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O princípio moral-didatizante no romance oitocentista

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à ilusão ilustrada, está inscrito dentro do nacionalismo literário dos românticos cujo principal<br />

objetivo, regido por um senso de missão, é integrar-se, juntamente com o nativismo e o patriotismo,<br />

ao esforço construtivo do país recém independente.<br />

Não é para me<strong>no</strong>s, portanto, que o fenôme<strong>no</strong> de ensinar e <strong>moral</strong>izar, via literatura, não tenha<br />

sido exclusivo da forma <strong>romance</strong>. Está presente também <strong>no</strong> teatro, como observa Tânia Rebelo<br />

Costa Serra, em Joaquim Manuel de Macedo ou os Dois Macedos, sobre as peças O Juiz de Paz da<br />

Roça e Antonio José ou O Poeta e a Inquisição, iniciadores de “uma época de total prestígio do<br />

teatro, veículo de <strong>moral</strong>ização por excelência, tópico explorado incessantemente por <strong>no</strong>sso<br />

Romantismo, e utilizado por todos os <strong>no</strong>ssos melhores escritores do século XIX” (SERRA, 1994,<br />

26) (grifo meu). Dentro do próprio processo de recepção crítica, reverbera este constante tópico do<br />

Romantismo como critério de avaliação literária: “O <strong>romance</strong> é d‟origem moderna; (...) um alimento de<br />

fácil digestão proporcionado a estômagos fracos. Por seu intermédio pode-se <strong>moral</strong>izar e instruir o povo<br />

fazendo-lhe chegar o conhecimento de algumas verdades metafísicas, que aliás escapariam à sua<br />

compreensão (...) o <strong>romance</strong> é a <strong>moral</strong> em ação.” (PINHEIRO apud SERRA, 1994, 348).<br />

Deste modo, o <strong>princípio</strong> <strong>moral</strong>-<strong>didatizante</strong> parece assumir um papel de atualização e<br />

modernização junto a <strong>no</strong>ssa vida cultural, pois tenta desenvolver a força latente de progresso<br />

creditada ao país. E, pelo conteúdo das intervenções, pela qualidade das formulações morais, em<br />

suma, pela carga ideológica, este <strong>princípio</strong> tentava, adianto, pôr o país em sintonia com o que se<br />

passava na Europa – em especial com o tipo de idéias que lá circulavam, a saber, as do liberalismo.<br />

Cabe destacar que a função edificante assumida pelo <strong>romance</strong> <strong>oitocentista</strong> como papel a ser<br />

cumprido junto ao leitor constitui-se também a partir de algumas relações entre o escritor e o<br />

público 2 . Guiou-<strong>no</strong>s, durante o século XIX e boa parte do século XX, a <strong>no</strong>ção de senso de missão<br />

que, em literatura, nada mais foi do que a delimitação do papel social do escritor face aos demais<br />

como segmento especial da sociedade. Na produção do <strong>no</strong>sso Romantismo, a delimitação do grupo<br />

de escritores e sua integração basearam-se na realização da tarefa que o homem de letras se<br />

incumbiu como agente positivo da vida civil, o militante intelectual inspirado pela idéia nacional de<br />

erigir a pátria às alturas. Por outro lado, a função de difundir as Luzes e trabalhar pela pátria não foi<br />

somente uma auto-imposição, mas uma atribuição que a sociedade (grupo de leitores) delegou aos<br />

membros desse segmento elevado que é o escritor. O artista é o capaz de apontar o caminho, ou<br />

mesmo conduzir a nação, para realizarem-se as possibilidades de progresso. É por essa <strong>no</strong>ta que os<br />

escritores executaram suas obras: alargaram o temário nacional com a introdução de descrições<br />

paisagísticas, seja cidade, campo ou selva; descrição dos costumes de uma região, classe ou época;<br />

ou ainda com a criação de tipos nacionais como o índio valente, o vaqueiro, o jagunço, a moça<br />

morena e travessa. A própria função edificante do <strong>romance</strong> entra nesse circuito ideológico. O<br />

2 As considerações que se seguem são elaboradas com base <strong>no</strong> texto “O escritor e o público”, de Antonio Candido<br />

(2000).

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