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Especial Abril 2009.indd - Secretaria de Estado de Cultura de Minas ...

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6<br />

Ángel Crespo<br />

Setembro/2009<br />

Literatura Brasileira na Espanha<br />

PROSHOMENAGEM<br />

O<br />

ônibus que nos conduzia <strong>de</strong> Belo Horizonte a Brasília, atravessando<br />

o imenso sertão mineiro, sofreu uma avaria que<br />

nem se fosse <strong>de</strong> encomenda. Uma pedra, um parafuso, um<br />

algo?, uma sorte atravessou o radiador-refrigerador e as ferramentas do<br />

mecânico não foram suficientes para remediar o evento.<br />

Era outono, aqui primavera <strong>de</strong> 1965, tempo <strong>de</strong> seca ou, pelo menos, ali<br />

havia sinal <strong>de</strong> não haver chovido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando. E estávamos no meio <strong>de</strong><br />

uma ótima estrada, cujo firme não levantavam as raízes das árvores, e em<br />

cujas canaletas havia maravilhosos cristais minerais cúbicos em forma<br />

<strong>de</strong> escultura cinética que não havia mais remédio que levá-los às mãos<br />

e admirar. E os que peguei e guar<strong>de</strong>i, pois no mínimo cabiam uns trinta<br />

em qualquer maço <strong>de</strong> cigarro. Que por sinal já estava acabando, quer<br />

dizer, ainda não, mas já iam faltar seis horas mais da conta para chegar<br />

ao sertão goiano, on<strong>de</strong> continuava surgindo a cida<strong>de</strong>, e então se acabaria.<br />

Estávamos no alto <strong>de</strong> uma elevação do terreno: campos <strong>de</strong> árvores<br />

e arbustos tamanhosos, entre retama e oliveiras, <strong>de</strong> copas gravitadoras<br />

em forma <strong>de</strong> guarda-chuva ou <strong>de</strong> acácia guarda-sol, abundantes mas não<br />

compactados em seu povoar a terra, cívicas árvores selvagens, possuidoras<br />

do território agora seco, umbuzeiros, angicos, embaúbas?, terrez<br />

avermelhada, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> fauve, a que possuíam. E, ao longe, <strong>de</strong>nunciando<br />

os cursos d’água, as palmeiras buritis, graciosas vivas, enfileiradas;<br />

com a serpente surucucu à sua sombra, sombras? Não era aquela a<br />

vegetação litoral, cujas folhas se contam como renda miúda, fio a fio,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> longe, nem a do Sul, árvores como gran<strong>de</strong>s capins que opõe aos<br />

lados da estrada uma muralha – finalmente tediosa – a qualquer imaginação<br />

<strong>de</strong> observação. Eram as árvores rebanhos, mas rebanhos cívicos,<br />

educados e fortes, <strong>de</strong>ixando que a vista voasse sobre eles e pousasse,<br />

qual o bem-te-vi, como ele disse, e a patativa passarim, nas copas dos<br />

buritis. Campo aberto, mas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s fron<strong>de</strong>s, atravessado por arroios<br />

que se chamam veredas porque são os vere<strong>de</strong>iros caminhos do sertão.<br />

Seria possível? Havíamos <strong>de</strong>ixado para trás a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sete Lagoas<br />

e a <strong>de</strong> Paraopeba, naquele dia em festa, com gente arremoinhada no bar<br />

on<strong>de</strong> tomamos o breve café da parada, e ainda não havíamos chegado a<br />

Felixlândia, nome <strong>de</strong> promissão. Foi o que me disse, sacando um mapa<br />

do bolso, o homem japonês. E como entre a ida e a volta à oficina para<br />

trazer reposições haveriam <strong>de</strong> transcorrer para mais <strong>de</strong> seis horas, era o<br />

momento <strong>de</strong> tomar uma <strong>de</strong>cisão. Seria possível que encontrasse no mapa<br />

do japonês aqueles nomes do livro que estava traduzindo? A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Curvelo ao nor<strong>de</strong>ste, e algo mais além a <strong>de</strong> Corinto… E os generais <strong>de</strong>

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