figuras de linguagem correspondentes aos períodos<br />

a seguir:<br />

I. "Está provado, quem espera nunca alcança".<br />

II. "Onde queres o lobo sou o irmão".<br />

III. Ele foi discriminado por sofrer de uma doença<br />

contagiosa muito falada atualmente.<br />

IV. Ela quase morreu de tanto estudar para o<br />

vestibular.<br />

a) ironia - antítese - eufemismo - hipérbole<br />

b) eufemismo - ironia - hipérbole - antítese<br />

c) antítese - hipérbole - ironia - eufemismo<br />

d) hipérbole - eufemismo - antítese - ironia<br />

e) ironia - hipérbole - eufemismo - antítese<br />

2. (G1 1996) Identifique as figuras de linguagem<br />

empregadas nas seguintes frases:<br />

a) Esses livros, eu já os comprei.<br />

b) O cheiro doce e verde do capim traziam<br />

recordações da fazenda.<br />

c) O vento varreu o vale.<br />

d) Ouviu-se um estalo seco.<br />

e) Ela chorou um choro de alegria.<br />

3. (G1 1996) Assinalar a alternativa que corresponda<br />

correta e respectivamente à classificação das<br />

figuras de linguagem nas frases a seguir:<br />

1. "... preparadas para enfrentar a SELVA <strong>DE</strong><br />

ASFALTO."<br />

2. "HORRÍVEL, mas <strong>DE</strong>LICIOSO."<br />

3. "... para não humilhá-las como a um SEXO<br />

FRÁGIL."<br />

4. "Mas mulher dirige mal, e feminista, PIOR."<br />

a) ironia; metonímia; antítese; pleonasmo;<br />

b) metáfora; elipse; pleonasmo; eufemismo;<br />

c) metáfora; antítese; metonímia; elipse;<br />

d) eufemismo; ironia; antítese; metonímia;<br />

e) hipérbole; antítese; metonímia; eufemismo.<br />

4. (G1 1996) Identifique as figuras de linguagem que<br />

ocorrem nas frases a seguir:<br />

a) "O mito é o nada que é tudo..."<br />

b) Fitei-a longamente, fixando meu olhar na menina<br />

dos olhos dela.<br />

c) "O povo estourava de rir." (Monteiro Lobato)<br />

5. (Ufrs 2004) Leia o fragmento abaixo, extraído de<br />

"Dom Casmurro", de Machado de Assis.<br />

"Enfim, chegou a hora da encomendação e da<br />

partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o<br />

desespero daquele lance consternou a todos.<br />

Muitos homens choravam também, as mulheres<br />

todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia<br />

vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria<br />

arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela,<br />

Capitu olhou alguns instantes para o cadáver, tão<br />

fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe


saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...<br />

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela;<br />

Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a<br />

gente que estava na sala. Redobrou de carícias<br />

para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece<br />

que a retinha também. Momento houve em que os<br />

olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva,<br />

sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e<br />

abertos, como a vaga do mar lá fora, como se<br />

quisesse tragar também o nadador da manhã."<br />

Sobre esse fragmento, são feitas as seguintes<br />

afirmações.<br />

I - Capitu revela-se uma mulher forte e dissimulada,<br />

capaz de sair-se bem em situações difíceis, o que a<br />

torna uma personagem ainda mais ambígua.<br />

II - O jogo de contrastes e o uso de figuras de<br />

linguagem mostram que a história não se esclarece<br />

para Bento Santiago, embora provoque no leitor a<br />

certeza do adultério.<br />

III - O romance, como o fragmento, se constrói<br />

como um grande jogo de fatos, aparências, e de<br />

fantasias criadas em torno dessas aparências.<br />

Quais estão corretas?<br />

a) Apenas I.<br />

b) Apenas I e II.<br />

c) Apenas I e III.<br />

d) Apenas II e III.<br />

e) I, II e III.<br />

6. (Puc-rio 2008)<br />

RECORDAÇÃO<br />

Agora, o cheiro áspero das flores<br />

leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.<br />

Eram assim teus cabelos;<br />

tuas pestanas eram assim, finas e curvas.<br />

As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,<br />

tinham a mesma exalação de água secreta,<br />

de talos molhados, de pólen,<br />

de sepulcro e de ressurreição.<br />

E as borboletas sem voz<br />

dançavam assim veludosamente.<br />

Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!<br />

Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,<br />

tua boca de malmequer orvalhado,<br />

e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,<br />

com suas estrelas e cruzes,<br />

e muitas coisas tão estranhamente escritas<br />

nas suas nervuras nítidas de folha,<br />

- e incompreensíveis, incompreensíveis.<br />

MEIRELES, Cecília. "Obra poética". Rio de<br />

Janeiro: José Aguilar Editora, 1972, p.154.<br />

a) O poema de Cecília Meireles caracteriza-se pela<br />

visão intimista do mundo, a presença de<br />

associações sensoriais e a aproximação do humano<br />

com a natureza. A memória é a fonte de inspiração<br />

do eu poético. A partir dessas afirmações,<br />

determine o gênero literário predominante no texto ,<br />

justificando sua resposta com suas próprias<br />

palavras.<br />

b) Observa-se no poema a utilização de inúmeras<br />

figuras de linguagem como recurso expressivo.<br />

Destaque do texto um exemplo de prosopopeia e<br />

outro de sinestesia.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

Pastora de nuvens, fui posta a serviço por uma<br />

campina tão desamparada que não principia nem<br />

também termina, e onde nunca é noite e nunca<br />

madrugada.<br />

(Pastores da terra, vós tendes sossego, que olhais<br />

para o sol e encontrais direção. Sabeis quando é<br />

tarde, sabeis quando é cedo. Eu, não.)<br />

Esse trecho faz parte de um poema de Cecília<br />

Meireles, intitulado Destino, uma espécie de<br />

profissão de fé da autora.<br />

7. (Fgv 2007) Considerando-se as figuras de<br />

linguagem utilizadas no texto, pode-se dizer que<br />

a) as duas estrofes são uma metáfora de um pleno<br />

sentimento de paz.<br />

b) o texto revela a antítese entre dois universos de<br />

atuação, com diferentes implicações.<br />

c) há, nos versos, comparação entre atividades<br />

agrícolas e outras, voltadas à pecuária.<br />

d) o verso "Sabeis quando é tarde, sabeis quando é<br />

cedo." contém uma hipérbole.<br />

e) as estrofes apresentam, em sentido figurado, a<br />

defesa da preservação das ocupações voltadas<br />

ao campo.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

I<br />

Um mover de olhos, brando e piedoso,<br />

sem ver de quê; um riso brando e honesto,<br />

quase forçado; um doce e humilde gesto,<br />

de qualquer alegria duvidoso;<br />

(...)<br />

esta foi a celeste formosura<br />

da minha Circe, e o mágico veneno<br />

que pôde transformar meu pensamento.<br />

(Luis de Camões)<br />

II<br />

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia<br />

Numa rede encostada molemente...<br />

Quase aberto o roupão... solto o cabelo<br />

E o pé descalço do tapete rente.<br />

(Castro Alves)<br />

III<br />

Um dia ela veio para rede,


se enroscou nos meus braços,<br />

me deu um abraço,<br />

me deu as maminhas<br />

que eram só minhas.<br />

A rede virou,<br />

O mundo afundou.<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

8. (Pucsp 1999) Levando em conta o "fragmento II",<br />

de Castro Alves, assinale a alternativa CORRETA.<br />

a) O poeta aceita e interpreta o byronismo,<br />

conforme fizeram todos os poetas românticos.<br />

b) O poeta supera o amor contemplativo, embora<br />

revele timidez em seus devaneios líricos.<br />

c) O poeta distancia-se do objeto representado,<br />

empregando figuras de linguagem que ocultam<br />

seus desejos.<br />

d) O poeta rompe com os excessos do idealismo<br />

amoroso ao apresentar o amor com feições<br />

físicas e materiais.<br />

e) O poeta versifica em linguagem contida,<br />

procedimento que lhe dá posição de destaque no<br />

Romantismo.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

MEU CARO <strong>DE</strong>PUTADO<br />

O senhor nem pode imaginar o quanto eu e<br />

a minha família ficamos agradecidos. A gente<br />

imaginava que o senhor nem ia se lembrar de nós,<br />

quando saiu a nomeação do Otavinho meu filho. Ele<br />

agora está se sentindo outro. Só fala no senhor, diz<br />

que na próxima campanha vai trabalhar ainda mais<br />

para o senhor. No primeiro dia de serviço ele queria<br />

ir na repartição com a camiseta da campanha mas<br />

eu não deixei, não ia ficar bem, apesar que eu acho<br />

que o Otavinho tem muita capacidade e merecia o<br />

emprego. Pode mandar puxar por ele que ele dá<br />

conta, é trabalhador, responsável, dedicado, a<br />

educação que ele recebeu de mim e da mãe foi<br />

sempre no caminho do bem.<br />

Faço questão que na próxima eleição o<br />

senhor mande mais material que eu procuro todos<br />

os amigos e os conhecidos. O Brasil precisa de<br />

gente como o senhor, homens de reputação<br />

despojada, com quem a gente pode contar. Meu<br />

vizinho Otacílio, a mulher, os parentes todos<br />

também votaram no senhor. Ele tem vergonha, mas<br />

eu peço por ele, que ele merece: ele tem uma<br />

sobrinha, Maria Lúcia Capistrano do Amara, que é<br />

professora em Capão da Serra e é muito<br />

adoentada, mas o serviço de saúde não quer dar<br />

aposentadoria. Posso lhe garantir que a moça está<br />

mesmo sem condições, passa a maior parte do<br />

tempo com dores no peito e na coluna que nenhum<br />

médico sabe o que é. Eu disse que ia falar com o<br />

senhor, meu caro deputado, não prometi nada, mas<br />

o Otavinho e a mulher tem esperanças que o senhor<br />

vai dar um jeitinho. É gente muito boa e amiga, o<br />

senhor não vai se arrepender.<br />

Mais uma vez obrigado por tudo, Deus lhe<br />

pague. O Otavinho manda um abraço para o<br />

senhor. Aqui vai o nosso abraço também. O senhor<br />

pode contar sempre com a gente.<br />

Miroel Ferreira (Miré)<br />

9. (Puccamp 1995) Considerando-se expressões<br />

como "no caminho do bem", "trabalhador,<br />

responsável, dedicado" e "o Brasil precisa de gente<br />

como o senhor", pode-se afirmar que o remetente<br />

empregou na carta<br />

a) figuras de linguagem com alguma originalidade.<br />

b) termos concretizantes e precisos.<br />

c) linguagem enraizada em vivências muito<br />

pessoais.<br />

d) lugares-comuns pouco definidores.<br />

e) fórmulas retóricas da linguagem afetiva.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

ESTAMOS CRESCENDO <strong>DE</strong>MAIS ?<br />

O nosso "complexo de vira-lata" tem<br />

múltiplas facetas. Uma delas é o medo de crescer.<br />

Sempre que a economia brasileira mostra um pouco<br />

mais de vigor, ergue-se, sinistro, um coro de vozes<br />

falando em "excesso de demanda" "retorno da<br />

inflação" e pedindo medidas de contenção.<br />

O IBGE divulgou as Contas Nacionais do<br />

segundo trimestre de 2007. Não há dúvidas de que<br />

a economia está pegando ritmo. O crescimento foi<br />

significativo, embora tenha ficado um pouco abaixo<br />

do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao<br />

segundo trimestre do ano passado. A expansão do<br />

primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com<br />

igual período de 2006.(...)<br />

Aturma da bufunfa não pode se queixar.<br />

Entre os subsetores do setor serviços, o segmento<br />

que está "bombando" é o de intermediação<br />

financeira e seguros - crescimento de 9,6%. O Brasil<br />

continua sendo o paraíso dos bancos e das<br />

instituições financeiras.<br />

Não obstante, os porta-vozes da bufunfa<br />

financeira, pelo menos alguns deles, parecem<br />

razoavelmente inquietos. Há razões para esse<br />

medo? É muito duvidoso. Ressalva trivial: é claro<br />

que o governo e o Banco Central nunca podem<br />

descuidar da inflação. Se eu fosse cunhar uma frase<br />

digna de um porta-voz da bufunfa, eu diria<br />

(parafraseando uma outra máxima trivializada pela<br />

repetição): "O preço da estabilidade é a eterna<br />

vigilância".<br />

Entretanto, a estabilidade não deve se<br />

converter em estagnação. Ou seja, o que queremos<br />

é a estabilidade da moeda nacional, mas não a<br />

estabilidade dos níveis de produção e de emprego.<br />

A aceleração do crescimento não parece<br />

trazer grande risco para o controle da inflação. Ela<br />

não tem nada de excepcional. O Brasil está se<br />

recuperando de um longo período de crescimento<br />

econômico quase sempre medíocre, inferior à média<br />

mundial e bastante inferior ao de quase todos os


principais emergentes.<br />

O Brasil apenas começou a tomar um certo<br />

impulso. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.<br />

(Folha de S.Paulo, 13.09.2007. Adaptado)<br />

10. (Fgv 2008) Assinale a alternativa em que as<br />

frases repetem, respectivamente, as figuras de<br />

linguagem das frases - Entre os subsetores do setor<br />

serviços, o segmento que está"bombando" é de<br />

intermediação financeira e seguros..../ A turma da<br />

bufunfa não pode se queixar; estão comemorando.<br />

a) <strong>Com</strong> a alta dos preços do leite, produtores<br />

paulistas retomam investimentos para ampliar a<br />

produtividade do rebanho./ As taxas de juros<br />

estão de arrasar.<br />

b) A alta no preço do leite motivou outros<br />

produtores, e quem não desistiu da atividade está<br />

comemorando./ O pessoal de finanças está<br />

morrendo de felicidade com a economia.<br />

c) Durante a crise, São Paulo deixou de ser o<br />

segundo produtor do país, passando para o<br />

quinto lugar./ As expectativas de inflação<br />

continuam bem comportadas.<br />

d) O produtor diz: Enterrei muito dinheiro nessa<br />

fazenda e agora não vou desistir da atividade<br />

leiteira./ A gente brasileira tem"complexo de viralata",<br />

mas deveriam ter mais segurança em<br />

relação ao país.<br />

e) A saída é melhorar a produção de leite por vaca,<br />

reduzir o tempo entre gestações e o custo./ Os<br />

donos do dinheiro temem que a inflação acelere.<br />

Leia o texto:<br />

Senhor Deus dos desgraçados!<br />

Dizei-me vós, Senhor Deus!<br />

Se é loucura... se é verdade<br />

Tanto horror perante os céus...<br />

Ó mar! Por que não apagas<br />

Co'a esponja de tuas vagas<br />

Do teu manto este borrão?<br />

Astros! Noite! Tempestades!<br />

Rolai das imensidades!<br />

Varrei os mares, tufão!<br />

Castro Alves, Navio Negreiro, In: Os Escravos<br />

11. (Espm 2005) Tendo em vista seu autor, o período<br />

literário a que pertence o fragmento reproduzido,<br />

assinale a opção que contenha informação errada:<br />

a) É poema com caraterísticas condoreiras, com<br />

imagens grandiosas da natureza e linguagem<br />

grandiloquente.<br />

b) As exclamações e utilização de figuras de<br />

linguagem são típicas da poesia social do autor.<br />

c) A indignação e o furor com a escravidão fazem<br />

do poema um paradigma abolicionista do séc.<br />

XIX.<br />

d) O lirismo subjetivo, abordando questões<br />

coletivas, lembra a sentimentalidade amena típica<br />

do Romantismo.<br />

e) A invocação de elementos da natureza confirma<br />

o fundamento romântico da identificação do eulírico<br />

com a paisagem que o cerca.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

Texto I<br />

ENTREVISTA COM JURANDIR FREIRE COSTA<br />

(Entrevistador) "Quando você fala do amor nos dias<br />

de hoje, parece identificar dois problemas opostos e<br />

complementares: a) uma espécie de utilitarismo<br />

sexual, em que os indivíduos se servem dos<br />

parceiros como quem consome produtos; b) o mito<br />

do amor romântico, que condena ao sofrimento as<br />

pessoas que se sentem incapazes de encontrar o<br />

parceiro ideal. <strong>Com</strong>o essas duas distorções se<br />

combinam?<br />

(Entrevistado) "De fato, o que parece ser<br />

antagônico, como você bem observou, no fundo é<br />

complementar. Em função do crescente<br />

individualismo, queremos sempre descartar o que<br />

nos causa problema, o que nos entedia, o que é<br />

incapaz de despertar fortes sensações ou grandes<br />

instantes de êxtase. É assim que estamos<br />

aprendendo a ser felizes, como, em épocas<br />

anteriores, aprendemos a ser felizes de outras<br />

formas. No entanto, na raiz desse utilitarismo tosco<br />

existe a promessa oculta de que, um dia, iremos<br />

encontrar alguém que preencha todos esses<br />

requisitos, ou seja, alguém que, de forma<br />

permanente, seja interessante, excitante,<br />

apaixonante, tolerante. Ora, esse alguém, todos<br />

sabemos, não existe, exceto na ficção de nossos<br />

ideais. Mas, embora todos saibam que esse alguém<br />

não existe, ninguém pensa em desistir de procurar,<br />

porque, sem ele, a vida perde todo atrativo. Eis o<br />

impasse. Jamais encontramos a figura ideal de<br />

pessoa perfeita para amar, mas não podemos<br />

dispensar a ilusão porque não sabemos inventar<br />

outras formas de satisfação pessoal, exceto a<br />

obsessão amorosa e sexual.<br />

No fundo, o triste resultado disso tudo é a<br />

descrença, a amargura, o ressentimento, a inveja e<br />

a espera passiva e resignada do milagre amoroso -<br />

que quase nunca chega - ou da morte, que, com<br />

certeza, chega! Isso, fique claro, não significa<br />

"condenar" ou "menosprezar" a emoção amorosa, o<br />

que seria uma tolice. Isso significa constatar que a<br />

via de satisfação amorosa atual está condenada ao<br />

impasse, até que venhamos a inventar novos<br />

modos de amar. É porque fomos habituados a<br />

pensar que o "amor é único, universal, e sempre o<br />

mesmo de hoje em dia" que não encontramos<br />

ânimo para imaginar novos modelos de realização<br />

amorosa. Ora, o que procurei mostrar no trabalho é<br />

que isso, em absoluto, não é verdade. O<br />

romantismo amoroso é uma invenção cultural<br />

recente, recentíssima, na história da humanidade.<br />

Não temos por que imaginar que ele é a "última<br />

forma de amar" nem mesmo que seja a melhor."<br />

(Entrevista com Jurandir Freire Costa. In:<br />

CARVALHO, J. M. de et alii. Quatro autores em<br />

busca do Brasil. Entrevistas a José Geraldo Couto.<br />

Rio de Janeiro: Rocco, 2000.)


Texto II<br />

CANTIGAS <strong>DE</strong> ACORDAR MULHER<br />

Vagueio aquém do teu sono<br />

com alma de marinheiro<br />

feliz de chegar a um porto<br />

sem previsão no roteiro,<br />

mais tonto de o descobrir<br />

que de lhe ser estrangeiro.<br />

Teu continente a dormir<br />

- pouso de barco ligeiro -<br />

para os relógios num tempo<br />

avesso a qualquer ponteiro:<br />

nem sei se o fico vivendo<br />

ou se te acordo primeiro.<br />

(...)<br />

Bom é sorrires, olhar<br />

em mim: não vês<br />

o inimigo, o rival<br />

jamais.<br />

Na caça, não serás<br />

a presa; não serás,<br />

no jogo, a prenda.<br />

Partilharemos, sem meias<br />

medidas,<br />

a espera, o arroubo, o gesto,<br />

o salto, o pouso, o sono<br />

e o gosto desse rir<br />

dentro e fora do tempo<br />

sempre que nova mente<br />

acordares.<br />

(...)<br />

Acorda, meu bem, acorda:<br />

são horas de vigilar<br />

feliz quem menos recorda<br />

e faz do tempo passar<br />

monjolo-pêndulo-corda<br />

tocando um relógio de ar<br />

onde o momento concorda<br />

com ser eterno e findar!<br />

Acorda, meu bem, acorda<br />

e ajuda teu madrugar:<br />

a mão do dia transborda<br />

de coisas para te dar!<br />

(CAMPOS, Geir. Antologia poética. Rio de Janeiro: Léo<br />

Christiano Editorial, 2003.)<br />

12. (Uerj 2004) O emprego de figuras de linguagem<br />

é uma conhecida característica do discurso poético.<br />

O poema "Cantigas de Acordar Mulher" apresenta<br />

metáforas relacionadas a mais de um campo<br />

semântico.<br />

a) Note que, na primeira estrofe (l. 1 a 12), o eulírico<br />

exprime seu movimento em direção ao ser<br />

amado por meio de uma sequência metafórica<br />

iniciada pelo substantivo "marinheiro".<br />

Relacione mais quatro substantivos presentes neste<br />

trecho que pertençam à referida sequência<br />

metafórica.<br />

b) Na última estrofe (l. 28 a 39), o poeta empregou<br />

uma antítese e uma hipérbole.<br />

Transcreva os versos correspondentes a cada uma<br />

dessas figuras.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

1MYSTERIUM<br />

"Eu vi ainda debaixo do sol que a corrida não é para<br />

os mais ligeiros, nem a batalha para os mais fortes,<br />

nem o pão para os mais sábios, nem as riquezas<br />

para os mais inteligentes, mas tudo depende do<br />

tempo e do acaso."<br />

Eclesiastes<br />

1 Ao tempo e ao acaso eu acrescento o grão<br />

de imprevisto. E o grão da loucura, a razoável<br />

loucura que é infinita na nossa finitude. Vejo minha<br />

vida e obra seguindo assim por trilhos paralelos e<br />

tão próximos, trilhos que podem se juntar (ou não)<br />

lá adiante mas tudo sem explicação, não tem<br />

explicação.<br />

2 Os leitores pedem explicações, são curiosos<br />

e fazem perguntas. Respondo. Mas se me estendo<br />

nas respostas, acabo por pular de um trilho para<br />

outro e começo a misturar a realidade com o<br />

imaginário, faço ficção em cima de ficção, ah! Tanta<br />

vontade (disfarçada) de seduzir o leitor, esse leitor<br />

que gosta do devaneio. Do sonho. Queria estimular<br />

sua fantasia mas agora ele está pedindo lucidez,<br />

quer a luz da razão.<br />

3 Não gosto de teorizar porque na teoria<br />

acabo por me embrulhar feito um caramelo em<br />

papel transparente, me dê um tempo! Eu peço.<br />

Quero ficar fria, espera. Espera que estou me<br />

aventurando na busca das descobertas, "Devagar já<br />

é pressa!", disse Guimarães Rosa. Preciso agora<br />

atravessar o 2cipoal dos detalhes e são tantos! E<br />

tamanha a minha perplexidade diante do processo<br />

criador, Deus! Os indevassáveis signos e símbolos.<br />

Ainda assim, avanço em meio da névoa, quero ser<br />

clara em meio desse claro que de repente ficou<br />

escuro, estou perdida?<br />

4 Mais perguntas, como nasce um conto? E<br />

um romance? Recorro a uma certa aula distante<br />

(Antonio Candido) onde aprendi que num texto<br />

literário há sempre três elementos: a ideia, o enredo<br />

e a personagem. A personagem, que pode ser<br />

aparente ou inaparente, não importa. Que pode ser<br />

única ou se repetir, tive uma personagem que<br />

recorreu à máscara para não ser descoberta, quis<br />

voltar num outro texto e usou disfarce, assim como<br />

faz qualquer ser humano para mudar de identidade.<br />

5 Na tentativa de reter o questionador, acabo<br />

por inventar uma figuração na qual a ideia é<br />

representada por uma aranha. A teia dessa aranha<br />

seria o enredo. A trama. E a personagem, o inseto<br />

que chega naquele voo livre e acaba por cair na teia<br />

da qual não consegue fugir, enleado pelos fios<br />

grudentos. Então desce (ou sobe) a aranha e nhac!<br />

Prende e suga o inseto até abandoná-lo vazio. Oco.<br />

6 O questionador acha a imagem meio<br />

dramática mas divertida, consegui fazê-lo sorrir?


Acho que sim. Contudo, há aquele leitor<br />

desconfiado, que não se deixou seduzir porque quer<br />

ver as personagens em plena liberdade e nessa<br />

representação elas estão como que sujeitas a uma<br />

destinação. A uma condenação. E cita Jean-Paul<br />

Sartre que pregava a liberdade também para as<br />

personagens, ah! Odiosa essa fatalidade dos seres<br />

humanos (inventados ou não) caminhando para o<br />

bem e para o mal. Sem mistura.<br />

7 <strong>Com</strong>eço a me sentir prisioneira dos próprios<br />

fios que fui inventar, melhor voltar às divagações<br />

iniciais onde vejo (como eu mesma) o meu próximo<br />

também embrulhado. Ou embuçado3?<br />

Desembrulhando esse próximo, também vou me<br />

revelando e na revelação, me deslumbro para me<br />

obumbrar4 novamente nesta viragem-voragem do<br />

ofício.<br />

1 palavra latina para "mistério"<br />

2 mato abundante de cipós<br />

3 escondido<br />

4 cobrir de sombras<br />

(TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá:<br />

perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.)<br />

13. (Uerj 2005) As figuras de linguagem são recursos<br />

que afastam as construções linguísticas de seu<br />

valor literal, com o objetivo de tornar essas<br />

construções mais expressivas.<br />

O emprego de uma figura de linguagem e sua<br />

correta nomeação estão presentes em:<br />

a) "E o grão da loucura, a razoável loucura que é<br />

infinita na nossa finitude." (10. parágrafo) - alusão<br />

b) "Ainda assim, avanço em meio da névoa," (30.<br />

parágrafo) - metáfora<br />

c) "quero ser clara em meio desse claro que de<br />

repente ficou escuro," (30. parágrafo) - ironia<br />

d) "O questionador acha a imagem meio dramática<br />

mas divertida," (60. parágrafo) - metonímia<br />

GABARITO<br />

1: [A] 2: a) Pleonasmo. b) Sinestesia. c)<br />

Prosopopeia. d) Sinestesia. e) Pleonasmo.<br />

3: [C] 4: a) Paradoxo e antítese b) Catacrese c)<br />

Hipérbole 5: [C] / 6: a) O gênero literário<br />

predominante no poema é o lírico, confirmado pela<br />

presença do "eu lírico", pela subjetividade na<br />

escolha das imagens, pela valorização das<br />

sensações e pela aproximação entre sujeito e<br />

objeto.<br />

b) O uso de prosopopeia é visto em: "E as<br />

borboletas sem voz/dançavam assim<br />

veludosamente." O emprego da sinestesia pode ser<br />

visto no seguinte verso: "Agora, o cheiro áspero das<br />

flores".<br />

7: [B] / 8: [D] / 9: [D] / 10: [D] / 11: [D] /<br />

12:<br />

a) Porto, roteiro, continente, barco.<br />

b) Antítese: "onde o momento concorda/com ser<br />

eterno e findar"<br />

Hipérbole: "a mão do dia transborda/de coisas pra te<br />

dar"<br />

13: [B]<br />

....................................................................................<br />

IRONIA - APROFUNDAMENTO<br />

Ironia é o efeito resultante do uso de uma palavra<br />

ou expressão que, em um contexto específico,<br />

ganha sentido oposto ou diverso daquele com que<br />

costuma ser utilizada<br />

Na charge acima a ironia consiste na fala da<br />

professora. Essa ironia é percebida pelo contexto:<br />

sua fisionomia e suas contas e responsabilidades. A<br />

ironia é, portanto, contextual.<br />

FUNÇÃO CRÍTICA DA IRONIA<br />

É freqüente encontrarmos ironia em diferentes<br />

textos com os quais entramos em contato<br />

diariamente. Para o desenvolvimento da nossa<br />

competência de bons leitores, é essencial que<br />

saibamos identificar a ocorrência da ironia em<br />

textoas, pois somente assim seremos acazes de dar<br />

a esses textos a interpretação pretendida pelo seu<br />

autor.<br />

O cartum é um Gênero textual que tem como uma<br />

de suas características promover uma reflexão<br />

critica sobre situações políticas, econômicas e<br />

sociais da atualidade.


Espera-se que, em uma sociedade democrática,<br />

todos os cidadãos tenham direitos e deveres iguais.<br />

<strong>Com</strong>ente o que ocorre exatamente no cartum<br />

acima.<br />

IRONIA COMO RECURSO LITERÁRIO<br />

A ironia é um recurso muito utilizado por autores de<br />

textos literários. Em alguns casos, ela chega a<br />

definir um estilo. É o que acontece com Machado de<br />

Assis. Nos seus romances, o grande escritor<br />

brasileiro dirige um olhar claramente irônico para a<br />

sociedade do Segundo Reinado.<br />

Narradores descrentes da condição humana fazem<br />

da ironia uma verdadeira arma contra a hipocrisia<br />

de seus semelhantes.<br />

“expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira<br />

do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara<br />

de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos<br />

e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos<br />

contos e fui acompanhado ao cemitério por onze<br />

amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve<br />

cartas nem anúncios. Acresce que chovia —<br />

peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante,<br />

tão constante e tão triste, que levou um daqueles<br />

fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa<br />

ideia no discurso que proferiu à beira de minha<br />

cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores,<br />

vós podeis dizer comigo que a natureza parece<br />

estar chorando a perda irreparável de um dos mais<br />

belos caracteres que têm honrado a humanidade.<br />

Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas<br />

nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe<br />

funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à<br />

Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um<br />

sublime louvor ao nosso ilustre finado.” Bom e fiel<br />

amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices<br />

que lhe deixei.”<br />

Memórias Póstumas de Brás Cubas<br />

..................................................................................<br />

<strong>HUMOR</strong> – DISCURSO <strong>HUMOR</strong>ÍSTICO<br />

A mãe de Juca estava grávida e perguntou a ele o<br />

que preferia ganhar: um irmãozinho ou uma<br />

irmãzinha. Juca respondeu:<br />

- Mamãe, se não for pedir muito, eu prefiro uma<br />

bicicleta<br />

Ocorre no decorrer do texto a MANIPULAÇÃO,<br />

direcionado pelo autor que faz com que o leitor<br />

tenha um pensamento que será transformado no<br />

final do texto. Ou seja, o riso tem como causa um<br />

jogo de duplicidade semântica. A interpretação<br />

literal de algo que precisa ser entendido em sentido<br />

figurado, representações estereotipadas de<br />

variedades lingüísticas estigmatizadas são recursos<br />

associados à linguagem presente em muitas piadas.<br />

Piada: história curta de final surpreendente, às<br />

vezes picante ou obscena, contada para provocar<br />

risos.<br />

Anedota: particularidade curiosa ou jocosa que<br />

acontece no dia a dia, podendo provocar risos ou<br />

não. Houaiss<br />

EXERCÍCIOS<br />

EXERCÍCIOS<br />

1. (Fuvest 2001)<br />

POLÍTICA LITERÁRIA<br />

O poeta municipal<br />

discute com o poeta estadual<br />

qual deles é capaz de bater o poeta<br />

[federal.<br />

Enquanto isso o poeta federal<br />

tira ouro do nariz.<br />

(Carlos Drummond de Andrade, "Alguma<br />

poesia")<br />

ANEDOTA BÚLGARA<br />

Era uma vez um czar naturalista<br />

que caçava homens.<br />

Quando lhe disseram que também se<br />

[caçam borboletas e andorinhas,<br />

ficou muito espantado<br />

e achou uma barbaridade.<br />

(Carlos Drummond de Andrade, "Alguma<br />

poesia")<br />

Costuma-se reconhecer que estes poemas,<br />

pertencentes ao Modernismo, apresentam aspectos<br />

característicos do "poema-piada", modalidade<br />

bastante praticada nesse período literário.<br />

a) Identifique um recurso de estilo tipicamente<br />

modernista que esteja presente em ambos os<br />

poemas. Explique-o sucintamente.<br />

b) Considere a seguinte afirmação:<br />

O POEMA-PIADA VISA A UM <strong>HUMOR</strong>ISMO<br />

INSTANTÂNEO E, POR ISSO, ESGOTA-SE EM SI<br />

MESMO, NÃO INDO ALÉM <strong>DE</strong>SSE OBJETIVO<br />

IMEDIATO.<br />

A afirmação aplica-se aos poemas aqui<br />

reproduzidos? Justifique brevemente sua resposta.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

2. (Uel 2011) <strong>Com</strong> base no texto, é correto afirmar:<br />

a) O rei pede a opinião da rainha sobre tirar a barba,<br />

mas não compreende o sentido irônico de sua<br />

resposta.<br />

b) O rei quer saber o que o povo diria sobre ele tirar<br />

a barba e a rainha responde com palavras do povo.<br />

c) Ao rei é fundamental compreender a essência de<br />

seu poder, enquanto à rainha interessam questões<br />

ligadas à aparência do rei.


d) O rei demonstra ironia na pergunta e a rainha<br />

responde com a submissão que dela se espera.<br />

e) A rainha compartilha da preocupação do rei com<br />

a aparência, pois isso é importante para o exercício<br />

do poder.<br />

3. (Pucpr 2009) Leia o capítulo IV de "Dom<br />

Casmurro", de Machado de Assis, transcrito<br />

integralmente a seguir:<br />

"José Dias amava os superlativos. Era um modo de<br />

dar feição monumental às ideias; não as havendo,<br />

servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir<br />

buscar o gamão, que estava no interior da casa.<br />

Cosime muito à parede, e vi-o passar com as suas<br />

calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e<br />

gravata de mola. Foi dos últimos que usaram<br />

presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo.<br />

Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem<br />

esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco<br />

de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era<br />

então moda. O rodaque de chita, veste caseira e<br />

leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era<br />

magro, chupado, com um princípio de calva; teria os<br />

seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o<br />

passo vagaroso do costume, não aquele vagar<br />

arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar<br />

calculado e deduzido, um silogismo completo, a<br />

premissa antes da consequência, a consequência<br />

antes da conclusão.<br />

Um dever amaríssimo!".<br />

Fonte: Machado de Assis, "Dom Casmurro"<br />

Aponte, entre as alternativas, a que for<br />

INCORRETA em relação ao capítulo:<br />

a) O "dever amaríssimo" assumido por José Dias é<br />

o de lembrar Dona Glória - a quem respeita com um<br />

misto de veneração e interesse - de que ela havia<br />

feito, anos antes, a promessa de enviar seu único<br />

filho, Bentinho, para estudar em um seminário. Para<br />

reforçar seus argumentos, diz que isto deve ocorrer<br />

para que se interrompa o nascente relacionamento<br />

de Bentinho com Capitu, antes que seja tarde.<br />

b) José Dias representa no romance a figura do<br />

agregado, alguém sem recursos que vive de favor<br />

na casa de uma família de posses e que, no<br />

relacionamento com esta, cumpre pequenas<br />

"tarefas" como uma espécie de paga. Em relação a<br />

Dona Glória e a Bentinho, José Dias tanto é o<br />

conselheiro - que simula ilustração e conhecimento -<br />

como o humilde serviçal, sempre prevendo as<br />

vantagens que levará com seus atos.<br />

c) José Dias terá grande importância no transcurso<br />

da ação, após a denúncia que faz a Dona Glória dos<br />

perigos que a amizade de Bentinho e Capitu pode<br />

trazer. Na verdade, sua atitude é a de quem "joga"<br />

com seus "protetores". De um lado, ele suscita em<br />

Dona Glória a necessidade de cumprir a promessa.<br />

De outro, quando solicitado, oferecerá ajuda a<br />

Bentinho para que ele não vá para o seminário.<br />

d) Pode-se dizer que, a despeito de sua atitude<br />

intrometida ao aconselhar Dona Glória sobre a<br />

necessidade de separar Bentinho de Capitu -<br />

quando os dois ainda eram crianças - José Dias é o<br />

primeiro a perceber os defeitos da futura esposa de<br />

Bentinho. Sua observação a respeito dela aponta<br />

para o fato de ser "desmiolada", filha de uma família<br />

de moral condenável e intenções talvez<br />

interesseiras em relação àquela amizade.<br />

e) José Dias, descrito com ironia no fragmento<br />

citado, é a personificação dos vícios da aristocracia<br />

decaída e empobrecida depois do processo de<br />

Independência do Brasil no século XIX. Outrora rico<br />

e influente - tendo sido sócio do falecido marido de<br />

Dona Glória - José Dias tornou-se, com o tempo,<br />

uma figura pouco relevante nas rodas sociais de<br />

seu tempo, razão pela qual vive dos favores que lhe<br />

dirige a mãe de Bentinho, a quem respeita<br />

incondicionalmente, sem lhe pedir nada.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

Questão 04<br />

A metáfora é uma figura de linguagem que se<br />

caracteriza por conter uma comparação implícita. O<br />

cartum de Sizenando constrói uma metáfora, que<br />

pode ser observada na comparação entre:<br />

a) o sentimento de desilusão e a floresta<br />

b) a propaganda dos bancos e os artistas<br />

c) a ironia do cartunista e a fala do personagem<br />

d) o artista desiludido e o personagem cabisbaixo<br />

Questão 05<br />

a) O que produz a ironia nessa tira e como você<br />

interpreta a resposta de Hagar, no segundo<br />

quadrinho da tira? Justifique.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

TEXTO I<br />

Uma luta de adjetivos. Touro indomável foi uma<br />

solução mais precisa de "Ranging Bull" do que seria<br />

sua tradução literal, "touro enraivecendo". A


adaptação em português enfatiza o aspecto do<br />

termo, não a noção de tempo, como o original<br />

permitiria. Uma alternativa, "Touro irado", tem<br />

igualmente menos força que o adjetivo "indomável".<br />

TEXTO II<br />

"Million Dollar Baby" (a menina de um milhão de<br />

dólares) não entrega o ouro de cara: descreve a<br />

protagonista que tenta sair da sarjeta por meio do<br />

boxe. Emite a ideia de um prêmio a coroar a<br />

obstinação da heroína, que vive sentimentos crus e<br />

sem afagos. O título em inglês nos induz a uma<br />

expectativa que será redefinida. "Menina de ouro"<br />

esvazia a ambiguidade original e confere uma<br />

afetuosidade à personagem que não é a tônica da<br />

história.<br />

REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo:<br />

Segmento, n. 5, 2006, p. 31-32.<br />

Questão 06<br />

<strong>Com</strong> base na leitura do texto II, pode-se afirmar que<br />

"'Million Dollar Baby' não entrega o ouro de cara"<br />

porque o título expressa<br />

a) a ambiguidade que induz a uma interpretação<br />

que será reformulada.<br />

b) a ideia de contraposição que sugere o caráter<br />

obstinado da personagem.<br />

c) a ironia que remete ao estado de pobreza<br />

incorporado pela protagonista.<br />

d) o sentido de afetuosidade que revela um tipo<br />

complexo de personagem.<br />

e) o pressuposto que conduz a uma expectativa que<br />

será comprovada.<br />

Questão 07<br />

Leia atentamente o texto a seguir, adaptado da<br />

"Folha de S. Paulo" de 28/02/06.<br />

CAMELÔS FATURAM NA CONCENTRAÇÃO<br />

Apesar da repressão dos organizadores do<br />

Carnaval contra os camelôs, um grupo de cerca de<br />

dez ambulantes fez "fortuna" na concentração do<br />

desfile das escolas de samba.<br />

Mesmo sob forte chuva, eles ficaram posicionados<br />

na estrutura de um outdoor vendendo bebidas para<br />

os foliões. O grupo cobrava R$ 2,00 pela água e R$<br />

3,00 pela cerveja.<br />

"Vendi R$ 350,00 somente para as duas primeiras<br />

escolas. Já paguei o aluguel do meu barraco. Por<br />

mim, o Carnaval durava o ano inteiro", afirmou o<br />

pedreiro G. C., de 43 anos, um dos que escalaram o<br />

outdoor para ganhar um "extra" nos dias de folia.<br />

A partir da leitura atenta do texto, assinale a<br />

alternativa válida.<br />

a) "Fortuna" no texto corresponde a "extra", o que<br />

se sustenta na ironia alcançada com as aspas e à<br />

relatividade dos pontos de vista do jornalista e do<br />

pedreiro G. C.<br />

b) O texto assume o ponto de vista dos<br />

organizadores do Carnaval, declaradamente<br />

contrário à prática de comércio ambulante durante o<br />

desfile.<br />

c) No texto, a forte chuva que incomodou os foliões<br />

foi um grande aliado do grupo de vendedores<br />

ambulantes de água e cerveja.<br />

d) Está explícito no depoimento do pedreiro G. C.<br />

que seu faturamento total durante o Carnaval foi de<br />

R$ 350,00.<br />

e) O texto revela que o esquema de repressão aos<br />

camelôs foi eficiente nos espaços de concentração<br />

das escolas de samba.<br />

Questão 08<br />

No último quadrinho, observando-se a expressão de<br />

Liberdade e o que ela diz - seja pela pontuação<br />

(???), seja pela reiteração do verbo ("sabe") -, sua<br />

atitude revela<br />

a) medo e desespero.<br />

b) ironia e melancolia.<br />

c) indignação e agressividade.<br />

d) humor e surpresa.<br />

e) espanto e tristeza.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

TROCA <strong>DE</strong> E-MAILS<br />

The New York Times<br />

Seguem abaixo trechos das mensagens de E-MAIL<br />

trocadas na terça-feira e ontem entre o Presidente<br />

vice-presidente-Presidente AI Gore e o Governador<br />

George W. Bush, do Texas:<br />

Do: Sr. Gore<br />

Para: Sr. Bush<br />

Assunto: Campanha eleitoral<br />

Congratulações por sua indicação partidária. Penso<br />

que as vitórias mútuas desta noite nos<br />

proporcionam uma chance rara para a mudança no<br />

modo de se conduzir campanhas eleitorais e de se<br />

restabelecer a confiança dos eleitores em nosso<br />

processo eleitoral.<br />

Assim sendo, eu o desafio a aceitar minha proposta<br />

de que nós dois rejeitemos o uso do chamado<br />

"dinheiro fácil" na veiculação de propaganda<br />

eleitoral. Eu darei o primeiro passo pedindo ao<br />

<strong>Com</strong>itê Nacional Democrático para não veicular<br />

nenhuma propaganda eleitoral não regulamentada<br />

através do uso de verbas de procedência ignorada,<br />

a menos que o Partido Republicano passe a agir<br />

nesse sentido.<br />

Portanto, está nas mãos do senhor e de seu partido<br />

o início eventual de uma guerra acirrada de<br />

propaganda; o senhor tem o poder de unir-se a mim


na proibição do "dinheiro fácil". Se o senhor estiver<br />

disposto a fazer a coisa certa, nós podemos mudar<br />

a política para sempre.<br />

Do: Sr. Bush<br />

Para: Sr. Gore<br />

Assunto: RE: Campanha eleitoral<br />

Obrigado por seu E-MAIL e seus cumprimentos. Eu<br />

o felicito também, e anseio por uma campanha que<br />

trate das questões importantes do nosso tempo - a<br />

reforma educacional, a modernização de nossas<br />

forças armadas e o resgate de padrões de<br />

qualidade no nosso governo.<br />

O senhor e eu fizemos várias propostas de reforma<br />

de financiamento de campanha. Mas antes de<br />

debatermos estas mudanças, é importante que os<br />

americanos saibam se as leis de financiamento de<br />

campanha atuais foram obedecidas. Assim sendo,<br />

eu o desafio a esclarecer acusações graves. Eu<br />

espero que o senhor interfira junto à Casa Branca e<br />

ao Departamento de Justiça para a liberação de<br />

todos os registros e fotos relativos à investigação<br />

sobre abusos no financiamento da sua própria<br />

campanha.<br />

Em seu E-MAIL, o senhor falou em restabelecer "a<br />

confiança em nosso processo eleitoral". E isso é o<br />

ponto central da questão. São necessárias novas<br />

leis de financiamento de campanha. O que é até<br />

mesmo mais importante é o dever dos funcionários<br />

públicos de obedecer às leis existentes, e eu receio<br />

que seu próprio histórico não inspire confiança.<br />

Agradeço seu E-MAIL. Esta sua Internet é uma<br />

invenção maravilhosa.<br />

(Traduzido do New York Times on line, 16/03/2000.)<br />

Questão 09<br />

O vice-presidente Gore propõe em seu e-mail uma<br />

rejeição, de parte a parte, do chamado "dinheiro<br />

fácil", usado de maneira não regulamentada na<br />

veiculação de propagandas eleitorais.<br />

O tom da mensagem-réplica do governador Bush<br />

reflete basicamente as seguintes atitudes:<br />

a) crítica e desconfiança pela indicação do<br />

democrata Gore à sucessão presidencial<br />

b) animosidade e distanciamento do processo de<br />

moralização da campanha eleitoral<br />

c) ceticismo e ironia no tocante à seriedade das<br />

palavras e intenções de seu oponente<br />

d) ressentimento e desdém quanto às instruções<br />

dadas por Gore ao <strong>Com</strong>itê Democrático<br />

Questão 10<br />

O CAPOEIRA<br />

- Qué apanha sordado?<br />

- O quê?<br />

- Qué apanhá?<br />

Pernas e cabeças na calçada<br />

Estão presentes no poema anterior, de Oswald de<br />

Andrade, os seguintes recursos de sua poética:<br />

a) instantâneo da realidade e transcrição de fala.<br />

b) paródia de poema romântico e lirismo contido.<br />

c) transcrição de fala e lirismo contido.<br />

d) ironia melancólica e instantâneo da realidade.<br />

e) humor irônico e paródia do parnasianismo.<br />

Questão 11<br />

No baile da Corte<br />

Foi o Conde d'Eu quem disse<br />

Pra Dona Benvinda<br />

Que farinha de Suruí<br />

Pinga de Parati<br />

Fumo de Baependi<br />

É comê bebê pitá e caí<br />

Andrade<br />

RELICÁRIO<br />

Oswald de<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Os termos rimados referem-se a coisas que<br />

produzem efeitos diferentes, já que supõem<br />

diferentes ações.<br />

b) CAÍ, no último verso, acentua o efeito provocado<br />

pelos termos dos três versos anteriores, tudo<br />

reunido na semelhança fonética das rimas.<br />

c) RELICÁRIO significa coisa preciosa, de muito<br />

valor, ou lugar onde se guardam preciosidades.<br />

Esse título, relacionado ao contexto, isenta o texto<br />

de ironia.<br />

d) O adjunto adverbial de lugar, bem como o sujeito<br />

sintático dos dois primeiros versos criam a ironia<br />

nesse primeiro período, sem que haja a<br />

necessidade de avançar na leitura.<br />

e) O último verso mostra uma linguagem<br />

inadequada à poesia, bem como aos personagens<br />

sugeridos, já que inclui um nobre, como falante, o<br />

Conde D'Eu. Essa incoerência do texto constitui<br />

uma falha da argumentação.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

OS CÃES<br />

- Lutar. Podes escachá-los ou não; 1 o<br />

essencial é que lutes. Vida é luta. Vida 2 SEM LUTA<br />

é um mar morto no centro do organismo universal.<br />

DAÍ A POUCO demos COM UMA BRIGA<br />

3<br />

de cães; fato que AOS OLHOS <strong>DE</strong> UM HOMEM<br />

VULGAR não teria valor. Quincas Borba fez-me<br />

parar e observar os cães. Eram dois. Notou que 4 ao<br />

pé deles estava um osso, MOTIVO DA GUERRA, e<br />

não deixou de chamar a minha atenção para a<br />

circunstância de que o osso não tinha carne. Um<br />

simples osso nu. Os cães 1(6) mordiam-se, rosnavam,<br />

COM O FUROR NOS OLHOS... Quincas Borba<br />

meteu a bengala 5 <strong>DE</strong>BAIXO DO BRAÇO, e parecia<br />

EM ÊXTASE.<br />

- Que belo que isto é! dizia ele de quando<br />

em quando.<br />

Quis arrancá-lo dali, mas não pude; ele<br />

estava arraigado AO CHÃO, e só continuou A<br />

ANDAR, quando a briga 2(7) cessou INTEIRAMENTE,<br />

e um dos cães, MORDIDO e vencido, foi levar a sua<br />

fome A OUTRA PARTE. Notei que ficara<br />

6<br />

sinceramente ALEGRE, posto contivesse a


ALEGRIA, segundo convinha a um grande filósofo.<br />

Fez-me observar a beleza do espetáculo, relembrou<br />

o objeto da luta, concluiu que os cães tinham fome;<br />

mas a privação do alimento era nada para os efeitos<br />

gerais da filosofia. Nem deixou de recordar que em<br />

algumas partes do globo o espetáculo é mais<br />

grandioso: as criaturas humanas é que 3(8) disputam<br />

aos cães os ossos e outros manjares menos<br />

APETECÍVEIS; luta que se complica muito, porque<br />

entra em ação a inteligência do homem, com todo o<br />

acúmulo de sagacidade que lhe deram os séculos<br />

etc.<br />

Questão 12<br />

Algumas características presentes no texto "Os<br />

Cães" permitem reconhecer nele um excerto de<br />

"________", romance que se constitui em sátira,<br />

velada por uma ironia olímpica e um humor à<br />

inglesa, às instituições burguesas, em torno de sua<br />

chaga maior, o adultério.<br />

a) "Memórias Póstumas de Brás Cubas"<br />

b) "D. Casmurro"<br />

c) "Esaú e Jacó"<br />

d) "Angústia"<br />

e) "NDA"<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

MEU GURI<br />

Chico Buarque<br />

Quando, seu moço, nasceu meu rebento<br />

não era o momento dele rebentar,<br />

já foi nascendo com cara de fome<br />

e eu não tinha nem nome pra lhe dar.<br />

<strong>Com</strong>o fui levando, não sei lhe explicar<br />

fui assim levando, ele a me levar,<br />

e, na sua meninice, ele um dia me disse<br />

que chegava lá. Olha aí, olha aí...<br />

Olha aí, ai o meu guri, olha aí<br />

Olha aí, é o meu guri. E ele chega.<br />

Chega suado e veloz do batente<br />

e traz sempre um presente pra me encabular.<br />

Tanta corrente de ouro, seu moço,<br />

que haja pescoço pra enfiar!<br />

Me trouxe uma bolsa, já com tudo dentro,<br />

chave, caderneta, terço e patuá,<br />

um lenço e uma penca de documento<br />

pra finalmente eu me identificar, olha aí...<br />

........................................................................<br />

Chega estampado, manchete, retrato<br />

com venda nos olhos, legenda e as iniciais.<br />

Eu não entendo essa gente, seu moço,<br />

fazendo alvoroço demais.<br />

O guri no mato acho que tá rindo,<br />

acho que tá lindo de papo pro ar.<br />

Desde o começo eu não disse, seu moço?<br />

Ele disse que chegava lá! Olha aí, olha aí...<br />

Olha aí, ai o meu guri, olha aí<br />

Olha aí, é o meu guri...<br />

BUARQUE, Chico. Almanaque,CD 5 10 010-2,<br />

PolyGram, 1993.<br />

TEXTO IV<br />

MUDANÇA<br />

Na planície avermelhada os juazeiros<br />

alargavam duas manchas verdes. Os infelizes<br />

tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e<br />

famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas<br />

como haviam repousado bastante na areia do rio<br />

seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia<br />

horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos<br />

juazeiros apareceu longe, através dos galhos<br />

pelados da caatinga rala.<br />

Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá<br />

Vitória com o filho mais novo escachado no quarto e<br />

o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio,<br />

cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa<br />

correia presa ao cinturão, a espingarda de<br />

pederneira no ombro. O menino mais velho e a<br />

cachorra Baleia iam atrás.<br />

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram,<br />

sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar,<br />

sentou-se no chão.<br />

- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o<br />

pai.<br />

Não obtendo resultado, fustigou-o com a<br />

bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou<br />

acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os<br />

olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e<br />

esperou que ele se levantasse. <strong>Com</strong>o isto não<br />

acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado,<br />

praguejando baixo.<br />

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 64ª ed.,Rio de<br />

Janeiro, Ed. Record, 1993, p, 9.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

A <strong>LINGUAGEM</strong> <strong>DE</strong> BABEL<br />

O idioma usado pelos que circulam nos<br />

corredores do FMI e BIRD parece grego para a<br />

maioria dos mortais, embora os gregos jurem que<br />

também não entendem aquela língua. Os<br />

economistas dizem que são fluentes mas é possível<br />

ouvi-los embaralhando a pronúncia. Os jornalistas<br />

que cobrem a área fingem domínio, mas denunciam<br />

sua ignorância quando disputam, aos tapas, as<br />

edições do livro Glossário do FMI. A obra é um<br />

dicionário de termos com versões em inglês, francês<br />

e espanhol.<br />

(ISTO É, 18.10.95)<br />

Questão 13<br />

O Texto está resumido no(s) seguinte(s) item(ns):<br />

1. A língua usada nas instituições econômicas<br />

internacionais é muito complicada. Nem os<br />

economistas entendem e os jornalistas consultam<br />

dicionários para poder entendê-la.<br />

2. O grego é a língua falada nas instituições<br />

econômicas como o FMI e o BIRD. Os economistas


entendem porque falam bem o grego, mas os<br />

jornalistas necessitam de dicionários para entender.<br />

3. A linguagem dos economistas do FMI e do BIRD<br />

é tão rebuscada, que parece grego. Os termos não<br />

são entendidos nem pelos jornalistas<br />

especializados.<br />

4. Os economistas do FMI e do BIRD fingem ser<br />

fluentes no jargão utilizado nas instituições, mas<br />

frequentemente não sabem pronunciar os termos<br />

utilizados. Além disso, um dicionário com versões<br />

em inglês, francês e espanhol é sempre consultado<br />

por jornalistas que, no entanto, fingem dominar o<br />

texto.<br />

5. Nem os jornalistas especializados entendem o<br />

jargão econômico usado no FMI e no BIRD,<br />

necessitando do auxílio de dicionários. Os<br />

economistas pronunciam mal os termos e, embora<br />

se diga com ironia que este jargão parece grego<br />

para o usuário comum, os próprios gregos não<br />

conseguem entendê-lo.<br />

Está(ão) correto(s) apenas o(s) item(ns):<br />

a) 1, 2 e 3;<br />

b) 2, 4 e 5;<br />

c) 4;<br />

d) 1, 3, 4 e 5;<br />

e) 1, 2, 3 e 4.<br />

Acesse outros materiais no site:<br />

www.profjorge.com.br<br />

GABARITO<br />

1.<br />

a) A "percepção do contrário" consiste no<br />

reconhecimento de uma situação que contraria o<br />

esperado. O "sentimento do contrário" consiste não<br />

só em reconhecer essa situação oposta, mas<br />

também entender os motivos que a provocaram.<br />

b) Ao percebermos que aquela senhora não<br />

corresponde ao que uma velha senhora deveria ser,<br />

rimos (...).<br />

2. a)<br />

3. e)<br />

04. a)<br />

05. Temos dois sentidos: o literal, tal jantar seria<br />

importante; e o irônico, que é o oposto do primeiro:<br />

tal jantar não teria nenhuma importância, como se<br />

entende do diálogo do segundo quadrinho.<br />

A resposta de Hagar mostra que sua fala anterior<br />

era irônica e que, portanto, ele não atribuía<br />

importância ao rei da Inglaterra, fingindo o contrário<br />

apenas por temor da mulher.<br />

06 a)<br />

07 a)<br />

08. c)<br />

09. c)<br />

10. a)<br />

11. b)<br />

12. a)<br />

13. d)

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