Especial Abril 2009.indd - Secretaria de Estado de Cultura de Minas ...
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Embora a proposta <strong>de</strong>ste especial não seja analisar as causas<br />
da incipiente divulgação da literatura brasileira na Espanha<br />
– o que afinal seria improdutivo tendo em vista o objetivo da<br />
publicação – é curioso constatar que esse “<strong>de</strong>sconhecer-se”<br />
oculta, muito provavelmente, um vício histórico adquirido<br />
com as disputas pelas terras da Península Ibérica. Portugal<br />
e Espanha aceitaram seus ressentimentos mútuos e os conservaram,<br />
menos por se comprazerem neles do que por<br />
costume. Fato é que essa distância parece ter se arraigado<br />
sorrateiramente nos imaginários, até o ponto concreto em<br />
que percebemos que pouco nos “visitamos”. Outro motivo<br />
histórico, conforme afirma Antonio Cândido, é o fato da<br />
narrativa ficcional portuguesa do século XIX ter sido uma<br />
frágil extensão <strong>de</strong> outras do mesmo gênero produzidas na<br />
Europa na mesma época – apesar da obra <strong>de</strong> um Eça <strong>de</strong><br />
Queirós ou <strong>de</strong> um Almeida Garret. Também é certo que a<br />
literatura francesa sempre teve mais influência em nosso<br />
imaginário, assim como marcou a história da leitura e <strong>de</strong><br />
leitores na Espanha.<br />
Do contrário, no que diz respeito à divulgação da literatura<br />
do Brasil na Espanha, é exemplar o caso da Revista <strong>de</strong><br />
<strong>Cultura</strong> Brasileña, iniciativa <strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto,<br />
que iniciou sua publicação em Madri, em 1962, época em<br />
que cumpria funções diplomáticas naquela cida<strong>de</strong>. Por <strong>de</strong>sejo<br />
expresso <strong>de</strong> Cabral, estiveram à frente da revista o poeta<br />
e tradutor Ángel Crespo – um dos primeiros brasilianistas<br />
espanhóis a trabalhar <strong>de</strong> maneira sistemática na tradução<br />
<strong>de</strong> várias gerações <strong>de</strong> poetas brasileiros – e Pilar Gómez<br />
Bedate. Ele, como diretor, e ela, como secretária ou – falando<br />
<strong>de</strong> maneira mais apropriada – como escritora, tradutora e<br />
estudiosa das tendências artísticas brasileiras. De qualquer<br />
maneira, é certo que os dois, juntamente com Cabral, foram<br />
editores escrupulosos que levaram a bom termo uma tarefa<br />
<strong>de</strong> muito fôlego, ainda mais se temos em conta que a publicação<br />
resistiu até mesmo à censura da ditadura franquista.<br />
Quanto a Cabral, po<strong>de</strong>-se afirmar que trabalhou insistentemente<br />
na divulgação da literatura brasileira durante os<br />
14 anos em que viveu na Espanha, mas que sempre o fez na