Apostila Tópicos Especiais em Marketing - Branding
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2 A contribuição das neurociências à nova era das marcas<br />
A transformação de mitos <strong>em</strong> ícones que, carregados de significados, tornam-se símbolos,<br />
compõ<strong>em</strong>, como já estiv<strong>em</strong>os falando, da força de mensagens dirigidas às nossas mentes e que<br />
provocam reações químicas cerebrais que influenciam nosso poder de decisões, resultando,<br />
conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>em</strong> hábitos comportamentais.<br />
Foi nesse contexto que surgiu o neuromarketing <strong>em</strong> 2000. Ao verificar como o cérebro<br />
humano reage diante de um produto ou marca, o neuromarketing consegue desenvolver ações<br />
mercadológicas capazes de tornar esses produtos ou marcas mais desejadas e consumidas que<br />
outros.<br />
Interessa-nos aqui a resposta a perguntas como: de que forma signos convencionados pod<strong>em</strong><br />
provocar reações químicas que se traduz<strong>em</strong> <strong>em</strong> desejos? Como funciona esse processo de carregar<br />
ícones de significados e fazê-lo provocar reações orgânicas? Qual o caminho que um mito percorre<br />
até se tornar imag<strong>em</strong> e daí servir de estímulo à representações culturais, como no caso das marcas?<br />
Qual a ação das metáforas na nossa maneira de perceber a realidade? É o que procur<strong>em</strong>os responder<br />
ao darmos uma guinada para o outro lado no sentido de compreender como funciona o cérebro<br />
humano mediante a realidade que lhe chega através dos sentidos. Estamos entrando, portanto, na<br />
terceira tricotomia dos signos: a relação entre estes e o interpretante.<br />
2.1 O modo como o cérebro humano interage com o mundo<br />
Apesar de já haver a crença, por parte de muitos estudiosos da capacidade do cérebro <strong>em</strong> criar<br />
alterações <strong>em</strong> si mesmo a partir dos estímulos exteriores, somente há pouco t<strong>em</strong>po t<strong>em</strong> havido<br />
comprovação científica disso. Nos últimos anos os experimentos vêm constatando que nosso<br />
comportamento t<strong>em</strong> influência sobre o cérebro a ponto de provocar transformações.<br />
As opiniões de neurologistas dão conta de que existe uma tendência cada vez mais poderosa<br />
na neurologia <strong>em</strong> estudar o corpo, a mente e o mundo externo de forma totalmente integrada, como<br />
afirma Benito Damasceno, professor de neurologia da Unicamp [3]. Costumes culturais, traumas<br />
psicológicos, derrames, alimentação, drogas, exercícios físicos, fé e meditação afetam até o<br />
tamanho de partes do cérebro.<br />
O cérebro humano é formado por 100 bilhões de neurônios e cada neurônio pode receber 10<br />
mil informações de seus pares através de sinapses. A síntese desses milhares de informações é<br />
repassada a outro neurônio que recebe 10 mil respostas e assim sucessivamente. Como as sinapses<br />
são determinadas menos pelos genes e mais pelo que acontece no exterior, o que vale não é<br />
quantidade de sinapses, e sim a qualidade destas conexões, que varia de acordo com as experiências<br />
do meio externo. Ou seja, segundo o neurologista Raul Marino, da USP [4], é a experiência que<br />
influencia a genética e determina a formação do cérebro.<br />
Para Smith (1990, p. 32), o cérebro está constant<strong>em</strong>ente criando realidades, verdadeiras ou<br />
imaginárias; examina alternativas, revolve histórias e alimenta-se da experiência. “Durante o dia, o<br />
cérebro apanha enormes quantidades de ‘informação’, mas apenas acidentalmente, da mesma<br />
maneira que os sapatos apanham lama quando passeamos pelos bosques. O conhecimento é um<br />
produto da experiência, e a experiência é aquilo que o pensamento torna possível”.<br />
Portanto, não é apenas o que ocorre no mundo que chega ao cérebro provocando reações.<br />
Afinal, este não t<strong>em</strong> contato direto com o mundo exterior; esse mundo é uma realidade que o<br />
cérebro t<strong>em</strong> que criar, conforme Smith (1990, p. 35):<br />
Escondido no túmulo escuro e silencioso do crânio, o cérebro não t<strong>em</strong><br />
sensibilidade própria (apenas sente dor pelo resto do corpo) n<strong>em</strong> consciência<br />
direta da sua situação no mundo. A única conexão do cérebro com o mundo<br />
exterior é feita através de exércitos de fibras nervosas que irradiam até aos<br />
olhos, ouvidos, pele e outros “órgãos receptores”. Os olhos não são “janelas<br />
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