representações simbólicas das madrastas em contos de fadas - pucrs
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A Cin<strong>de</strong>rela <strong>de</strong> Perrault prestava-se aos mais grosseiros serviços, não<br />
d<strong>em</strong>onstrava ódio ou raiva pela mísera situação a que era imposta. D<strong>em</strong>onstrava-<br />
se discreta e subserviente. Todavia, mesmo nestas condições “com seus trapinhos<br />
parecia mil vezes mais bonita que elas” (as meio-irmãs). Sofre por não usufruir<br />
<strong>das</strong> mesmas condições <strong>das</strong> irmãs, mas o faz silenciosamente. Nunca se nega a<br />
servir; é altruísta; não possui sentimento <strong>de</strong> cobiça. Revela, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />
insegurança <strong>em</strong> relação aos seus notáveis predicados, esperança na possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realização <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos, mesmo diante do improvável. Na narrativa, por<br />
diversas vezes é reiterada a bonda<strong>de</strong> como sua característica maior. Além disso, é<br />
alegre, encantadora, leve, gentil, generosa. A madrasta é seu contraponto, aparece,<br />
apenas, no início do conto, humilha-a e a coloca num lugar <strong>de</strong> exploração e<br />
pobreza, levando-a assumir o lugar <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira heroína.<br />
A personag<strong>em</strong> Cin<strong>de</strong>rela, que aparece na versão dos Irmãos Grimm, é<br />
parecida com aquela <strong>de</strong> Perrault, apesar dos aproximados c<strong>em</strong> anos que separam<br />
uma versão da outra. A boa menina, além dos predicados já conhecidos, é piedosa,<br />
graciosa, mo<strong>de</strong>sta e religiosa. Como a outra, revela-se esperta quando necessário.<br />
Apesar <strong>de</strong> seu final feliz, suas irmãs algozes são severamente puni<strong>das</strong> com a<br />
cegueira. Neste conto, a madrasta aparece logo após a morte da mãe <strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela,<br />
como a segunda esposa do pai e já trazendo suas duas filhas para conviver com a<br />
borralheira. Se esta madrasta não é diretamente a algoz, ela é permissiva, omissa e<br />
conivente com a malda<strong>de</strong> <strong>das</strong> filhas. D<strong>em</strong>onstra sua ambição <strong>de</strong>smedida ao<br />
orientar as próprias filhas a cortar<strong>em</strong> os pés.<br />
Branca <strong>de</strong> Neve, por sua vez, é uma inocente menina <strong>de</strong> apenas sete anos no<br />
início da narrativa. Com o passar dos anos, torna-se “tão bonita quanto o dia e mais<br />
bonita que a própria rainha”. Porém, sequer t<strong>em</strong> consciência disso. Como as d<strong>em</strong>ais<br />
protagonistas, é bondosa, religiosa e sabe cuidar muito b<strong>em</strong> dos afazeres domésticos.<br />
Reserva <strong>em</strong> si uma adorável <strong>de</strong>sobediência que anuncia a tomada <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> sua<br />
beleza ao sentir-se s<strong>em</strong>pre seduzida a obter os objetos que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aos cuidados com o<br />
corpo oferecidos pela velha camponesa. Sua madrasta compete o t<strong>em</strong>po inteiro com a<br />
mesma. É o conto <strong>em</strong> que a madrasta atua do início ao fim da narrativa.<br />
A russa Vasilisa possui a mesma caracterização <strong>das</strong> d<strong>em</strong>ais protagonistas. No<br />
entanto, apesar <strong>de</strong> sentir medo <strong>de</strong> sua situação e dos <strong>de</strong>safios <strong>em</strong> que terá <strong>de</strong> se<br />
envolver, enfrentava-os, confiante na intervenção da sua boneca – amuleto. Para livrar-<br />
se da Baba Iaga, usa sua pretensa ingenuida<strong>de</strong>, mostrando esperteza, cautela e<br />
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