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condições de trabalho docente: um olhar na perspectiva

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O que muitas vezes leva o professor a não tomar medidas<br />

preventivas e nem a ter mais cuidados com os si<strong>na</strong>is que o corpo dá é a<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> esse professor ser prontamente atendido pelo Sistema <strong>de</strong><br />

Atendimento à Saú<strong>de</strong> (SAS). Em caso <strong>de</strong> afastamento das ativida<strong>de</strong>s por<br />

doença, se é por <strong>um</strong> período curto, os professores, retor<strong>na</strong>ndo ao <strong>trabalho</strong>,<br />

<strong>de</strong>vem repor as aulas. Isto inibe muitos professores <strong>de</strong> tratarem suas<br />

doenças <strong>de</strong> forma preventiva, <strong>um</strong>a vez que eles, ao invés <strong>de</strong> cuidarem da<br />

sua saú<strong>de</strong>, ficam preocupados com o <strong>trabalho</strong> dobrado que terão ao voltar<br />

às suas ativida<strong>de</strong>s, fazendo com que eles, além da doença, se sintam<br />

culpados pelo seu estado “improdutivo”. O psiquiatra e psica<strong>na</strong>lista<br />

francês Dejours constata, em sua pesquisa com trabalhadores, que:<br />

[...] em relação à prática médica ou a respeito da saú<strong>de</strong>, a<br />

reticência maciça em falar da doença e do sofrimento. Quando se<br />

está doente, tenta-se escon<strong>de</strong>r o fato não só dos outros, mas<br />

também da família e dos vizinhos. E somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> voltas que<br />

se chega, às vezes, a atingir a vivência da doença, que se confirma<br />

como vergonhosa: bastou <strong>um</strong>a doença ser evocada para que, em<br />

seguida, venham n<strong>um</strong>erosas justificativas, como se fosse preciso<br />

se <strong>de</strong>sculpar. Não se trata da culpa no sentido próprio que<br />

refletiria <strong>um</strong>a vivência individual, e sim <strong>de</strong> <strong>um</strong> sentimento coletivo<br />

<strong>de</strong> vergonha: “não é <strong>de</strong> propósito que a gente está doente”. (1987:<br />

29)<br />

Comportamento semelhante observa-se em professores que se<br />

sentem culpados por estarem doentes. Afirmações <strong>na</strong>da diferentes das<br />

que o psiquiatra <strong>de</strong>screve tenho observado e escutado entre os <strong>docente</strong>s:<br />

“Toda doença seria, <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma, voluntária: se a gente está doente,<br />

é porque é preguiçoso. Quando a gente está doente se sente julgado pelos<br />

outros” (1987:29). A cobrança, a chamada para a responsabilida<strong>de</strong>, a<br />

cobrança insistente <strong>de</strong> atestados médicos quando falta por causa <strong>de</strong><br />

consultas ou exames, criam <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> culpa 4 que faz com que o<br />

doente se sinta julgado pelos outros. Trata-se <strong>de</strong> acusação cuja origem<br />

não se conhece claramente, acusação pelo grupo no seu conjunto, que se<br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong> assim, e que cria <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> con<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da doença e<br />

indiretamente do doente que é o portador do mal. Uma nuança aparece,<br />

4 Este sentimento é o que o professor percebe, pela sutil exclusão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>um</strong><br />

clima <strong>de</strong> mal-estar, insinuações que são feitas no próprio ambiente <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.

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