UM PROMETEU CARNAVALIZADO: IRONIA E ... - Unesp
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ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
entrevista realizada no Rio de Janeiro, em maio deste ano) por meio de uma paródia que é<br />
permeada pela carnavalização e possui um humor irônico que desvela o tema do amor sob um<br />
escopo tétrico e com marcas de nonsense.<br />
Colasanti, ao ser perguntada sobre o processo de transcontextualização de hipotextos<br />
famosos na literatura mundial canônica, assim relatou sua predileção em recontextualizar tais<br />
intertextos:<br />
[...] eu trabalho muito com mitos. Mas o que me interessa é “dar uma volta” no mito, não<br />
apenas fazer paráfrase, nem fazer paródia, exatamente [...] é tirar do mito um outro<br />
significado, uma vez que os mitos são sempre plurissignificantes. (COLASANTI, Marina. 7<br />
mai. 2010. Rio de Janeiro. Entrevista concedida a Frederico Helou Doca de Andrade)<br />
Embora suas “recriações” desses mitos não sejam admitidas como paródias ou<br />
paráfrases, ao longo deste estudo vamos constatar que, sim, “O prazer enfim partilhado” trata-se<br />
de uma paródia, mas esta é construída mais por meio de alusões e reminiscências, no que<br />
Genette chamou de intertextualidade explícita. Pois, de acordo com Linda Hutcheon, a paródia<br />
não tem a função cristalizada de apenas destruir ou ridicularizar o texto de origem, ela pode, em<br />
tom laudatório, de homenagem, resgatar o hipotexto, ressignificando-o e dotando-o de uma nova<br />
roupagem – a fim de que o receptor desse “novo” texto possa refletir sobre a temática desse<br />
hipertexto a partir de traços do hipotexto contidos nessa “releitura”. Portanto, reforçando essa<br />
ideia, a paródia,<br />
[...] é hoje dotada do poder de renovar. Não precisa de o fazer, mas pode fazê-lo. Não nos<br />
devemos esquecer da natureza híbrida da conexão da paródia com o “mundo”, da mistura<br />
de impulsos conservadores e revolucionários em termos estéticos e sociais. O que tem sido<br />
tradicionalmente chamado paródia privilegia o impulso normativo, mas a arte de hoje<br />
abunda igualmente em exemplos do poder da paródia em revitalizar. (HUTCHEON, 1989,<br />
p. 146)<br />
Além dessa característica de “refrescamento” do hipotexto, que não se configura como<br />
uma suavização ou enxugamento do texto de partida, poderemos verificar, neste estudo, que o<br />
humor, tão característico deste livro de minicontos de que faz parte a narrativa que estudaremos,<br />
Contos de amor rasgados, é marcadamente irônico e cáustico, ferino. Esse tipo de humor, dentro<br />
da carnavalização, é configurado quase que beirando a sátira. Porém, a sátira estabelece sua<br />
crítica, destruição por meio de elementos extramurais, extratextuais. Se bem que “O prazer enfim<br />
partilhado” não deixa de ser uma crítica a sentimentos tão explorados na literatura: um amor<br />
ensandecido e pautado pela inveja, mas, ao mesmo tempo, pela cumplicidade. Daí o porquê do<br />
título do livro de minicontos ser Contos de amor rasgados – deu-se preferência a amores<br />
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