Paula Coelho Baptistotte.pdf - Qualittas
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PAULA COELHO BAPTISTOTTE<br />
FLUXOGRAMA GERAL DO ABATE DE AVES<br />
CAMPO GRANDE - MS<br />
2010
PAULA COELHO BAPTISTOTTE<br />
FLUXOGRAMA GERAL DO ABATE DE AVES<br />
Trabalho monográfico de conclusão de curso de Pós<br />
Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem<br />
Animal, apresentado à Universidade Castelo Branco, como<br />
requisito para obtenção do título de Especialista em Higiene e<br />
Inspeção de Produtos de Origem Animal, sob orientação do<br />
Professor Arizoly Mendes.<br />
CAMPO GRANDE - MS<br />
2010
Dedico este trabalho aos meus pais e ao<br />
meu esposo, que ajudaram durante a<br />
realização deste curso me dando o apoio<br />
necessário para a conclusão deste objetivo.<br />
iii
Agradecimentos<br />
À Deus, pois sem sua ajuda nada seria<br />
possível;<br />
À minha família, que me incentivou a realizar<br />
este trabalho;<br />
Ao meu orientador, Professor Arizoly<br />
Mendes que direcionou meu trabalho<br />
corretamente;<br />
Aos amigos e colegas pela solidariedade e<br />
companheirismo.<br />
iv
RESUMO<br />
A avicultura no Brasil vem ganhando cada vez mais destaque, conquistando<br />
novos mercados e fazendo com o que o consumo de carne de frango seja cada vez<br />
maior. Os consumidores, por sua vez, estão cada vez mais exigentes com relação a<br />
qualidade do produto, o que faz com que todos os setores da cadeia produtiva avícola<br />
se preocupem em utilizar técnicas e metodologias que atendam a essas novas<br />
exigências. O abate de aves é uma etapa de extrema importância dentro do processo<br />
produtivo, pois neste momento qualquer erro no manejo, desde a captura do animais<br />
até o final do abate, pode comprometer seriamente a qualidade do produto, o que<br />
acaba gerando impactos econômicos tanto para produtores quanto para consumidores.<br />
Este trabalho tem como objetivo apresentar um fluxograma com as principais normas e<br />
legislações vigentes relacionadas ao abate de aves, mostrando todas as etapas deste<br />
processo, desde o momento que antecede o abate (captura e transporte dos animais)<br />
até a etapa final do mesmo. Grande parte das pesquisas nesta área são realizadas fora<br />
do Brasil, tendo suas tecnologias adaptadas às nossas condições. Dessa forma, torna-<br />
se necessária a realização de mais estudos em nosso país.<br />
Palavras – chave: carne de frango, fluxograma, frigorífico.<br />
v
ABSTRACT<br />
In Brazil, the aviculture has been gaining more prominence, conquering new<br />
markets and making the consumption of poultry meat is increasing. Consumers are<br />
increasingly demanding with regard to product quality, which means that all sectors of<br />
the production chain poultry business worry in use techniques and methodologies to<br />
attend these new demands. The poultry slaughter is a very important step inside the<br />
production process, because at this moment any error in the management, since the<br />
capture of animals until the end of slaughter, can seriously compromise the produtct<br />
quality, which ends up generating economic impacts for both, producers and consumers<br />
to. This work, aims presents a flowchart with main rules and laws related with poultry<br />
slaughter, showing all stages of this process, since the time before slaughter (catch and<br />
transport of animals), until the end of slaughter. Much of the research in this area are<br />
carried out of Brazil, and its technologies are adapted to our conditions. Thus, it is<br />
necessary to carry out more studies in our country.<br />
Key words: chicken meat, flowchart, slaughterhouse.<br />
vi
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1 – Fluxograma do abate de aves............................................................<br />
Figura 2 – Apanha mecânica de aves..................................................................<br />
Figura 3 – Apanha de aves pelo pescoço............................................................<br />
Figura 4 – Contenção de aves para captura durante o dia..................................<br />
Figura 5 – Carregamento manual das caixas no caminhão de transporte...........<br />
Figura 6 – Galpão de descanso e espera no frigorífico.......................................<br />
Figura 7 – Galpão de espera com sistema de climatização.................................<br />
Figura 8 – Pendura de aves para o abate............................................................<br />
Figura 9 – Insensibilização através de atmosfera controlada em túnel<br />
horizontal...............................................................................................................<br />
Figura 10 – Tanque de atordoamento elétrico.....................................................<br />
Figura 11 – Sangria manual.................................................................................<br />
Figura 12 – Sangria automática...........................................................................<br />
Figura 13 – Depenadeira com dedos de borracha...............................................<br />
Figura 14 – Extração dos pulmões.......................................................................<br />
Figura 15 – Sala de cortes...................................................................................<br />
Figura 16 – Embalagem primária.........................................................................<br />
Figura 17 – Embalagem secundária....................................................................<br />
vii<br />
03<br />
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23<br />
23<br />
27<br />
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38<br />
38
SUMÁRIO<br />
DEDICATÓRIA.....................................................................................................<br />
AGRADECIMENTO.............................................................................................<br />
RESUMO..............................................................................................................<br />
ABSTRACT..........................................................................................................<br />
LISTA DE FIGURAS............................................................................................<br />
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................<br />
2 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................<br />
2.1 Jejum e tempo de descanso.................................................................<br />
2.2 Captura e embarque dos frangos.....................................................<br />
2.2.1 Pega ou Apanha........................................................................<br />
2.3 Carregamento e Transporte..................................................................<br />
2.4 Recepção e espera................................................................................<br />
2.5 Desembarque.........................................................................................<br />
2.6 Pendura...................................................................................................<br />
2.7 Atordoamento ou Insensibilização.......................................................<br />
2.8 Sangria....................................................................................................<br />
2.9 Escaldagem............................................................................................<br />
2.10 Depenagem...........................................................................................<br />
2.11 Evisceração..........................................................................................<br />
2.12 Inspeção sanitária …...........................................................................<br />
2.13 Processo de resfriamento das carcaças...........................................<br />
2.14 Classificação da carcaça.....................................................................<br />
2.15 Gotejamento.........................................................................................<br />
2.16 Resfriamento de miúdos ….................................................................<br />
viii<br />
iii<br />
iv<br />
v<br />
vi<br />
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34
2.17 Espostejamento de aves (sala de cortes)..........................................<br />
2.18 Embalagem...........................................................................................<br />
2.19 Apontamento........................................................................................<br />
2.20 Túnel de congelamento.......................................................................<br />
2.21 Estocagem e distribuição...................................................................<br />
3 CONCLUSÃO...............................................................................................<br />
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………..........<br />
ix<br />
35<br />
37<br />
39<br />
39<br />
40<br />
42<br />
43
1. INTRODUÇÃO<br />
A avicultura é uma atividade extremamente dinâmica, principalmente quando<br />
se diz respeito à produção de carne. Seu desenvolvimento começou a partir do final da<br />
década de 1950, na região Sudeste, sendo que alguns anos depois, na década de 70,<br />
ocorreu uma grande reorganização do complexo de carnes no Brasil, e a atividade se<br />
deslocou para a região Sul do pais.<br />
Desde o início da produção de frangos de corte no Brasil, sua cadeia produtiva<br />
vem sendo modernizada devido, entre outros fatores, à necessidade de redução de<br />
custos bem como aumento da produtividade, tentando desta forma não perder<br />
competitividade em nível mundial. Como consequência, tem-se observado que a<br />
cadeia produtiva avícola nacional é uma das mais organizadas no mundo, destacando-<br />
se das demais criações pelos resultados alcançados não só em produtividade e volume<br />
de abate, mas também no desempenho econômico, onde vem contribuindo de forma<br />
bastante significativa para a economia do país.<br />
No mercado consumidor interno, tem-se observado que o hábito de consumo<br />
de carne vem sofrendo mudanças, sendo que o Brasil vem passando de um país<br />
predominantemente consumidor de carne bovina, para um grande consumidor de<br />
carne de frango. Para 2010, estima-se que o consumo de carne de frango seja de<br />
aproximadamente 7,9 milhões de toneladas, podendo chegar até 10,9 milhões de<br />
toneladas, o que equivale a um consumo per capta em torno de 41 a 43,5 kg. De<br />
acordo com o MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), este<br />
consumo tende a crescer em torno de 23% nos próximos 10 anos, estimando-se assim<br />
que em 2020 o brasileiro passe a consumir em média 50,178 kg per capta (variando<br />
de um mínimo de 44,86 kg e máximo de 55,53 kg).<br />
Em relação a exportação da carne de frango, o Brasil apresenta grande<br />
destaque, sendo que em janeiro de 2010 sua exportação foi de mais de 230 mil<br />
toneladas. Para atender a esse mercado, as indústrias precisaram acompanhar as<br />
1
mudanças no estilo de vida da sociedade no exterior, tendo que fazer modificações<br />
para se adaptar a elas. Na produção houve necessidade de selecionar geneticamente<br />
aves com maiores rendimentos de coxa e peito, e na industrialização, houve a<br />
necessidade de minimizar defeitos causados pelo manejo pré abate e durante o abate.<br />
Com todo esse crescimento econômico que vem sendo observado no setor<br />
avícola, bem como a evolução na produção, é crescente a preocupação, por parte das<br />
empresas, com aspectos relacionados as diversas etapas de produção, principalmente<br />
no que diz respeito aos aspectos sanitários, sendo necessários cada vez mais<br />
investimentos em pesquisas e aprimoramentos tecnológicos neste setor. Uma etapa do<br />
processo produtivo das aves que esta diretamente relacionada com a sanidade e que<br />
merece grande destaque é o abate, já que neste momento podem ocorrer grandes<br />
perdas econômicas, sendo sua principal causa a condenação das carcaças na linha de<br />
abate, o que pode ser devido, entre outros motivos, a manejos inadequados desde o<br />
momento da captura dos animais até as etapas finais do abate.<br />
As etapas que antecedem o abate também são de extrema importância para a<br />
qualidade final do produto, pois estas influenciam no nível de mortalidade antes da<br />
chegada à linha de abate, na qualidade da carne e no rendimento de carcaça. Por não<br />
haver padronizações ou estudos mais apurados relacionados à estas operações,<br />
desde a apanha até a espera, sabe-se que o nível de perdas é bastante elevado,<br />
destacando-se as perdas por mortalidade das aves. Isto acaba por resultar em<br />
prejuízos para o avicultor e para todos os demais componentes da cadeia produtiva<br />
avícola.<br />
No Brasil, o abate de aves deve ser realizado conforme o estabelecido no<br />
RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem<br />
Aniimal) e no Regulamento Técnico de Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de<br />
Carne de Aves. Nestes regulamentos são abordadas questões que se referem ao pré<br />
abate (que abrange a captura e transporte dos animais) e o abate, o qual consiste nas<br />
etapas de insensibilização, sangria, escalda, depenagem, evisceração, pré-<br />
resfriamento, resfriamento, gotejamento, classificação, embalagem e tempo de<br />
armazenamento.<br />
2
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sobre as normas e<br />
legislações vigentes, relacionadas ao processamento da carne de frango no<br />
fluxograma do abate de aves. O fluxograma geral do abate de aves pode ser<br />
visualizado na figura abaixo.<br />
Figura 1 – Fluxograma do abate de aves<br />
3
2.1 Jejum e tempo de descanso<br />
2. REVISÃO DE LITERATURA<br />
O período pré abate de frangos, que vai desde a pesagem até o abate, é uma<br />
das etapas que mais exerce influencia sobre os índices qualitativos e quantitativos dos<br />
produtos do abatedouro. Dos fatores que antecedem a abate, um dos mais importantes<br />
é o período de jejum de água e alimentos aos quais as aves são submetidas, pois<br />
durante este período ocorre esvaziamento do trato gastrointestinal, dessa forma haverá<br />
menor quantidade de material contaminante no abatedouro (LYON et al.,1991).<br />
Quando o período de jejum não é realizado, parte da ração não digerida pelo<br />
animal é eliminada durante a evisceração podendo assim contaminar as carcaças<br />
durante o abate (DENADAI et al., 2002). Em alguns casos, quando há grande<br />
contaminação, as carcaças podem ser totalmente condenadas, o que além de atrasar o<br />
processo de abate e aumentar os custos de processamento, pode ainda colocar em<br />
risco a saúde do consumidor quando o controle de qualidade do abatedouro não é<br />
eficiente.<br />
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) preconiza um<br />
tempo mínimo de seis horas e um máximo de oito horas de suspensão da ração para<br />
aves que serão abatidas, pois assim possíveis contaminações durante o<br />
processamento industrial poderão ser evitadas (BRASIL, 1998).<br />
Na literatura há bastante divergências na recomendação do período ideal de<br />
jejum pré abate. Para SARCINELLI et al. (2007) o tempo considerado como ideal de<br />
jejum está entre 8 a 12 horas, sendo que períodos superiores à 12 horas podem levar a<br />
ocorrências fisiológicas indesejáveis que comprometem a qualidade da carne. Se o<br />
jejum for muito longo (acima de 12 horas), os intestinos ficam frágeis devido ao<br />
acúmulo de gases e redução de sua espessura, assim a incidência de rompimento<br />
durante a evisceração tende a aumentar (SARCINELLI et al., 2007; CASTRO et al.,<br />
2008). Além disso, ocorre acúmulo de bile na vesícula biliar, sendo que este excesso<br />
4
de bile pode retornar para dentro do fígado ou pode ser liberado para o duodeno e<br />
moela causando aparência esverdeada nesses órgãos. Outros problemas relacionados<br />
a longos períodos de jejum são o endurecimento do tecido de revestimento de moelas<br />
e aderência do papo na carcaça, em razão da desidratação da ave, entre outros<br />
(SARCINELLI, et al. 2007).<br />
Por outro lado, nos períodos curtos de jejum alimentar (menores que seis<br />
horas) o trato digestivo das aves está cheio de alimento e os intestinos apresentam-se<br />
grandes e arredondados no momento do abate, ocupando um grande espaço na<br />
cavidade abdominal aumentando assim a possibilidade de ocorrer extravasamento do<br />
conteúdo gastrointestinal durante a evisceração (NORTHCUTT et al., 1997).<br />
Além dos fatores já citados acima, é importante considerar ainda a existência<br />
de uma relação direta entre tempo de jejum e a perda de peso e o rendimento de<br />
carcaça nas aves. Após o início da retirada de alimento e água ocorre o processo de<br />
desidratação da carcaça, ou seja, perda de peso vivo, sendo que quanto maior o<br />
período de jejum, maior é a perda de peso (CASTRO et al., 2008). Ao avaliar o efeito<br />
do período de jejum pré abate (0, 4 e 8 horas de jejum completo) sobre a perda de<br />
peso e rendimento de carcaça de aves, DENADAI et al. (2002) encontraram diferenças<br />
significativas para a variável perda de peso vivo, sendo que ao prolongar o tempo de<br />
jejum aumentou a perda de peso vivo. Os tratamentos de 4 e 8 horas de jejum<br />
apresentaram maiores rendimentos de carcaça do que o tratamento de zero hora de<br />
jejum.<br />
Da mesma forma, SCHETTINO et al. (2006) observaram que aves submetidas<br />
a períodos de jejum de 4 e 8 horas apresentaram maior peso vivo em relação as aves<br />
que ficaram 12 ou 14 horas em jejum, sendo estabelecida uma relação diretamente<br />
proporcional entre o período de jejum e o peso, concordando assim com os resultados<br />
obtidos por DENADAI et al. (2002). Com relação ao rendimento de carcaça, observou-<br />
se que animais submetidos a maiores períodos de jejum (12 horas) apresentaram os<br />
maiores rendimentos. Ainda de acordo com SCHETTINO et al. (2006) o rendimento<br />
dos cortes comerciais não foram afetados pelos períodos de jejum.<br />
5
O jejum das aves tem início na granja e segue durante todo o transporte e é<br />
acrescido do período de espera nas áreas de descanso do abatedouro. Porém,<br />
sabendo que longos períodos de descanso no abatedouro coincidem com longos<br />
períodos de jejum, e que este por sua vez causa grande perda do peso vivo dos<br />
animais (SCHETTINO et al., 2006), o Ministério da Agricultura aboliu o tempo<br />
regulamentar de descanso pré abate. Além disso, de acordo com o MAPA<br />
(BRASIL,1998), enquanto as aves aguardam o momento do abate, devem permanecer<br />
em áreas cobertas que possuam umidificadores de ar e ventiladores de grande porte<br />
que funcionem em baixas velocidades (afim de retirar o excesso de calor produzido<br />
pelas aves que se encontram nas gaiolas de espera). Estas ações visam reduzir o<br />
período de espera dos animais antes do abate, reduzindo assim a perda de peso e/ou<br />
contaminação de carcaça por rompimento de vísceras.<br />
2.2 Captura e embarque dos frangos<br />
2.2.1 Pega ou Apanha<br />
A captura das aves para sua retirada do galpão e transporte até o frigorífico, é<br />
uma fase do pré abate que requer bastante cuidado e atenção, já que é nesta fase que<br />
se tem início o processo de estresse nas aves. Além disso, o processo de apanha está<br />
diretamente relacionado com a qualidade da carcaça, uma vez que se não for<br />
executado de forma correta ou por pessoal treinado para tal atividade, podem ocorrer<br />
sérios danos às carcaças, principalmente decorrentes de lesões como hematomas,<br />
traumas e quebra de ossos (LEANDRO et al., 2001). Dependendo da gravidade dessas<br />
lesões, pode ocorrer condenação parcial ou até mesmo completa da carcaça dos<br />
animais afetados.<br />
Existem duas maneiras que podem ser utilizadas para a apanha das aves: a<br />
mecânica e a manual, sendo esta última a mais comumente utilizada no Brasil, já que a<br />
forma mecânica ainda é considerada antieconômica, pois os custos com os<br />
6
equipamentos são bastante elevados. Apesar dos altos custos, o método de apanha<br />
mecânico apresenta grandes vantagens sobre o manual, pois possibilita melhores<br />
condições de trabalho aos funcionários, reduz o número de pessoas na equipe e ainda<br />
é responsável por reduções de lesões na carcaça, principalmente em relação ás lesões<br />
nas pernas, conforme foi mostrado por LACY e CZARICK (1998).<br />
Figura 2 – Apanha mecânica de aves.<br />
Durante muito tempo, a principal forma manual de se realizar a pega das aves<br />
era através das pernas, pois possibilitava grande rapidez na execução do serviço. No<br />
entanto, devido aos grandes danos na carcaça causados pela ocorrência de<br />
hematomas e fraturas nas pernas e asas, este método entrou praticamente em desuso,<br />
sendo utilizado apenas em algumas regiões onde é feita a comercialização do frango<br />
vivo. A pega pelas asas também eleva os índices de fraturas locais sendo, portanto,<br />
pouco utilizado. Atualmente, no Brasil, a pega de frangos pelo dorso vem sendo o<br />
método mais utilizado por proporcionar redução dos traumas durante o carregamento,<br />
embora a eficiência para a equipe que a realiza seja reduzida (ROSA et al., 2002).<br />
Outro método de apanha que vem sendo bastante utilizado é aquele em que as<br />
aves são pegas pelo pescoço e colocadas nas caixas de transporte. De acordo com<br />
CONY (2000), este processo não aumenta o número de lesões e torna o carregamento<br />
mais rápido. Por outro lado, LEANDRO et al. (2001) afirma que a pega pelo pescoço<br />
7
não é tão vantajosa, pois as aves pegas desta maneira apresentaram um maior<br />
número de fraturas do que as que foram pegas pela dorso.<br />
Figura 3 – Apanha de aves pelo pescoço.<br />
Como ainda há muitas dúvidas sobre qual seria o melhor método, o ideal seria<br />
que cada empresa, antes de decidir por qual sistema de captura irá adotar, realizasse<br />
uma avaliação de cada processo com acompanhamento da qualidade da carcaça e<br />
uma análise econômica (custo/benefício). Além disso, é necessário que seja feito<br />
treinamento das equipes de apanha e carregamento dos frangos em relação aos<br />
cuidados necessários durante a execução das atividades, além de, sempre que<br />
possível, realizar a apanha das aves pelo corpo todo ao invés de pelas pernas e<br />
pescoço ou asas, a fim de reduzir as lesões durante este processo.<br />
A captura deve ser realizada preferencialmente com pouca ou nenhuma<br />
iluminação, pois dessa maneira é possível minimizar as reações de medo entre as<br />
aves, reduzindo assim o estresse das mesmas. Os frangos devem ser capturados<br />
individualmente e levados para as caixas, não sendo recomendando levar mais do que<br />
três animais de cada vez (SARCINELLI et al., 2007).<br />
Quando houver necessidade de um carregamento durante o dia, é<br />
recomendada a formação de pequenos círculos de captura (feitos com as próprias<br />
caixas que serão utilizadas para o transporte, conforme pode ser visualizado na Figura<br />
3), onde se prende de 150 a 200 frangos em cada um. A utilização destes círculos<br />
8
facilita a captura e evita grandes movimentações das aves, o que propicia que elas<br />
sejam capturadas de forma mais tranqüila e sem que ocorram lesões na pele ou<br />
fraturas (REALI, 1994).<br />
Figura 4 – Contenção de aves para captura durante o dia.<br />
Deve-se evitar ainda alta lotação dentro das caixas, pois esta também é uma<br />
forma de se garantir uma melhoria na qualidade da carcaça. Embora as empresas<br />
prefiram alta quantidade de animais por caixa para reduzir os custos com o transporte,<br />
o recomendando é que este número não passe de 8 a 16 aves/caixa para abate de<br />
machos aos 50 dias e fêmeas aos 34 dias, respectivamente, ou ainda 22 kg de peso<br />
vivo de aves/caixa (ROSA et al., 2000).<br />
2.3 Carregamento e Transporte<br />
A etapa de carregamento pré abate é tão importante quanto as demais e vem<br />
sendo cada vez mais estudada, já que possui muitos pontos críticos que podem<br />
interferir diretamente na qualidade do produto final no abatedouro. Durante este<br />
processo há necessidade de se atentar para alguns aspectos, tais como estado de<br />
conservação das caixas de transporte, impacto provocado pelo arremesso das mesmas<br />
para o caminhão, além das condições ambientais as quais os animais estarão expostos<br />
durante o procedimento. Os cuidados tomados com esses pontos visam reduzir as<br />
9
perdas por morte e lesões de asas e carcaça, que são as mais comuns de ocorrer<br />
durante este processo (OLIVO, 2006).<br />
Com relação ao tipo de caixa para transporte, as mais utilizadas são as que<br />
possuem portinhola do tipo basculante ou corrediça. A que oferece menor risco de<br />
ocorrer traumas e, portanto, é a mais indicada, é a do tipo basculante, pois evita<br />
decepamentos e morte por pescoço prensado no momento do fechamento das caixas,<br />
o que é bastante comum de ocorrer nas caixas com fechamento por corrediças<br />
(OLIVO, 2006).<br />
Figura 5 – Carregamento manual das caixas no caminhão de transporte.<br />
10
Após o carregamento das caixas nos caminhões de transporte, recomenda-se<br />
que seja feita a pulverização de água sobre as aves no momento da saída do veículo<br />
da granja para o abatedouro, tendo como objetivo a redução dos efeitos causados pelo<br />
estresse calóricos aos frangos. Além de aumentar o conforto dos animais, esta prática<br />
também auxilia na redução das perdas por mortalidade e melhora a qualidade da carne<br />
pela redução do estresse pré abate (ROSA et al. 2000).<br />
Embora as ações de apanha e carregamento sejam as que mais causam<br />
injúrias físicas nas aves, o transporte deve receber cuidado especial, pois ele é grande<br />
causador de estresse nos animais, afetando assim o seu bem estar. Dessa forma, os<br />
aspectos que devem ser levados em consideração no momento do transporte são:<br />
tempo de viagem, tempo de restrição de alimentos e água, período do dia, condições<br />
climáticas (temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento), densidade de<br />
aves nas caixas de transporte, tempo de espera no carregamento e descarregamento e<br />
condições das estradas (ROSA et al., 2000).<br />
Durante o transporte, as condições ambientais externas (macroclima) e<br />
internas da caixa (microclima) estão entre as principais causas de estresse nas aves. A<br />
falta de ventilação para as aves que estão localizadas nas gaiolas no centro da carga<br />
(no caminhão) podem sofrer calor e hipertermia, já as aves que estão em gaiolas<br />
localizadas nas extremidades da carga podem sofrer frio excessivo, sendo que ambas<br />
as condições causam estresse e consequentemente mudanças fisiológicas no pré<br />
abate, assim como mudanças bioquímicas no post mortem (WARRISS et al., 1993.)<br />
A exposição das aves a altas temperaturas durante o transporte é a causa mais<br />
frequente de redução da qualidade da carne e das chamadas “mortes na chegada”, o<br />
que tende a se agravar com o aumento do tempo de transporte (WARRISS, 2004). De<br />
acordo com VECERECK et al. (2006) as “mortes de chegada” são reflexos de fatores<br />
que ocorrem antes do transporte das aves (como por exemplo injurias causadas<br />
durante o carregamento) e durante o transporte das mesmas (microclima, densidade<br />
da caixa e etc), sendo que esses fatores, isolados ou combinados, contribuem para o<br />
aumento da mortalidade das aves. Quanto maior o tempo e distância entre a granja e o<br />
abatedouro, maior é a mortalidade das aves, além de serem maiores também os<br />
11
prejuízos referentes à qualidade de carcaça (perda de peso, e peso de pernas, asas e<br />
dorso), já que as aves ficam mais tempo submetidas a condições de estresse<br />
(VECERECK et al., 2006; SILVA et al., 2007).<br />
No intuito de tentar reduzir o desconforto térmico das aves durante o<br />
transporte, recomenda-se que este seja feito em horários que apresentem<br />
temperaturas mais amenas. De acordo com o estudo realizado por BAYLISS e<br />
HINTON (1990) ocorrem aumentos significativos nas mortes na chegada no período da<br />
manhã para a estação do inverno e no período da tarde durante a estação do verão.<br />
De acordo com SILVEIRA e SOUZA (2000), alta densidade dentro das caixas<br />
no momento do transporte causa grande desconforto aos animais. Normalmente as<br />
aves controlam sua termorregulação através de mudanças de comportamento, como<br />
por exemplo, expondo uma maior área do corpo para favorecer a perda de calor, além<br />
de utilizar o mecanismo de ofegação na tentativa de aumentar a perda de calor por<br />
evaporação. Quando a densidade por caixa é muito alta, a grande concentração de<br />
umidade nas caixas reduz muito a eficiência deste mecanismo (WARRISS et al., 2004).<br />
Segundo os mesmos autores, é de se esperar que o aumento da umidade<br />
relativa do ar agrave ainda mais os efeitos das altas temperaturas nas aves,<br />
contribuindo assim para a redução da eficiência de ofegação que é um dos<br />
mecanismos mais importantes de perda de calor através do resfriamento evaporativo<br />
do trato respiratório das aves. Dessa forma, quanto maior a densidade de aves por<br />
caixa, menor será a perda de calor, exceto para as aves que se encontram nas<br />
extremidades da carga. Fora isso, a única forma que as mesmas terão de realizarem<br />
trocar térmicas durante o transporte será através da perda de calor latente utilizando o<br />
ar disponível a sua volta (WARRISS et al., 2004).<br />
Aves transportadas a uma temperatura ambiente menor que 5ºC mostram-se<br />
tranqüilas durante a viagem, mesmo quando a densidade populacional é alta, porque<br />
elas tentam evitar a perda de calor corporal através do contato físico. Já em<br />
temperatura ambiente maior que 15ºC ocorrerão grandes agitações e até mesmo<br />
pânico entre os animais (SILVEIRA e SOUZA, 2000).<br />
12
Ainda que sejam obedecidas as lotações favoráveis e sejam utilizados veículos<br />
apropriados, o transporte dos animais é capaz de estressá-los devido à simples<br />
mudança de ambiente, sendo que durante o transporte as aves podem ser acometidas<br />
por diferentes tipos de estresse (motor, emocional, digestivo, térmico e desequilíbrio<br />
hídrico). Além das possíveis alterações na qualidade da carne em decorrência do<br />
estresse, outros defeitos em carcaça estão associados ao transporte tais como<br />
contusões, calos ou bolhas, esfolamento e arranhões (WARRISS et al.,1993).<br />
Com o exposto acima, fica claro que o transporte é uma etapa fundamental<br />
dentro das operações pré abate, pois é a partir deste ponto que se pode perder tudo o<br />
que foi realizado em prol do bem estar dos animais. Desta forma, é de extrema<br />
importância a verificação de todos os pontos críticos desta etapa para que as perdas<br />
possam ser minimizadas.<br />
2.4 Recepção e espera<br />
A etapa de espera para o abate encerra as chamadas “operações pré abate”<br />
das aves. Neste momento, as aves que chegam ao abatedouro serão encaminhadas<br />
para um lugar especifico denominado galpão de espera. Este geralmente compreende<br />
um local coberto e aberto nas laterais para permitir que os caminhões carregados<br />
fiquem parados em um lugar com sombra e bem arejados. Além disso, estes galpões<br />
podem conter ainda equipamentos de climatização, como ventiladores e nebulizadores,<br />
para favorecer o conforto das aves enquanto aguardam o abate.<br />
De acordo com os trabalhos sobre tipologia de galpões de espera realizados<br />
por BAYLISS e HINTON (1990), o galpão que registrou a menor mortalidade foi o que<br />
possuía um sistema de climatização eficiente, com nebulização e ventilação. Ainda<br />
assim, em condições térmicas mais severas a média de mortes na chegada foi de<br />
0,34%. Por outro lado, no galpão onde havia apenas ventilação forçada, sem cobertura<br />
que protegesse a carga do ambiente externo, a mortalidade foi maior, alcançando<br />
valores entre 0,56 e 0,64%.<br />
13
Figura 6 – Galpão de descanso e espera no frigorífico.<br />
Figura 7 – Galpão de espera com sistema de climatização.<br />
No galpão de espera o inspetor de bem estar deve checar a temperatura do<br />
ambiente e inspecionas as condições das aves. Se as aves estiverem ofegantes e/ou a<br />
temperatura estiver acima de 18ºC recomenda-se ligar os ventiladores e nebulizadores,<br />
sendo importante ressaltar que os ventiladores devem estar posicionados de tal forma<br />
que removam o calor de toda a carga, inclusive daquela que estiver localizada no meio.<br />
14
Durante o transporte, além das condições ambientais externas (macroclima) e<br />
internas (microclima), o tempo de espera para o abate pode aumentar a exposição ao<br />
estresse. Assim, o ambiente no qual os caminhões transportadores ficam estacionados<br />
durante o período de espera é importante na redução dos efeitos ambientais sobre as<br />
exigências termoneutras das aves (SILVA et al., 2007). Altas temperaturas associadas<br />
com grandes variações de umidade e somadas com baixa ventilação ocasionam<br />
perdas significativas durante a espera para o abate.<br />
O tempo de espera é um dos fatores de maior variação entre os abatedouros,<br />
com pouca padronização quanto ao intervalo de tempo ideal que proporcione uma<br />
condição de conforto térmico para os animais nos ambientes de espera. De acordo<br />
com a Portaria nº 210 (BRASIL, 1998) é recomendado que o tempo de espera seja<br />
curto, para que as ave sejam abatidas em condições menos avançadas de estresse,<br />
devendo permanecer nos galpões apenas o tempo mínimo necessário para garantir o<br />
fluxo de abate do frigorífico.<br />
De acordo com HUNTER et al. (1998), há um aumento de 10ºC dentro das<br />
caixas de transporte quando o tempo de espera excede 2 horas, gerando<br />
conseqüências como a hipotermia. Outros problemas que também podem ocorrer<br />
durante este período são hemorragia nos músculos e a mortalidade. Portanto, estes<br />
autores recomendam um tempo de espera abaixo de 2 horas com ideal para se manter<br />
a homeostase dos animais.<br />
Por outro lado, QUINN et al. (1998) demonstraram que o ambiente de maior<br />
estresse para frangos foram aqueles que tiveram um tempo de descarregamento<br />
menor, ou seja, nas primeiras duas horas de espera no verão, com temperaturas<br />
médias acima de 25ºC. Desta forma, pode-se com concluir que não basta trabalhar<br />
isoladamente o tempo de espera, sendo necessário também o controle ambiental que<br />
possibilite maior troca de calor entre o animal e o ambiente, para que assim seja<br />
possível obter maior eficiência no controle do bem estar das aves.<br />
15
2.5 Desembarque<br />
Os estabelecimentos de abate devem dispor de instalações e equipamentos<br />
apropriados ao desembarque dos animais dos meios de transporte. Os animais devem<br />
ser descarregados o mais rapidamente possível após a chegada e se for inevitável<br />
uma espera, os animais devem ser protegidos contra condições climáticas extremas e<br />
beneficiar-se de uma ventilação adequada (BRASIL, 2000).<br />
O estresse causado aos animais durante o desembarque é semelhante ao do<br />
embarque (MINATTI e SÁ, 2006). Assim, nessas duas etapas, que correspondem às<br />
situações de máximo estresse ao animal, as instalações devem proporcionar conforto e<br />
evitar riscos de acidentes. Deve-se assegurar aos animais que estes não sejam<br />
amedrontados, excitados, maltratados ou derrubados.<br />
O desembarque deve ser feito em local apropriado, preferencialmente coberto,<br />
sendo que as caixas onde os frangos são transportados devem ser colocadas<br />
cuidadosa e individualmente em esteiras, evitando-se o choque entre elas, bem como<br />
evitar movimentos bruscos. Dessa forma, é possível reduzir as chances de estresse<br />
bem como lesões nos animais. As caixas devem ser abertas somente no momento da<br />
pendura, evitando-se assim que as aves caiam ou fujam. Se por ventura alguma ave<br />
fugir da caixa, ela deve ser recolhida imediatamente e colocadas novamente na caixa<br />
ou penduradas na nória (BRASIL, 1998).<br />
2.6 Pendura<br />
A área destinada ao setor de pendura deve ser um local coberto, protegido de<br />
ventos e raios solares, devendo ser adequado de tal forma a fim de minimizar o<br />
estresse das aves.<br />
Conforme o estabelecido pelo Regulamento da Inspeção Industrial de Produtos<br />
de Origem Animal (RIISPOA), o setor de pendura deve ser um ambiente com o menor<br />
nível de ruídos possível, e a iluminação deve ser de baixa intensidade podendo, para<br />
tanto, serem utilizadas lâmpadas frias com cerca de 150 lux protegidas com acrílico.<br />
16
Estas medidas tem por objetivo reduzir a excitação das aves, além de se evitar<br />
qualquer tipo de acidente de trabalho (como explosões das lâmpadas ou quedas).<br />
Segundo BERAQUET (1994), a iluminação ideal para este ambiente deve ser nas<br />
cores azul ou vermelha.<br />
Visando o conforto térmico das aves que se encontram no setor de pendura,<br />
deve ser feito o uso de ventilação de forma adequada para que esse objetivo possa ser<br />
alcançado. Além disso, é necessário que seja feita uma proteção com telas<br />
mosqueteiras para impedir a entrada de qualquer tipo de inseto ou praga (BRASIL,<br />
1998).<br />
A retirada das aves de dentro das caixas de transporte deve ser feita,<br />
preferencialmente, segurando-as pelas pernas e logo em seguida devem ser<br />
penduradas, através de um suporte, na nória, que é o ponto onde se inicia o abate.<br />
Durante este processo devem-se evitar injúrias e excitação das aves, bem como evitar<br />
que as mesmas fiquem dependuradas por uma perna só, o que poderia causar<br />
sofrimento ao animal, além de possíveis quedas durante o trajeto (BRASIL, 2000).<br />
Os ganchos utilizados para a pendura devem ser molhados nesse momento e<br />
permanecer assim até o momento da insensibilização, pois assim ocorre maior<br />
condutibilidade elétrica. A velocidade de abate em cada frigorífico é que vai determinar<br />
o tempo que as aves ficarão penduradas na nória, sendo recomendado um mínimo de<br />
quarenta a sessenta segundos, os quais são necessários para acalmar as aves e evitar<br />
problemas no momento do atordoamento (DIRETIVA 93, ... 1993)<br />
Os cuidados tomados no momento da pendura das aves, assim como nas<br />
demais etapas que antecedem o abate, irão garantir uma sangria bem feita, bem como<br />
podem evitar outros problemas que prejudiquem a qualidade do produto final.<br />
17
Figura 8 – Pendura de aves para o abate.<br />
2.7 Atordoamento ou Insensibilização<br />
O atordoamento ou insensibilização consiste em um processo aplicado ao<br />
animal através do qual ele atinge de forma instantânea e completa um estado de<br />
insensibilidade até o momento da sangria, sendo mantidas suas funções vitais. Em<br />
hipótese alguma poderá ocorrer morte dos animais durante este processo, devendo ser<br />
feita a sangria rapidamente após o atordoamento. O atordoamento quando feito de<br />
forma correta garante que o abate fique dentro do que é considerado como abate<br />
humanitário, pois garante a total insensibilidade do animal no momento da sangria.<br />
Além de evitar o sofrimento do animal, uma sensibilização bem feita evita lesões nas<br />
aves.<br />
Para que seja feito o atordoamento ou insensibilização existem basicamente<br />
duas maneiras, sendo uma delas através de atmosfera controlada, onde o<br />
atordoamento é feito com a utilização de uma combinação de gases (principalmente o<br />
CO2), e a outra maneira é através do atordoamento elétrico. Das duas maneiras<br />
citadas, a que apresenta o uso mais comum entre os abatedouros é aquela feita<br />
através de choques elétricos, também conhecida como eletronarcose.<br />
18
No atordoamento através de atmosfera controlada são utilizadas misturas de<br />
alguns gases, dentre eles o dióxido de carbono (CO2). Durante este processo, as aves<br />
podem ser expostas a esses gases ainda dentro das caixas de transporte, o que evita<br />
que elas sofram com o estresse associado ao processo de pendura. A utilização da<br />
atmosfera controlada faz com que as aves sejam totalmente insensibilizadas, a fim de<br />
que seja assegurada a irreversibilidade da consciência depois da sangria, evitando-se<br />
assim que sofram dor devido ao corte necessário para a sangria (NUNES, 2008).<br />
O uso da atmosfera controlada pode ser feito através de vários métodos, sendo<br />
que no Brasil o mais utilizado é aquele em que as aves já se encontram penduradas na<br />
nória e em seguida passam por uma espécie de tanque horizontal semelhante a um<br />
escaldador, onde então são submetidas a presença dos gases responsáveis pelo<br />
atordoamento. A perda de consciência neste processo é lenta e acompanha<br />
harmonicamente o movimento da linha de abate, de modo que evita que o efeito<br />
agressivo do gás afogue as aves, o que pode gerar grande agitação e<br />
consequentemente lesões como fraturas ou hemorragias. Por ser semelhante a um<br />
processo de anestesia, são eliminadas durante este processo de atordoamento as<br />
intensas contrações musculares que são características do atordoamento elétrico,<br />
preservando assim totalmente a qualidade da carne (NUNES, 2008).<br />
Figura 9 – Insensibilização através de atmosfera controlada em túnel<br />
horizontal.<br />
19
O método elétrico de atordoamento é o mais utilizado no abate de aves, sendo<br />
que este consiste na passagem de uma corrente elétrica através do cérebro com uma<br />
intensidade suficientemente alta para provocar uma despolarização do sistema nervoso<br />
central e uma desorganização da atividade elétrica normal (RODRIGUEZ et al., 2006).<br />
Neste método os animais são previamente pendurados na nória onde recebem uma<br />
chuveirada de água. Em seguida, os frangos são conduzidos pela nória de tal que<br />
passam pelo insensibilizador, o qual consiste de uma calha com barras nas laterais<br />
para assim limitar o movimento das aves, obrigando-as a manter contato com a água.<br />
As aves devem permanecer dependuradas pelos pés antes da sangria, para que haja<br />
fluxo de sangue à cabeça (BRASIL, 1999).<br />
Para que seja feito o atordoamento elétrico, as aves tem suas cabeças imersas<br />
em tanques com água ou salmoura, e em seguida são submetidas à aplicação de<br />
corrente elétrica durante um período de aproximadamente 7 segundos, para que assim<br />
atinjam a inconsciência. Depois deste processo as aves devem seguir para a sangria, e<br />
depois serem encaminhadas para a escalda. Se a insensibilização não for feita de<br />
forma adequada, podem ocorrer problemas de bem estar (dor e sofrimento) além de<br />
riscos de contaminação da carcaça (ingestão de água na escalda) e comprometimento<br />
do processo de sangria (RAR, 2001).<br />
Figura 10 – Tanque de atordoamento elétrico.<br />
20
Alguns cuidados devem ser tomados durante o processo de atordoamento,<br />
sendo um deles a realização de monitoramento do intervalo entre o tempo de<br />
atordoamento e a sangria, o qual não deve ultrapassar 12 segundos (SIQUEIRA,<br />
2009). Além disso, outros cuidados incluem fazer periodicamente a higienização e<br />
manutenção dos eletrodos, bem como avaliação dos reflexos, feita pelo inspetor de<br />
bem estar, imediatamente após o atordoamento, observando presença de pescoço<br />
arqueado, pernas estendidas, asas suspensas junto ao corpo e ausência de reflexo<br />
palpebral (BRASIL, 1999).<br />
Outro aspecto de extrema importância e que merece total atenção durante o<br />
atordoamento elétrico é a voltagem utilizada bem como o tempo de aplicação da<br />
mesma, já que a intensidade da corrente é o fator que determina a perda imediata da<br />
consciência. Uma amperagem inferior ao estabelecido não produzirá insensibilização<br />
do animal, provocando durante o processo uma paralisia generalizada dolorosa. Se a<br />
intensidade for maior que o recomendado, haverá uma estimulação muscular<br />
excessiva, aumentando a incidência de fraturas ósseas e hemorragias (RODRIGUEZ et<br />
al., 2006).<br />
O equipamento utilizado para realizar a eletronarcose deve dispor de registros<br />
de voltagem e amperagem e esta será proporcional a espécie, tamanho e peso das<br />
aves. De acordo com SIQUEIRA (2009) a amperagem recomendada para frangos é de<br />
60V aplicados por até 4 segundos, sendo que neste tempo praticamente todos os<br />
animais serão bem insensibilizados. Uma corrente elétrica insuficiente ou que não<br />
atravesse o cérebro, será dolorosa para o animal e provocará uma insensibilização<br />
ineficaz. Assim, a aplicação de uma voltagem correta no animal é importante e torna-se<br />
um problema, pois cada animal apresenta uma determinada resistência e, portanto,<br />
uma maior ou menor voltagem para que o nível de corrente que atravessará o cérebro<br />
seja adequado (LAMBOOIJ et al., 2002).<br />
Embora o lote de animais para o abate seja aparentemente uniforme, sabe-se<br />
que as aves são fisicamente diferentes ainda que sejam do mesmo sexo e idade. As<br />
variações que ocorrem nas aves conferem as mesmas diferentes resistências à<br />
passagem de corrente elétrica por seus corpos no momento do atordoamento, o que<br />
21
interfere na uniformidade e qualidade do processo (NUNES, 2002). Portanto, somente<br />
o conhecimento da voltagem e amperagam dos aparelhos utilizados não garantem a<br />
qualidade e uniformidade do atordoamento.<br />
Existem basicamente dois métodos utilizados para garantir que a corrente<br />
elétrica não seja inferior aos limites estipulados para cada espécie. Um método é o uso<br />
de equipamentos com voltagem alta e constante, já que na prática não se pode<br />
controlar as variações de resistência em diferentes animais. Assim, os equipamentos<br />
são ajustados para fornecerem uma voltagem alta o suficiente para promover a<br />
corrente mínima estipulada em todos os animais, independentemente de sua<br />
resistência. O outro método seria a regulação da voltagem para cada animal de acordo<br />
com sua resistência, porém esses aparelhos além de serem muito caros, no caso do<br />
abate de aves, são pouco práticos, não sendo, portanto, utilizados (LAMBOOIJ, 2002).<br />
Embora o mais comum seja a insensibilização elétrica, outros métodos, como o<br />
que utiliza gás, podem ser adotados desde que sejam previamente aprovados pelo<br />
DIPOA, e que estejam de acordo com os dispositivos do Art. 135 do RIISPOA, alterado<br />
pelo Decreto 2244 de 04.06.97. O abate sem prévia insensibilização é permitido<br />
apenas para atendimento de preceitos religiosos ou para atender requisitos de países<br />
importadores (BRASIL, 1998).<br />
2.8 Sangria<br />
A operação de sangria deve ser iniciada o mais rápido possível após a<br />
insensibilização (este tempo é em média de 12 segundos) evitando-se assim que o<br />
animal recupere a sensibilidade. Este procedimento deve ser realizado com<br />
monitoramento e com 100% de eficiência, não se admitindo que seja feito com<br />
nenhuma ave consciente. A sangria pode ser manual ou automática, sendo que neste<br />
último caso deve haver uma pessoa encarregada pelo repasse manual quando a ave<br />
não for bem sangrada pelo equipamento, impedindo assim que o animal chegue até a<br />
escaldagem sem a devida morte pela sangria (BRASIL, 2000).<br />
22
Figura 11 – Sangria manual.<br />
Figura 12 – Sangria automática.<br />
De acordo com o estabelecido na Portaria 210 (BRASIL, 1998), a “área de<br />
sangria” deve ser uma instalação própria e exclusiva voltada para a plataforma de<br />
recepção das aves, e deve ser totalmente impermeabilizada em suas paredes e teto.<br />
Recomenda-se ainda que o procedimento seja realizado com as aves contidas pelos<br />
pés em ganchos de material inoxidável apoiados em trilhagem aérea mecanizada.<br />
Para a sangria, é feita uma incisão próxima as vértebras cervicais (pescoço)<br />
seccionando-se os vasos sanguineos (MENDES et al., 2008). Na calha de sangria, logo<br />
após a seção dos grandes vasos do pescoço, não é permitida nenhuma operação que<br />
23
possa envolver mutilação das aves até que o sangue escoe e máximo possível, sendo<br />
tolerada somente uma nova estimulação elétrica com o objetivo de acelerar as<br />
modificações post mortem (BRASIL, 2000).<br />
O tempo total de sangria deve ser de no mínimo 3 minutos a fim de garantir o<br />
máximo de expulsão de sangue. O tempo excessivo de sangria pode comprometer a<br />
qualidade do processo de depenagem, já que as aves entram em estado de rigor<br />
mortis e a força de aprisionamento das penas pelos folículos aumenta (SARCINELLI et<br />
al., 2007). O sangue deve ser recolhido em calha própria de material inoxidável ou<br />
alvenaria, e deve ser destinado para industrialização como não comestível, ou outro<br />
destino conveniente, a critério da Inspeção Federal (BRASIL, 1998).<br />
Para assegurar que as aves não estejam respirando ao entrar no tanque de<br />
escaldamento, deve ser feito o sangramento da carcaça por completo. Dessa forma,<br />
evita-se a entrada de água nos pulmões o que previne a contaminação do produto. De<br />
acordo com BERAQUET (1994), o tempo recomendado de sangramento varia de 55 a<br />
100 segundos, dependendo dos efeitos do atordoamento, do tempo de atordoamento<br />
até a sangria e do tipo de corte efetuado.<br />
Depois de ser feita sangria, todas as demais operações devem ser realizadas<br />
continuamente, não sendo permitido o retardamento ou acúmulo de aves em nenhuma<br />
das fases, até a entrada das carcaças nas câmaras frigoríficas.<br />
Quando por razões religiosas os animais forem abatidos sem prévia<br />
insensibilização, o processo deverá ser realizado sem causar sofrimento desnecessário<br />
ao animal e de acordo com os controles estabelecidos para tal procedimento (BRASIL,<br />
1998).<br />
2.9 Escaldagem<br />
Logo após o esgotamento do sangue no túnel de sangria, as aves seguem para<br />
o setor de escaldagem. Este processo tem como principal objetivo fazer uma prévia<br />
lavagem para remover impurezas e sangue da superfície da carcaça, além de<br />
24
promover um afrouxamento das penas através do amolecimento do bulbo piloso,<br />
facilitando assim a remoção mecânica das penas. Deve ser executada sob condições<br />
definidas de temperatura e tempo ajustados às características das aves em<br />
processamento, não sendo permitida em nenhuma hipótese a introdução de aves ainda<br />
vivas no sistema (BRASIL, 1998).<br />
A escaldagem deve ser feita em instalação própria, e o ambiente deve possuir<br />
ventilação suficiente para exaustão do vapor d´água proveniente da escaldagem e das<br />
impurezas em suspensão. Os métodos mais utilizados para se fazer a escaldagem são<br />
através de pulverização de água quente a vapor ou por imersão em tanque com água<br />
aquecida através de vapor, ou ainda por algum outro processo, desde que o mesmo<br />
seja aprovado pelo DIPOA (BRASIL, 1998).<br />
Embora a escaldagem por aspersão seja menos utilizada em relação a feita por<br />
imersão, ela apresenta um grande benefício que é a melhor higiene das carcaças, por<br />
outro lado, tem como desvantagem o alto consumo de água e a maior incidência de<br />
defeitos nas carcaças. De acordo com NUNES (2008b), esta maior incidência de<br />
defeitos na carcaça pode ser devido a menor eficiência na transferência de calor aos<br />
folículos proporcionada por este sistema, o que exige, como forma de compensação,<br />
uma temperatura mais alta da água, levando a fragilização da pele com consequente<br />
aumento da suscetibilidade aos danos.<br />
O método de escaldagem por imersão é o mais utilizado, sendo realizado em<br />
tanques com água aquecida entre 53 e 60ºC, construído de material inoxidável que<br />
apresenta sistema de controle de temperatura e renovação contínua de água, de<br />
maneira que a cada oito horas seja renovado o correspondente ao seu volume total<br />
(BRASIL, 1998). Os tanques não possuem especificações universais, sendo estas<br />
estabelecidas de acordo com a exigência de cada processo, levando-se em<br />
consideração o tamanho das carcaças, a cor de pele desejada, a apresentação do filé<br />
de peito, a velocidade de abate, o tempo de imersão e a temperatura da água.<br />
O método de imersão apresenta a vantagem de ser barato e contínuo, porém<br />
existem grandes desvantagens, como por exemplo, contaminação cruzada por<br />
resíduos da ferida de sangria presente no exterior na carcaça e conteúdo intestinal por<br />
25
elaxamento da cloaca em água quente. Além disso, se houver deficiência no ajuste de<br />
temperatura, podem ocorrer perdas em cortes, principalmente em peito, por<br />
endurecimento, encolhimento e cozimento (BRASIL, 1998).<br />
Durante a escaldagem podem ocorrer perdas de qualidade da carcaça, pois se<br />
a temperatura for muito alta ou o tempo de permanência for exagerado, podem ocorrer<br />
queimaduras e escurecimento da carne. Além disso, o aquecimento da água apresenta<br />
um papel fundamental na eficácia dos demais processos, pois é a quantidade de calor<br />
transferida da água aos folículos que responderá pela maior ou menor facilidade na<br />
remoção das penas posteriormente no setor de depenagem (NUNES, 2008b).<br />
2.10 Depenagem<br />
Após a escaldagem, as aves passam pelo processo de depenagem que<br />
consiste na retirada das penas realizada através de máquinas depenadeiras. De<br />
acordo com a Portaria nº 210 (BRASIL, 1998), a depenagem deve ser mecanizada e<br />
executada com as aves suspensas pelos pés e processadas logo após a escaldagem,<br />
sendo proibido o seu retardamento.<br />
Durante a depenagem, deve ser retirada a maior quantidade possível de penas<br />
sem que ocorra qualquer tipo de lesão no tecido cutâneo. Geralmente, são utilizadas 3<br />
depenadeiras em série, sendo que ao passar pela primeira depenadeira grande parte<br />
das penas são removidas, principalmente da sambiquira e do peito. A depenadeira<br />
seguinte retira os restos das penas e a final retira a cutícula da superfície dos pés dos<br />
frangos (ROQUE, 1996).<br />
O processo de retirada das penas é feito através de um rolo que possui dedos<br />
de borracha para não machucar a carcaça. Porém, durante este processo podem<br />
ocorrer algumas lesões na carcaça, sendo mais comum a fratura das asas. Para evitar<br />
que isto ocorra, é importante ajustar as depenadeiras para o tamanho do frango além<br />
de usar as depenadeiras posicionadas em alturas diferentes, com o objetivo de atingir<br />
todo o frango garantindo assim uma boa depenagem.<br />
26
Figura 13 – Depenadeira com dedos de borracha.<br />
As máquinas depenadoras devem ser posicionadas próximas aos<br />
escaldadores, evitando-se assim que a temperatura da pele diminua muito entre uma<br />
operação e outra. Deve ser feito o ajuste dos dedos de borracha para evitar a abrasão<br />
da pele e a quebra das asas. Todas as máquinas possuem aspersores de alta pressão<br />
de água que lavam a carcaça do animal e ajudam na retirada das penas, sendo que<br />
estas penas retiradas caem sobre canaletas que escoam com o auxílio de água<br />
corrente para a graxaria. (BERAQUET, 1994).<br />
2.11 Evisceração<br />
Após ser realizada a sangria, as carcaças das aves são escaldadas e<br />
depenadas, sendo recomendado dispor de um arrancador de cabeças após a<br />
depenagem e antes da rependura das carcaças na linha de evisceração. A função do<br />
arrancador de cabeças é removê-las com a traquéia e o esôfago reduzindo assim a<br />
incidência de “fall back” do pacote de vísceras na evisceração sendo, por tal razão,<br />
importante evitar que a traquéia e o esôfago sejam danificados no momento da sangria<br />
(NUNES, 2008c).<br />
A evisceração é a primeira etapa a ser realizada na área considerada limpa em<br />
um abatedouro. Esta etapa compreende desde a operação de corte da pele do<br />
27
pescoço até a lavagem final das carcaças, devendo ser realizada em instalações<br />
próprias para este fim e separada das demais. Todas as operações que envolvem a<br />
evisceração, sendo ela automatizada ou não devem tomar os devidos cuidados para<br />
evitar que ocorra o rompimento de vísceras e o contato das carcaças com superfícies<br />
contaminadas.<br />
Antes de ser iniciada a evisceração, deve ser feita a lavagem das carcaças<br />
utilizando chuveiros de aspersão dotados de água sob pressão adequada, com jatos<br />
orientados no sentido de que toda a carcaça seja lavada, inclusive os pés. Em<br />
sistemas onde a evisceração não é automatizada, os chuveiros poderão ser<br />
localizados no início da calha de evisceração ou na entrada da sala de evisceração.<br />
(BRASIL, 1998).<br />
Para que possam ser evisceradas, as carcaças são penduradas em trilhagens<br />
aéreas dispostas sobre calhas, a uma altura tal que não seja permitido que as aves ali<br />
dependuradas possam tocar na calha ou em suas águas residuais. Todas as<br />
operações que compõe a evisceração e ainda a “Inspeção de Linha” são realizadas ao<br />
longo desta calha, a qual deve possuir um comprimento mínimo de 1 metro por<br />
operário para permitir a normal execução dos trabalhos que nela são desenvolvidos<br />
(BRASIL, 1998).<br />
De acordo com o estabelecido na Portaria nº 210 (BRASIL, 1998), as<br />
atividades realizadas na sala de evisceração devem ser as seguintes:<br />
• Corte da pele do pescoço e traquéia: consiste no<br />
desprendimento do pescoço, devendo ser feito logo após a depenagem<br />
e antes da rependura das carcaças na linha de evisceração (BRASIL,<br />
1998).<br />
• Extração da cloaca: pode ser realizada mecânica ou<br />
manualmente. No método manual, o operador segura a cloaca entre o<br />
dedo indicador e o polegar e faz dois cortes transversais próximos a ela,<br />
de tal forma que o intestino possa ser retirado até 1/3 do comprimento<br />
do dorso. Na remoção mecânica, corta-se ao redor da cloaca com uma<br />
28
lâmina rotatória. Em equipamentos com vácuo, é feita a evacuação do<br />
intestino grosso, ajudando assim a evitar a contaminação fecal. Deverá<br />
ser efetuada de tal forma que não se faça a ablação da cloaca dos<br />
aparelhos digestivos e urogenital que nela se abrem, com finalidade de<br />
diminuir a contaminação das carcaças por fezes (BRASIL, 1998). De<br />
acordo com NUNES (2008c), a garantia da higiene nesta etapa depende<br />
fortemente de um jejum eficaz, da prevenção da ruptura dos intestinos,<br />
de aspersores eficazes e da disponibilidade de uma ducha para lavar as<br />
carcaças ao final do ciclo. Essas medidas visam, além de reduzir a<br />
contaminação das carcaças com conteúdo fecal, reduzir também os<br />
impactos econômicos decorrentes da condenação destas carcaças<br />
contaminadas.<br />
• Abertura do abdômen: a pele do abdômen deve ser cortada para<br />
facilitar a extração da vísceras, sendo realizada através de braços<br />
móveis dotados de navalhas em suas extremidades, que são inseridos<br />
pela abertura deixada pela remoção da cloaca. Como o volume das<br />
vísceras pode variar de uma ave pra outra, isto torna os intestinos mais<br />
ou menos vulneráveis ao corte do abdômen. Assim, esta operação exige<br />
uma supervisão muito próxima para evitar que os intestinos venham a<br />
ser cortados (NUNES, 2008c).<br />
• Eventração: devido a suscetibilidade das vísceras aos danos<br />
físicos, a evisceração torna-se uma operação bastante delicada Pode<br />
ser feita de forma manual ou mecanizada. Quando feita manualmente, a<br />
mão é cuidadosamente introduzida na cavidade abdominal para puxar e<br />
expor as vísceras, porém sem removê-las. Na remoção mecânica as<br />
aves são seguramente posicionadas e um mecanismo – em forma de<br />
colher ou mão espalmada – entra na cavidade abdominal e retira as<br />
vísceras (CARVALHO, 2004). Nesta etapa deve-se evitar a perda de<br />
gordura abdominal e danos ao fígado, com o rompimento da vesícula<br />
biliar. Segundo NUNES (2008c), das adversidades que podem afetar a<br />
evisceração, as mais relevantes são as contaminações fecal – derivada<br />
29
de um programa de jejum mal desenhado ou mal conduzido – e biliar –<br />
provocada por um jejum demasiando longo.<br />
• Inspeção sanitária: é feita por dois fiscais, sendo que um faz a<br />
inspeção das vísceras e o outro das carcaças. As vísceras são<br />
selecionadas pela coloração e viscosidade, e em caso de alteração são<br />
condenadas e mandadas para a unidade de subprodutos. Carcaças com<br />
hematomas e fraturas são retiradas da linha e separadas. Dependendo<br />
do grau de condenação podem ser reaproveitadas para cortes,<br />
processadas como carne mecanicamente separada ou destinadas para<br />
industrialização (CARVALHO, 2004).<br />
• Retirada das vísceras: Depois das carcaças serem inspecionadas<br />
e julgadas como sadias, o coração, fígado e moela são removidos das<br />
vísceras. Deve-se evitar o rompimento da vesícula biliar e a<br />
contaminação do fígado nessa operação. O saco pericardeal é removido<br />
do coração. O coração e o fígado são encaminhados para um resfriador.<br />
As moelas são abertas, lavadas internamente e tem a cutícula removida.<br />
• Extração dos pulmões: Cerca de 95% dos pulmões devem ser<br />
extraídos junto com as vísceras, cabendo a remoção dos 5% restantes a<br />
repassadora de pulmão. A extração dos pulmões é feita utilizando uma<br />
pistola a vácuo, a qual é introduzida dentro da carcaça através da<br />
abertura do abdômen. Mesmo assim, algumas carcaças ainda ficam com<br />
resíduos de pulmão aderidos (NUNES, 2008c).<br />
Figura 14 – Extração dos pulmões.<br />
30
• Toilette: retirada dos remanescentes de papo, esôfago, traquéia e<br />
etc.<br />
• Lavagem final (externa e internamente): é feita a lavagem<br />
externa da carcaça com chuveirinhos, e interna com equipamento tipo<br />
pistola. Esse procedimento tem como objetivo remover os materiais<br />
estranhos, como sangue, membranas, fragmentos de vísceras e etc.,<br />
antes das carcaças seguirem para o processo de resfriamento (NUNES,<br />
2008c). A localização do equipamento para lavagem das carcaças<br />
deverá ser após a evisceração e imediatamente anterior ao sistema de<br />
pré resfriamento, não sendo permitida qualquer manipulação das<br />
carcaças após o procedimento de lavagem (BRASIL, 1998).<br />
2.12 Inspeção sanitária<br />
Todo abatedouro deve apresentar um sistema de inspeção, seja ele Municipal<br />
(SIM), Estadual (SIE) ou Federal (SIF), sendo que o tipo de inspeção irá determinar a<br />
abrangência da comercialização do produto.<br />
A inspeção deve ser realizada entre os processos de exposição e retirada das<br />
vísceras comestíveis, na nória de evisceração. Em alguns casos, o sistema de<br />
inspeção solicita a inclusão no abatedouro de uma nória fixa para uma melhor<br />
avaliação das aves condenadas. Após a inspeção as carcaças podem ser condenadas<br />
como um todo ou parcialmente, sendo que no primeiro caso devem ser enviadas para<br />
a graxaria. As aves que são condenadas parcialmente podem ser enviadas para a sala<br />
de corte e processamento (FIGUEIREDO et al., 2007). De acordo com CALDERIA<br />
(2008), pode-se dividir a inspeção em quatro etapas, ou linhas de inspeção, sendo<br />
elas:<br />
• Linha P – Pré-inspeção: obrigatória nas linhas automatizadas de<br />
evisceração, sendo realizada através da visualização geral da carcaça (condenação<br />
total);<br />
31
• Linha A – Exame interno: realizado por meio da visualização da cavidade<br />
torácica e da abdominal (pulmões, sacos aéreos, rins, órgãos sexuais).<br />
• Linha B – Exame das vísceras: visa o exame do coração, fígado, moela,<br />
baço, intestinos e, no caso de poedeiras, ovários e ovidutos. Realiza-se através da<br />
visualização, palpação, verificação de odores e ainda incisão, dependendo do caso.<br />
• Linha C – Exame externo: realiza-se através da visualização da superfície<br />
externa da carcaça (pele, articulações, etc.). Nesta linha efetua-se a remoção de<br />
pequenas contusões, de membros fraturados, de pequenos abscessos superficiais e<br />
localizados e de calosidades (DIPOA, 1997).<br />
Esses exames post mortem, são realizados em locais ao longo da calha de<br />
evisceração e, de acordo com a Portaria nº 210 (BRASIL, 1998), devem deve dispor<br />
de: iluminação adequada; espaçamento mínimo de 1 metro para cada inspetor;<br />
dispositivos para lavagem e esterilização de instrumentos e lavatórios de mãos;<br />
sistema de controle e registro da ocorrência de afecções e destinação de carcaças e<br />
vísceras. Somente após esta inspeção poderá haver retirada e/ou processamento de<br />
carcaças e/ou partes de miúdos (CALDEIRA, 2008).<br />
Além de realizar a inspeção das carcaças, o veterinário oficial responsável pela<br />
Inspeção Federal junto ao abatedouro se incumbe também da missão de especificar a<br />
velocidade da nória na linha de evisceração, de maneira que durante todo o abate seja<br />
possível a normal realização dos exames post mortem. Ao fiscal de inspeção, cabe<br />
ainda a verificação da eficiência da lavagem externa de carcaças na saída da calha de<br />
evisceração, sendo que as carcaças devem entrar no sistema de pré-resfriamento<br />
livres de sujidades ou outro material estranho (BRASIL, 1998).<br />
2.13 Processo de resfriamento das carcaças<br />
O setor de resfriamento, localizado após a área de evisceração, tem por<br />
finalidade promover o resfriamento de carcaças e miúdos de aves, devendo possuir<br />
chiller com sistema de entrada e saída de água e sistema de resfriamento separado<br />
para fígado, coração e moela (BRASIL, 1998).<br />
32
O pré-resfriamento é o processo de refrigeração e manutenção da temperatura<br />
dos produtos das aves (carcaças, cortes, miúdos e/ou derivados), sendo que este<br />
processo pode ser realizado através de diferentes métodos, sendo eles: aspersão de<br />
água gelada, imersão em água por resfriadores contínuos tipo rosca sem fim, e<br />
resfriamento por ar (câmaras frigoríficas), ou ainda outros processos previamente<br />
aprovados pelo DIPOA (BRASIL, 1998).<br />
Dentre os processos citados, o mais utilizado é o de imersão em água, onde é<br />
utilizado primeiro um pré-chiller e depois um chiller. O pré-chiller serve para dar início<br />
ao resfriamento, limpeza e reidratação da carcaça e o chiller termina esse processo. A<br />
reidratação tem como objetivo recuperar a água perdida durante o transporte e nas<br />
operações iniciais, protegendo a carcaça nos processos de conservação,<br />
principalmente no congelamento. Este processo leva em torno de 30 minutos e a<br />
carcaça deve alcançar uma temperatura final de no máximo 16ºC. O chiller tem por<br />
finalidade eliminar o calor post mortem adquirido durante as fases iniciais de abate,<br />
sendo que com esta diminuição da temperatura, evita-se a proliferação da flora<br />
microbiana que está normalmente presente nas carcaças. Este último processo tem<br />
duração de 30 a 40 minutos e a carcaça deve alcançar uma temperatura em torno de 4<br />
a 6ºC (SIQUEIRA, 2009).<br />
No processo de imersão em água, deve haver renovação de água constante<br />
com proporção mínima de 1,5 litros de água no primeiro estágio (pré-chiller) e 1,0 litros<br />
no segundo (chiller) (BRASIL, 1998). Ainda de acordo com a Portaria nº210, a<br />
temperatura das carcaças no final do processo de pré-resfriamento deverá ser igual ou<br />
inferior a 7ºC, tolerando-se temperatura de até 10ºC para as carcaças destinadas ao<br />
congelamento imediato.<br />
2.14 Classificação da carcaça<br />
A classificação da carcaça é feita pelo mesmo funcionário que pendura a<br />
carcaça na nória de gotejamento. A carcaça é classificada de acordo com padrões<br />
preestabelecidos de cor, tamanho e integridade. Carcaças que não se encontram<br />
33
dentro dos padrões preestabelecidos para frango inteiro seguem a linha de cortes<br />
(CARVALHO, 2004).<br />
2.15 Gotejamento<br />
Após a classificação, as carcaças são penduradas na nória de gotejamento<br />
pela coxa ou asas, geralmente colocando-se duas carcaças por gancho. Na fase inicial<br />
de gotejamento há uma perda de água bastante intensa, diminuindo a medida que se<br />
aproxima do final da linha. O gotejamento é destinado ao escorrimento da água que a<br />
carcaça absorveu durante o pré-resfriamento (CARVALHO, 2004).<br />
No final dessa etapa a absorção das carcaças não poderá ser superior a 8%<br />
de seus pesos. O gotejamento deve ter um tempo mínimo de três minutos, e feito com<br />
as carcaças suspensas em equipamento de material inoxidável, com calha coletora da<br />
água resultante do gotejamento (BRASIL, 1998).<br />
2.16 Resfriamento de miúdos<br />
Os miúdos (fígado, coração, moela, pescoço e patas) devem ser enviados logo<br />
após a evisceração diretamente para tanques de resfriamento (mini chillers) distintos,<br />
equipados com rosca sem fim, que os movimenta dentro da água a uma temperatura<br />
média de 4ºC, permanecendo sob resfriamento por aproximadamente 7,5 minutos. A<br />
água deve ser renovada constantemente durante este processo no sentido contrario<br />
aos movimentos dos miúdos dentro dos resfriadores, numa proporção de 1,5 litros por<br />
quilo (BRASIL, 1998).<br />
O resfriamento e seleção dos miúdos são feitos da seguinte forma, de acordo<br />
com o estabelecido pelo DIPOA (1997):<br />
34
• Fígado: depois de sair do processo de resfriamento, é selecionado<br />
na mesa de repasse, sendo descartado no caso de apresentar cor<br />
pálida, coloração esverdeada, pontos de necrose e petéquias.<br />
• Coração: O coração também é selecionado e são descartados os<br />
que apresentam saco pericárdio, petéquias, coloração pálida e nódulos<br />
brancos.<br />
• Moela: é classificada em relação à presença de corpos estranhos,<br />
coloração esverdeada da mucosa, presença de mucosa e perfuração da<br />
moela.<br />
• Pés e pescoço: o pé de frango passa pelo mesmo processo de<br />
resfriamento que as vísceras, sendo selecionado no final desse<br />
processo por funcionários com a função de descartar pés quebrados,<br />
com hematomas, com presença de mucosa nos dedos e com excesso<br />
de escaldagem. Os pés e pescoço com ou sem cabeça, quando<br />
retirados na linha de evisceração para fins comestíveis, deverão ser<br />
imediatamente pré-resfriados em resfriadores contínuos por imersão<br />
obedecendo ao princípio da renovação de água contracorrente e a<br />
temperatura máxima de 4ºC (BRASIL, 1998).<br />
2.17 Espostejamento de aves (sala de cortes)<br />
O espostejamento é a etapa onde ocorre o corte da carcaça em diversas<br />
partes, devendo ser realizado em sala exclusiva, climatizada por sistema de<br />
refrigeração automático, com temperatura ambiente média de 10ºC, e os cortes<br />
manipulados nesta seção devem apresentar temperatura máxima de 7ºC, atendendo<br />
dessa forma o estabelecido pela Portaria nº 210 (BRASIL, 1998). Os cortes poderão<br />
também ser efetuados na seção de embalagem primária e classificação de peso,<br />
desde que esta seja climatizada e isolada das demais seções, e de maneira que não<br />
interfiram no fluxo operacional de embalagem e classificação. Cortes são partes ou<br />
frações de carcaça com limites previamente especificados com osso ou sem osso, com<br />
35
pele ou sem pele, temperados ou não, sem mutilações e/ou dilacerações (BRASIL,<br />
1998).<br />
Figura 15 – Sala de cortes.<br />
Os cortes podem ser feitos manual ou mecanicamente, sendo que ambos os<br />
casos deve-se utilizar equipamentos de material inoxidável e de superfície lisa para<br />
facilitar a sua higienização (PFEILSTICKER, 2008). Estas partes são divididas em<br />
partes nobres (peito, coxa, sobrecoxa, etc.) ou partes de baixo valor comercial (dorso,<br />
ponta da asa, etc.).<br />
De acordo com FIGUEIREDO et al. (2007), as carcaças destinadas ao corte<br />
podem ser trabalhadas na nória de transporte ou sob mesas de aço inoxidável. Após a<br />
realização dos cortes primários (asa, coxa/sobrecoxa, peito e carcaça) é feito o<br />
refilamento dos cortes em função daquilo que for estabelecido em cada empresa. Em<br />
seguida, os produtos são acondicionados nas embalagens primárias (bandejas ou<br />
sacos plásticos) e enviados para a área de embalagem secundária.<br />
Os estabelecimentos que realizam a produção de carne temperada de ave<br />
devem possuir dependência exclusiva para o preparo de tempero e armazenagem dos<br />
condimentos. Além disso, deve dispor de área destinada ao preparo do produto e<br />
posterior acondicionamento, sendo permitida a realização desta operação junto da<br />
seção de cortes e desossa, desde que não interfira no fluxo operacional da seção,<br />
como também não comprometa sob o aspecto higiênico-sanitário (BRASIL, 1998).<br />
36
Para produção de carne mecanicamente separada (CMS) de aves, deverá ser<br />
obedecido o contido nas instruções específicas emitidas pelo DIPOA.<br />
2.18 Embalagem<br />
O acondicionamento do frango inteiro ou seus cortes em embalagens tem<br />
como objetivo principal dar segurança e garantir que o produto chegue em boas<br />
condições até o consumidor, protegendo seu conteúdo contra ação de fatores<br />
ambientais (como odores estranhos, luz, microrganismos e etc.) bem como da perda<br />
intrínseca da qualidade (perda de peso, perda de aroma e etc.). Além disso,<br />
atualmente as embalagens desempenham um papel fundamental na apresentação do<br />
produto ao mercado, funcionando como uma forma de propaganda, quando bem<br />
exploradas (FIGUEIREDO et al., 2007).<br />
As embalagens devem ser feitas em mesas de superfície lisa, com bordas<br />
elevadas e dotadas de sistema de drenagem, podendo ser utilizadas transportadoras<br />
tipo esteira ou equipamento similar, visando maior rendimento e comodidade das<br />
operações. Os miúdos e/ou partes de carcaças, quer sejam ou não comercializados no<br />
interior das mesmas, devem receber embalagem própria, sendo obrigatoriamente a<br />
cabeça e pés embalados individualmente (BRASIL, 1998).<br />
De acordo com FIGUEIREDO et al. (2007), as embalagens podem ser<br />
classificadas em primárias e secundárias, dependendo da sua função. A embalagem<br />
primária é aquela que acondiciona o produto e será a apresentação na gôndola,<br />
enquanto que a embalagem secundária é utilizada para o armazenamento e transporte<br />
dos produtos. Para a embalagem primária podem ser utilizadas bandejas, onde<br />
geralmente são acondicionados os cortes e miúdos, ou sacos plásticos que<br />
normalmente são mais utilizados para o frango inteiro, sendo que produtos congelados<br />
devem ser acondicionados em embalagens leitosas enquanto que para os resfriados<br />
são utilizadas embalagens transparentes. Caixas de papelão, celulose e até sacos<br />
plásticos podem ser utilizados como embalagem secundária. Uma vez embaladas<br />
primariamente, o acondicionamento das carcaças em embalagens secundárias deve<br />
37
ser feito em continentes novos e de primeiro uso, sendo que tal operação deve ser feita<br />
em dependências à parte da seção de embalagem primária (BRASIL, 1998).<br />
Figura 16 – Embalagem primária.<br />
Figura 17 – Embalagem secundária.<br />
Os rótulos das embalagens dos produtos devem ser autorizados pelo MAPA,<br />
conter carimbo oficial da Inspeção Federal e o número do SIF local, e possuir<br />
informações obrigatórias, tais como: informação de presença ou ausência de glúten,<br />
instruções de uso, preparo e conservação de produtos de carne de aves e seus<br />
miúdos, além de outras informações obrigatórias previstas pela Agência Nacional de<br />
Vigilância Sanitária (Anvisa) do Ministério da Saúde (PFEILSTICKER, 2008).<br />
38
2.19 Apontamento<br />
É o próximo setor do frigorífico, e tem como objetivo apontar e registrar todos<br />
os produtos que serão encaminhados aos túneis de congelamento. Segundo<br />
CONTRERAS (1991), a finalidade do apontamento nada mais é do que manter o<br />
controle do estoque de produtos encaminhados para os túneis de congelamento, para<br />
que dessa forma seja possível ter um melhor controle da produção.<br />
2.20 Túnel de congelamento<br />
O congelamento é um dos métodos de conservação mais utilizados, devido a<br />
sua versatilidade e custo, sendo de fundamental importância no processo industrial. A<br />
conservação da carne por resfriamento ou congelamento tem sido recomendada pois<br />
tem uma grande capacidade de manter as características químicas, organolépticas e<br />
nutritivas do produto o mais próximo possível das características iniciais, e ainda<br />
dificulta a ação desfavorável de microrganismo e enzimas, possibilitando assim o<br />
aumento do tempo de prateleira dos produtos (VIEIRA, 2007). De acordo com a<br />
Portaria nº 210, o congelamento consiste no processo de refrigeração e manutenção a<br />
uma temperatura não maior que -12ºC dos produtos de aves (carcaças, cortes ou<br />
recortes, miúdos ou derivados) tolerando-se uma variação de até 2ºC medido na<br />
intimidade dos mesmos (BRASIL, 1998).<br />
Para que seja feito o congelamento existem várias metodologias disponíveis,<br />
sendo que a utilização de cada uma delas irá depender do tipo de produto, volume de<br />
abate e da capacidade de investimento da empresa. Segundo FIGUEIREDO et al.<br />
(2007), o congelamento de frango inteiro, cortes e vísceras comestíveis, normalmente é<br />
feito com a utilização de túneis estáticos e contínuos, sendo o último mais indicado<br />
para grandes escalas de produção. Já para o caso de produtos resfriados, é<br />
necessário um choque térmico evitando-se, porém, o ponto de cristalização antes dos<br />
mesmos serem colocados na câmara de estocagem. Para pequenas escalas, em<br />
alguns casos, a própria câmara de armazenamento pode ser utilizada para a realização<br />
do congelamento.<br />
39
No congelamento, os produtos são expostos a baixas temperaturas,<br />
geralmente através de um túnel de congelamento, fazendo com que os mesmo atinjam,<br />
na maior brevidade possível, a temperatura adequada ao armazenamento congelado,<br />
ou seja, igual ou inferior a -18ºC, com a conseqüente cristalização de uma parte da<br />
água e alguns solutos (VIEIRA, 2007). Ainda de acordo com o mesmo autor, a<br />
velocidade do processo de congelamento é um fator importante para a qualidade final<br />
do produto, sendo que no método de congelamento lento há remoção de água das<br />
células e grandes cristais de gelo são formados, podendo ocorrer danos físicos aos<br />
tecidos e paredes celulares, o que pode ocasionar reações indesejáveis como<br />
desenvolvimento de aroma e sabores indesejáveis, redução do valor nutricional e<br />
alterações na textura e aparência dos produtos após o descongelamento. Já no<br />
método de congelamento rápido, os cristais de gelos formados são menores e a<br />
qualidade final do produto tende a ser superior.<br />
Os túneis de congelamento funcionam a uma temperatura de -36ºC, e o<br />
processo de congelamento varia em relação ao produto que está sendo congelado. No<br />
caso do frango inteiro, leva cerca de 10 horas para o produto atingir a temperatura de<br />
-25ºC a -35ºC e sair do túnel e congelamento dentro do padrão, pronto para receber<br />
sua embalagem final e seguir no processo. Já o túnel de congelamento de cortes e<br />
miúdos leva cerca de 15 horas para o congelamento dos mesmos.<br />
2.21 Estocagem e distribuição<br />
Os produtos, após serem acondicionados nas embalagens secundárias, ficam<br />
estocados nas câmaras de estocagem, as quais possuem capacidade variável e<br />
devem manter a temperatura de acordo com o estabelecido na legislação específica.<br />
De acordo com NEVES FILHO (1994), o tempo e a temperatura de estocagem<br />
são os fatores de extrema importância, pois afetam diretamente a qualidade do<br />
produto, sendo que sua exposição a temperaturas mais altas aumenta<br />
significativamente a velocidade da perda de qualidade. Segundo recomendações<br />
40
estabelecidas pela Portaria nº210, a estocagem de aves congeladas deve ser feita em<br />
câmaras próprias, com temperatura nunca superior a -18ºC (BRASIL, 1998).<br />
A transferência dos produtos das câmaras até o sistema de transporte, e vice-<br />
versa, é um ponto bastante crítico e deve ser organizado de tal forma que seja<br />
efetuado o mais rápido possível, evitando assim variações de temperatura. Outro ponto<br />
a ser considerado é o equilíbrio da temperatura a um valor correspondente à de<br />
conservação do produto no interior da carroceria, sendo necessário que, antes de<br />
carregado, o equipamento frigorífico do sistema de transporte opere durante certo<br />
tempo, levando a temperatura interna até o valor desejado (NUNES FILHO, 1994).<br />
A Portaria nº210 diz que o transporte deve ser compatível com a natureza dos<br />
produtos, de modo a preservar sempre suas condições tecnológicas e,<br />
consequentemente, manutenção da qualidade, sem promiscuidade e/ou outras<br />
condições que os comprometam. Os veículos empregados no transporte de carcaças e<br />
miúdos deverão possuir carrocerias construídas de material adequado, a par do<br />
isolamento apropriado, revestimento interno de material não oxidável, impermeável e<br />
de fácil higienização, e dotados de unidade de refrigeração. É permitida a utilização de<br />
veículo dotado de carroceria isotérmica somente para o transporte de curta distância e<br />
duração, que não permita a elevação da temperatura nos produtos em mais de 2ºC<br />
(BRASIL, 1998).<br />
41
3. CONCLUSÃO<br />
Apesar de a avicultura de corte ser uma atividade de extrema importância para<br />
a economia do país, ainda são poucos os estudos relacionados a algumas fases do<br />
seu processo produtivo, principalmente quando se trata do abate. O mercado<br />
consumidor, cada vez mais preocupado com a sua segurança alimentar e com a<br />
qualidade do produto que consome, vem exigindo da indústria avícola uma garantia de<br />
gestão da qualidade quanto aos processos de abate e industrialização do frango.<br />
Dessa forma, fica evidente que cabe aos frigoríficos uma grande parte da<br />
responsabilidade de coordenação do funcionamento desta cadeia produtiva, atendendo<br />
assim as exigências e satisfazendo seu mercado consumidor.<br />
Geralmente, o que tem sido observado no Brasil é que grande parte das<br />
metodologias e tecnologias adotadas nos frigoríficos são provenientes de pesquisas<br />
realizadas em outros países e muitas vezes adaptadas para nossas condições. Sendo<br />
assim, fica clara a necessidade de serem realizados novos estudos nesta área, com o<br />
objetivo de assim conseguir manter a qualidade do produto final, conquistando cada<br />
vez mais o mercado, tanto nacional quanto o internacional.<br />
42
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