Hemoplasmose felina - relato de caso - Adriana Wolf ... - Qualittas
Hemoplasmose felina - relato de caso - Adriana Wolf ... - Qualittas
Hemoplasmose felina - relato de caso - Adriana Wolf ... - Qualittas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO<br />
QUALITTAS – INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DE<br />
PEQUENOS ANIMAIS<br />
HEMOPLASMOSE FELINA – RELATO DE CASO<br />
<strong>Adriana</strong> <strong>Wolf</strong> Wan<strong>de</strong>r<br />
Porto Alegre, jul. 2009
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO<br />
ADRIANA WOLF WANDER<br />
Aluna do curso <strong>de</strong> Especialização em Clínica Médica <strong>de</strong> Pequenos Animais<br />
HEMOPLASMOSE FELINA<br />
RELATO DE CASO<br />
Trabalho monográfico <strong>de</strong> conclusão do curso <strong>de</strong> Especialização em<br />
Clínica Médica <strong>de</strong> Pequenos Animais (TCC), apresentado à UCB como<br />
requisito parcial para a obtenção do título <strong>de</strong> Especialização em Clínica<br />
Médica <strong>de</strong> pequenos Animais, sob a orientação da Prof a Fernanda Vieira<br />
Amorim da Costa.<br />
Porto Alegre, jul. 2009
ADRIANA WOLF WANDER<br />
HEMOPLASMOSE FELINA – RELATO DE CASO<br />
Foi analisado e aprovado com<br />
grau: .............................<br />
Porto Alegre, ______ <strong>de</strong> ____________ <strong>de</strong> ______.<br />
_____________________________<br />
Professora Orientadora<br />
Porto Alegre, jul. 2009<br />
iii
RESUMO<br />
A hemoplasmose <strong>felina</strong> é causada por hemoplasmas hemotrópicos, ou seja, bactérias<br />
pleomórficas que parasitam os eritrócitos dos gatos domésticos. Seus agentes etiológicos já foram<br />
chamados <strong>de</strong> Eperythrozoon felis, Haemobartonella feliz e atualmente são conhecidos como<br />
Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum e Candidatus Mycoplasma<br />
turicensis. Estes agentes po<strong>de</strong>m causar anemia primária em gatos, mas quando há co-infecção<br />
com as retroviroses <strong>felina</strong>s, incluindo o vírus da imuno<strong>de</strong>ficiência <strong>felina</strong> e o vírus da leucemia<br />
<strong>felina</strong>, o quadro clínico é mais grave. Foi <strong>de</strong>monstrado que as transfusões <strong>de</strong> sangue infectado<br />
são eficazes na transmissão do microorganismo (Gary et al 2006), mas ainda não está provado<br />
que parasitas hematófagos, por exemplo, mosquitos e pulgas, são vetores a<strong>de</strong>quados. Os sinais<br />
clínicos <strong>de</strong>sta enfermida<strong>de</strong> incluem principalmente anorexia, anemia regenerativa, icterícia e<br />
esplenomegalia. O diagnóstico <strong>de</strong>ve ser firmado quando encontrarmos o microorganismo na<br />
avaliação hematoscópica, juntamente com sinais clínicos da doença e a presença <strong>de</strong> anemia<br />
regenerativa, porém, o teste da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da Polimerase (PCR) é conhecido por ser mais<br />
sensível do que a citologia para o diagnóstico e permite a diferenciação das duas espécies <strong>de</strong><br />
hemoplasmas. O tratamento preconizado inlcui o uso <strong>de</strong> doxiciclina, mas o uso <strong>de</strong> enrofloxacina<br />
vem sendo sugerido recentemente. O presente trabalho objetiva relatar um <strong>caso</strong> <strong>de</strong><br />
hemoplasmose <strong>felina</strong>, enfatizando os sinais clínicos, diagnóstico e eficácia do tratamento com o<br />
uso da doxiciclina.<br />
Palavras-chave: hemoplasmas; anemia; gatos.<br />
ABSTRACT<br />
The feline hemoplasmosis is caused by hemoplasmas hemotrópics, or pleomorphic<br />
bacterias that parasite the domestic cats erythrocytes. Their etiologic agents have already been<br />
called Eperythrozoon felis, Haemobartonella felis and nowadays they are known as Mycoplasma<br />
haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum and Candidatus Mycoplasma turicensis.<br />
These agents may cause primary anemia in cats, but when there are co-infection with feline<br />
retrovirosis, including the feline immuno<strong>de</strong>ficiency virus and the feline leukemia virus, the clinical<br />
picture is more severe. It was shown that the transfusion of infected blood are effective in the<br />
transmission of the microorganism (Gary et al 2006), but is not yet proven that hematophagous<br />
parasites, such as mosquitoes and fleas, are suitable vectors. The clinical signs of this disease<br />
mainly inclu<strong>de</strong> anorexia, regenerative anemia, jaundice and splenomegaly. The diagnosis must be<br />
established when the microorganism is found in the hematoscopic assessment, in assossiation<br />
with clinical signs of the disease and the presence of regenerative anemia, however, the test of<br />
Polymerase Chain Reaction (PCR) is known to be more sensitive than cytology for the diagnosis<br />
and also allows the differentiation of two species of hemoplasmas The recommen<strong>de</strong>d treatment<br />
inclu<strong>de</strong>s the use of doxycycline, but the use of enrofloxacin has been suggested recently. This<br />
study aims to report a case of feline hemoplasmosis, emphasizing the clinical signs, diagnosis and<br />
effective treatment with the use of doxycycline.<br />
Key-words: hemoplasma; anemia; cat.<br />
iv
SUMÁRIO<br />
Resumo.................................................................................................................. iv<br />
Lista <strong>de</strong> Figuras...................................................................................................... vi<br />
Parte<br />
1. ...............................................................................................................................R<br />
evisão bibliográfica ............................................................................................1<br />
1.1........................................................................................................................I<br />
ntrodução.....................................................................................................1<br />
1.2........................................................................................................................E<br />
tiologia .........................................................................................................2<br />
1.3........................................................................................................................H<br />
istórico .........................................................................................................5<br />
1.4........................................................................................................................E<br />
pi<strong>de</strong>miologia ................................................................................................6<br />
1.5........................................................................................................................P<br />
atogênese....................................................................................................8<br />
1.6........................................................................................................................S<br />
inais Clínicos .............................................................................................10<br />
1.7........................................................................................................................D<br />
iagnóstico ..................................................................................................10<br />
v
1.8........................................................................................................................T<br />
ratamento ..................................................................................................15<br />
1.9........................................................................................................................P<br />
rognóstico..................................................................................................17<br />
2. ...............................................................................................................................R<br />
elato <strong>de</strong> <strong>caso</strong>....................................................................................................18<br />
3. ...............................................................................................................................D<br />
iscussão e conclusão.......................................................................................20<br />
Anexos ..................................................................................................................22<br />
Referências bibliográficas .....................................................................................23<br />
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1 - M. haemofelis e M. haemominutum em sangue <strong>de</strong> gatos infectados ................ 3<br />
Figura 2 - Precursores imaturos <strong>de</strong> células eritrói<strong>de</strong>s em um gato portador do vírus para<br />
leucemia viral <strong>felina</strong> ............................................................................................................ 9<br />
Figura 3 - Esfregaço sanguíneo <strong>de</strong>mostrando a presença <strong>de</strong> M. haemofelis em<br />
aproximadamente 50% dos eritrócitos ............................................................................. 11<br />
vi
Figura 4 - Esfregaço sanguíneo <strong>de</strong>mostrando a presença <strong>de</strong> M. haemofelis em<br />
aproximadamente 65% dos eritrócitos ............................................................................. 12<br />
vii
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
1.1. INTRODUÇÃO<br />
A anemia infecciosa <strong>felina</strong> ou hemoplasmose <strong>felina</strong> é causada por hemoplasmas<br />
hemotrópicos, ou seja, bactérias pleomórficas que parasitam os eritrócitos dos gatos domésticos.<br />
Por esta razão, suas principais espécies, Mycoplasma haemofelis e Candidatus Mycoplasma<br />
haemominutum, são comumente conhecidas como hemoplasmas felinos (Neimark et al 2001,<br />
Messick 2004). A hemoplasmose causa um distúrbio hemolítico extravascular que também po<strong>de</strong><br />
acometer caninos, bovinos, búfalos, veados, ratos, porcos da Índia, esquilos, caprinos, macacos e<br />
pessoas (Harvey e Gaskin 1978). A doença tem maior importância em gatos domésticos e, nos<br />
caninos, é uma patologia incomum, acometendo principalmente animais esplenectomizados<br />
(Jones 2000).<br />
O modo <strong>de</strong> transmissão ainda não foi completamente elucidado, mas suspeita-se que<br />
ocorra através da transferência <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> um gato para outro (Norsworthy 2004). Foi<br />
<strong>de</strong>monstrado que as transfusões <strong>de</strong> sangue infectado são eficazes na transmissão do<br />
microorganismo (Gary et al 2006), mas ainda não está provado que parasitas hematófagos, por<br />
exemplo, mosquitos e pulgas, são vetores a<strong>de</strong>quados (Norsworthy 2004). A infecção já foi<br />
realizada experimentalmente por injeções parenterais <strong>de</strong> sangue e também por administração <strong>de</strong><br />
sangue infectado por via oral (Hoskins 1991).<br />
Acredita-se não haver predileção por raça ou sexo, contudo, parece que os machos são<br />
mais propensos a apresentarem a hemoplasmose <strong>de</strong>vido aos hábitos mais freqüentes <strong>de</strong><br />
ambulação e luta, e, com isso, maior exposição a gatos infectados por M. haemofelis (Harvey<br />
1998). Gatos mais jovens do que 6 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, têm maior risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver hemoplasmas<br />
hemotrópicos, porém, esse risco <strong>de</strong>clina em gatos idosos (Hayes e Priester 1973, Grin<strong>de</strong>m et al<br />
1990, Harrus et al 2002). Um resultado positivo no exame <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção do vírus da Leucemia <strong>felina</strong><br />
1
(FeLV) e histórico <strong>de</strong> abscessos causados por mordidas <strong>de</strong> outros gatos também têm sido<br />
i<strong>de</strong>ntificados como um fatores <strong>de</strong> risco (Grin<strong>de</strong>m et al 1990).<br />
Apesar <strong>de</strong> ser uma das principais causas <strong>de</strong> anemia em gatos, ainda existem poucas<br />
informações disponíveis em relação à sua epi<strong>de</strong>miologia e às doenças que este parasito causa.<br />
Um dos principais fatores limitantes à investigação <strong>de</strong>sse organismo é que ainda não há sucesso<br />
no seu cultivo fora do hospe<strong>de</strong>iro. Contudo, recentemente, estudos moleculares têm avançado<br />
nosso entendimento sobre a sua natureza e patogenicida<strong>de</strong> (Tasker e Lappin 2002).<br />
A hemoplasmose é uma doença comum em felinos domésticos. Porém, o seu diagnóstico<br />
só po<strong>de</strong> ser firmado quando encontrarmos o microorganismo na análise hematoscópica,<br />
juntamente com sinais clínicos da doença e a presença <strong>de</strong> anemia regenerativa (Grace 2004).<br />
Entretanto, <strong>de</strong>vido à alta freqüência <strong>de</strong> falso-negativo na avaliação hematoscópica <strong>de</strong> esfregaços<br />
sanguíneos, a enfermida<strong>de</strong> é pouco diagnosticada. O teste da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da Polimerase<br />
(PCR) é conhecido por ser mais sensível do que a citologia para o diagnóstico e permite a<br />
diferenciação das duas espécies <strong>de</strong> hemoplasmas (Berent et al., 1998; Foley et al., 1998; Westfall<br />
et al., 2001).<br />
O presente trabalho objetiva relatar um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> hemoplasmose <strong>felina</strong>, enfatizando os<br />
sinais clínicos, diagnóstico e eficácia do tratamento com o uso da doxiciclina.<br />
1.2. ETIOLOGIA<br />
Os hemoplasmas hemotrópicos são organismos pequenos (0,3 a 0,8 µm), gram-negativos,<br />
epicelulares, firmemente a<strong>de</strong>ridos à membrana dos eritrócitos (Davenport 1994). Não possuem<br />
pare<strong>de</strong> celular nem flagelo, são resistentes à penicilina e seus análogos, mas são suscetíveis à<br />
tetraciclina (Neimark et al 2001, 2002). Estudos ultra-estruturais, em meados dos anos 60,<br />
mostraram claramente que esses parasitas estão na superfície das células vermelhas sanguíneas<br />
e não parecem penetrar no interior das mesmas. (Small e Ristic 1967).<br />
Os hemoplasmas possuem DNA e RNA e se replicam por divisão binária. Esses<br />
organismos não têm sido cultivados fora <strong>de</strong> seus hospe<strong>de</strong>iros, diferenciando-os assim da espécie<br />
Bartonella, pois essas são bactérias que po<strong>de</strong>m ser cultivadas em células livres (Harvey 1998).<br />
2
Foram i<strong>de</strong>ntificadas duas linhagens distintas <strong>de</strong> M. felis (Figura 1). A forma gran<strong>de</strong>,<br />
Mycoplasma haemofelis (Mhf), relativamente patogênica associada à anemia hemolítica grave em<br />
gatos imunocompetentes, e a forma pequena, Candidatus Mycoplasma haemominutum (Mhm),<br />
não associada à doença em gatos imunocompetentes. (Foley et al 1998, Jensen et al 2001,<br />
Westfall et al 2001). Entretanto, gatos co-infectados com Mhm e FeLV são mais susceptíveis a<br />
<strong>de</strong>senvolver a anemia clínica do que gatos infectados apenas com o Mhm. Há alguns indícios que<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> doenças mieloproliferativas é acelerado em gatos infectados<br />
concomitantemente com Mhm e FeLV (George et al 2002).<br />
Análises da seqüência do gene 16S do DNA ribossômico mostraram uma semelhança<br />
genética <strong>de</strong> 83% entre o M. haemofelis e Candidatus M. haemominutum (Foley e Pe<strong>de</strong>rsen 2001).<br />
Figura 1: M. haemofelis (nas células azuis) e M. haemominutum (seta, nas células vermelhas) em<br />
sangue <strong>de</strong> gatos infectados. Fonte: Foley et al 1998.<br />
Recentemente, um novo hemoplasma, Candidatus Mycoplasma turicensis (Mtc), foi<br />
<strong>de</strong>tectado em gatos na Suiça com história <strong>de</strong> hemólise intravascular grave (Willi et al 2005).<br />
Posteriormente, esta espécie foi <strong>de</strong>scrita em gatos na Austrália, Reino Unido, África do Sul e<br />
Estados Unidos, sugerindo uma distribuição mundial. No Brasil este parasita foi <strong>de</strong>scrito apenas<br />
3
em felinos selvagens mantidos em zoológicos (Willi et al 2007). Análises da seqüência do gene<br />
16S rRNA revelaram que esse organismo está mais estreitamente ligado ao Mycoplasma<br />
coccoi<strong>de</strong>s e ao Mycoplasma haemomuris, ambos espécies <strong>de</strong> hemoplasmas <strong>de</strong> roedores (Iralu e<br />
Ganong 1983), do que a outros hemoplasmas felinos. Sua inoculação em gatos resultou em<br />
anemia, apesar <strong>de</strong> sua patogenicida<strong>de</strong> em condições naturais ainda não ser bem entendida<br />
(Sykes et al 2008). Também foram <strong>de</strong>tectadas, por meio da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da Polimerase<br />
(PCR), provas moleculares <strong>de</strong> infecção em 2 <strong>de</strong> 263 gatos com e sem anemia por um organismo<br />
semelhante, o Candidatus Mycoplasma haematoparvum, que é um hemoplasma canino(Sykes et<br />
al 2008).<br />
Através <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> análises da seqüência do gene 16S rRNA, verificou-se que o M.<br />
haemofelis apresenta mais semelhanças com o M. haemocanis, que causa anemia em cães<br />
esplenectomizados, do que com outros M. haemofelis isolados, e por causa disso, foi sugerido que<br />
M. haemofelis e M. haemocanis sejam o mesmo organismo infectando diferentes espécies <strong>de</strong><br />
animais (Brison e Messick 2001, Birkenheuer et al 2002). Ao se inocular o sangue <strong>de</strong> cães<br />
infectados com M. haemocanis em gatos sadios, estes permaneceram assintomáticos, mas o<br />
sangue <strong>de</strong>sses gatos, quando inoculado em cães, reproduz a doença (Lumb 2001). Em outro<br />
experimento, o sangue <strong>de</strong> gatos infectados com M. haemofelis foi inoculado em gatos suscetíveis,<br />
em cães esplenectomizados e em cães não esplenectomizados, não resultando em anemia ou<br />
bacteremia citologicamente <strong>de</strong>tectável nesses animais (Splitter et al 1956 e Lumb 2001). Por<br />
causa <strong>de</strong>sses resultados e <strong>de</strong>vido à morfologia diferente <strong>de</strong>sses dois organismos, alguns autores<br />
acreditam que o seqüenciamento do gene 16S rRNA po<strong>de</strong> não ser a<strong>de</strong>quado para diferenciar<br />
essas espécies (Sykes 2003).<br />
Des<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da PCR para a <strong>de</strong>tecção dos hemoplasmas hemotrópicos,<br />
vários estudos têm investigado a prevalência da infecção com Mhm e Mhf em diferentes países,<br />
incluindo África do Sul (Lobetti e Tasker 2004), EUA (Hackett et al e Eberhardt et al 2006, Ishak et<br />
al 2007), Austrália (Tasker et al 2004), Suiça (Willi et al 2006), Reino Unido (Tasker et al 2003) e<br />
Japão (Watanabe et al 2003).<br />
4
Morais et al (2008) <strong>de</strong>screveram a primeira infecção dupla com Mhf e Mhm, na América do<br />
Sul, <strong>de</strong>screvendo sinais clínicos e anormalida<strong>de</strong>s laboratoriais idênticos às observadas em outras<br />
partes do mundo.<br />
1.3. HISTÓRICO<br />
Em 1942, Clark <strong>de</strong>screveu uma infecção por Eperythrozoon em um gato anêmico na África<br />
do Sul nomeando a espécie <strong>de</strong> Eperythrozoon felis. Flint & Moss, em 1953, através <strong>de</strong> um método<br />
experimental, <strong>de</strong>screveram nos EUA, um organismo similar causando anemia infecciosa em gatos.<br />
Em 1955, Flint e Mc Kelvie sugeriram que esse organismo fosse nomeado <strong>de</strong> Haemobartonella<br />
felis, pois ao contrário da espécie Eperythrozoon, ele não era visto livremente no plasma, além <strong>de</strong><br />
serem i<strong>de</strong>ntificadas formas anelares do parasito.<br />
A H. felis foi então <strong>de</strong>scrita mundialmente (An<strong>de</strong>rson & Charleston 1967, Bedford1970,<br />
Boba<strong>de</strong> & Akinyemi 1981, Clark 1942, Espada et al 1991, Flagstad & Larsen 1969, Hatakka 1972,<br />
Mae<strong>de</strong> et al 1974, Manusu 1961, Mrljak et al 1995, Prieur 1960, Seamer & Douglas 1959, Théry<br />
1966) embora estudos <strong>de</strong>screvendo a prevalência da infecção em gatos <strong>de</strong> diferentes partes do<br />
mundo sejam escassas. A <strong>de</strong>scrição em gatos domésticos no Brasil foi relatada pela primeira vez<br />
em 1976 (Massard et al).<br />
Em 1993, o microorganismo foi classificado na família Anaplasmataceae, na or<strong>de</strong>m<br />
Rickettsiales (Carney e England).<br />
Posteriormente, achados moleculares provaram que a H. felis era a causa da anemia<br />
infecciosa <strong>felina</strong> (Berent et al 1998, Cooper et al 1999). Em 1997, a análise da seqüência do gene<br />
16S rRNA <strong>de</strong>monstrou que alguns membros dos gêneros Hemobartonella e Eperythrozoon<br />
pertencem ao gênero Mycoplasma (Neimark e Kogan, Rikihisa et al). Em 1998, alguns estudos<br />
também documentaram a existência <strong>de</strong> diferentes linhagens que po<strong>de</strong>m, em última análise, provar<br />
haver espécies diferentes <strong>de</strong> Haemobartonella (Berent et al 1998, Foley et al 1998, Messick et al<br />
1998, Rikihisa et al 1997). Sendo assim, a Haemobartonella felis foi reclassificada como<br />
Mycoplasma haemofelis (Neimark et al 2001).<br />
5
Para Sykes et al 2003, a reclassificação <strong>de</strong>sses microorganismos como hemoplasmas<br />
po<strong>de</strong> parecer inapropriado inicialmente, com base na sua associação com eritrócitos, pois outros<br />
agentes micoplasmas patogênicos geralmente estão associados com superfícies mucosas dos<br />
tratos respiratórios e urogenital causando, ocasionalmente, doenças artríticas. Mas, acredita que a<br />
reclassificação das espécies Haemobartonella e Eperythrozoon como Mycoplasma irá ajudar nos<br />
estudos <strong>de</strong>sses organismos no futuro.<br />
1.4 EPIDEMIOLOGIA<br />
Gatos mais jovens do que 6 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> têm maior risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver hemoplasmas<br />
hemotrópicos, porém, esse risco <strong>de</strong>clina em gatos idosos (Hayes e Priester 1973, Grin<strong>de</strong>m et al<br />
1990, Harrus et al 2002). Acredita-se não haver predileção por raça ou sexo, contudo, parece que<br />
os machos são mais propensos a apresentarem a hemoplasmose, <strong>de</strong>vido aos hábitos mais<br />
freqüentes <strong>de</strong> ambulação e luta, com maior exposição a gatos infectados por M. haemofelis<br />
(Harvey 1998). A freqüência po<strong>de</strong> também ser maior nos meses <strong>de</strong> primavera e verão,<br />
presumivelmente como conseqüência do aumento dos passeios dos gatos para fora <strong>de</strong> casa<br />
(Hayes e Priester 1973).<br />
Um resultado positivo no exame <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> FeLV e histórico <strong>de</strong> abscessos também<br />
têm sido i<strong>de</strong>ntificados como fatores <strong>de</strong> risco (Grin<strong>de</strong>m et al 1990).<br />
O Mycoplasma haemofelis po<strong>de</strong> causar anemia primaria em gatos e também é<br />
comumente reconhecido com um patógeno associado às retroviroses, incluindo o vírus da<br />
imuno<strong>de</strong>ficiência <strong>felina</strong> e o vírus da leucemia <strong>felina</strong>, assim como outras doenças <strong>de</strong>bilitantes<br />
(Kociba et al 1983, Boba<strong>de</strong> et al 1988, Lappin 1995, Grin<strong>de</strong>m et al 1990, Harrus et al 2002,<br />
George et al 2002).<br />
Estudos indicam o Candidatus Mycoplasma haemominutum como a espécie mais<br />
prevalente, seguido pelo Candidatus Mycoplasma turicensis e em seguida M. haemofelis (Willi et<br />
al 2006, Sykes et al e Peters at al 2008). Willi et al (2006) <strong>de</strong>tectaram DNA <strong>de</strong> Mhm e Mhf tanto<br />
em gatos saudáveis como em gatos doentes, já o Mtc foi <strong>de</strong>tectado somente em gatos doentes.<br />
6
O modo <strong>de</strong> transmissão ainda não foi completamente elucidado, mas suspeita-se que<br />
ocorra através da transferência <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> um gato para outro (Norsworthy 2004). Foi<br />
<strong>de</strong>monstrado que as transfusões <strong>de</strong> sangue infectado são eficazes na transmissão do<br />
microorganismo (Gary et al 2006), mas ainda não está provado que parasitas hematófagos, por<br />
exemplo, mosquitos e pulgas, são vetores a<strong>de</strong>quados (Norsworthy 2004). A infecção já foi<br />
realizada experimentalmente por injeções parenterais <strong>de</strong> sangue e também por administração <strong>de</strong><br />
sangue infectado por via oral (Hoskins 1991).<br />
Os gatos portadores servem como reservatórios da infecção, uma vez que o M.<br />
haemofelis po<strong>de</strong> ser um organismo comensal em gatos saudáveis e a infecção po<strong>de</strong> resultar em<br />
doença aguda quando os gatos infectados são submetidos a condições <strong>de</strong> estresse ou<br />
acometidos por infecções ou doenças concomitantes, como a infecção pelo vírus da leucemia<br />
<strong>felina</strong>, Diabetes melittus, <strong>de</strong>ntre outras (Harvey 1998).<br />
Segundo Messick (2003), o M. haemofelis po<strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer e reaparecer ciclicamente na<br />
superfície das células vermelhas do sangue dos gatos. Em menos <strong>de</strong> uma hora, múltiplos<br />
organismos <strong>de</strong>tectados em eritrócitos infectados po<strong>de</strong>m transformar-se em não <strong>de</strong>tectáveis, pois é<br />
possível que os organismos alterem os antígenos <strong>de</strong> superfície celular permitindo que eles se<br />
separem da célula sanguínea. A perda da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência às células <strong>de</strong> seus<br />
hospe<strong>de</strong>iros traz vários benefícios para o M. haemofelis, contribuindo para a sua sobrevivência.<br />
Ela permite o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> portador, por mutação ou por sobreposição <strong>de</strong><br />
certos antígenos superficiais, o que inibe a resposta imune e faz com que o M. haemofelis<br />
estabeleça uma infecção em outro tipo <strong>de</strong> célula. O retorno da a<strong>de</strong>rência nos eritrócitos auxilia em<br />
um novo ciclo <strong>de</strong> infecção, facilitando assim a transmissão do M. haemofelis para um vetor<br />
sugador <strong>de</strong> sangue. Lappin et al (2003), em seu estudo, mostraram que pulgas infectadas com M.<br />
haemofelis po<strong>de</strong>m transmitir o parasita e produzir a doença em gatos suscetíveis. Entretanto, a<br />
transmissão do M. haemominutum por pulgas não foi bem sucedida e os autores sugeriram que o<br />
baixo número <strong>de</strong> pulgas usado no estudo po<strong>de</strong>ria ser responsável por esses achados negativos.<br />
(Lappin et al 2003).<br />
Para Woods et al (2005), o vetor em potencial para ambos os hemoplasmas <strong>de</strong> gatos é a<br />
pulga Ctenocephali<strong>de</strong>s felis. Pereita e Santos (1998) acreditam que, por serem encontradas<br />
7
comumente nos gatos brasileiros, as pulgas po<strong>de</strong>m servir como vetores da doença na América do<br />
Sul.<br />
1.5 PATOGÊNESE<br />
A hemoplasmose causa um distúrbio hemolítico (Harvey e Gaskin 1978), sendo a<br />
hemólise classificada primariamente como extravascular. As células parasitadas são i<strong>de</strong>ntificadas<br />
como anormais pelo sistema imune e retiradas da circulação sanguínea através <strong>de</strong><br />
eritrofagocitose, a qual é realizada pelos macrófagos no baço, fígado, pulmões e medula óssea<br />
(Norsworthy 2004 e Fighera 2001). Os organismos po<strong>de</strong>m ainda ser retirados dos eritrócitos por<br />
um processo <strong>de</strong>nominado corrosão (“pitting”). Em alguns <strong>caso</strong>s, <strong>de</strong>senvolve-se uma anemia<br />
hemolítica imune-mediada secundária à infecção, po<strong>de</strong>ndo ocorrer hemólise intravascular e,<br />
assim, hemoglobinúria (Fighera 2001).<br />
Diversos mecanismos estão envolvidos no <strong>de</strong>senvolvimento da anemia, <strong>de</strong>ntre eles<br />
<strong>de</strong>stacam-se: 1) lesão direta das hemácias, causada pela interação <strong>de</strong> anticorpos e sistema<br />
complemento contra os antígenos <strong>de</strong> M. haemofelis; 2) hemólise imune-mediada pela exposição<br />
<strong>de</strong> antígenos das próprias hemácias que resultam na produção <strong>de</strong> anticorpos; 3) eritrofagocitose,<br />
na qual hemácias parasitadas são fagocitadas por macrófagos e <strong>de</strong>struídas no baço; 4) seqüestro<br />
<strong>de</strong> hemácias nos pequenos vasos por causa da formação <strong>de</strong> esferócitos que, por serem menores<br />
e pouco <strong>de</strong>formáveis, são <strong>de</strong>struídos no sistema mononuclear fagocitário (Harvey 1998).<br />
A infecção aguda com M. haemofelis está associada com uma parasitemia massiva dos<br />
eritrócitos, causando anemia hemolítica grave e, às vezes, fatal. A anemia associada com a<br />
infecção por M. haemofelis é tipicamente regenerativa, mostrando anisocitose e policromasia, com<br />
um aumento absoluto do número <strong>de</strong> reticulócitos. Contudo, a gravida<strong>de</strong> da anemia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />
estágio da infecção e o hematócrito po<strong>de</strong> cair para menos <strong>de</strong> 20% no pico da parasitemia. A PCR<br />
tem sido usada para correlacionar a presença da parasitemia com a doença clínica em gatos que<br />
foram experimentalmente infectados com M. haemofelis (Berent et al 1998, Messick et al 1998).<br />
Os gatos saudáveis que foram infectados experimentalmente com M. haemominutum<br />
<strong>de</strong>senvolveram apenas mínimos sinais clínicos da doença aguda e mudanças hematológicas<br />
8
negligenciáveis. O hematócrito dos gatos <strong>de</strong>clinou ao longo <strong>de</strong> todo o curso da infecção, mas<br />
nunca abaixo dos valores <strong>de</strong> referência para gatos (Foley et al 1998).<br />
Foi sugerido que gatos que possuem infecção retroviral pré-existente po<strong>de</strong>m ter um<br />
gran<strong>de</strong> risco <strong>de</strong> se infectarem por hemoplasmas felinos, <strong>de</strong>senvolvendo sinais <strong>de</strong> anemia mais<br />
graves do que gatos infectados apenas com o parasita (Nash e Boba<strong>de</strong> 1986, Grin<strong>de</strong>m et al 1990,<br />
Lappin 1995, Harrus et al 2002, Hartmann et al 2001, George et al 2002, Inokuma et al 2004).<br />
Sendo assim, gatos que estão co-infectados com hemoplasma e retrovírus apresentam risco maior<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver linfoma, leucemia e síndrome da imuno<strong>de</strong>ficiência adquirida (Priester e 1973;<br />
Cotter et al 1975; Boba<strong>de</strong> et al 1988; George et al 2002; Harrus et al 2002).<br />
A infecção crônica por M. haemofelis po<strong>de</strong> promover transformações neoplásicas das<br />
células hematopoiéticas em gatos infectados por FeLV (Figura 2). É também importante<br />
reconhecer que apesar <strong>de</strong> uma intensa resposta imunológica ou tratamento com antibiótico, os<br />
gatos infectados tanto com M. haemofelis ou M. haemominutum provavelmente ainda serão<br />
portadores crônicos do parasita (Messick 2003).<br />
Figura 2: Precursores imaturos <strong>de</strong> células eritrói<strong>de</strong>s em um gato portador do vírus para leucemia<br />
viral <strong>felina</strong>. Notar os parasitas epicelulares nos eritrócitos. Fonte: Messick (2003).<br />
9
1.6 SINAIS CLÍNICOS<br />
Os sinais clínicos observados incluem letargia, anorexia, febre e anemia, tanto em gatos<br />
infectados naturalmente e como experimentalmente. Em geral, a temperatura retal é normal,<br />
exceto na fase aguda, quando se encontra aumentada e, na fase terminal da doença, po<strong>de</strong> ainda<br />
se apresentar diminuída (Hagiwara 2003). Entretanto, a pirexia normalmente é intermitente e o<br />
animal po<strong>de</strong> apresentar picos febris que ocorrem quando o número <strong>de</strong> parasitas é maior na<br />
circulação periférica.<br />
A esplenomegalia e a icterícia são causadas principalmente pela hemólise intravascular e<br />
po<strong>de</strong>m ser vistas ocasionalmente (Messick 2003).<br />
O exame físico revela mucosas pálidas ou ictéricas, aumento do esforço ventilatório<br />
(especialmente em situação <strong>de</strong> estresse), sopro cardíaco sistólico suave, taquicardia, taquipnéia e<br />
esplenomegalia palpável (Norsworthy 2004; Grace 2004).<br />
A infecção po<strong>de</strong> ser assintomática na doença subclínica, <strong>de</strong> forma que os animais<br />
apresentem apenas uma anemia discreta. Os sintomas estão na <strong>de</strong>pendência do estado da<br />
doença e da rapi<strong>de</strong>z com que se <strong>de</strong>senvolve a anemia. Se a anemia se <strong>de</strong>senvolver<br />
gradualmente, o gato po<strong>de</strong> exibir perda <strong>de</strong> peso, mas se mantém vivaz e alerta. Ao contrário, a<br />
diminuição precoce e acentuada do hematócrito, em associação com a parasitemia grave, po<strong>de</strong><br />
causar pouca diminuição do peso corporal, mas uma marcante <strong>de</strong>pressão mental (Hagiwara<br />
2003).<br />
1.7 DIAGNÓSTICO<br />
Os achados hematológicos são <strong>de</strong> anemia hemolítica com intensa regeneração,<br />
resultando em uma anemia macrocítica hipocrômica. Evi<strong>de</strong>ncia-se policromasia e anisocitose<br />
excessivas, presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corpúsculos <strong>de</strong> Howell-Jolly e precursores<br />
eritrói<strong>de</strong>s nucleados (metarrubrícitos e rubrícitos). O plasma mostra-se ictérico, po<strong>de</strong>ndo<br />
raramente apresentar-se avermelhado, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventual hemólise intravascular. Quando<br />
10
ocorre o <strong>de</strong>senvolvimento da anemia hemolítica imune-mediada, po<strong>de</strong>mos encontrar esferócitos<br />
em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, bem como eritrofagocitose (Fighera (2001).<br />
O método mais comumente usado para o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo da hemoplasmose é a<br />
verificação dos organismos na superfície dos eritrócitos durante o exame microscópico <strong>de</strong> um<br />
esfregaço sanguíneo <strong>de</strong> bem confeccionado (Butt 1990). O microorganismo é encontrado ao redor<br />
da periferia do eritrócito, po<strong>de</strong>ndo estar sozinho, em pares ou em ca<strong>de</strong>ias nas infestações graves<br />
(Figura 3). Na avaliação da hematoscopia, o parasita encontra-se em forma <strong>de</strong> anel, bastão ou<br />
pequenos pontos formando ca<strong>de</strong>ias. É importante salientar que esses não <strong>de</strong>vem ser confundidos<br />
com precipitados <strong>de</strong> proteína, <strong>de</strong>bris que se <strong>de</strong>positam no fundo da lâmina ou artefatos<br />
(VanSteenhouse et al 1993). Estes se diferenciam dos hemoplasmas por apresentarem bordas<br />
irregulares e aparecerem com menor coloração quando os eritrócitos estão focados no<br />
microscópio (Tasker e Lappin 2002). Os M. haemofelis também <strong>de</strong>vem ser diferenciados <strong>de</strong> outras<br />
inclusões eritrocitárias, como por exemplo, os corpúsculos <strong>de</strong> Howell-Jolly, que são encontrados<br />
constantemente em qualquer anemia regenerativa (Hahn 1999) e representam resquícios <strong>de</strong><br />
núcleo eritrocitário, os quais po<strong>de</strong>m ser diferenciados do M. haemofelis simplesmente por<br />
apresentarem maior tamanho (Figura 4) (Boba<strong>de</strong> e Nash 1987, Small e Ristic 1967).<br />
Figura 3: Esfregaço sanguíneo <strong>de</strong>mostrando a presença <strong>de</strong> M. haemofelis em aproximadamente<br />
50% dos eritrócitos. Fonte: Tasker e Lappin (2002).<br />
11
Figura 4: Esfregaço sanguíneo <strong>de</strong>mostrando a presença <strong>de</strong> M. haemofelis em aproximadamente<br />
65% dos eritrócitos. Formas anelares <strong>de</strong> M. haemofelis são visíveis (setas gran<strong>de</strong>s). Corpúsculos<br />
<strong>de</strong> Howell-Jolly, que se apresentam maiores e mais <strong>de</strong>nsos, po<strong>de</strong>m ser vistos para comparação<br />
(setas menores). Fonte: Tasker e Lappin (2002).<br />
O diagnóstico <strong>de</strong> hemoplasmose po<strong>de</strong> ser firmado quando encontrarmos o<br />
microorganismo juntamente com sinais clínicos e a presença <strong>de</strong> anemia regenerativa. O M.<br />
haemofelis é observado em muitos gatos assintomáticos, portanto, a simples presença <strong>de</strong>sse<br />
microorganismo no esfregaço sanguíneo não <strong>de</strong>ve resultar em um diagnóstico <strong>de</strong> hemoplasmose.<br />
Quando o microorganismo é i<strong>de</strong>ntificado, além <strong>de</strong> associar o diagnóstico aos sinais clínicos do<br />
paciente, <strong>de</strong>ve-se investigar alguma causa adjacente, pois a hemoplasmose po<strong>de</strong> ocorrer<br />
secundariamente à outra doença ou um evento gerador <strong>de</strong> estresse (Grace 2004).<br />
Os microorganismos se <strong>de</strong>stacam das hemácias quando o sangue é preservado com<br />
anticoagulante. Por esta razão, recomenda-se a confecção do esfregaço com sangue fresco,<br />
imediatamente após a sua colheita (Hagiwara 2003, Alleman et al 1999). A súbita ausência da<br />
parasitemia <strong>de</strong>tectável é atribuída à rápida <strong>de</strong>puração das hemácias parasitadas por macrófagos<br />
no baço, fígado e medula óssea (GAUNT 2000), o que contribui para a anemia progressiva. A<br />
menos que os parasitas estejam presentes na circulação sanguínea, é praticamente impossível<br />
diferenciar hemoplasmose <strong>de</strong> anemia hemolítica auto-imune (Harvey 1998), já que o teste <strong>de</strong><br />
Coomb´s po<strong>de</strong> ser positivo na fase aguda e negativo na fase crônica (Hagiwara 2003).<br />
Devemos proce<strong>de</strong>r a contagem <strong>de</strong> reticulócitos (eritrócitos imaturos) circulantes sempre<br />
que o hematócrito estiver menor que 20 %, para que possa ser avaliada a resposta da medula<br />
12
óssea à anemia (Grace 2004). A contagem <strong>de</strong> reticulócitos fica substancialmente aumentada, a<br />
menos que ela tenha sido feita imediatamente após uma queda abrupta no volume globular, ou se<br />
existe concomitantemente alguma doença supressora da medula óssea. Depois da hemólise,<br />
<strong>de</strong>verão transcorrer quatro a seis dias para que aumente a contagem <strong>de</strong> reticulócitos (Norsworthy<br />
2004).<br />
Po<strong>de</strong>m estar presentes dois tipos <strong>de</strong> reticulócitos. Os reticulócitos agregados refletem<br />
mais uma resposta regenerativa recente, pois contém numerosos aglomerados <strong>de</strong> ribossomos que<br />
se coram intensamente <strong>de</strong> azul, enquanto que reticulócitos pontilhados contém pequenos<br />
aglomerados <strong>de</strong> material ribossômico (Grace 2004). A presença <strong>de</strong> reticulócitos agregados é o<br />
indicador mais confiável <strong>de</strong> uma resposta regenerativa recente, sabendo-se que diante <strong>de</strong> uma<br />
anemia grave, que estimule a produção <strong>de</strong> eritrócitos, há a presença <strong>de</strong> 0,5% a 5% <strong>de</strong> reticulócitos<br />
agregados (Grace 2004). Eritrócitos nucleados circulantes não indicam resposta regenerativa, a<br />
menos que estejam acompanhados por aumento da contagem <strong>de</strong> reticulócitos. As causas do<br />
aparecimento <strong>de</strong> eritrócitos nucleados circulantes na ausência <strong>de</strong> anemia regenerativa são<br />
neoplasia, lesão hipóxica ou tóxica da medula óssea, intoxicação por chumbo e esplenomegalia<br />
(Grace, 2004).<br />
Cerca da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os gatos com hemoplasmose clínica são positivos para FeLV.<br />
Embora se saiba que a infecção por FeLV suprime a imunida<strong>de</strong> e predispõe gatos a diversas<br />
doenças infecciosas, o oposto também po<strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>. Estudos experimentais <strong>de</strong>monstram que<br />
a hemoplasmose po<strong>de</strong> predispor gatos à infecção por FeLV (Norsworthy 2004).<br />
Na avaliação bioquímica, <strong>de</strong>stacam-se os altos níveis <strong>de</strong> bilirrubina, principalmente em<br />
sua fração não-conjugada (indireta), e o aumento da ativida<strong>de</strong> da alanina aminotransferase,<br />
<strong>de</strong>correntes da necrose hepática secundária à anemia aguda e hipóxia <strong>de</strong>corrente. Em <strong>caso</strong>s mais<br />
raros, nos quais ocorre um componente hemolítico intravascular, po<strong>de</strong>mos ter aumento da uréia e<br />
creatinina, pela ação tóxica que a hemoglobina exerce no néfron (Grauer e Lane 1995).<br />
Devido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultivo do M. haemofelis, até recentemente o diagnóstico da<br />
infecção era primariamente baseado na i<strong>de</strong>ntificação citológica dos organismos na superfície das<br />
células sanguíneas vermelhas. Entretanto, há vários fatores que resultam em <strong>caso</strong>s falso-positivos<br />
e falso-negativos quando se utiliza esse método <strong>de</strong> diagnóstico (Tasker e Lappin, 2002). O teste<br />
13
da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da Polimerase (PCR) é conhecido por ser mais sensível do que a citologia<br />
para o diagnóstico e permite a diferenciação das duas espécies <strong>de</strong> hemoplasmas (Berent et al.,<br />
1998; Foley et al., 1998; Westfall et al., 2001), sendo atualmente o teste <strong>de</strong> escolha para o<br />
diagnóstico da infecção por M. hemofelis por ser comercialmente viável em muitos laboratórios<br />
da América do Norte. A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> diagnóstico sensível tem permitido estudos<br />
mais precisos, inclusive para se avaliar a eficácia do tratamento (Tasker e Lappin, 2002).<br />
O exame da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da Polimerase (PCR) é uma técnica molecular sensível<br />
que permite a amplificação <strong>de</strong> um fragmento particular <strong>de</strong> DNA <strong>de</strong> um microorganismo (Messick<br />
2003). A amplificação do gene 16S do DNA ribossômico é a base para todos os ensaios <strong>de</strong> PCR<br />
<strong>de</strong>senvolvidos até hoje para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> hemoplasmas hemotrópicos (Foley et al 1998, Berent<br />
at al 1998, Messick 1998, Jensen et al 2001). Dois ensaios distintos baseados na PCR são<br />
utilizados para <strong>de</strong>tectar a infecção no gato: um ensaio <strong>de</strong>tecta M. haemofelis, e outro <strong>de</strong>tecta C. M.<br />
haemominutum (Messick 2003). A PCR que foi <strong>de</strong>senvolvida para a <strong>de</strong>tecção do M. haemofelis<br />
(Berent at al 1998) também <strong>de</strong>tecta o parasita canino M. haemocains (Brinson e Messick 2001).<br />
Jensen e colaboradores <strong>de</strong>senvolveram, em 2001, um único teste <strong>de</strong> PCR para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong><br />
ambas as espécies <strong>de</strong> hemoplasmas hemotrópicos que infectam gatos.<br />
Braddock, J.A.; Tasker, S.; Malik R. (2004) relataram pela primeira vez a utilização <strong>de</strong> uma<br />
PCR em tempo real para a confirmação do diagnóstico <strong>de</strong> infecção por M. haemofelis e para<br />
quantificar a resposta a um tratamento em gatos infectados naturalmente.<br />
Para chegar-se a um diagnóstico, <strong>de</strong>ve-se associar a visualização <strong>de</strong> organismos em um<br />
esfregaço sanguíneo, a presença <strong>de</strong> um elevado número <strong>de</strong> cópias <strong>de</strong> M. haemofelis<br />
quantificados por PCR e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma grave anemia regenerativa com uma resposta ao<br />
tratamento com doxiciclina, pois resultados positivos da PCR para M. haemofelis têm sido<br />
relatados em gatos saudáveis assintomáticos (Tasker et al 2003a). A eficiência do tratamento é<br />
obtida com um resultado negativo na PCR obtido 383 dias após o término do tratamento <strong>de</strong> 42<br />
dias com doxiciclina.<br />
Existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um resultado falso-negativo quando os microorganismos são<br />
seqüestrados em órgãos como o baço e os pulmões, pois <strong>de</strong>sse modo, a PCR do sangue<br />
periférico produz um resultado negativo (Tasker et al 2003b).<br />
14
Recentemente, um estudo realizado por Peters et al (2008) mostrou que é possível<br />
<strong>de</strong>senvolver um teste <strong>de</strong> PCR espécie-específico para hemoplasmas felinos, baseado na<br />
seqüência 16S do DNA ribossômico do microorganismo, duplicado com um ensaio <strong>de</strong> controle<br />
interno baseado no 28S do DNA ribossômico felino. Essa foi a primeira <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><br />
ensaio para o diagnóstico <strong>de</strong> infecções por hemoplasmas felinos (Peters et al 2008). Os testes<br />
<strong>de</strong>scritos anteriormente (Tasker at al 2003, Willi et al 2005, Willi et al 2006) não tinham incluído<br />
uma avaliação <strong>de</strong> controle interno. A vantagem do uso <strong>de</strong> um ensaio <strong>de</strong> controle interno é que ele<br />
permite a confirmação <strong>de</strong> que a amostra contém DNA amplificado e que os fatores inibitórios da<br />
PCR não estão presentes. Além disso, a utilização <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> controle interno em uma<br />
duplicação permite a confirmação <strong>de</strong> que a amostra foi adicionada à reação. O sangue contém<br />
uma série <strong>de</strong> potenciais inibidores <strong>de</strong> PCR (Al-Soud and Radstrom 2001) e embora alguns, como<br />
a hemoglobina, possam ser visíveis no DNA extraído, outros po<strong>de</strong>rão ser incolores e sua presença<br />
impossível <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar sem a utilização <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> controle interno (Peters et al 2008).<br />
1.8 TRATAMENTO<br />
As medicações recomendadas pela literatura incluem tetraciclina 1 na dosagem <strong>de</strong> 20<br />
mg/Kg a cada 8 horas, por via oral, durante 21 dias (Harvey 1998), cujos efeitos colaterais incluem<br />
principalmente febre. A tetraciclina não elimina totalmente o microorganismo, e <strong>de</strong>sta maneira, os<br />
animais recuperados permanecem infectados <strong>de</strong> forma crônica, o que po<strong>de</strong> ser verificado pela<br />
PCR (Berent et al 1997, Gaunt 2000).<br />
Outra medicação <strong>de</strong> escolha é a doxiciclina 2 , na dosagem <strong>de</strong> 5 a 10 mg/Kg a cada 12 ou<br />
24 horas, por via oral, durante 21 dias (Berent et al 1998, Foley et al 1998). O efeito colateral mais<br />
observado foi irritação da mucosa gastrointestinal, resultando em <strong>de</strong>sconforto abdominal, vômito e<br />
anorexia em gatos e cães (Melen<strong>de</strong>z et al 2000). Foram relatados <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />
estenose esofágica após a administração oral <strong>de</strong> comprimidos <strong>de</strong> doxiciclina. (McGrotty e<br />
Knottenbelt 2002, Melen<strong>de</strong>z et al 2000), <strong>de</strong>vido à esofagite e posterior fibrose que o medicamento<br />
causa no local. Para minimizar esse efeito, sugere-se a administração da medicação antes <strong>de</strong> uma<br />
1 Tetraciclina – Schering-Plough, Cotia – São Paulo<br />
2 Doxiciclina – Univet, São Paulo – SP<br />
15
efeição ou seguida por um pequeno volume <strong>de</strong> água dado através <strong>de</strong> uma seringa, por via oral,<br />
para encorajar o felino a engolir completamente o comprimido. Vários gatos infectados<br />
experimentalmente tiveram episódios recorrentes dos sinais clínicos e apresentaram resultados<br />
laboratoriais anormais, incluindo parasitemia e anemia após o tratamento com doxiciclina (Foley et<br />
al 1998).<br />
Outros antibióticos anti-hemoplasmas, incluindo enrofloxacina 3 e azitromicina 4 , têm sido<br />
propostos para o tratamento da hemoplasmose (Winter 1993, Westfall et al 2001).<br />
O uso da enrofloxacina, na dosagem <strong>de</strong> 5 a 10 mg/Kg a cada 24 horas, por via oral,<br />
durante 14 dias, foi consi<strong>de</strong>rado igual ou superior à doxiciclina no tratamento <strong>de</strong> infecções por<br />
hemoplasmas em gatos (Dowers et al 2002). A sua freqüência <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> uma vez ao dia e a<br />
baixa incidência <strong>de</strong> efeitos adversos tornam seu uso atrativo (Dowers et al 2002). Cegueira aguda<br />
e irreversível e <strong>de</strong>generação <strong>de</strong> retina têm sido relatadas em gatos tratados com enrofloxacina,<br />
entretanto, a prevalência <strong>de</strong>ssa toxicida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>sconhecida (VanSteenhouse et al 1993). Tem sido<br />
<strong>de</strong>monstrado que a azitromicina controla surtos <strong>de</strong> infecções no trato respiratório por<br />
hemoplasmas em humanos, mas foi ineficaz como tratamento os parasitas <strong>de</strong> eritrócitos na<br />
dosagem <strong>de</strong> 15 mg/kg, por via oral, com intervalos <strong>de</strong> 12 horas (Wesfall et al 2001). Estudos<br />
também <strong>de</strong>monstraram que a administração <strong>de</strong> diproprionato <strong>de</strong> imidocarb 5 na dose <strong>de</strong> 5 mg/kg,<br />
por via intramuscular, duas vezes por semana, tanto em gatos com M. haemofelis como em gatos<br />
com M. haemominutum não é efetiva em <strong>de</strong>ixar o animal livre da infecção. (Lappin et al 2002).<br />
Deste modo, o tratamento com doxiciclina ou enrofloxacina po<strong>de</strong> controlar efetivamente a infecção<br />
aguda nos gatos, mas nenhum dos antibióticos testados até hoje conseguem curar o paciente <strong>de</strong><br />
forma consiste (Messick 2003).<br />
Norsworthy (2004) preconiza ainda o confinamento em gaiolas para minimizar o estresse<br />
em gatos anêmicos e a transfusão <strong>de</strong> sangue total em gatos que apresentam volumes globulares<br />
abaixo <strong>de</strong> 15%, lembrando apenas que os eritrócitos transfundidos também estão sujeitos ao<br />
3 Baytril – Bayer, São Paulo - SP<br />
4 Zitrex – Cepav, São Paulo - SP<br />
5 Imizol - Schering-Plough, Cotia – São Paulo<br />
16
parasitismo. O autor sugere ainda o uso <strong>de</strong> prednisolona 6 na dose <strong>de</strong> 1 a 2 mg/kg, por via oral, a<br />
cada 8 ou 12 horas, para reduzir a eritrofagocitose, estimular a medula óssea e aumentar o<br />
apetite, não esquecendo do apoio nutricional com alimentação por sonda orogástrica ou<br />
nasogástrica<br />
A administração <strong>de</strong> sangue total, na dosagem <strong>de</strong> 2 a 3 mL/Kg por hora, com dose máxima<br />
<strong>de</strong> 30 ml/kg po<strong>de</strong> ser uma medida útil em gatos com anemia intensa. Contudo, apenas o uso do<br />
hematócrito como indicador da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusão po<strong>de</strong> ser errôneo, pois muitos gatos<br />
com anemia crônica grave mostram-se relativamente estáveis. A presença <strong>de</strong> hemólise ou<br />
hemorragia aguda justifica uma transfusão sangüínea se o hematócrito estiver menor que 20%<br />
(Grace 2004).<br />
1.9. PROGNÓSTICO<br />
O prognóstico para a hemoplasmose <strong>felina</strong> geralmente é bom se a crise anêmica pu<strong>de</strong>r<br />
ser rapidamente revertida. Porém, alguns gatos sofrem anemias fatais em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong><br />
baixíssimos volumes globulares. O estado <strong>de</strong> portador que freqüentemente ocorre <strong>de</strong>ixa o gato<br />
susceptível à recidiva. Esse gato não <strong>de</strong>ve doar <strong>de</strong> sangue, mas é consi<strong>de</strong>rado como não-<br />
contagioso para outros gatos, mesmo sendo portador (Norsworthy 2004).<br />
6 Predi-Medrol – União Química, Pouso Alegre – MG<br />
17
2. RELATO DE CASO<br />
Um animal da espécie <strong>felina</strong>, sem raça <strong>de</strong>finida, fêmea, com aproximadamente seis anos<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, pesando 2,3 Kg foi atendido na Clínica Veterinária A Casa do Snoopy, em Porto Alegre -<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. O animal apresentava anorexia, emagrecimento e apatia há cerca <strong>de</strong> dois<br />
meses. Ela era proveniente <strong>de</strong> um sítio que abrigava cerca <strong>de</strong> 60 gatos, todos recolhidos da rua,<br />
castrados, alimentados com alimento super Premium e tratados há nove meses contra endo e<br />
ectoparasitas. O exame clínico revelou mucosas pálidas. <strong>de</strong>sidratação, <strong>de</strong>snutrição, fraqueza,<br />
taquipnéia e esplenomegalia. O animal foi submetido à oxigênio-terapia por vinte minutos por<br />
causa da dificulda<strong>de</strong> respiratória e recebeu fluidoterapia intravenosa com 150 ml durante 2 horas<br />
<strong>de</strong> Solução <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio a 0,9% 7 como tratamento emergencial. Após este período, a gata<br />
já estava um pouco mais ativa e respirava melhor, <strong>de</strong>monstrando inclusive aumento do apetite.<br />
Os exames hematológicos mostraram grave anemia regenerativa macrocítica<br />
normocrômica, leucocitose com <strong>de</strong>svio à esquerda, trombocitopenia, plasma ictérico e presença<br />
<strong>de</strong> Mycoplasma haemofelis na avaliação da hematoscopia (ANEXO 1). O exame ultra-sonográfico<br />
evi<strong>de</strong>nciou esplenomegalia, presença <strong>de</strong> gás no estômago, linfonodos mesentéricos<br />
hipoecogênicos e aumentados, hepatomegalia e presença <strong>de</strong> líquido abdominal livre. O<br />
proprietário <strong>de</strong>clinou em realizar a pesquisa <strong>de</strong> anticorpos para o vírus da imuno<strong>de</strong>ficiência <strong>felina</strong> e<br />
antígenos para o vírus da leucemia viral <strong>felina</strong> por razões financeiras.<br />
Devido ao resultado do eritrograma, o paciente foi hospitalizado e submetido a uma<br />
transfusão sanguínea <strong>de</strong> 40 mL <strong>de</strong> sangue.<br />
Durante os quinze dias seguintes, o paciente recebeu 50 mL/kg/dia <strong>de</strong> fluidoterapia<br />
endovenosa com Solução <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> sódio a 0,9% adicionada <strong>de</strong> 0,2 ml/Kg/dia <strong>de</strong> um complexo<br />
vitamínico 8 a base <strong>de</strong> cianocobalamina, cloridrato <strong>de</strong> tiamina, cloridrato <strong>de</strong> piridoxina,<br />
nicotinamida, pantotenato <strong>de</strong> cálcio, frutose, cloridrato <strong>de</strong> L-arginina, acetil metionina, aspartato <strong>de</strong><br />
potássio, aspartato <strong>de</strong> magnésio e selenito <strong>de</strong> sódio, até começar a se alimentar sozinha.<br />
7 Cloreto <strong>de</strong> Sódio 0,9% - Basa Indústria Farmacêutica, Caxias do Sul - RS<br />
8 Bionew - Vetnil, Louveira - SP<br />
19
Como tratamento específico foi utilizado doxiciclina, na dosagem <strong>de</strong> 5 mg/Kg a cada 12<br />
horas, por via oral, durante 15 dias, quando então a formulação injetável foi substituída pela oral<br />
na mesma dosagem, durante mais 7 dias. Também foi instituída terapia com acetato <strong>de</strong><br />
metilprednisolona, na dose <strong>de</strong> 40 mg/gato, por via via intra-muscular, em dose única.<br />
Foi realizado novo hemograma para acompanhamento do paciente, no qual ainda se<br />
observou anemia regenerativa e plasma ictérico, mas não havia mais hemoparasitas visíveis na<br />
hematoscopia e o leucograma se encontrava <strong>de</strong>ntro dos valores <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> para a espécie<br />
(ANEXO 2). Após este resultado, a gata recebeu alta hospitalar para a manutenção do tratamento<br />
em casa. Após 31 dias foi trazida para revisão. Apresentava-se mais disposta, com mucosas<br />
rosadas, bom apetite, mostrando-nos que o tratamento surtiu efeito.<br />
20
3.0. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO<br />
Os sinais clínicos apresentados pelo animal relatado neste trabalho estão <strong>de</strong> acordo com<br />
os <strong>de</strong>scritos em literatura (Hagiwara 2003, Norsworthy 2004, Grace 2004). Através <strong>de</strong>les e dos<br />
resultados dos exames laboratoriais, que <strong>de</strong>monstraram uma anemia regenerativa e a presença<br />
do hemoplasma no esfregaço sanguíneo, po<strong>de</strong>mos concluir o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong><br />
hemoplasmose, o que nos fez optar pelo tratamento indicado pelos autores, com doxicilcina e<br />
prednisolona, além do tratamento <strong>de</strong> suporte (Berent et al 1998, Foley et al 1998). Entretanto, não<br />
foi verificado aumento <strong>de</strong> temperatura corporal no paciente, provavelmente porque a pirexia é<br />
intermitente e o animal po<strong>de</strong> apresentar picos febris, os quais ocorrem quando há um alto número<br />
<strong>de</strong> parasitas na circulação periférica (Messick 2003).<br />
Apesar da PCR ser mais específica para a i<strong>de</strong>ntificação do microorganismo causador da<br />
hemoplasmose <strong>felina</strong> (Messick 2003, Tasker et al 2003a), há restrição do acesso a este exame na<br />
cida<strong>de</strong> em que ocorreu o <strong>caso</strong> relatado. O diagnóstico foi então realizado com base na<br />
i<strong>de</strong>ntificação do hemoplasma no esfregaço sanguíneo, juntamente com os sinais clínicos e<br />
histórico do animal (Grace 2004, ). A PCR seria indicada para confirmar a infecção e i<strong>de</strong>ntificar a<br />
espécie envolvida (Brinson e Messick 2001, Peters et al 2008). O teste imunoenzimático para a<br />
<strong>de</strong>tecção dos vírus da imuno<strong>de</strong>ficiência <strong>felina</strong> e da leucemia viral <strong>felina</strong> também são indicados<br />
nestes <strong>caso</strong>s para verificar se não havia doença imuno<strong>de</strong>pressora concomitante (Norsworthy<br />
2004), mas infelizmente este não foi realizado, pois a proprietária <strong>de</strong>clinou por questões<br />
financeiras.<br />
O tratamento do paciente foi baseado nos achados clínicos e laboratoriais. Não foram<br />
i<strong>de</strong>ntificados efeitos colaterais, como esofagite, por exemplo, mesmo após o tratamento oral<br />
(Melen<strong>de</strong>z et al 2000). O uso da metilprednisolona objetivou evitar a eritrofagocitose conforme<br />
indicação <strong>de</strong> Norsworthy (2004).<br />
21
Após o acompanhamento clínico da paciente, concluímos que o tratamento escolhido foi<br />
eficaz, visto que o animal apresentou-se clinicamente saudável após 21 dias <strong>de</strong> tratamento.<br />
Devido à elevada casuística <strong>de</strong> animais portadores <strong>de</strong> anemias serem atendidos na clínica<br />
médica <strong>de</strong> pequenos animais, torna-se imprescindível a melhor compreensão dos aspectos<br />
epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong>sta enfermida<strong>de</strong>, assim como seus métodos diagnósticos e formas <strong>de</strong><br />
tratamento. Embora o modo <strong>de</strong> transmissão da hemoplasmose ainda não esteja completamente<br />
elucidado, a infestão por pulgas <strong>de</strong>ve ser prevenida em gatos por causa da gran<strong>de</strong> suspeita <strong>de</strong><br />
seu envolvimento como vetor da doença. Como esta infecção é bastante frequente em felinos e<br />
seu tratamento é eficaz, a hemoplasmose <strong>de</strong>ve ser sempre lembrada como diagnóstico diferencial<br />
nos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> anemia nesta espécie.<br />
22
ANEXO 1<br />
Hemograma: Valores <strong>de</strong> Referência<br />
Eritrócitos 1,95 milhões/mm3 5,0 – 9,5<br />
Hemoglobina 3,8 g/mm3 8 – 16<br />
Hematrócito(VG) 10% 28 – 45<br />
VGM 51,28 U 39 - 55<br />
CHGM 38% 32 – 35<br />
Leucócitos 23600 mm3 6000 – 17000<br />
Neutrófilos - Núcleo em bastão 1% - 236/mm3 0 – 2 -<br />
Neutrófilos - Núcleo Segmentado 82% - 19352/mm3 40- 75<br />
Eosinófilos 3% - 708/mm3 1 – 12<br />
Linfócitos 8% - 1888/mm3 20 – 50<br />
Monócitos 6% - 1416/mm3 1 – 5<br />
ALT (TGP) 26,1 U/l<br />
Fosfatase Alcalina 40 U/l<br />
Creatinina 0,48<br />
GGT 6 (1,3 -5,1)<br />
Contagem <strong>de</strong> plaquetas 107,250 (300.000 - 800.000)<br />
Fonte: Laboratório Petlab<br />
Observações : Plasma ictérico<br />
Pesquiza <strong>de</strong> hemocitozoários: presença <strong>de</strong> Mycoplasma haemofelis<br />
ANEXO 2<br />
Hemograma:<br />
Eritrócitos 3,89 milhões/mm3<br />
Hemoglobina 6,6 g/mm3<br />
Hematrócito(VG) 17%<br />
VGM 43,7 U<br />
CHGM 38,82%<br />
Leucócitos 13900 mm3<br />
Neutrófilos - Núcleo em bastão -<br />
Neutrófilos - Núcleo Segmentado 80% - 11120/mm3<br />
Eosinófilos 3% - 417/mm3<br />
Linfócitos 14% - 417/mm3<br />
Monócitos 3% - 417/mm3<br />
Observações : Plasma ictérico.<br />
Pesquisa <strong>de</strong> hemocitozoários: Não foram observados hemoparasitas na amostra enviada.<br />
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
1. ALLEMAN, A.R. et al. Western immunoblot analysis of the antigens of<br />
Haemobartonella felis with sera from experimentally infected cats. Journal of Clinical<br />
Microbiology, Florida, v. 37, n. 5, p.1474–79, may. 1999.<br />
2. ANDERSON, D.C.; CHARLESTON, W.A.G. Haemobartonella felis. Veterinary Journal,<br />
New Zealand, v.15, n. 3, p.47, mar. 1967.<br />
3. BEDFORD, P.G. Feline infectious anaemia in the London area. Vererinary Record,<br />
London, v.87, n. 11, p. 305-10, sep. 1970<br />
4. BERENT, L.M.; MESSICK, J.B.; COOPER, S.K. Use of a PCR test to <strong>de</strong>tect a fragment<br />
of the 16SrRNA of Haemobartonella felis in the blood of acutely parasitic and steroid<br />
challenged cats. (abstract). Veterinary Pathology, Illinois, v.34, n.6, p.515. 1997<br />
5. BERENT, L.M.; MESSICK, J.B.; COOPER, S.K. Detection of Haemobartonella felis in<br />
cats with experimentally induced acute and chronic infections, using a polymerase<br />
chain reaction assay. American Journal of Veterinary Research, Illinois, v. 59, n.10, p.<br />
1215–20, oct. 1998.<br />
6. BERENT, L.M. et al. Specific in situ hybridization of Haemobartonella felis with a DNA<br />
probe and tyrami<strong>de</strong> signal amplification. Veterinary Pathology, Illinois, v. 37, n.1, p. 47<br />
– 53, jan. 2000.<br />
7. BIRKENHEUER, A.J. et al. Differentiation of Haemobartonella canis and Mycoplasma<br />
haemofelis on the basis of comparative analysis of gene sequences. American<br />
Journal Veterinary Researsh, North Carolina, v.63, n. 10, p.1385-88, oct. 2002.<br />
8. BOBADE, P.A.; AKINYEMI, J.O. A case of haemobartonellosis in a cat in Ibadan.<br />
Nigerian Veterinary Journal, v. 10,p. 23-5. 1981.<br />
9. BOBADE, P.A.; NASH, A.S. A comparative study of the efficiency of acridine orange<br />
and some Romanowsky staining procedures in the <strong>de</strong>monstration of<br />
Haemobartonella felis in feline blood. Veterinary Parasitology, Gt. Britain, v.26, n.1-2, p.<br />
169–72, <strong>de</strong>c. 1987.<br />
10. BOBADE, P.A.; NASH, A.S.; ROGERSON, P. Feline haemobartonellosis: clinical,<br />
haematological and pathological studies in natural infections and the relationship to<br />
infection with feline leukaemia virus. Veterinary Record, Bears<strong>de</strong>n, v. 122, n. 2, p.32-6,<br />
jan. 1988.<br />
11. BRADDOCK, J.A.; TASKER, S.; MALIK, R. The use of real-time PCR in the diagnosis<br />
and monitoring of Mycoplasma haemofelis copy number in a naturally infected cat.<br />
Journal of Feline Medicine and Surgery, Australia, v. 6, n. 3, p. 161-5, jun. 2004.<br />
12. BRAUER, N.; BALZER., H.J.; THÜRE,S.; MORITZ, A. Prevalence of feline haemotropic<br />
mycoplasmas in convenience samples of cats in Germany. Journal of Feline Medicine<br />
and Surgery, Germany, v. 10, n.3, p. 252-8, jul. 2008.<br />
24
13. BRINSON, J.J.; MESSICK, J.B. Use of a polymerase chain reaction assay for<br />
<strong>de</strong>tection of Haemobartonella canis in dog. Journal of the American Veterinary Medical<br />
Association, Urbana, v. 218, n. 12, p. 1943-5, jun. 2001.<br />
14. BUTT, M.T. Diagnosing erythrocytic parasitic diseases in cats. Compendium of<br />
Continuing Education for the Practising Veterinarian 1990. v. 12, p.628–38.<br />
15. CARNEY, H.C.; ENGLAND, J.J. Feline hemobartonellosis. The Veterinary clinics of<br />
North America Small animal practice, Baton Rouge, v. 23, n. 1, p. 79-90, jan. 1993.<br />
16. CLARK, R. Eperythozoon felis (sp.Nov) in a cat. Journal of the South African Veterinary<br />
Medical Association. v. 13, p.15-6. 1942.<br />
17. COTTER, S.M. et al. Association of feline leukemia virus with lymphosarcoma and<br />
other disor<strong>de</strong>rs in the cat. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.<br />
166, n.5, p.449-54, mar. 1975.<br />
18. DAVENPORT, D.J. Bacterial and rickettsial diseases. In: SHERDING, R.G. The cat:<br />
Diseases and Clinical Management. 2 ed. Phila<strong>de</strong>lphia: W B Saun<strong>de</strong>rs Company, 1994.<br />
cap. 8. p. 527-51.<br />
19. DOWERS, K.L.; OLVER, C.; RADECKI, S.V.; LAPPIN, M.R. Use of enrofloxacin for<br />
treatment of large-form Haemobartonella felis in experimentally infected cats.<br />
Journal of the American Veterinary Medical Association, Colorado, v. 221, n. 2, p. 250–3,<br />
jul. 2002.<br />
20. EBERHARDT, J.M. et al. Prevalence of selected infectious disease agents in cats<br />
from Arizona. Journal of Feline Medicine and Surgery, Fort Collins, n. 8, v. 3, p. 164-8,<br />
jun. 2006.<br />
21. ESPADA, Y.; PRATS, A.; ALBO, F. Feline haemobartonellosis. Veterinary International;<br />
1991. v. 3, p. 35-40.<br />
22. FLAGSTAD, A.; LARSEN, S.A. The occurrence of feline infectious anaemia in<br />
Denmark. Nordisk Veterinaer Medicin. 1969. v. 21, p. 129-41.<br />
23. FLINT,J.C.; MOSS, L.C. Infectious anaemia in cats. Journal of the American Veterinary<br />
Medical Association. v. 122, n. 910, p. 45-8, jan, 1953.<br />
24. FLINT, J.C.; MCKELVIE, D.H. Feline infectious anemia diagnosis and treatment. In:<br />
Proceedings of the American Veterinary Medical association. Salt Lake City (UT);<br />
1955. p. 240-2<br />
25. FOLEY, J.E. et al. Molecular, clinical, and pathologic comparison of two distinct<br />
strains of Haemobartonella felis in domestic cats. American Journal of Veterinary<br />
Research, Davis, v. 59, n. 12, p. 1581–8, <strong>de</strong>c. 1998.<br />
26. FOLEY, J.E.; PEDERSEN, N. Candidatus Mycoplasma haemominutum, a lowvirulence<br />
epierythrocytic parasite of cats. International Journal of Systematic and<br />
Evolutionary Microbiology, Davis, n. 51, n. 3, p. 815–7, may. 2001.<br />
27. GARY, A.T. et al. Survival of Mycoplasma haemofelis and ‘Candidatus Mycoplasma<br />
haemominutum’ in blood of cats used for transfusions. Journal of Feline Medicine and<br />
Surgery, Ft. Collins, v. 8, n. 5, p. 321-6, oct .2006.<br />
25
28. GAUNT, S.D. Hemolytic anemias caused by blood rickettsial agents and Protozzoa. In:<br />
FELDMAN, B.F.; ZINKL, J.G.; JAIN, N.C. Schalm´s Veterinary Hematology. 5.ed.<br />
Phila<strong>de</strong>lphia:Lippincott Williams &Wilkins. 2000. cap.27, p. 154-62.<br />
29. George, J.W. et al. Effect of preexisting FeLV infection or FeLV and feline<br />
immuno<strong>de</strong>ficiency virus coinfectionon pathogenicity of the small variant of<br />
Haemobartonella felis in cats. American Journal of Veterinary Research, Davis, v.63, n.<br />
8, p.1172–78, aug. 2002.<br />
30. GRACE, S.F. In: GARY, D. et al. O paciente felino, 2. ed. São Paulo: Manole, 2004. Cap.<br />
69, p. 08-13.<br />
31. GRAUER, G.F.; LANE, I.F. Acute renal failure: ischemicand chamical nephrosis. In:<br />
Osborne, C.A. & Finco, D.R. Canine and Feline Nephology and Urology. Phila<strong>de</strong>lphia:<br />
Williams & Wilkins, 1995. cap. 22, p.441.<br />
32. GRINDEM, C.B.; CORBETT, W.T.; TOMKINS, M.T. Risk factors for Haemobartonella<br />
felis infection in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, Raleigh, v.<br />
196, n. 1, p. 96-9, jan. 1990.<br />
33. HACKETT, T.B. et al. Prevalence of DNA of Mycoplasma haemofelis, Candidatus<br />
Mycoplasma haemominutum, Anaplasma phagocytophilum, and species of<br />
Bartonella, Neorickettsia, and Ehrlichia in cats used as blood donors in the United<br />
Satates. Journal of the American Veterinary Medical Association, Fort Collins, v. 229, n.5,<br />
p. 700-5, sep. 2006.<br />
34. HAGIWARA, M.K. Anemia. In: Souza, H.J. Coletâneas em medicina e cirurgia <strong>felina</strong>,<br />
v.1. Rio <strong>de</strong> Janeiro: L.F.Livros, 2003. Cap. 2, p. 15-24.<br />
35. HAHN, N.E. Parasitas do Sangue. In: Sloss, M.W. et al. Parasitologia Clínica<br />
Veterinária. São Paulo: Manole, 1999, cap. 3, p. 101.<br />
36. HARRUS, S. et al Retrospective study of 46 cases of feline haemobartonellosis in<br />
Israel and their relationships with FeLV and FIV infections. Veterinary Record, Israel,<br />
v.62, n.4, p.604-8, jul. 2002.<br />
37. HARTMANN, K. et al. Comparison of six in-house tests for the rapid diagnosis of<br />
feline immuno<strong>de</strong>ficiency and feline leukaemia virus infections. Veterinary Record,<br />
Germany, v.149, n. 11, p.317-20, sep. 2001.<br />
38. HARVEY, J.W.; GASKIN, J.M. Experimental feline haemobartonellosis. J Am Anim<br />
Hosp Assoc, v.13, p.28-38. 1977.<br />
39. HARVEY, J.W.; GASKIN, J.M. Feline haemobartonellosis: attempts to induce relapses<br />
of clinical disease in chronically infected cats. JAAHA, v. 14, p. 453. 1978.<br />
40. HARVEY, J.W. Haemobartonelisis. In: GREEN, C.E. Infectious Disease of the Dog and<br />
Cat. 2.ed. Phila<strong>de</strong>lphia: W.B. Saun<strong>de</strong>rs Company. 1998. cap.30. p. 166-71.<br />
41. HATAKKA, M. Haemobartonellosis in the domestic cat. Acta Veterinaria Scandanavica.<br />
v. 13, n. 3, p. 323-31. 1972.<br />
42. HAYES, H.M.; PRIESTER, W.A. Feline infectious anaemia. Risk by age, sex and<br />
breed; prior disease; seasonal ocuurence; mortality. J Small Anim Pract, v.14, n.12,<br />
p.797-804, <strong>de</strong>c. 1973.<br />
26
43. HOSKINS, J..D. Canine haemobartonellosis, ccanine hepatozoonosis and feline<br />
cytauxzoonosis. Vet Clin North Am Small Anim Pract, Baton Rouge, v.21, n. 1, p.129-40,<br />
jan. 1991.<br />
44. Inokuma, H. et al. Molecular survey of Mycoplasma haemofelis and ‘Candidatus<br />
Mycoplasma haemominutum’ infection in cats in Yamaguchi and surrounding areas.<br />
Journal of Veterinary Medical Science, Japan, v.66, n. 8, p.1017- 20, aug. 2004.<br />
45. IRALU, V.; AND, K. D.; GANONG. Agglutination of mouse erythrocytes by<br />
Eperythrozoon coccoi<strong>de</strong>s. Infect. Immun, v.39, n. 2, p.963–5, feb. 1983.<br />
46. ISHAK, A.M.; RADECKI, S.; LAPPIN, M.R. Prevalence of Mycoplasma haemofelis,<br />
Candidatus Mycoplasma haemominutum, Bartonella species, Ehrlichia species, and<br />
Anaplasma phagocytophilum DNA in the blood of cats with anemia. Journal of Feline<br />
Medicine and Surgery, Fort Collins, n. 9, n. 1, p.1-7, feb. 2007.<br />
47. JENSEN, W.A. et al. Use of a polymerase chain reaction assay to <strong>de</strong>tect and<br />
differentiate two strains of Haemobartonella felis in naturaly infected cats. American<br />
Journal Veteterinary Research, Fort Collins, v. 62, n. 4, p. 604-8, apr. 2001.<br />
48. JONES, T. C. et al. Patologia veterinária. 6 ed. São Paulo: Manoel, 2000.<br />
49. KOCIBA, G.J.; WEISER, M.G.; OLSEN, R.G. Enhanced susceptibility to feline leukemia<br />
virus in cats with Haemobartonella felis infection. Leukaemia Reviews International,<br />
v.1, p.88-9. 1983.<br />
50. LAPPIN, M.R. Opportunistic infections associated with retroviral infections in cats.<br />
Seminars in Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), Fort Collins, v.10, n. 4,<br />
p.244-50, nov. 1995.<br />
51. LAPPIN, R.M.; BREWER, M.; RADECKI, S. Effects of imidocarb dipropionate in cats<br />
with chronic haemobartonellosis. Vet Therapeut, v. 2, p. 144-9. 2002.<br />
52. LAPPIN, R.M. et al. Bartonella spp and Mycoplasma haemominutum DNA in blood of<br />
cats and their fleas. 21 st American College of Veterinary Internal Medicine Forum<br />
Proceedings, Charlotte, NC, v. 4, n. 8, p.929-30, June. 2003.<br />
53. LOBETTI, R.G.; TASKER, S. Diagnosis of feline haemoplasma infection using a realtime<br />
PCR assay. Journal of the South African Veterinary Association, South Africa, v. 75,<br />
n. 2, p.94-9, jun. 2004.<br />
54. LUMB, W.V. More information on haemobartonellosis in dogs. Journal of the American<br />
Veterinary Medical Association, v. 219, n.6, p. 732 – 3, sep. 2001.<br />
55. MACIEIRA, D.B. et al. Prevalence and risk factors for micoplasmas in domestic cats<br />
naturally infected with feline immuno<strong>de</strong>ficiency virus and/or feline leukemia virus in<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro – Brazil. Journal of Feline Medicine and Surgery, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 10, n.<br />
2, p. 120-9, apr. 2008.<br />
56. MAEDE, Y. et al. Clinical observation on 6 cases of feline infectious anaemia. Journal<br />
of the Japanese Veterinary Medical Association. v. 27, p. 267-72. 1974.<br />
57. MANUSU, H.P. Infectious feline amaemia in Australia. Australian Veterinary Journal. v.<br />
37, p. 405. 1961.<br />
27
58. MCGROTTY, Y.L.; KNOTTENBELT, C.M. Oesophageal stricture in a cat due to oral<br />
administration of tetracyclines. J Small Anim Pract, Bears<strong>de</strong>n, n. 43, n. 5, p. 221-3, may.<br />
2002.<br />
59. MELENDEZ, L.D.; TWEDT, D.C.; WRIGHT, M. Suspected doxycycline induced<br />
esophagitis with esophageal stricture formation in three cats. Feline Pract, n. 28, p.<br />
10-2. 2000.<br />
60. MESSICK, J.B.; BERENT, L.M.; COOPER, S.K. Development and evaluation of a PCRbased<br />
assay for <strong>de</strong>tection of Haemobartonella felis in cats and differentiation of H.<br />
felis from related bacteria by restriction fragment length polymorphism analysis.<br />
Journal of Clinical Microbiology, Urbana, v. 36, n. 2, p. 462–6, feb. 1998.<br />
61. MESSICK, J.B. et al. Candidatus Mycoplasma haemodi<strong>de</strong>lphis sp. nov., Candidatus<br />
Mycoplasma haemolamae sp. nov and Mycoplasma haemocanis comb.<br />
nov.,haemotrophic parasites from a naturally infected opossum (Di<strong>de</strong>lphis<br />
virginiana), alpaca (Lama pacos) and dog (Canis familiaris): phylogenetic and<br />
secondary structural relatedness of their 16S rRNA genes to other mycoplasmas.<br />
International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Michigan, v. 52, n. 3, p.<br />
693-8, may. 2002.<br />
62. MESSICK, J.B. New perspectives about Hemotripic mycoplasma (formely,<br />
Haemobartonella and Epeerythrozoon species) infections in dogs and cats). The<br />
Veterinary Clinics Small Animal Practice, Illinois, v. 33, n. 6, p. 1453-65, nov. 2003.<br />
63. MORAIS, H.A. et al. Co-infection with Micoplasma haemofelis and ‘Candidatus<br />
Mycoplasma haemominutum’ in three cats from Brazil. Journal of Feline Medicine and<br />
Surgery, Madison, v. 9, n. 6, p. 518-20, <strong>de</strong>c. 2007.<br />
64. MRLJAK, V. et al. Haemobartonella felis as a cause of infectious anaemia in a cat in<br />
Croatia. Kleintierpraxis. p. 403-8. 1995.<br />
65. NASH, A.S.; BOBADE, P.A. Haemobartonella felis infection in cats from the Glasgow<br />
area. Veterinary Record, v.119, n. 15, p. 373-5, oct. 1986.<br />
66. NEIMARK, H.; KOGAN, K.M. The cell wall-less rickettsia Eperythrozoon wenyonii is a<br />
Mycoplasma. FEMS Microbiol Lett, Brooklyn, v.156, n. 2, p.287–91, nov. 1997.<br />
67. NEIMARK, H. et al. JG Proposal to transfer some members of the genera<br />
Haemobartonella and Eperythrozoon to the genus Mycoplasma with <strong>de</strong>scriptions of<br />
‘Candidatus Mycoplasma haemofelis’, ‘Candidatus Mycoplasma haemomuris’,<br />
‘Candidatus Mycoplasma haemosuis’ and ‘Candidatus Mycoplasma wenyonii’.<br />
International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Brooklyn, v. 51, n. 3, p.<br />
891–9, may. 2001.<br />
68. NEIMARK, H. et al. Revision of haemotrophic Mycoplasma species names.<br />
International Journal of Systemic and Evolutionary Microbiology, New York, v. 52, n. 2, p.<br />
683-4, mar. 2002.<br />
69. NORSWORTHY, G.D. In: GARY, D. et al. O paciente felino, 2. ed. São Paulo: Manole,<br />
2004. Cap 69, p. 299-302.<br />
70. PACHALY, J.R. 2008. Comunicação pessoal<br />
28
71. PEREIRA, M.C.; SANTOS, A.P. Ctenocephali<strong>de</strong>s felis felis: biologia, ecologia e<br />
controle integrado (1a parte e biologia e ecologia). Clínica Veterinária. v. 16, p.34 e 38.<br />
1998.<br />
72. PETERS, I.R. et al. The prevalence of three species of feline haemoplasmas in<br />
samples sbumited to a diagnostics service as <strong>de</strong>termined by three novel real-time<br />
duplex PCR assays. Veterinaty Microbiology, Brisol, v. 126, n. 1-3, p.142-50, jan. 2008.<br />
73. PRIESTER, W.A.; HAYES, H.M. Feline leukemia after feline infectious anemia. Journal<br />
of the National Cancer Institute, v. 51, n. 1, p. 289-91, jul. 1973.<br />
74. PRIEUR, W.D. Beitrag zur infektiösen anämie <strong>de</strong>r Katze. Kleintier praxis. v.5, p.87-9.<br />
1960.<br />
75. PUNTARIC, V. et al. Eperythrozoonosis in man. Lancet, v. 2, n. 8511, p.868-9, oct.<br />
1986.<br />
76. RIKIHISA, Y. et al. Western immunoblot analysis of Haemobartonella muris and<br />
comparison of 16S rRNA gene sequences of H. muris, H felis, and Eperythrozoon<br />
suis. Journal of Clinical Microbiology, Columbus, v. 35, n. 4, p. 823–9, apr. 1997.<br />
77. SEAMER, J.; DOUGLAS, S.W. A new blood parasite of Btitish cats. Veterinary Record.<br />
v. 71, 405-8. 1959.<br />
78. SMALL, E.; RISTIC, M. Morphologic features of Haemobartonella felis. American<br />
Journal of Veterinary Research, v.28, n. 124, p.845-51, may. 1967.<br />
79. SPLITTER, E.J.; CASTRO, E.R.; KANAWYER, W.L. Feline infectious anemia. Vet Med<br />
v.51, p.17-22. 1956.<br />
80. SYKES, J.E. Feline hemotropic mycoplasmosis (feline hemobartonellosis). The<br />
Veterinary Clinics Small Animal Practice, Davis, v. 33, n. 4, p. 773-89, jul. 2003.<br />
81. SYKES, J.E., et al. Candidatus Mycoplasma haematoparvum, a novel small<br />
haemotropic mycoplasma from a dog. Int J Syst Evol Bact, Davis, n. 55, n. 1, p. 27-30,<br />
jan. 2005.<br />
82. SYKES, J.E. et al. Use of conventional and real-time polymerase chain reaction to<br />
<strong>de</strong>termine the epi<strong>de</strong>miologyof micoplasma infections in anemic and nonanemic<br />
cats. J Vet Intern Med, Davis, v. 21, n. 4, p. 685–93, jul-aug. 2007.<br />
83. SYKES, J.E. et al. Prevalences of various micoplasma species among cats in the<br />
United States with possible hemoplasmosis. Journal of the American Veterinarian<br />
Medical Association, Davis, v. 232, n.3. p.372-9, feb. 2008.<br />
84. TASKER, S. et al. Use of a PCR assay to assess prevalence and risk factors for<br />
Mycoplasma haemofelis and ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ in cats in the<br />
United Kingdom. Veterinary Record, Bristol, v. 152, n, 7, p. 193–8, feb. 2003a.<br />
85. TASKER, S. et al. Use of Real-Time PCR to <strong>de</strong>tect and quantify Mycoplasma<br />
haemofelis and ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ DNA. Journal of Clinical<br />
Microbiology, Bristol, v. 41, n. 1, p. 439–41, jan. 2003b.<br />
29
86. TASKER, S. et al. Diagnosis of haemoplasma infections in Australian cats using realtime<br />
PCR assay. Journal of Feline Medicine and Surgery, Bristol, v. 6, n. 6, p. 1-10, <strong>de</strong>c.<br />
2004.<br />
87. TASKER, S.; LAPPIN, M.R. Haemobartonella felis: recent <strong>de</strong>velopments in diagnosis<br />
and treatment. Journal of Feline Medicine and Surgery, Langford, v. 4, n. 1, p. 3–11, mar.<br />
2002.<br />
88. TASKER, S. 16S rDNA comparision <strong>de</strong>monstrates near i<strong>de</strong>ntity between an United<br />
Kindom Haemobartonella felis strain an the American California strain. Vet Microbiol,<br />
Langford, v. 81, n. 1, p. 73-8, jul,. 2001.<br />
89. TASKER, S. Feline haemobartonellosis: lessons from reclassification and new<br />
methods of diagnosos. In: Proceedings of the 20 th American College of Veterinary<br />
Internal Medicine Forum. Dallas (TX); 2002. p. 636-8.<br />
90. THÉRY, A. Un foyer d´hémobartonellose feline à Paris. Recueil <strong>de</strong> Medicine<br />
Veterinaire. v. 142, p. 1163-6. 1966.<br />
91. VANSTEENHOUSE, J.L.; TABOADA, J.; MILLARD, J.R. Feline hemobartonellosis.<br />
Compend Contin Educ Pract Vet, 1993. Cap. 15, p. 535-45.<br />
92. WATANABE, M. et al. Molecular <strong>de</strong>tection and characterization of Haemobartonella<br />
felis in domestic cats in Japan employing sequence-specific polymerase chain<br />
reaction (SS - PCR ). J Vet Med Sci, Japan, v. 65, n. 10, p. 1111-4, oct. 2003.<br />
93. WESTFALL, D.S. et al. Inoculation of two genotypes of Haemobartonella felis<br />
(California and Ohio variants) to induce infection in cats and the response to<br />
treatment with azithromycin. American Journal of Veterinary Research, v. 62, p. 687–91.<br />
2001.<br />
94. WILLI, B. et al. I<strong>de</strong>ntification, molecularcharacterization, and experimental<br />
transmission of a new micoplasma isolate from a cat with hemolytic anemia in<br />
Switzerland. Journal of Clinical Microbiology, Switzerland, v.3, p.2581-5. 2005.<br />
95. WILLI, B. et al. Prevalence, risk factor analysis, and follow-up of infections caused by<br />
three feline micoplasma species in cats in Switzerland. Journal of Clinical<br />
Microbiology, Switzerland, v. 44, n. 3, p. 961-69, mar. 2006.<br />
96. WILLI, B. et al. Phylogenetic analysis of “Candidatus Mycoplasma turicensis”<br />
isolates from pet cats in the United Kingdom, Australia, and South Africa, with<br />
analysis of risk factors for infection. Journal of Clinical Microbiology, Switzerland, n. 44,<br />
v. 12, p.4430–5, <strong>de</strong>c. 2006.<br />
97. WILLI, B. et al. Worldwi<strong>de</strong> occurrence of feline micoplasma infections in wild felid<br />
species. Journal of Clinical Microbiology, Switzerland, v.45, n.4, p.1159-66, apr. 2007.<br />
98. WINTER, R.B. Using quinolones to treat hemobartonellosis (let). Vet Med Small Anim<br />
Clin, v.88, p. 306-7. 1993.<br />
99. WOODS, J.E. Evaluation of experimental transmission of Candidatus Mycoplasma<br />
haemominutum and Mycoplasma haemofelis by Ctenocephali<strong>de</strong>s felis to cats.<br />
American Journal of Veterinary Research, Fort Collins, v. 66, n. 6, p. 1008-12, jun. 2005.<br />
30