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representações simbólicas das madrastas em contos de fadas - pucrs

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igorosa: terá <strong>de</strong> calçar sapatos <strong>de</strong> ferro aquecidos num fogo <strong>de</strong> carvões, untados com<br />

substância a<strong>de</strong>rente e dançar “com eles até cair morta no chão”. Segundo Tatar (2004),<br />

esta morte dolorosa e humilhante coloca a madrasta no mesmo lugar dos sofrimentos a<br />

que Branca <strong>de</strong> Neve foi submetida.<br />

Ressaltamos que a madrasta t<strong>em</strong> papel mais relevante no início da história do<br />

que no seu final. Po<strong>de</strong> ser punida ou não pelas malda<strong>de</strong>s cometi<strong>das</strong>. O mais importante<br />

é que é ela qu<strong>em</strong> criará uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sord<strong>em</strong> na vida <strong>das</strong> entea<strong>das</strong> a ponto <strong>de</strong> levá-<br />

las (ou obrigá-las) a agir, a incomodar-se. A madrasta, por certo, é uma <strong>das</strong> responsáveis<br />

pelo final feliz <strong>das</strong> protagonistas, porque ela <strong>de</strong>safia e leva a protagonista a construir sua<br />

própria fortuna. Além disso, a exclusão da madrasta ao final ou sua morte trágica, leva<br />

as crianças a confiar<strong>em</strong> num porvir mais feliz.<br />

4. Madrasta é a mãe<br />

Ao confrontar as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> <strong>madrastas</strong> presentes nos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fada, comecei<br />

a perguntar-me o que tal personag<strong>em</strong> tão fascinante simboliza para os leitores. E a<br />

perspectiva psicanalítica <strong>de</strong> Bettelheim (1979) <strong>de</strong> chofre já enunciou algo interessante.<br />

Ao intitular um dos capítulos do livro “A psicanálise dos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>”, como “A<br />

fantasia da madrasta má”, acabava por <strong>de</strong>nunciar que a relação estabelecida com a<br />

personag<strong>em</strong> madrasta, <strong>de</strong> certa forma, é fruto da imaginação criadora <strong>das</strong> crianças. Vale<br />

ressaltar que esta é, justamente, a sessão que tratará <strong>das</strong> transformações. Neste capítulo,<br />

o autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o conto <strong>de</strong> fada auxilia a criança a integrar “a ord<strong>em</strong> racional com a<br />

ilogicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu inconsciente” (p.83).<br />

Para o psicanalista austríaco, a criança separa um ser <strong>em</strong> duas entida<strong>de</strong>s, porque<br />

não concebe que este possa ser bom <strong>em</strong> alguns momentos e mau <strong>em</strong> outros. Por isso,<br />

dividir mães boas e <strong>madrastas</strong> más é uma ótima estratégia para preservar a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

bonda<strong>de</strong> que <strong>em</strong>ana da mãe e compreen<strong>de</strong>r que aquela suposta malda<strong>de</strong> é uma<br />

manifestação passageira. Assim, “<strong>em</strong>bora mamãe seja com mais frequência a protetora<br />

toda-dadivosa, po<strong>de</strong>-se transformar na cruel madrasta se for malvada a ponto <strong>de</strong> negar<br />

ao seu filhinho algo que ele <strong>de</strong>seja” (BETTELHEIM, 1979, P. 84).<br />

Por tanto, a personag<strong>em</strong> madrasta nos Contos <strong>de</strong> Fada resolve uma tensão<br />

presente no relacionamento entre mães e filhas (os) e torna mais compreensível para a<br />

criança a dubieda<strong>de</strong> que marca os seres humanos. Eis uma divisão útil para as crianças,<br />

porque, esta po<strong>de</strong>rá alimentar certo sentimento <strong>de</strong> ódio da mãe quando ela se comportar<br />

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