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antropologia e poder: contribuições de eric wolf - CEAS

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Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco<br />

do mercado externo, chama a atenção para a imprescindibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análises<br />

históricas dos processos sociais.<br />

Essa tipologia já contém algumas das <strong>contribuições</strong> <strong>de</strong> Wolf sobre a<br />

relação local/supralocal, bem como sobre a análise da heterogeneida<strong>de</strong> do<br />

capitalismo. Em certa medida, antecipa a discussão antropológica sobre a<br />

globalização que realizará posteriormente em Europe and the People without History<br />

(1982). Camponeses e populações indígenas, como quaisquer outros tipos<br />

<strong>de</strong> população humana, <strong>de</strong>vem ser sempre entendidos em relação uns aos outros.<br />

Muito embora Wolf tivesse <strong>de</strong>lineado outros cinco segmentos camponeses,<br />

não pô<strong>de</strong> caracterizá-los em profundida<strong>de</strong> em virtu<strong>de</strong> da ausência<br />

<strong>de</strong> dados etnográficos. Mal compreendido à época, foi criticado por ter<br />

simplificado as variações das vidas camponesas em apenas dois tipos. Como<br />

as noções <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s corporadas fechadas e <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s abertas mostraram-se<br />

cruciais nas discussões sobre campesinato, publicou trinta anos<br />

<strong>de</strong>pois, em 1986, um ensaio sobre as suas “vicissitu<strong>de</strong>s”, no qual admitiu que<br />

“as interpretações exageradamente generalistas dos anos 50 necessitam ser<br />

qualificadas por maiores variações, tanto no espaço geográfico quanto no<br />

tempo histórico” (2001i [1986]: 163). 9 Apontou, entretanto, para um problema<br />

ainda mais sério: a confusão entre mecanismos <strong>de</strong> nivelamento e redistribuição<br />

que, ao seu ver, impediu uma melhor compreensão da natureza dos<br />

conflitos internos e dos arranjos <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> nas comunida<strong>de</strong>s<br />

corporadas (2001i [1986]: 164).<br />

Plantations e haciendas completaram o conjunto <strong>de</strong> tipos, “complexos<br />

<strong>de</strong> relações que são variáveis historicamente” (Friedman 1987: 111), necessários<br />

para compreen<strong>de</strong>r as formas <strong>de</strong> organizar a vida no meio rural (Wolf<br />

e Mintz 1957, Wolf 2001d [1959]). As relações <strong>de</strong> trabalho e o uso dos exce<strong>de</strong>ntes<br />

produzidos constituem as variáveis nestas distinções. As plantations do<br />

antigo estilo utilizam trabalho cativo e mantêm o controle da reprodução <strong>de</strong><br />

sua força <strong>de</strong> trabalho, dando espaço para a emergência <strong>de</strong> relações patrono-<br />

-cliente, como forma <strong>de</strong> diferenciar os trabalhadores e manter a sua dominação<br />

pelo proprietário. As plantations do novo estilo são empreendimentos<br />

que usam o trabalho assalariado, sendo que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> sua força <strong>de</strong> trabalho<br />

não lhes diz respeito. Como <strong>de</strong>corrência, levam à emergência <strong>de</strong> uma<br />

“subcultura proletária” que, na ausência das relações patrono-cliente,<br />

transforma-se no modo preferencial da organização da solidarieda<strong>de</strong>. Já as<br />

fazendas – que são sempre <strong>de</strong>signadas por Wolf <strong>de</strong> haciendas – são consi<strong>de</strong>radas<br />

como postos avançados do capitalismo, baseados na repressão e na<br />

extração extremada <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes da força <strong>de</strong> trabalho. As haciendas atravessaram<br />

três fases, não obe<strong>de</strong>cendo necessariamente a uma seqüência his-<br />

9 Trata-se <strong>de</strong> “The Vicissitu<strong>de</strong>s of the Closed Corporate Peasant Community”, publicado originalmente no Am<strong>eric</strong>an<br />

Ethnologist (1986) e reeditado em Pathways of Power (2001).<br />

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