representações simbólicas das madrastas em contos de fadas - pucrs
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Entre <strong>de</strong>safiadora e má: Uma análise <strong>das</strong> <strong>representações</strong> <strong>simbólicas</strong> <strong>das</strong> <strong>madrastas</strong><br />
1 Para começo <strong>de</strong> conversa<br />
<strong>em</strong> <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong><br />
Luciana Sacramento Moreno Gonçalves<br />
(Doutoranda <strong>em</strong> Letras da<br />
Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul)<br />
Mesmo na Pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, muitas mulheres ainda são ensina<strong>das</strong> a ser mãe<br />
pelas culturas dos lugares on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong>. E, isto, implica, impreterivelmente, cuidar dos<br />
filhos, amá-los, acarinhá-los, zelar para que cresçam fortes, saudáveis e <strong>de</strong>senvolvam<br />
suas competências o mais amplamente possível. Entretanto, nenhuma <strong>de</strong>ssas mulheres é<br />
educada para ser madrasta, porque a existência <strong>de</strong>sta indica s<strong>em</strong>pre para alguma<br />
ausência da mãe pela fatalida<strong>de</strong> da morte, pelo abandono ou até mesmo pela real<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afastamento.<br />
Millôr Fernan<strong>de</strong>s (1985) ironiza, ao dizer que: “o importante não é a morte; é o<br />
que ela nos tira”. Trocando <strong>em</strong> miúdos e relacionando ao caso <strong>das</strong> mães e <strong>madrastas</strong>,<br />
não é propriamente a falta da mãe que nos inibe e amedronta através da figura da<br />
madrasta, mas é justamente a ausência <strong>de</strong> todos os sentimentos <strong>de</strong> zelo e amor<br />
representados pela mãe. Assim, para a madrasta sobra o papel <strong>de</strong> severa, obsessiva,<br />
displicente, raivosa e vingativa. Ela antagoniza todos os predicados da mãe. E isto está<br />
expresso na/pela linguag<strong>em</strong> através da literatura.<br />
Por isso, este artigo objetiva <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r esforços para tentar compreen<strong>de</strong>r como<br />
a madrasta é representada simbolicamente nos Contos <strong>de</strong> Fa<strong>das</strong>. Os <strong>contos</strong> escolhidos<br />
cont<strong>em</strong>plam questões existenciais fulcrais e mo<strong>de</strong>lam “códigos <strong>de</strong> comportamento e<br />
trajetória <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que nos fornec<strong>em</strong> termos com que<br />
pensar sobre o que acontece no nosso mundo” (TATAR, 2004, p. 09). Evocam questões<br />
íntimas, constitutivas <strong>de</strong> conflitos familiares, <strong>de</strong>safiando-nos a pensar o quanto as<br />
<strong>representações</strong> <strong>simbólicas</strong> e o imaginário pod<strong>em</strong> nos auxiliar a lidar e agir no plano da<br />
realida<strong>de</strong>. Ou como sugere Augras (1980), o quanto os <strong>contos</strong> estabelec<strong>em</strong> relações<br />
irreais (abstratas) para permitir a adaptação do hom<strong>em</strong> à realida<strong>de</strong>.<br />
Assim, elenquei <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> <strong>em</strong> que a madrasta aparecia como personag<strong>em</strong><br />
central ou periférica. Assim, foram <strong>de</strong>stacados para análise os sete <strong>contos</strong> a seguir dos<br />
respectivos autores: Cin<strong>de</strong>rela (ou Sapatinho <strong>de</strong> Vidro), <strong>de</strong> Charles Perrault; João e<br />
1
Maria, Branca <strong>de</strong> Neve, dos Irmãos Grimm; Vasilisa, a Bela, <strong>de</strong> Aleksandr Afanasev;<br />
Catarina Quebra-nozes, <strong>de</strong> Joseph Jacobs e Pé <strong>de</strong> Zimbro, <strong>de</strong> Phillip Otto Runge.<br />
Devido à importância do conto Cin<strong>de</strong>rela, foi incluída a versão dos Irmãos Grimm,<br />
traduzida por Maria Heloisa Penteado. O objetivo <strong>de</strong>ste ensaio é compreen<strong>de</strong>r as<br />
<strong>representações</strong> <strong>simbólicas</strong> <strong>de</strong> madrasta nestes <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>, observando questões<br />
como <strong>de</strong>scrições físicas e psicológicas <strong>das</strong> personagens mãe, madrasta e protagonistas;<br />
papel da madrasta no <strong>de</strong>senvolvimento da narrativa e o acontecimento <strong>em</strong> torno da<br />
madrasta presente no <strong>de</strong>sfecho do texto.<br />
2 Contos <strong>de</strong> fatum: o sentido existencial da narrativa<br />
Os <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> são, geralmente, narrativas curtas, transmiti<strong>das</strong> popularmente<br />
pela oralida<strong>de</strong>. Neles, os protagonistas reún<strong>em</strong> <strong>em</strong> si características excepcionais que os<br />
tornam capazes <strong>de</strong> superar qualquer infortúnio e s<strong>em</strong>pre têm que enfrentar diversos<br />
obstáculos, antes <strong>de</strong> chegar<strong>em</strong> ao “e foram felizes para s<strong>em</strong>pre”. Nos <strong>contos</strong>, o<br />
protagonista é representado pela figura do herói que passa por um ritual <strong>de</strong> iniciação a<br />
fim <strong>de</strong> se encontrar com seu verda<strong>de</strong>iro eu. Segundo Von France (1981, p. 31), “o herói<br />
nos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> é uma figura abstrata e não humana (...) t<strong>em</strong> reações estereotipa<strong>das</strong><br />
(...) é completamente esqu<strong>em</strong>ático”. Estão acima do b<strong>em</strong> e do mal e suas ações são<br />
s<strong>em</strong>pre assertivas e pauta<strong>das</strong> nos melhores sentimentos humanos. No estudo <strong>em</strong><br />
questão, Cin<strong>de</strong>rela, Branca <strong>de</strong> Neve, João e Maria, Vasilisa, Catarina e o menino do Pé<br />
<strong>de</strong> Zimbro são piedosas, bondosas, astutas, corajosas e <strong>de</strong>lica<strong>das</strong>; perdoam as malda<strong>de</strong>s<br />
<strong>das</strong> antagonistas ou não perd<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po com vingança; são humil<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong><br />
guardar<strong>em</strong> <strong>em</strong> si certa superiorida<strong>de</strong>.<br />
Há s<strong>em</strong>pre a presença <strong>de</strong> algum episódio <strong>de</strong> magia ou encantamento contido<br />
nessas histórias. Por esta razão, é comum associar o nome Contos <strong>de</strong> Fa<strong>das</strong> a presença<br />
<strong>de</strong> aquele belo ser mitológico f<strong>em</strong>inino que influencia <strong>de</strong> forma mágica a vida <strong>das</strong><br />
pessoas. Entretanto, é mais provável que esta nomenclatura seja proveniente da orig<strong>em</strong><br />
etimológica do termo fada. Segundo Novaes Coelho (1998, p. 31): “a palavra fada v<strong>em</strong><br />
do latim fatum (<strong>de</strong>stino, fatalida<strong>de</strong>, oráculo...) (...)”. E nos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>, os<br />
protagonistas vivenciam situações existenciais <strong>em</strong> que suced<strong>em</strong> acontecimentos<br />
<strong>de</strong>sastrosos e imprevisíveis, convocando-os a transpô-los e a ser<strong>em</strong> b<strong>em</strong>-sucedidos nesta<br />
difícil <strong>em</strong>preitada. Assim, a hipótese <strong>de</strong> Coelho torna-se mais aceita até porque não são<br />
todos os <strong>contos</strong> que contam com a presença do personag<strong>em</strong> fada. Nos <strong>contos</strong> analisados,<br />
2
por ex<strong>em</strong>plo, só aparec<strong>em</strong> fa<strong>das</strong> na Cin<strong>de</strong>rela, da versão <strong>de</strong> Perrault e nos bailes<br />
visitados to<strong>das</strong> as noites pelo príncipe doente no conto Catarina Quebra-nozes. Nos<br />
outros cinco, a fada não aparece como personag<strong>em</strong>, mas não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> povoar tais<br />
<strong>contos</strong> personagens fantásticos como pássaros encantados, bruxas, feiticeiras, bonecas<br />
mágicas e a Baba Iaga.<br />
Para Von France (1981, p.15), os “<strong>contos</strong> <strong>de</strong> fada são a expressão mais pura e<br />
mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo”, porque representam<br />
imagens que nos auxiliam na compreensão <strong>de</strong> processos basilares da existência humana.<br />
Para a autora (p.16) “(...) cada conto <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> é um sist<strong>em</strong>a relativamente fechado,<br />
composto por um significado psicológico essencial, expresso numa série <strong>de</strong> figuras e<br />
eventos simbólicos, sendo <strong>de</strong>svendável através <strong>de</strong>stes”. Os <strong>contos</strong> presentificam os<br />
fenômenos psíquicos através <strong>de</strong> imagens reitera<strong>das</strong> pela experiência na História da<br />
humanida<strong>de</strong> e presentes no inconsciente coletivo. Assim, tais narrativas nos orientam,<br />
também, a compreen<strong>de</strong>r tais imagens melhor e mais amplamente. O conto traz <strong>em</strong> si<br />
“figuras e eventos simbólicos” que exprim<strong>em</strong> significados psicológicos, sejam as<br />
tensões relativas à união entre homens e mulheres, os conflitos entre pais e filhos, o<br />
medo do abandono, a necessida<strong>de</strong> da solidarieda<strong>de</strong> entre pares. Enfim, acontecimentos<br />
que permeiam as almas humanas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito.<br />
Novaes Coelho (1987) diferencia o conto <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> do conto maravilhoso. Para a<br />
autora, ambos pertenc<strong>em</strong> ao mundo do maravilhoso e ambos t<strong>em</strong> pouca diferença no<br />
que se refere ao aspecto formal. Entretanto, a probl<strong>em</strong>ática geradora dos dois é b<strong>em</strong><br />
distinta, pois o primeiro se <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong>ntro “da magia feérica” e possui como “eixo<br />
gerador uma probl<strong>em</strong>ática existencial” (p. 13). Já o segundo, “<strong>de</strong>senvolve-se no<br />
cotidiano mágico (...) e t<strong>em</strong> como eixo gerador uma probl<strong>em</strong>ática social”, enfatizando a<br />
busca pela fortuna material contraposta com a miséria e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência<br />
<strong>de</strong> que se parte. Por isto, dos sete <strong>contos</strong> discutidos neste ensaio, somente João e Maria<br />
e Pé <strong>de</strong> Zimbro se encaixariam na classificação <strong>de</strong> Conto Maravilhoso. Os d<strong>em</strong>ais são<br />
<strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>.<br />
3. Análise da representação simbólica <strong>das</strong> <strong>madrastas</strong> nos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong><br />
3.1 A madrasta no espelho<br />
3
Nos sete <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> analisados, a madrasta possui características marcantes.<br />
Geralmente é soberba e orgulhosa. Geniosa a ponto <strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre fazer com que o marido<br />
ceda aos seus caprichos e or<strong>de</strong>ns, a madrasta quando t<strong>em</strong> filhas ou filhos é mãe zelosa<br />
dos seus, mas algoz do filho ou filha do primeiro casamento do marido. Em alguns<br />
momentos, os filhos da madrasta possu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>peramento igual ou pior ao seu, <strong>em</strong><br />
outros são bondosos e solidários com os meio-irmãos. Em alguns <strong>contos</strong>, a madrasta,<br />
revela-se uma mãe amorosa e cuidadosa, todavia, este amor d<strong>em</strong>arca o perigo da<br />
existência da filha do primeiro casamento e justifica as malda<strong>de</strong>s da madrasta.<br />
A madrasta dos <strong>contos</strong>, também, aparece como dissimulada, pois antes <strong>de</strong> casar-<br />
se aparenta ser uma provável boa mãe para a criança órfã, sendo este um dos principais<br />
motivos que faz<strong>em</strong> com que o pai a escolha para <strong>de</strong>sposá-la. Entretanto, logo após a<br />
realização do intento <strong>de</strong> se casar, revela a mulher má que realmente é e busca todos os<br />
modos e artimanhas para anular a presença da filha ou filho do primeiro casamento,<br />
excluindo-o/a <strong>de</strong> toda sorte <strong>de</strong> conforto ou privilégio. Há momentos que se revela<br />
cínica, d<strong>em</strong>onstrando amor e zelo pelos enteados. A b<strong>em</strong> da verda<strong>de</strong>, este<br />
comportamento serve, apenas, <strong>de</strong> fachada para escon<strong>de</strong>r o ódio que nutre por eles. Neste<br />
contexto, o que chama atenção é a total anulação ou omissão do pai, diante <strong>das</strong> ações<br />
perversas e cruéis da madrasta, levando-nos a pensar <strong>em</strong> questões como: será a madrasta<br />
tão manipuladora e perspicaz a ponto <strong>de</strong> maltratar a enteada e, por conseguinte, ocultar<br />
os maus-tratos do olhar paterno? Ou será o pai, um personag<strong>em</strong> acomodado e<br />
displicente, que <strong>de</strong>lega a madrasta o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> sua filha s<strong>em</strong> se preocupar com<br />
as consequências, a fim <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sobrigar dos cuidados maternos? É possível que a esta<br />
ausência paterna seja uma estratégia do autor para não per<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>po com discussões que<br />
<strong>de</strong>sviass<strong>em</strong> a atenção do foco narrativo ou até mesmo para <strong>de</strong>ixar que os leitores tir<strong>em</strong><br />
suas próprias conclusões.<br />
Persiste nos <strong>contos</strong>, o t<strong>em</strong>peramento perverso da madrasta, que cria situações<br />
para sobrecarregar a enteada <strong>de</strong> serviços pesados, humilhantes, afastando-a da sua real<br />
condição <strong>de</strong> princesa-rainha. Noutros momentos, cria estratégias para abandonar ou<br />
aniquilar o enteado/a. E, nesta cega perseguição ao alvo <strong>de</strong> sua inveja, a madrasta é<br />
<strong>de</strong>senhada como <strong>de</strong>terminada, chegando a ser insistente, não <strong>de</strong>sistindo até que seu<br />
intento seja realizado.<br />
Vale ressaltar que os trabalhos a que a enteada é submetida são os afazeres<br />
domésticos, provavelmente, para afastar cada vez mais a menina órfã <strong>de</strong> sua condição<br />
especial <strong>de</strong> beleza, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e bonda<strong>de</strong>. Eis aí, um dos aspectos mais interessantes da<br />
4
figura da madrasta: é representada como uma mulher que compete com outra mulher,<br />
geralmente, mais jov<strong>em</strong>, por sentir inveja. Os sentimentos <strong>de</strong> aversão às qualida<strong>de</strong>s do<br />
outro, juntamente com o <strong>de</strong>sejo obsessivo <strong>de</strong> possuir o objeto ou características próprias<br />
do outr<strong>em</strong> levam a madrasta a planejar situações vexatórias e esdrúxulas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição<br />
da enteada, exaltando esta, s<strong>em</strong> dúvida, como a característica mais recorrente nas<br />
<strong>madrastas</strong> dos <strong>contos</strong>.<br />
Com as protagonistas dos <strong>contos</strong>, suas entea<strong>das</strong>, a madrasta estabelece uma<br />
relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo e <strong>de</strong>safeição. Sua postura diante <strong>de</strong>stas crianças é s<strong>em</strong>pre<br />
<strong>de</strong>squalificadora; chama-as <strong>de</strong> preguiçosas, impõe serviços pesados e as ludibria<br />
diversas vezes. Sente prazer doentio e se glorifica com o infortúnio <strong>das</strong> entea<strong>das</strong>.<br />
Entretanto, este prazer é passageiro e, a meu ver, <strong>de</strong>nuncia certa insegurança <strong>das</strong><br />
<strong>madrastas</strong>, pois elas revelam s<strong>em</strong>pre uma preocupação com o futuro a partir do signo da<br />
divisão da herança e da possibilida<strong>de</strong> dos filhos do primeiro casamento ser<strong>em</strong> mais<br />
privilegiados do que os seus. Repete-se nos <strong>contos</strong> que há, nelas, ausência <strong>de</strong> paz,<br />
proveniente <strong>das</strong> malda<strong>de</strong>s e insistente i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> livrar-se da enteada.<br />
3.2 Quando a mãe não está por perto, eis que surge a madrasta<br />
Nestes sete <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>, assim como <strong>em</strong> outros, as mulheres ocupam papéis<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, tanto para representar a bonda<strong>de</strong> quanto a malda<strong>de</strong>. T<strong>em</strong>os Cin<strong>de</strong>rela,<br />
Branca <strong>de</strong> Neve, Maria (que apesar da esperteza <strong>de</strong> João é a responsável por livrá-los da<br />
malvada bruxa), Vasilisa, Catarina e Marlene (personag<strong>em</strong> coadjuvante, cúmplice<br />
ingênua do crime). S<strong>em</strong>pre indica<strong>das</strong> como mulheres belas e boas. Na outra ponta do<br />
fio, estão às <strong>madrastas</strong>, as meias-irmãs, a bruxa, a Baba Iaga, mulheres mais velhas<br />
carrega<strong>das</strong> <strong>de</strong> péssimo gênio.<br />
Este turbilhão <strong>de</strong> mulheres protagonistas e antagonistas talvez se explique<br />
porque os <strong>contos</strong> orais populares eram narrados à noite por mulheres, senta<strong>das</strong> <strong>em</strong> volta<br />
do fogo para tecer e se distrair. Salientamos neste ensaio a presença <strong>das</strong> mulheres como<br />
mães e, especialmente, como <strong>madrastas</strong>. De pronto, perceb<strong>em</strong>os que a mãe é<br />
personag<strong>em</strong> bastante importante, entretanto, ela sai <strong>de</strong> cena s<strong>em</strong>pre que a história exigir<br />
que a madrasta trouxesse a narrativa situações <strong>de</strong> humilhação e injustiça, a fim <strong>de</strong> que a<br />
protagonista transponha tais obstáculos e se revele uma verda<strong>de</strong>ira heroína.<br />
5
Em todos os <strong>contos</strong> analisados, as mães são mais significativas pela falta do que<br />
pela presença. As mães <strong>das</strong> futuras princesas Cin<strong>de</strong>rela (versão dos Grimm), Branca <strong>de</strong><br />
Neve e da futura czarina Vasilisa aparec<strong>em</strong>, apenas, no início da história. A primeira, já<br />
no leito <strong>de</strong> morte, <strong>de</strong>spedindo-se da filha e a orientando como proce<strong>de</strong>r nos momentos<br />
<strong>de</strong> apuro; a segunda, <strong>de</strong>sejando ter uma filha branca como neve, sendo atendida <strong>em</strong><br />
seguida e morrendo imediatamente. A terceira, doente e prestes a morrer, tal qual a mãe<br />
<strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela, presenteando a filha com uma espécie <strong>de</strong> amuleto da sorte na tentativa <strong>de</strong><br />
fortalecê-la na certeza <strong>de</strong> sua própria ausência. A mãe da Cin<strong>de</strong>rela, <strong>de</strong> Perrault, no<br />
início da narrativa, n<strong>em</strong> viva está mais; são cita<strong>das</strong> somente suas características. A mãe<br />
<strong>de</strong> João e Maria sequer aparece na história. Em Pé <strong>de</strong> Zimbro e <strong>em</strong> Catarina quebra-<br />
nozes, a madrasta é também mãe e comporta-se com seu filho ou filha tão zelosa e<br />
amável quanto às <strong>representações</strong> convencionais <strong>de</strong> mãe, entretanto sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é<br />
dúbia, pois, ao mesmo t<strong>em</strong>po, revela-se uma madrasta cruel, ardilosa e invejosa com o<br />
filho ou filha do marido.<br />
Nessa linha <strong>de</strong> intelecção, po<strong>de</strong>ríamos classificar nestes <strong>contos</strong> duas posturas <strong>de</strong><br />
mãe: a mãe morta e a mãe madrasta. A mãe morta é apontada como doce, boa, “tinha<br />
sido a melhor criatura do mundo”, na versão <strong>de</strong> Perrault. Nos predicados, ass<strong>em</strong>elha-se<br />
com a filha. É hábil nos afazeres domésticos e reforça características consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong>,<br />
propriamente, f<strong>em</strong>ininas pela cultura patriarcal, como beleza, religiosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,<br />
fragilida<strong>de</strong> e discrição. Vale <strong>de</strong>stacar que nestes casos, prevalece a relação mãe e filha e<br />
to<strong>das</strong> as mães, ou após o parto ou num momento da infância <strong>das</strong> filhas, morr<strong>em</strong>. Já as<br />
mães <strong>madrastas</strong> são, excessivamente, protetoras e preocupa<strong>das</strong> com seus próprios filhos;<br />
os amam incondicionalmente. Contudo, revelam certa inquietação com a existência dos<br />
filhos do marido, sobretudo por questões como heranças e privilégios financeiros.<br />
Encarnam plenamente o papel <strong>das</strong> <strong>madrastas</strong> más, só que são motiva<strong>das</strong>, sobretudo, por<br />
uma inveja incondicional dos enteados.<br />
O conto Pé <strong>de</strong> Zimbro merece uma reflexão mais apurada, porque, além <strong>de</strong><br />
representar a mãe madrasta, traz a figura da mãe morta. Aproxima-se do Conto Branca<br />
<strong>de</strong> Neve, pelo excessivo <strong>de</strong>sejo da mãe <strong>em</strong> ter um filho e pelo pedido que faz para obter<br />
tal benefício. Ambas as mães falec<strong>em</strong> logo após o nascimento do filho. A diferença é<br />
que a mãe <strong>em</strong> Pé <strong>de</strong> Zimbro, “quando viu o filho, ficou tão feliz que morreu <strong>de</strong> alegria”.<br />
Já a mãe <strong>de</strong> Branca <strong>de</strong> Neve, apesar <strong>de</strong> morrer logo após o parto, não aparece<br />
justificativa para o fato. A mãe madrasta, no conto Pé <strong>de</strong> Zimbro, é extr<strong>em</strong>amente cruel,<br />
cometendo assassinato e fazendo com que o marido cometa atos <strong>de</strong> canibalismo<br />
6
ingenuamente. É o único conto que justifica as ações da madrasta porque “o d<strong>em</strong>ônio se<br />
apossou <strong>de</strong> tal maneira da mulher”. Alguns estudiosos alertam que o alto índice <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> <strong>das</strong> mães nos <strong>contos</strong> retrata a realida<strong>de</strong> da época <strong>em</strong> que era comum morrer<br />
no parto.<br />
Assim, percebe-se que a personag<strong>em</strong> mãe refere-se s<strong>em</strong>pre a representação <strong>de</strong><br />
total cuidado; são elas que proteg<strong>em</strong> mesmo quando ausentes. Amam seus filhos<br />
irrestritamente. Já as <strong>madrastas</strong> – mesmo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhando o papel <strong>de</strong> mãe – são os calos<br />
<strong>das</strong> vi<strong>das</strong> <strong>de</strong> seus enteados e impõ<strong>em</strong> a eles uma vida sofrida.<br />
3.3 Felizes para s<strong>em</strong>pre (a duras penas)<br />
Em todos os <strong>contos</strong>, há s<strong>em</strong>pre um exagero ao se caracterizar os<br />
personagens. Os bons são, incondicionalmente, corretos e benevolentes. Os maus<br />
são cruéis, capazes dos mais terríveis atos <strong>de</strong> insanida<strong>de</strong>. Assim, percebe-se com<br />
facilida<strong>de</strong> que os bons angariam <strong>de</strong> nós uma imensa simpatia e i<strong>de</strong>ntificação. Já os<br />
maus ganham nosso repúdio, ojeriza e afastamento. Certamente, o exagero t<strong>em</strong><br />
esta intenção: polarizar personagens e leitores para facilitar uma relação<br />
i<strong>de</strong>ntitária entre eles. Geralmente, os personagens bons se ass<strong>em</strong>elham <strong>em</strong> sua<br />
caracterização. Portanto fada, mãe, princesa é s<strong>em</strong>pre aquela que sofre, é boa,<br />
protege e garante a eterna felicida<strong>de</strong>. Com os maus, ocorre o inversamente<br />
proporcional, sendo assim bruxa e madrasta s<strong>em</strong>pre tentam barrar a felicida<strong>de</strong> da<br />
protagonista com ações malignas.<br />
Desta forma, a relação da protagonista com a madrasta é s<strong>em</strong>pre uma<br />
relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Ambas dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> força; são influentes no <strong>de</strong>senrolar da<br />
narrativa. Entretanto, o b<strong>em</strong>, por mais que enfrente percalços, ao final vencerá.<br />
Em cinco, dos sete <strong>contos</strong> analisados, a protagonista é uma mulher. Nos d<strong>em</strong>ais, <strong>em</strong><br />
um o protagonista é do sexo masculino e <strong>em</strong> outro divid<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong> maior<br />
importância uma menina e um menino. Em seis dos sete <strong>contos</strong>, a personag<strong>em</strong><br />
f<strong>em</strong>inina protagonista é responsável pela resolução do conflito. Cin<strong>de</strong>rela (na<br />
versão <strong>de</strong> Perrault e dos irmãos Grimm), Branca <strong>de</strong> Neve e Vasilisa são entea<strong>das</strong>,<br />
apenas Catarina e Marlene possu<strong>em</strong> mães que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham, também, o papel <strong>de</strong><br />
<strong>madrastas</strong>. Tais protagonistas f<strong>em</strong>ininas igualam-se por ser<strong>em</strong> doces, prestativas,<br />
trabalha<strong>de</strong>iras, gentis, pacientes, sensíveis, humil<strong>de</strong>s e servis, além <strong>de</strong> bonitas, é<br />
claro!<br />
7
A Cin<strong>de</strong>rela <strong>de</strong> Perrault prestava-se aos mais grosseiros serviços, não<br />
d<strong>em</strong>onstrava ódio ou raiva pela mísera situação a que era imposta. D<strong>em</strong>onstrava-<br />
se discreta e subserviente. Todavia, mesmo nestas condições “com seus trapinhos<br />
parecia mil vezes mais bonita que elas” (as meio-irmãs). Sofre por não usufruir<br />
<strong>das</strong> mesmas condições <strong>das</strong> irmãs, mas o faz silenciosamente. Nunca se nega a<br />
servir; é altruísta; não possui sentimento <strong>de</strong> cobiça. Revela, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />
insegurança <strong>em</strong> relação aos seus notáveis predicados, esperança na possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos, mesmo diante do improvável. Na narrativa, por<br />
diversas vezes é reiterada a bonda<strong>de</strong> como sua característica maior. Além disso, é<br />
alegre, encantadora, leve, gentil, generosa. A madrasta é seu contraponto, aparece,<br />
apenas, no início do conto, humilha-a e a coloca num lugar <strong>de</strong> exploração e<br />
pobreza, levando-a assumir o lugar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira heroína.<br />
A personag<strong>em</strong> Cin<strong>de</strong>rela, que aparece na versão dos Irmãos Grimm, é<br />
parecida com aquela <strong>de</strong> Perrault, apesar dos aproximados c<strong>em</strong> anos que separam<br />
uma versão da outra. A boa menina, além dos predicados já conhecidos, é piedosa,<br />
graciosa, mo<strong>de</strong>sta e religiosa. Como a outra, revela-se esperta quando necessário.<br />
Apesar <strong>de</strong> seu final feliz, suas irmãs algozes são severamente puni<strong>das</strong> com a<br />
cegueira. Neste conto, a madrasta aparece logo após a morte da mãe <strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela,<br />
como a segunda esposa do pai e já trazendo suas duas filhas para conviver com a<br />
borralheira. Se esta madrasta não é diretamente a algoz, ela é permissiva, omissa e<br />
conivente com a malda<strong>de</strong> <strong>das</strong> filhas. D<strong>em</strong>onstra sua ambição <strong>de</strong>smedida ao<br />
orientar as próprias filhas a cortar<strong>em</strong> os pés.<br />
Branca <strong>de</strong> Neve, por sua vez, é uma inocente menina <strong>de</strong> apenas sete anos no<br />
início da narrativa. Com o passar dos anos, torna-se “tão bonita quanto o dia e mais<br />
bonita que a própria rainha”. Porém, sequer t<strong>em</strong> consciência disso. Como as d<strong>em</strong>ais<br />
protagonistas, é bondosa, religiosa e sabe cuidar muito b<strong>em</strong> dos afazeres domésticos.<br />
Reserva <strong>em</strong> si uma adorável <strong>de</strong>sobediência que anuncia a tomada <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> sua<br />
beleza ao sentir-se s<strong>em</strong>pre seduzida a obter os objetos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aos cuidados com o<br />
corpo oferecidos pela velha camponesa. Sua madrasta compete o t<strong>em</strong>po inteiro com a<br />
mesma. É o conto <strong>em</strong> que a madrasta atua do início ao fim da narrativa.<br />
A russa Vasilisa possui a mesma caracterização <strong>das</strong> d<strong>em</strong>ais protagonistas. No<br />
entanto, apesar <strong>de</strong> sentir medo <strong>de</strong> sua situação e dos <strong>de</strong>safios <strong>em</strong> que terá <strong>de</strong> se<br />
envolver, enfrentava-os, confiante na intervenção da sua boneca – amuleto. Para livrar-<br />
se da Baba Iaga, usa sua pretensa ingenuida<strong>de</strong>, mostrando esperteza, cautela e<br />
8
acionalida<strong>de</strong>, pois ao <strong>de</strong>clarar que foi ajudada pela bênção da mãe faz com que a bruxa<br />
a t<strong>em</strong>a, s<strong>em</strong> revelar que a boneca materializa a proteção materna. Fator singular nesta<br />
jov<strong>em</strong> é o fato <strong>de</strong> conquistar o Czar não apenas pelos predicados já conhecidos e<br />
repetidos, mas, sobretudo, por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecer. A madrasta é qu<strong>em</strong> obriga a<br />
menina a sair do espaço doméstico e <strong>de</strong>sbravar a <strong>de</strong>sconhecida floresta, para <strong>de</strong> lá voltar<br />
parcialmente b<strong>em</strong> sucedida, porque no caso <strong>de</strong>ste conto, após livrar-se da madrasta e<br />
<strong>das</strong> meias-irmãs, a jov<strong>em</strong> bela ainda terá que encontrar mais uma mulher <strong>em</strong> seu<br />
caminho para evocar o fortalecimento da filha através da mãe.<br />
Catarina Quebra – Nozes é a única protagonista que não é a mais bela. Revela<br />
imensa solidarieda<strong>de</strong> com a meia-irmã e é, singularmente, corajosa e atuante. Não se<br />
intimida perante os <strong>de</strong>safios, pelo contrário, ela os busca para resolver o probl<strong>em</strong>a da<br />
irmã. Reitera a discrição presente nas protagonistas e é esta qualida<strong>de</strong> que a fará ter<br />
êxito <strong>em</strong> seu objetivo. Ato que parecia inútil pueril e s<strong>em</strong> sentido – colher as nozes do<br />
caminho – mostra-se uma ação útil para a consolidação do final feliz e será a sua<br />
salvação. Como as d<strong>em</strong>ais, também sabe dissimular quando é necessário. Mas, além<br />
disso, sabe barganhar para se beneficiar. É observadora e extr<strong>em</strong>amente inteligente<br />
qualida<strong>de</strong>s incomuns às mulheres dos <strong>contos</strong> lidos. Seu altruísmo não a faz esquecer-se<br />
<strong>de</strong> si mesma, assim, Catarina, além <strong>de</strong> salvar sua irmã e o príncipe doente, salva a si<br />
mesma. A madrasta nesta história ao tentar privilegiar a própria filha, leva-a a testar sua<br />
solidarieda<strong>de</strong>, bonda<strong>de</strong> e corag<strong>em</strong>, a fim <strong>de</strong> proteger a irmã que sofrera violência.<br />
Em João e Maria, ambos são protagonistas. Inicialmente, o foco da história está<br />
<strong>em</strong> João que não se <strong>de</strong>ixa paralisar com a perspectiva da morte. Entretanto, as duas<br />
crianças são espertas, parceiras e sab<strong>em</strong> ludibriar. Em alguns momentos, comportam-se<br />
ingenuamente; <strong>em</strong> outros, não se <strong>de</strong>ixam influenciar à primeira vista. João é pró-ativo,<br />
perspicaz, ágil, inventivo e corajoso. Conforta a irmã <strong>em</strong> diversas situações, mas é<br />
traído por sua inconsequente afobação e exacerbada autoconfiança. Já Maria revela-se<br />
extr<strong>em</strong>amente medrosa, no início. Seu excesso <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>, cuidado e bonda<strong>de</strong> com<br />
o outro r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a <strong>de</strong>scrições comuns ao personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inino, especialmente <strong>em</strong> suas<br />
vertentes maternais. Todavia, é Maria qu<strong>em</strong> mata a bruxa e resolve o probl<strong>em</strong>a gerador<br />
do conto. Além disso, é ela qu<strong>em</strong> cria as estratégias possíveis para fazer a pata<br />
atravessar o rio e levar consigo os tesouros da bruxa. A insistência da madrasta <strong>em</strong><br />
abandonar as crianças, <strong>de</strong> certa forma, as aproxima da bruxa, e, consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong><br />
seu tesouro.<br />
9
No conto Pé <strong>de</strong> Zimbro, t<strong>em</strong>os apenas um protagonista masculino que sofre<br />
graves maus-tratos da madrasta, vive aterrorizado por isso, revelando-se passivo e justo,<br />
apesar <strong>de</strong> perspicaz. Marlene, a meia-irmã do menino é frágil, insegura e ingênua.<br />
Piedosa, sente-se culpada pela <strong>de</strong>sgraça do irmão. Toma à iniciativa <strong>de</strong> juntar os ossos<br />
do irmão e <strong>de</strong>positá-los <strong>em</strong> baixo do Pé <strong>de</strong> Zimbro, como forma <strong>de</strong> fazê-lo renascer ou<br />
para amenizar sua culpa. Assim, é ela que <strong>de</strong> certa forma possibilita que o menino<br />
transforme-se numa ave e retorne vitorioso.<br />
3.4 E foram infelizes para s<strong>em</strong>pre: uma reflexão sobre os finais <strong>das</strong> <strong>madrastas</strong><br />
A hipótese <strong>de</strong> que a atuação <strong>das</strong> <strong>madrastas</strong> possui como força motriz a indicação<br />
da existência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safio, acentua-se bastante se pensarmos <strong>em</strong> três dos <strong>contos</strong><br />
analisados. Nestes, ela só aparece no começo da história e/ou <strong>em</strong> parte inicial do seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>saparecendo, ás vezes, subitamente do final. É o caso dos <strong>contos</strong><br />
Cin<strong>de</strong>rela (tanto na versão <strong>de</strong> Perrault quanto na dos Irmãos Grimm) e <strong>de</strong> Catarina<br />
Quebra-nozes <strong>em</strong> que as <strong>madrastas</strong> criam uma situação <strong>de</strong> conflito ou pela atribuição <strong>de</strong><br />
serviços domésticos ina<strong>de</strong>quados para crianças, acompanhados da exclusão aos bailes<br />
ou por fazer <strong>de</strong>spencar a cabeça da bela irmã <strong>de</strong> Catarina e colocar no lugar <strong>de</strong>la uma<br />
cabeça <strong>de</strong> ovelha. Vale ressaltar que na Cin<strong>de</strong>rela <strong>de</strong> Perrault, a madrasta é mais omissa<br />
do que má; é o t<strong>em</strong>po todo conivente com a iniquida<strong>de</strong> <strong>das</strong> filhas, mas nunca pratica as<br />
ações <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> sozinha. Além disso, este é o único conto que as vilãs são perdoa<strong>das</strong><br />
e agracia<strong>das</strong> com um nobre casamento ao final do conto.<br />
Nos d<strong>em</strong>ais <strong>contos</strong>, as <strong>madrastas</strong> são puni<strong>das</strong> severamente, apesar <strong>de</strong> muitas<br />
<strong>de</strong>saparecer<strong>em</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento da narrativa e só aparecer<strong>em</strong> no <strong>de</strong>sfecho para<br />
evi<strong>de</strong>nciar seu infortúnio final, como a madrasta <strong>de</strong> João e Maria que insiste por duas<br />
vezes <strong>em</strong> <strong>de</strong>ixá-los a própria sorte na “parte mais profunda da floresta”, mas não<br />
aparece no <strong>de</strong>senrolar da história. Depois <strong>de</strong>stes eventos, só <strong>em</strong> uma linha do penúltimo<br />
parágrafo, saber<strong>em</strong>os que a madrasta tinha morrido, durante a ausência <strong>das</strong> crianças. A<br />
morte <strong>de</strong>sta madrasta é justificada como o aumento da situação <strong>de</strong> pobreza, gerador do<br />
conflito presente no conto. E esta conexão não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser irônica, porque a madrasta<br />
incitou o abandono <strong>das</strong> crianças para salvar a própria pele, todavia foi a primeira a<br />
morrer por conta da situação que tanto a amedrontava.<br />
As <strong>madrastas</strong> <strong>de</strong> Vasilisa e <strong>de</strong> Pé <strong>de</strong> Zimbro são mulheres atormenta<strong>das</strong> que<br />
evi<strong>de</strong>nciam <strong>de</strong> maneira recorrente a sensação <strong>de</strong> perseguição. Por isso, elas, também,<br />
aparec<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma marcante no início da narrativa, mas são ofusca<strong>das</strong> totalmente ou<br />
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parcialmente no <strong>de</strong>senvolvimento e retornam, somente para ser<strong>em</strong> puni<strong>das</strong>. Após a<br />
madrasta <strong>de</strong> Vasilisa, por ex<strong>em</strong>plo, a obrigar a pegar o fogo na casa <strong>de</strong> Baba Iaga,<br />
sabendo do perigo <strong>de</strong>sta <strong>em</strong>preitada (e também por causa disso), a menina chega<br />
vitoriosa e percebe que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a partida <strong>de</strong>la, não tinha tido nenhum fogo <strong>em</strong> casa”, o<br />
que nos dá a enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma sarcástica que livrar-se <strong>de</strong> Vasilisa trouxe mais<br />
probl<strong>em</strong>as do que conforto. Ao retornar com a caveira <strong>de</strong> olhos flamejantes, para <strong>em</strong><br />
tese obe<strong>de</strong>cer às or<strong>de</strong>ns da madrasta e <strong>de</strong> suas filhas acaba por <strong>de</strong>struí-las, pois:<br />
Vasilisa entrou <strong>em</strong> casa com a caveira, cujos olhos começaram a fitar a<br />
madrasta e as duas irmãs. Aquele olhar começou a queimá-las. Tentaram se<br />
escon<strong>de</strong>r, mas os olhos as seguiam aon<strong>de</strong> quer que foss<strong>em</strong>. Pela manhã,<br />
estavam transforma<strong>das</strong> <strong>em</strong> três montinhos <strong>de</strong> cinzas no chão. Só Vasilisa<br />
permaneceu intocada pelo fogo. (p. 183).<br />
A madrasta do conto Pé <strong>de</strong> Zimbro comete os atos <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a cruelda<strong>de</strong>, até o<br />
menino transformar-se <strong>em</strong> uma bela ave canora. Contudo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta ação a ave<br />
precisará sair do estado <strong>de</strong> acomodação e enfrentar os <strong>de</strong>safios do mundo para<br />
conquistar bens materiais ou imateriais e voltar para casa vitoriosa. Neste ínterim, a<br />
madrasta só aparece nos versos cantados pela ave: “minha mãe me matou, meu pai me<br />
comeu”. Quando a ave regressa ao lar, ainda que ninguém saiba da verda<strong>de</strong>ira<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do animal, o incômodo da madrasta aumenta como um pressentimento 1 .<br />
Entretanto, apesar do <strong>de</strong>sconforto, ela pensa na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se beneficiar com os<br />
favores da ave. O que leva o leitor a pensar numa encruzilhada: a possibilida<strong>de</strong> do<br />
perdão ou a realização da justiça. Entretanto, a ave para retornar <strong>em</strong> sua parida<strong>de</strong><br />
absoluta precisará aniquilar o mal, plenamente, e assim:<br />
“A mulher foi até a porta e, bam, a ave soltou a pedra <strong>de</strong> moinho <strong>em</strong> cima da<br />
cabeça <strong>de</strong>la, que morreu esmagada. O pai e Marlene ouviram o estrondo e<br />
saíram. Fumaça, chamas e fogo se erguiam e, quando <strong>de</strong>sapareceram, o<br />
irmãzinho estava <strong>de</strong> volta postado b<strong>em</strong> ali”. (p. 171)<br />
A madrasta mais terrivelmente punida, é a <strong>de</strong> Branca <strong>de</strong> Neve. O conto <strong>em</strong> si já<br />
enuncia uma disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre duas mulheres: uma mais jov<strong>em</strong> e ingênua e a outra<br />
mais velha e experiente. Ambas são belas, portanto a questão da vaida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina será<br />
um aspecto norteador da história. Todavia, o excessivo alar<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno da beleza é<br />
indício <strong>de</strong> um castigo a altura, assim esta madrasta será punida <strong>de</strong> maneira bastante<br />
1 A madrasta afirma “Estou atormentada como se uma gran<strong>de</strong> t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> estivesse se armando”, “Estou<br />
apavorada que meus <strong>de</strong>ntes estão batendo e tenho a impressão <strong>de</strong> ter fogo correndo nas veias”, “Sinto<br />
como se a casa inteira estivesse se sacudindo e prestes a ar<strong>de</strong>r <strong>em</strong> chamas!”, “Oh, quisera estar mil<br />
metros <strong>de</strong>baixo da terra para não ter <strong>de</strong> ouvir isso!”.<br />
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igorosa: terá <strong>de</strong> calçar sapatos <strong>de</strong> ferro aquecidos num fogo <strong>de</strong> carvões, untados com<br />
substância a<strong>de</strong>rente e dançar “com eles até cair morta no chão”. Segundo Tatar (2004),<br />
esta morte dolorosa e humilhante coloca a madrasta no mesmo lugar dos sofrimentos a<br />
que Branca <strong>de</strong> Neve foi submetida.<br />
Ressaltamos que a madrasta t<strong>em</strong> papel mais relevante no início da história do<br />
que no seu final. Po<strong>de</strong> ser punida ou não pelas malda<strong>de</strong>s cometi<strong>das</strong>. O mais importante<br />
é que é ela qu<strong>em</strong> criará uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sord<strong>em</strong> na vida <strong>das</strong> entea<strong>das</strong> a ponto <strong>de</strong> levá-<br />
las (ou obrigá-las) a agir, a incomodar-se. A madrasta, por certo, é uma <strong>das</strong> responsáveis<br />
pelo final feliz <strong>das</strong> protagonistas, porque ela <strong>de</strong>safia e leva a protagonista a construir sua<br />
própria fortuna. Além disso, a exclusão da madrasta ao final ou sua morte trágica, leva<br />
as crianças a confiar<strong>em</strong> num porvir mais feliz.<br />
4. Madrasta é a mãe<br />
Ao confrontar as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> <strong>madrastas</strong> presentes nos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fada, comecei<br />
a perguntar-me o que tal personag<strong>em</strong> tão fascinante simboliza para os leitores. E a<br />
perspectiva psicanalítica <strong>de</strong> Bettelheim (1979) <strong>de</strong> chofre já enunciou algo interessante.<br />
Ao intitular um dos capítulos do livro “A psicanálise dos <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong>”, como “A<br />
fantasia da madrasta má”, acabava por <strong>de</strong>nunciar que a relação estabelecida com a<br />
personag<strong>em</strong> madrasta, <strong>de</strong> certa forma, é fruto da imaginação criadora <strong>das</strong> crianças. Vale<br />
ressaltar que esta é, justamente, a sessão que tratará <strong>das</strong> transformações. Neste capítulo,<br />
o autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o conto <strong>de</strong> fada auxilia a criança a integrar “a ord<strong>em</strong> racional com a<br />
ilogicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu inconsciente” (p.83).<br />
Para o psicanalista austríaco, a criança separa um ser <strong>em</strong> duas entida<strong>de</strong>s, porque<br />
não concebe que este possa ser bom <strong>em</strong> alguns momentos e mau <strong>em</strong> outros. Por isso,<br />
dividir mães boas e <strong>madrastas</strong> más é uma ótima estratégia para preservar a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
bonda<strong>de</strong> que <strong>em</strong>ana da mãe e compreen<strong>de</strong>r que aquela suposta malda<strong>de</strong> é uma<br />
manifestação passageira. Assim, “<strong>em</strong>bora mamãe seja com mais frequência a protetora<br />
toda-dadivosa, po<strong>de</strong>-se transformar na cruel madrasta se for malvada a ponto <strong>de</strong> negar<br />
ao seu filhinho algo que ele <strong>de</strong>seja” (BETTELHEIM, 1979, P. 84).<br />
Por tanto, a personag<strong>em</strong> madrasta nos Contos <strong>de</strong> Fada resolve uma tensão<br />
presente no relacionamento entre mães e filhas (os) e torna mais compreensível para a<br />
criança a dubieda<strong>de</strong> que marca os seres humanos. Eis uma divisão útil para as crianças,<br />
porque, esta po<strong>de</strong>rá alimentar certo sentimento <strong>de</strong> ódio da mãe quando ela se comportar<br />
12
como madrasta, s<strong>em</strong> sentir culpa por isso, será auxiliada a lidar com sentimentos<br />
conflitantes e contraditórios e, principalmente, a preservar a imag<strong>em</strong> da mãe boa. Além<br />
disso, tal representação neutraliza as ações consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong> “do mal”, por conta <strong>de</strong> um<br />
excesso <strong>das</strong> ações boas da mãe.<br />
Então, através da experiência ou da leitura dos <strong>contos</strong>, cada indivíduo irá<br />
organizar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordo com sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com ela. Assim, com o<br />
t<strong>em</strong>po, as crianças apren<strong>de</strong>rão que as <strong>madrastas</strong> são impulsionadoras do <strong>de</strong>safio, pois<br />
elas impõ<strong>em</strong> a criança na história (e na vida) a sair da situação <strong>de</strong> conforto e<br />
acomodação e ir à busca <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>stino: a fortuna (ao mesmo t<strong>em</strong>po a sorte e<br />
a riqueza). Portanto, se a madrasta não proibisse <strong>de</strong> ir ao baile, certamente Cin<strong>de</strong>rela<br />
não se sentiria tão impelida a ir e a participar intensamente do evento ou se a madrasta<br />
não tivesse mandado o caçador sumir com Branca <strong>de</strong> Neve jamais ela teria se engasgado<br />
com a maçã envenenada e encontrado o Príncipe Encantado 2 . Sendo assim, a maior<br />
contribuição dos <strong>contos</strong> para seus leitores é orientá-los a vencer os <strong>de</strong>safios ao afirmar<br />
para as crianças que “<strong>em</strong>bora existam bruxas (...) também exist<strong>em</strong> boa fa<strong>das</strong>, muito<br />
mais po<strong>de</strong>rosas”. (BETTELHEIM, 1979, p. 85).<br />
O melhor é que os <strong>contos</strong> libertam seus leitores <strong>de</strong> uma postura maniqueísta, ao<br />
evi<strong>de</strong>nciar que os sentimentos dados como ruins ou inferiores são, na verda<strong>de</strong>,<br />
sentimentos humanos. Apesar disso, insinuam o quanto às consequências da<br />
exacerbação <strong>de</strong>stes sentimentos é perigosa e catastrófica, <strong>de</strong>stacando “o final feliz” para<br />
aqueles que buscam a realização através <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sejos positivos”. O conto <strong>de</strong> fa<strong>das</strong><br />
fornece à criança persistência <strong>de</strong> ânimo para lidar com situações <strong>de</strong> conflito e faz com<br />
que ela aprenda a valorizar suas aprendizagens cotidianas por mais simples que pareçam<br />
ser. Assim, conforme <strong>de</strong>clara Bettelheim:<br />
A criança intuitivamente compreen<strong>de</strong> que, <strong>em</strong>bora estas estórias sejam<br />
irreais, não são falsas; que ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que os fatos narrados não<br />
acontec<strong>em</strong> na vida real, pod<strong>em</strong> ocorrer como uma experiência interna e <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal; que os <strong>contos</strong> <strong>de</strong> fa<strong>das</strong> retratam <strong>de</strong> forma<br />
imaginária e simbólica os passos essenciais do crescimento e da aquisição <strong>de</strong><br />
uma existência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (BETTELHEIM, 1979, p.90).<br />
2 Se a madrasta não tivesse tramado o abandono <strong>de</strong> João e Maria na floresta, eles também não teriam<br />
encontrado o tesouro da bruxa e certamente morreriam <strong>de</strong> fome <strong>em</strong> suas próprias casas. Se a madrasta <strong>de</strong><br />
Vasilisa não a tivesse mandado buscar o fogo na casa da terrível Baba Iaga, também ela não teria<br />
mostrado sua habilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> tecer e não seria <strong>de</strong>sposada pela Czar. Se a madrasta, não tivesse trocado a<br />
cabeça da irmã <strong>de</strong> Catarina por uma cabeça <strong>de</strong> carneiro provavelmente as duas irmãs estariam pobres e no<br />
caritó. Por último, se a madrasta não tivesse matado o filho do marido, o espírito da criança jamais<br />
voltaria com presentes materiais e simbólicos como ouro, vestuário e justiça.<br />
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Assim, os <strong>contos</strong> para seus leitores, especialmente, as crianças, revelam-se como<br />
uma experiência simbólica ímpar na aprendizag<strong>em</strong> da e para a existência. Através <strong>de</strong>les,<br />
torna-se mais fácil e prazeroso enten<strong>de</strong>r as artimanhas, os conflitos e as contradições <strong>das</strong><br />
vi<strong>das</strong> humanas. E é esta criação que faz o hom<strong>em</strong> não se limitar ao círculo <strong>de</strong> sua<br />
própria experiência, alçar novos vôos, construir diferentes possibilida<strong>de</strong>s e transformar<br />
s<strong>em</strong>pre o mundo <strong>em</strong> que vive.<br />
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